quarta-feira, 28 de outubro de 2020

E.C.B XXIX: O Caso Daniella Perez.

A morte da atriz Daniella Perez foi um caso policial notório no século XX no Brasil. Ocorrido em 28 de dezembro de 1992, recebeu ampla cobertura da imprensa e causou comoção popular. Daniella, que à época fazia a telenovela De Corpo e Alma, onde era Yasmin, foi assassinada por Guilherme de Pádua, que fazia par romântico com a vítima na trama, e por Paula Thomaz, à época, esposa de Guilherme. O corpo da atriz foi encontrado num matagal, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, perfurado com dezoito golpes de punhal, que fatalmente causaram sua morte por choque hipovolêmico.

O caso chocou o Brasil pelos envolvidos serem artistas muito conhecidos e que trabalhavam juntos. A primeira notícia do caso veio a público um dia depois, em 29 de dezembro de 1992, quando foi noticiado juntamente a outra grande notícia de repercussão nacional, a renúncia do então Presidente da República Fernando Collor de Mello. Os dois assassinos foram condenados por júri popular e libertados em 1999. O caso foi listado em 2015 pelo portal Brasil Online (BOL) e da Superinteressante (2015) ao lado de outros crimes que "chocaram" o Brasil.

História

Assassinato.

Em 1992 a atriz Daniella Perez interpretava, na novela De Corpo e Alma, de autoria de sua mãe Glória Perez, a personagem Yasmin, que se envolvia momentaneamente com o personagem Bira, vivido pelo ator Guilherme de Pádua.

Na tarde do dia 28 de dezembro, Daniella e Guilherme gravaram a cena do fim do romance de Yasmin e Bira. Logo após as gravações, o ator teve uma crise de choro e procurou inquieto por Daniella diversas vezes no camarim, o que foi presenciado por camareiras do estúdio. Segundo estas camareiras, ele entregou a Daniella dois bilhetes, os quais a jovem se recusou a dizer do que se tratavam, aparentando grande nervosismo. Na polícia e na justiça, o que foi confirmado também pelos depoimentos de Paula Thomaz, Guilherme disse que estava nervoso, por acreditar que seu papel estava sendo reduzido na novela, uma vez que, naquela semana, não havia aparecido em dois capítulos.

No fim da tarde, Guilherme deixou o estúdio Tycoon, na Barra da Tijuca, onde a novela era gravada, foi até seu apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, e buscou sua mulher Paula Thomaz, grávida de 4 meses. Munidos de um lençol e um travesseiro, o casal deixou o prédio novamente em direção aos estúdios Tycoon, onde Daniella continuava gravando. Chegando ao local, Paula não saiu do carro, mas ficou deitada no banco de trás do Santana de Guilherme, coberta com um lençol, enquanto o ator retornou ao estúdio para terminar as gravações das suas cenas.

Por volta das 21 horas as gravações terminaram. No estacionamento, Guilherme e Daniella tiraram fotos com fãs e, então, Guilherme saiu dirigindo seu Santana, que foi seguido pelo motorista das crianças com quem havia tirado as fotos. Em seguida, a atriz saiu do estúdio dirigindo um Escort. O motorista viu quando Guilherme parou o carro num acostamento ao lado do posto de gasolina onde Daniella parou para abastecer o carro - confirmado pelos frentistas do posto, que preocupados com a possibilidade de assalto, ficaram atentos ao ocupante do carro, e se tranquilizaram ao reconhecer o ator. Ao sair do posto, Daniella teve seu carro fechado pelo Santana de Guilherme. Os dois desceram de seus respectivos carros e Guilherme desferiu um soco no rosto da atriz, que caiu desacordada. Isso foi presenciado por dois frentistas do posto. Guilherme então colocou a atriz desacordada no banco de trás de seu Santana, agora dirigido por Paula, e tomou a direção do Escort de Daniella. Da Avenida das Américas, os carros seguiram até a Rua Cândido Portinari, uma rua deserta da Barra da Tijuca, e pararam num terreno baldio.

Lá, Guilherme e Paula começaram a apunhalar Daniella - primeiro dentro do carro, depois num matagal próximo. A perícia comprovou que Daniella Perez foi morta com 18 estocadas que atingiram o pulmão, o coração e o pescoço. O advogado Hugo da Silveira, que passava pelo local do crime, achou estranho dois carros parados num local ermo e, pensando se tratar de um assalto, anotou as placas. Viu no Santana um homem e "uma mulher de rosto redondo", que confirmou mais tarde tratar-se de Paula Thomaz. O advogado dirigiu-se então à sua casa, de onde chamou a polícia.

Ao chegar ao local, a polícia só encontrou o Escort de Daniella e os documentos do carro em nome do ator Raul Gazolla, marido de Daniella. Enquanto um dos policiais seguiu para a casa de Raul, o outro manteve guarda no local, e para se proteger do matagal sinistro e perigoso, o policial, mesmo armado, acha por bem resguardar-se atrás de uma árvore, quando tropeça no corpo de Daniella.

Na delegacia, Guilherme e Paula chegaram a consolar a mãe de Daniella e Raul Gazolla.

A polícia, sabendo a placa do carro, foi até os estúdios Tycoon e descobriu que o proprietário era Guilherme de Pádua, apesar de uma letra estar errada. A placa anotada foi OM1115 e a placa do ator na planilha do estúdio era LM1115, o que mais tarde se comprovou que a placa do carro tinha sido adulterada com fita isolante pelo ator, de LM1115 para OM1115, o que eliminou a alegação da defesa de crime passional.

Na manhã do dia 29 de dezembro, a polícia chegou ao apartamento de Guilherme e ele foi levado para a delegacia. Inicialmente o ator negou a autoria do crime, mas no mesmo dia, encurralado pelas provas, acabou admitindo a autoria. Numa conversa com os policiais, Paula chegou a confessar a participação no crime, mas em depoimento negou envolvimento. O delegado do caso chegou a ouvir um telefonema de Guilherme para Paula, em que ele dizia que iria segurar tudo sozinho. Assim a polícia também passou a suspeitar de Paula.

Guilherme e Paula ficaram presos definitivamente no dia 31 de Dezembro . Ambos reivindicaram o direito de só falar em juízo. Ao longo dos cinco anos até o julgamento, Guilherme de Pádua testou várias versões através da imprensa. Nenhum dos dois convenceu o júri, e ambos foram condenados por homicídio qualificado: motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.

Repercussão.

O crime foi destaque em todos os telejornais no Brasil e até no exterior, como na CNN e na BBC.

Iniciativa Popular.

A indignação popular que se seguiu a esse episódio, resultou na alteração, por iniciativa da autora Glória Perez, da Lei dos Crimes Hediondos, que conseguiu mais de 1 milhão de assinaturas: a partir daí, o homicídio qualificado (praticado por motivo torpe ou fútil, ou cometido com crueldade) passou a ser incluído (através da lei 8.930/1994) na Lei dos Crimes Hediondos, que não permite pagamento de fianças e impõe que seja cumprido um tempo maior da pena para a progressão do regime fechado ao semiaberto (em 2006, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional a proibição de progressão de regime).

Prisão.

Na prisão, nasceu o filho de Paula e Guilherme, Felipe, em Maio de 1993.

O casal se divorciou ainda na prisão após a mudança da versão de Guilherme para o crime, ao dizer que Paula também participou.

Ambos saíram da cadeia antes, cumpriram apenas 7 anos de pena em 1999.

Motivação do crime.

A versão provada no tribunal da motivação do crime foi a apresentada pelo promotor Maurício Assayag e pelo advogado de acusação Arthur Lavigne. De acordo com depoimento de testemunhas, Guilherme assediou Daniella visando beneficiar-se de sua amizade, por se tratar da "filha da autora da novela". Ele mesmo admite isso em depoimento ao juiz, no Tribunal do Juri. Na semana do crime, ficou inseguro ao receber os capítulos da novela e perceber que seu personagem não estaria presente em 2 capítulos. Pensou que seu personagem estava diminuindo por influência de Daniella. Supondo que Daniella havia contado à mãe das suas investidas, o ator manipulou a esposa, estimulando ainda mais o ciúme dela, conhecida por já ser extremamente ciumenta, e com histórico de ter agredido outras mulheres, e juntos arquitetaram o assassinato.

Arma.

Desde o início das investigações, os peritos deixaram muito claro que a arma do crime não foi uma tesoura: foi punhal. O laudo da perícia revela que os ferimentos que atingiram Daniella foram feitos por instrumento perfurocortante com dois gumes. (Raphael Pardellas, diretor do IML e laudo pericial incluso no processo crime)

As perfurações encontradas na blusa de malha que Daniella usava, mostram que o instrumento não entrou esgarçando, como uma tesoura entraria, mas cortando, como uma lâmina de dois gumes pode fazer. A tesoura, para ser considerada perfurocortante terá que ser acionada aberta, o que, sem dúvida, acarretaria, além de um número variado de lesões muito superficiais, outras que se restringiriam à epiderme, o que não aconteceu. Os golpes foram precisos e atingiram 8 vezes o coração de Daniella.

Outra evidencia que desmente a manobra: apunhalar alguém com uma tesoura aberta provoca inevitavelmente ferimentos na mão de quem apunhala, porque a pessoa teria que agarrar o gume para efetuar os golpes, nem Paula Thomaz nem Guilherme de Pádua tinham qualquer ferimento nas mãos.

A tesoura foi inventada para escamotear a premeditação. Estaria no carro para que Paula Thomaz abrisse sacos de leite. De acordo com essa versão, Paula Thomaz estava sempre tomando leite, mesmo dentro do carro, nos trajetos cotidianos. Por isso precisava ter sempre uma tesoura à mão. Porém, as pessoas que conviveram com ela, nunca a viram tomando leite e depois do crime não há registros de que o tenha feito.

A premeditação ficou comprovada pela presença de Paula Thomaz escondida num lençol, a adulteração perfeita da placa do carro do casal, e a emboscada no posto de gasolina, presenciada pelos frentistas. Complementou-se com a dissimulação: o casal de criminosos indo prestar condolências à família da vitima.  Uma das motivações do crime teria sido um ritual de magia negra. Os indícios estão listados no site Daniella Perez (http://www.daniellaperez.com.br/?p=930).

Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Daniella_Perez (Fonte Principal)

https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/559022479/o-assassinato-de-daniella-perez

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-caso-daniella-perez.phtml

https://istoe.com.br/raul-gazolla-revela-estresse-enorme-com-assassinato-de-daniella-perez/

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