terça-feira, 19 de julho de 2016

Incidente Max Headroom.

O Incidente Max Headroom foi um Incidente ocorrido em Chicago no dia 22 de novembro de 1987. Um hacker invadiu o link de duas emissoras da cidade de Chicago, a WGN-TV (Canal 9) e a WTTW (Canal 11), causando problemas nacionais. O hacker e seus cúmplices nunca foram presos, sequer identificados. Tampouco se sabe como o sinal das emissoras de TV foi invadido.



Até as 21h14 do dia 22 de novembro de 1987, o que aparecia nos televisores de Chicago era, de certa forma, normal: entretenimento, notícias, game shows.

Naquela noite, como sempre, Dan Roan, um popular locutor esportivo do Nine O’Clock News do Channel 9, narrava os destaques da vitória do Chicago Bears sobre os Detroit Lions. E então, subitamente e sem aviso, o sinal piscou e surgiu a escuridão.

Na sala de controle da WGN-TV, os técnicos de plantão olhavam sem reação para suas telas. Era de seu estúdio, localizado em Bradley Place, no norte da cidade, que a rede transmitia suas microondas para uma antena no topo da torre John Hancock, de 100 andares, a 11km de distância, e então para dezenas de milhares de telespectadores. O tempo parecia ter parado enquanto os técnicos observavam seu sinal ser invadido.

Uma figura atarracada e de terno surge na tela com um estalo, pulando loucamente pra cima e pra baixo. Com uma máscara emborrachada fantasmagórica, óculos escuros e um sorriso largo congelado no rosto, o misterioso intruso parecia uma mistura de Richard Nixon e o Coringa, do Batman. A estática chiava através do sinal; atrás dele, uma placa de metal ondulado girava de forma hipnótica. Isto não fazia parte da programação normal.

Finalmente alguém mudou as frequências do uplink e a imagem na tela voltou para o estúdio. Lá estava Roan, em sua mesa, sorrindo em direção à câmera, embasbacado.

“Bom, se você está aí surpreso com o que aconteceu”, ele disse, rindo nervosamente, “eu também estou”.

Em poucas horas, autoridades federais foram chamadas para investigar um dos mais esquisitos crimes na história da televisão – uma rara invasão de sinal de transmissão, sem motivo, método ou culpados aparentes. Poderia muito bem ter vindo de outra dimensão.

Para muitos espectadores mais informados, o rosto de Max Headroom era inconfundível. “O primeiro apresentador de televisão gerado por computador”, como o próprio teria orgulhosamente se vangloriado, foi um personagem lançado em 1985 como o VJ de um programa musical britânico. Seu humor sarcástico e jeito único de falar – seguido de uma campanha para a Coca-Cola, um talk-show noturno no Cinemax e alguns especiais na TV – o tornaram uma personalidade cult antes mesmo de finalmente ganhar seu próprio programa de uma hora de duração na TV norte-americana.

Max Headroom, que mostrava as desventuras de um jornalista televisivo em um futuro distópico, com um alter-ego digital como personagem principal, estreou em 31 de março de 1987. Em Chicago, o programa era transmitido pela Channel 7, afiliada da ABC, e durou 11 episódios, com mais uma breve segunda temporada naquele ano, antes de seu cancelamento, perdendo em audiência para o popular Miami Vice.

Ainda assim, o efeito do rosto vacilante e computadorizado de Max era difícil de esquecer. Resultante não de computadores mas sim de muita maquiagem e próteses sobre o rosto do comediante Matt Frewer, Max era uma paródia sinistra dos repórteres da vida real em um ambiente televisivo em que entretenimento e notícias começavam a se misturar. Max Headroom era o cyberpunk dentro da televisão de massa, imaginando um mundo digital que no fim das contas não era tão distante de 1987. (Cada episódio mencionava a data como “20 minutos no futuro”). Quando o programa foi cancelado, aquele rosto falso e de maxilar forte já era conhecido por uma pequena parcela dos espectadores no final dos anos 80 assim como as máscaras de Guy Fawkes são conhecidas pelo povo do Twitter de hoje.

Às 21h16, logo após o falso Max ter invadido o sinal da WGN, os técnicos de lá, suspeitando que fosse alguém da emissora, começaram a vasculhar o prédio em busca de um possível culpado. Mas Max não estava lá. E a invasão não tinha terminado.

Quase exatamente duas horas depois, por volta das 23h15, o Channel 11, WTTW, afiliado da PBS, exibia um episódio de Dr. Who chamado “O Horror de Fang Rock”, quando um barulho de estática cortou a transmissão. Linhas na tela, que indicavam o início de uma gravação em VHS, piscavam pela tela. Ao contrário da invasão anterior, de 30 segundos, esta tinha áudio, quase inaudível em meio ao zumbido da distorção. Sua duração foi de um minuto e vinte segundos.

“Ele é um nerd desgraçado”, diz Max em uma voz semelhante a de um vilão de desenhos animados. Seguido de “eu acho que sou melhor que Chuck Swirky, maldito liberal!”, fazendo referência ao locutor do Chicago Bulls que era sensação na WGN Radio. O painel de metal girando hipnoticamente ao fundo era a cópia barata do estúdio “gerado em computador” de Max. Segurando o que parecia ser um pênis de borracha, o brincalhão gritava o slogan da Coca-Cola – “Pegue essa onda!” – e cantarola o tema do desenho Clutch Cargo, dos anos 60.

“Seu amor está acabando!”, ele grita, antes de jogar o falo de mentira ao chão. “Eu ainda vejo o X!”, diz, uma referência direta ao último episódio de Cargo.

“Acabo de criar uma grande obra de arte para os maiores nerds de jornais do mundo”, adiciona, fazendo troça sobre a televisão de Chicago da época. O nome WGN era uma abreviação de “World’s Greatest Newspaper” [ O Maior Jornal do Mundo], um slogan emprestado dos primórdios do Chicago Tribune, jornal que era proprietário da emissora.

Então a câmera corta para Max em um ângulo levemente diferente, voltado para frente da tela e levemente curvado. Sua máscara balança perto da câmera, o rosto fora da imagem e sua bunda à mostra, bem na frente e no centro. “Estão vindo me pegar!” , ele grita. No lado direito da tela, uma mulher bate em seu traseiro com um mata-moscas, de forma meio preguiçosa. “Vem me pegar, vadia!”, grita novamente. O grito se torna um barulho distorcido, sinfônico, contínuo e monótono. E de repente, tão rápido quanto chegou, o sinal é cortado, e Chicago volta à quietude sombria do episódio programado de Dr. Who.

“Até onde sei”, observa o Doutor naquele exato momento, “um choque elétrico gigantesco. Ele deve ter morrido na hora.”

“Quando nossa equipe estava tentando entender o que estava acontecendo, já tinha acabado”, disse um porta-voz da WTTW, que fica a cerca de 3km da WGN, ao Tribune. Para milhares de moradores de Chicago, já era tarde demais. Faltavam uns pouco anos para a invenção da rede mundial de computadores como a conhecemos, mas por alguns instantes naquela noite, milhares de espectadores tiveram a oportunidade de ver, simultaneamente, de relance, um protótipo de troll, um hacker que havia conseguido, de alguma forma, invadir os sinais de transmissão de Chicago. Não uma, mas duas vezes.

Em ambas as emissoras, WGN e WTTW, os telefones começaram a receber incontáveis ligações de espectadores confusos e compreensivos a respeito do ocorrido. Nos próximos dias, o conto da invasão viralizou. Jornais e veículos de notícias locais cobriam o evento num misto de suspense estupefação. (A manchete do Tribune dizia: “O poderoso pregador de peças dos vídeos p-p-p-pode se tornar Max Jailroom”). A WGN fez do caso um destaque e o intitulou “PIRATA DA TELEVISÃO”.

“Eu fiquei tão bravo que quis quebrar a TV”, declarou um engravatado ao repórter. Uma jovem, aparentemente fã de Dr. Who, não se impressionou. “Teremos que gravar por cima da fita”, reclamou. Um senhor comparou o incidente a um vândalo atirando um tijolo em uma janela. Um jovem rapaz sorriu em direção ao repórter. “Muito, muito engraçado”, declarou.

O governo não gostou da história. Oficiais da FCC (Federal Communications Commission), órgão responsável pela regulamentação das ondas de rádio norte-americanas, comprometeram-se a descobrir os misteriosos culpados e levá-los à justiça. Agentes do escritório do FBI de Chicago logo se juntariam à investigação. “Gostaria de informar a qualquer um envolvido neste tipo de coisa que há uma pena máxima na forma de uma multa de 100 mil dólares, um ano de cadeia ou ambos”, disse Phil Bradfort, porta-voz da FCC, a um jornalista no dia seguinte. "No final das contas, há quem possa ver isto como cômico”, declarou Anders Yocom, representante da WTTW. “Mas trata-se de algo muito sério porque a interferência ilegal de um sinal de transmissão é violação de lei federal.”

Tratava-se de uma lei nova, criada em grande parte por conta do medo crescente entre especialistas de telecomunicações e autoridades policiais. Na época da invasão de Headroom, atos como este eram considerados fenômenos raros, limitados a pequenas emissoras com transmissões mais fracas, exigindo um conhecimento e equipamento específicos cujos custos estavam estimados em até 100 mil dólares.

Mas a possibilidade de uma nova forma de vandalismo – ou protesto, ou ainda terrorismo – começava a surgir um ano e meio antes, em 27 de abril de 1986. Naquela noite a HBO transmitia A Traição do Falcão, um filme de John Schlesinger de 1985 baseado na história de um prestador de serviços do Serviço de Inteligência norte-americano que vendia segredos aos soviéticos. Por volta das 00h30, a tela piscava com barras coloridas e sobreposta:

*> "BOA NOITE HBO" <* 
*> "DO CAPTAIN MIDNIGHT" <* 
*> "$12.95 POR MÊS?" <* 
*> "DE JEITO NENHUM"<* 
*> [SHOWTIME/MOVIE CHANNEL CUIDADO!] <*

Com a duração de quatro minutos e meio, a mensagem de Captain Midnight é a primeira invasão de sinal de que se tem notícia nos EUA. Os executivos da HBO se negaram a discutir o incidente publicamente – um protesto contra a recém-anunciada alta nos preços da rede – e especialistas temiam que a invasão fosse o presságio de um futuro negro para as emissoras, para a infraestrutura de satélites do país, e para o público. “Nas mãos erradas, este novo tipo de bloqueio de sinal não seria nada engraçado”, entoou um jornalista da ABC News.

Em questão de dias, investigadores da FCC haviam encontrado o invasor. Captain Midnight era um técnico em antenas chamado John MacDougall, cujo erro fora utilizar um programa de geração de texto relativamente incomum para colocar sua mensagem na tela, uma pista que levou os investigadores até a empresa que empregava MacDougall, a Central Florida Teleport, especializada em uplinks por satélite localizada em Ocala, Flórida.

Ao final de seu turno da noite, finalizando uma transmissão de Pee-wee’s Big Adventure, na extinta emissora People’s Choice, MacDougall direcionou a antena para o satélite com o sinal da HBO, Galaxy 1, e transmitiu sua mensagem, derrubando o sinal da rede. Ele explicou aos investigadores que estava frustrado com os preços crescentes da emissora, algo que afetava seu outro emprego, a venda de equipamentos para TV via satélite. Após se declarar culpado das acusações de transmissão não licenciada, que viola leis federais, MacDougall pagou uma multa de 5 mil dólares e passou um ano em condicional.

Houve alguma ambiguidade no caso, especialmente sobre a aplicabilidade da acusação de delito federal feita contra ele, a violação da lei 47 USC 301, “transmissão sem licença”. De fato, MacDougall tinha a licença para transmissões. No ano seguinte, o Congresso americano aprovou a lei 18 USC 1367, que criminalizava o bloqueio de sinais de satélite. Esta lei foi posta à prova depois de outro incidente um ano depois, cerca de dois meses após a invasão de Max Headroom.

Em setembro de 1987, a Playboy TV teve seu sinal invadido com mensagens fanáticas que diziam aos onanistas surpresos em suas casas para se arrependerem de seus pecados e buscarem Jesus. O FBI identificou o responsável como Thomas Haynie, técnico contratado pela Christian Broadcasting Network. Haynie foi preso e condenado sob a nova lei de bloqueio de sinais, sentenciado à liberdade condicional.

O relatório do FBI sobre o incidente Headroom, que obtive por meio de pedido valendo-me da Lei da Liberdade de Informação dos EUA, foi escrito pelo Dr. Michael Marcus, chefe-assistente do bureau e chefe das investigações. Expert em hacking televisivo e tecnologias de transmissão por rádio, Marcus juntou-se à FCC em 1979, passando a ter um papel importante na proposição e desenvolvimento de políticas para tecnologias avançadas em rádio. Antes de sua aposentadoria, em 2004, ele lutava contra a oposição da indústria em auxiliar a FCC a lançar tecnologias como o wi-fi e o Bluetooth no espectro comercial.

Ele também foi vital para a captura de Captain Midnight e do invasor da Playboy TV, experiências que lembra com doses iguais de prazer e desgosto, tanto pelos desafios burocráticos envolvidos quanto pela busca destes “lunáticos”. Para Marcus, que agora opera uma consultoria de telecomunicações em Washington, o hacker responsável por Headroom ainda era um “vilão” e “aquele que escapou”. Mas, declarou, não foi sua culpa.

“O chefão de Chicago na época” – um investigador da FCC do qual ele não cita o nome – “disse ‘que que eu posso fazer?’ e eu respondi ‘você tem o vídeo – vá até onde você acha que ele tenha sido feito!’”.

Para encontrar um invasor de sinal, o que ajuda é começar pelo local, para saber de onde o sinal invasor veio, e isso exige saber o caminho que o sinal percorre antes da visão. Para espalhar seus sinais pela cidade, emissoras locais enviam os dados de seus estúdios para poderosos transmissores no topo de edifícios altos. A conexão entre os estúdios e o transmissor é chamado de link estúdio-transmissor, ou STL, na sigla em inglês para studio transmitter link.

No caso Max Headroom, esta é a teoria: o hacker conseguiu sobrepujar as microondas do STL, que ficaram vulneráveis ao ataque em uma frequência que não seria difícil de se encontrar, já que estavam sendo enviadas para receptores no John Hancock Building e na Sears Tower.

Os invasores apenas teriam que levar seu equipamento para um local alto o suficiente, um apartamento ou topo de um arranha-céu, em um local entre os dois estúdios e seus transmissores, em algum ponto do norte ou noroeste de Chicago. Em seguida, poderiam enviar frequências de microondas poderosas para os receptores nos arranha-céus, e ao substituir os sinais dos estúdios, poderiam enganar os transmissores de forma a repassarem seu próprio sinal. “Acho que o responsável se aproximou dos receptores e transmitiu um sinal que chegou até ele mais forte do que o sinal original, que era mais distante”, disse Marcus.

Trajetórias do Sinal. Caminhos pelos quais os sinais de Tv viajaram indica os lugares onde o Hacker
Poderia estar posicionado. Mapa por Alex Pastemack / Scribblemaps.
Marcus duvida que o hacker estivesse usando equipamentos caros e sofisticados, ou mesmo que eram grandes máquinas, como alguns sugeriram na época. “Não acho que precise ser algo caro”, ele disse. “Novos, os equipamentos teriam custado cerca de 10 mil dólares, mas também poderiam estar usando algo usado, encontrado no mercado de rádio amador. Há equipamentos disponíveis que têm estas capacidades. Não creio que ocupariam mais que algumas mochilas”, disse.

“Era preciso ter uma antena parabólica”, afirmou Marcus, “mas se eles ficassem próximos da antena receptora STL na transmissora da TV, uma antena comum poderia ser o suficiente”.

Enquanto Marcus e outros agentes da FCC traçavam o possível panorama técnico e tentavam seguir algumas pistas, focando-se nos setores ao norte e noroeste da cidade – a área mais provável de onde se poderiam interromper as transmissões –, o FBI examinou cuidadosamente a fita de vídeo. No mínimo, o bureau tinha suas cópias fotográficas, algo que oaFCC ainda não dispunha.

Analistas do FBI melhoraram a qualidade de alguns dos quadros da fita através de uma máquina U-Matic. Seis imagens reveladas através do processo de prata à seco foram criadas a partir do vídeo, de acordo com um “Relatório da Divisão de Serviços Técnicos do FBI”, mas foi observado que uma gravação de primeira geração seria essencial para uma melhor análise. Parece que eles também tentaram melhorar os quadros do “QUADRANTE SUPERIOR DIREITO” do vídeo para obter uma imagem melhor da cúmplice safadinha de Max.

Gif por Dan Stuckey
A localização do sinal dos intrusos era uma coisa, mas indicar onde o vídeo teria sido feito dependia da fita em si. Ela forneceria, declarou Marcus, a maioria das pistas para identificar os culpados, em grande parte por ser a única pista que os investigadores possuíam.

Mas para Marcus, aquilo era o suficiente. O fundo que não parava de rodar já dizia o bastante.

“O plano de fundo parecia ter cerca de 2,5m de largura, feito de metal industrial, talvez uma porta de rolar daquelas de armazém”, disse. Isso limitaria a busca a certos lugares na cidade. E uma pista em particular parecia particularmente promissora, de acordo com Marcus, uma que apontava para uma pessoa em especial, alguém que trabalhava para uma empresa que tinha um espaço similar a um armazém na cidade, um lugar que poderia ter servido de cenário para o vídeo.

A pista parecia forte, mas os investigadores não tinham um motivo, nem mandado. Só um palpite. Entendê-lo exigiria ir ao lugar para determinar se alguém havia visto algo de esquisito, e talvez neste processo, dar de cara com o culpado ou culpados. “Tinha que ser alguém que conhecesse essa tecnologia”, afirmou Marcus. “Talvez um técnico em transmissões, mas outros técnicos poderiam fazê-lo também.”





Relatório do FBI sobre o “Incidente Max Headroom; bloqueio de sinais de microondas"


Mas mesmo com uma possível localização geográfica, disse Marcus, obter recursos e mão-de-obra necessários para continuar a investigação era uma batalha. Ele havia retornado ao QG em Washington, e o investigador da FCC em Chicago era muito medroso para seguir com a investigação.

“Nosso cara em Chicago não queria ter que começar a bater em portas”, lembrou Marcus, com certo desdém, sem citar nomes. “Ele estava acostumado com casos mais tradicionais relacionados à FCC, e não se sentia bem em fazer coisas que nunca havia feito antes.”

O ímpeto diminuiu: faltavam evidências para o caso, e a ameaça parecia ambígua. “Como você perde o sono com uma coisa dessas? Ninguém morre e não há nenhum dano.” Havia o temor na época de que um hacker como estes poderia causar danos à infraestrutura que poderiam custar centenas de milhões de dólares, mas as preocupações com os sinais de televisão comuns eram bem menores. ”Max Headroom não era uma ameaça à segurança pública, ou para um equipamento de milhões de dólares”, disse Marcus. “Então os recursos eram muito mais escassos.”

Dois dias depois, outra invasão de Headroom ocorreu durante o noticiário das 22h na WMAQ-TV, Channel 5. Desta vez porém havia sido uma zoeira do âncora de esportes do programa, Mark Giangreco, que pegou um trecho da invasão e colocou na sua seção do programa. “Você viu que o pessoal da FCC disse que iria analisar os sinais pra chegar direto até a fonte e dar um fim nesse cara?”, disse o repórter, sarcasticamente. “Estes são os mesmos caras que passaram dez anos tentando fazer Steve Dahl falar direitinho!.” A trilha havia esfriado.

É UMA DAQUELAS COISAS QUE NÃO FUNCIONA NA TEORIA. MAS FUNCIONA. BEM-VINDO À TERRA – ONDE TUDO QUE VOCÊ SABE ESTÁ ERRADO.

No momento em que o conto de Max Headroom invadindo duas transmissoras em Chicago começava a ser eclipsado, uma semana depois, as teorias começavam a se empilhar na rede. A especulação que eventualmente chegaria a locais como o reddit eventualmente começou nos BBSs de Chicago, lugares com nomes como Ripco, Overdrive e God’s Country. No BBS Tolmes News Service, usuários de conexão discada reagiram à invasão com curiosidade e espanto e um quê de orgulho hacker. Dois dias depois, ao menos uma pessoa, com o nome de usuário “The Chamelion” (autor de um arquivo de texto chamado "Computer Terror and Distruction" [sic]) parecia saber demais.

87Nov24 6:18 de The Chamelion

Nesta manhã o ABC World News passou uma matéria sobre todas as invasões de transmissões. Rolou WGN, WWOR e a superestação de Kansas, KTAT, se não me engano. Disseram que “A FCC está procurando alguém que poderia interceptar transmissões”. Estudei isso por um tempo e acreditem, não é tão difícil. Especialmente invadir estas superestações. Mostraram também um vídeo do que foi transmitido. Era uma versão caseira de Max Headroom. Bem legal. Atacaremos de novo. Garanto a vocês.

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87Nov25 11:27 de Milo Phonbil

Como assim "nós", réptil?

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87Nov29 21:05 de The Slipped Disk

Peraí, como aqueles caras em Chicago conseguiram? Eu assisti a transmissão.

Bela sacada. Coisa de gente de dentro, você acha?

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87Nov30 6:02 de The Chamelion

Dificilmente foi algo interno. Eles só miraram o transmissor no mesmo transponder da WGN, com uma força maior. Não precisa nem ser tão maior. Só um pouco, e o sinal da WGN é cancelado. Como disse antes, é uma daquelas coisas que não funciona na teoria. Mas funciona. Bem-vindo à Terra – Onde tudo que você sabe está errado.

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Desde o incidente com Headroom, a interceptação de sinais tornou-se um clichê popular em fantasias hacker: o Coringa de Jack Nicholson em Batman (1989) invade o sinal com uma campanha de cosméticos envenenados, Christian Slater cria fama sobre seu próprio talk show pirata no rádio em Um Som Diferente (1990), e no início de Hackers – Piratas de Computador (1995) o personagem principal conta a sua mãe que está “tomando uma rede de TV”. A invasão de emissoras é parte central de V de Vingança, de 2005, e a abertura de A Quinta Dimensão dizia “não tente ajustar seu televisor... Nós estamos controlando a transmissão”. Até o Anonymous fez uma referência à invasão de Headroom em um vídeo de 2008, durante sua campanha contra a Cientologia.

Em uma era de transmissões digitais e criptografia, invasões de sinais tornaram-se mais complicadas de se fazer, mas ainda acontecem. Em 2007, um programa do Disney Channel transmitido para uma cidade em Nova Jersey foi interrompido com cenas de um filme pornográfico; no ano passado, alguém inseriu cenas de pornô gay hardcore em um noticiário matinal de Hamilton, Ontário, e um técnico em Tucson foi acusado de fazer algo parecido com a transmissão do Super Bowl de 2009 da Comcast na mesma cidade. Em fevereiro de 2013, um hacker conseguiu invadir o sistema de emergência de quatro emissoras diferentes com avisos de uma invasão zumbi; ele logo foi encontrado e preso.

A invasão de sinais também tem propósitos militares. Em 2006, durante a guerra do Líbano com Israel, hackers alteraram o sinal do canal da emissora Al-Manar, do Hezbollah, para incluir fotos de soldados falecidos da organização e avisos direcionados ao secretário geral do partido. Em setembro de 2013, a rede Al Jazeera declarou que o exército egípcio provavelmente estaria interferindo em seus sinais para espectadores do país diariamente, desde 3 de julho, quando o presidente egípcio Mohamed Morsi havia sido deposto. Em maio do mesmo ano, a estatal iraniana Press TV afirmou que seus sinais estavam sendo bloqueados na Europa, por mais que o governo do país supostamente venha fazendo o mesmo há anos, algo que um médico iraniano culpava pela infertilidade do país.

A prática também já ajudou a salvar vidas: o exército norte-americano usou equipamentos para bloqueio de sinais de rádio para combater ataques com explosivos improvisados no Iraque, comprando cerca de 50 mil unidades destes aparelhos a um preço estimado de 17 bilhões de dólares.

Invasão de sinais também é a arma de preferência do personagem Max Headroom. Diz a lenda, Max começou sua carreira como Edison Carter, um intrépido repórter televisivo da Network23, investigando os negócios escusos de diversas empresas em um futuro distópico próximo, quando descobre que a sua própria emissora está exibindo um novo tipo de anúncio que pode, literalmente, matar seus espectadores. Edison é capturado e deixam-no inconsciente, e fazem o download de seu cérebro para que este possa ser examinado pelos chefões da emissora (a última coisa que Edison vê é uma placa em um viaduto com os supostos dizeres “MAX. HEADROOM: 2.3M [ALTURA MÁXIMA: 2,3M]).

Enquanto isso, o gênio residente da emissora consegue fazer o upload do cérebro de Edison na rede de computadores local. Nascia, assim, Max Headroom. O alter-ego de Edison aparece no programa apenas periodicamente, na forma de comentarista e provocador no sistema, falando verdades a respeito de censura e controle sempre que surge no sinal – um ato que, por lei, em seu mundo distópico, é punível com a morte.

Em alguns cantos da internet, a história de como Max Headroom se infiltrou em duas emissoras de Chigago, apenas algumas semanas depois de seu cancelamento, atingiu proporções quase místicas. Quando ela é recontada, vez ou outra, geralmente é recebida com incredulidade por parte dos novatos, ou com um choque de reconhecimento por parte dos nativos de Chicago que lembram de ter visto o ocorrido quando eram crianças, algo que os deixou aterrorizados, confusos e fascinados.

“Eu achei a coisa mais legal do mundo desde Jogos de Guerra”, disse Rick Klein, morador de Chicago, fundador e curador do Museu da Televisão Clássica de Chicago, e seu site, fuzzymemories.tv. Klein, que tinha apenas 13 anos quando tudo aconteceu, não viu a invasão ao vivo, mas sabia que um amigo de seu pai gravava os episódios de Dr. Who toda sexta-feira em fitas VHS.

“Pedi para que meu amigo pegasse a fita de qualquer jeito”, diz. “Depois que cheguei em casa, fui passando a fita ansioso até chegar a parte em que aquela imagem assustadora e perturbadora de Max Headroom surgia no meio das linhas na tela. Como muitos, assisti àquilo diversas vezes, tentando decifrar as palavras aqui e ali, ou um sentido maior por trás de tudo aquilo.”

“Com o tempo concluí que não existia significado algum. Guardei a fita, mas às vezes a assistia de novo, como uma peça querida de minha coleção, que com certeza deixaria as pessoas embasbacadas ao assisti-la.” Desde que Klein fez o upload do vídeo da invasão em Dr. Who no YouTube, em 2006, o incidente foi assistindo mais de dois milhões de vezes.

A questão de como aquilo foi feito era relativamente simples. Quem o fez já era outra história. Uma teoria que rodou a internet por algum tempo focava-se em um artista e músico chamado Eric Fournier. Eric era o criador da maravilhosamente surreal e sinistramente avant-garde série para o YouTube “Shaye Saint John”. Muitos traçam paralelos entre o estilo errático do hacker de Max Headroom e a bizarra estrela dos vídeos de Eric.

A teoria afirma que Eric — residente da cidade vizinha, Bloomington, Indiana, e que na época tocava em uma banda punk chamada The Blood Farmers – simplesmente queria obter alguma exposição para os clipes de sua banda. No último segundo ele teria desistido da ideia de transmitir um de seus clipes por medo de que os identificassem, e então reverteu tudo para uma performance espontânea.

Mas Harry Burgan, antigo colega de banda de Eric, descarta essa hipótese. “Isso é ridículo”, disse por email. “Eric não sabia nada de edição de vídeo quando estávamos no colegial. Nunca fizemos vídeos nenhum, com exceção de alguém que talvez tenha filmado um de nossos shows. Não éramos amigo de ninguém que estivesse estudando telecomunicações e não tínhamos acesso a equipamento de transmissão. Acho que a única vez que nós quatro estivemos em Chicago foi para assistir um show do Pixies.”

“Eric acharia este boato hilário”, declarou Burgan. “Eu só acho bizarro.” Mesmo que o hacker tenha mostrado traços da loucura performática de Eric, seus outros amigos com quem falei também descartavam a teoria. O próprio Eric não tem como confirmar ou negar a história: ele faleceu em 2010.

A segunda teoria, proposta por um programador de Chicago chamado Bowie J. Poag, afirma que a guerrilha de comunicações nasceu da cultura hacker local dos anos 80, incentivada por um grupo disperso de hackers espalhados pelas BBSs de Chicago. Era uma cena a qual Poag, na época com 13 anos, ansiava por fazer parte. “Tem uma diferença enorme entre o geek dos anos 80 e o geek de hoje”, afirmou. “Nós éramos mais isolados socialmente do que a molecada hoje.”

Apesar de ser um novato, Poag conseguiu cair nas graças de alguns hackers mais velhos e começou a participar de pequenas reuniões em que eles se encontravam para socializar na vida real. Durante uma festa em 1987, ele lembra de ter conhecido um homem baixinho, bastante peculiar, que, supõe, tinha por volta de 30 anos. J não se dava muito bem socialmente, e talvez fosse autista, disse Poag. Quem cuidava dele era seu irmão mais novo, K, que morava com sua namorada em um apartamento, a 16km do centro de Chicago, abarrotado de computadores e cabos. “Havia pouquíssimo espaço livre”, ele lembra, e uma única peça de decoração “normal” – uma grande pipa colorida presa ao teto, em um canto.

Os dois irmãos eram muito próximos. “J era um cara atarracado, com óculos de lentes coloridas, por volta dos 30 anos de idade e meio esquisito. Já K”, alguém que ele lembra que talvez tenha trabalhado para a empresa telefônica local, “era bem normal aos padrões de qualquer um”. J e K, ele adiciona, não são seus nomes verdadeiros.

O irmão mais novo era infantil, mas extremamente inteligente. “J sabia muito não só sobre transmissões, mas toda a parte eletrônica relacionada a isso”, disse Poag. “Ele era um hacker de transmissões.”

E também era um esquisitão. “Em conversas onde muitas pessoas diriam apenas ‘hm’, J soltava um ‘Ahhhh’, das mais variadas formas.” Assustar pessoas de forma perversa era seu jeito de fazer amigos.

Demorou um pouco, afirma Poag, até que ele fizesse uma ligação entre J e a invasão no sinal. “Eu olho pro cara de máscara e vejo J.”

Por volta do meio-dia de 22 de novembro de 1987, Poag estava em um pequeno encontro de geeks no apartamento dos irmãos, onde haviam “três ou quatro pessoas ao redor de J. Eles sorriam ao ouvir algo sobre o qual J estava falando, e eu ouvia aquela palavra, ‘grande’. Não perguntei na hora do que se tratava... Fiquei encostado na parede o tempo todo, com medo de ser ridicularizado ou que me mandassem embora.”

O grupo foi então para um Pizza Hut próximo. “Lá, perguntei o que eles queria dizer com ‘grande’. K se inclinou em minha direção e disse ‘só assista ao Channel 11 hoje de noite.’”

Poag dá de ombros para o fato de que a ligação não surgiu imediatamente no dia seguinte, quando as notícias do incidente começaram a se espalhar. “O fato de um deles ter me dito para assistir o Channel 11 aquela noite pesava tanto qualquer coisa que ouvi desses caras naquele dia”, declarou. “Eu sei que parece esquisito, mas eu não liguei as coisas na hora. Não tinha nem pensado que poderia ter sido J até eu ficar mais velho. E quanto mais penso sobre isso, mais sentido faz.”

Vinte e cinco anos depois, Poag decidiu postar sua teoria no reddit, ocultando identidades e mantendo detalhes os mais vagos o possível. O post se espalhou rapidamente, e ajudou alguns redditors que assistiram tudo acontecer ao vivo a relembrarem detalhes. Entrei em contato com Poag para ouvir sua versão, e perguntei se ele poderia repassar um pedido de entrevista para os irmãos.

Poag aceitou sem problemas. Passadas algumas semanas, obtive resposta. “Tentei falar com J e K, separadamente, por email e Facebook, mas sem sucesso”, ele dizia em um email. “Não sei nem se eles receberam minhas mensagens – a única certeza que tenho é que escrevi a eles.”

“Acho que está claro que seja lá quem foi o responsável, ele não está interessado em falar.” Falta de traquejo social, não temor da lei, pode ser o maior obstáculo sobre assumir a autoria, ele reflete. “Se foi J, a exposição que viria com assumir a responsabilidade seria assustadora.”

As declarações de Poag podem ser parte de um elaborado embuste, um artifício para tirar a atenção de outra pessoa, inclusive ele mesmo. Poag não teve como fornecer evidências físicas, mas ele apontou em direção a comentários feitos por outro redditor que afirmava lembrar dos irmãos. “Após invadirem a transmissão”, escreveu o comentarista, “falava-se muito sobre quem teria feito isso pela cena BBSs. Apontavam os caras que moravam no apartamento como culpados. Mas é claro que era só negação, negação, negação...”

A meu pedido, Poag tentou contatar os irmãos uma última vez pelo correio. Ele disse ter usado serviços de busca de informações pessoais como “Spokeo/Intellius/YP/Pipl”, para determinar que ambos eram proprietários de uma casa, na mesma rua que seus pais. Após dias de espera, ele escreveu de volta, exasperado com nossa jornada. “Me recuso a tentar algo além”, escrevia. “Está muito claro que eles querem ser deixados em paz, e respeitarei isso.”

Em maio de 2013, Poag voltou ao reddit para descrever as reações que havia recebido ao seu post, incluindo a minha, reiterando seu desejo de manter os nomes de J e K em segredo, e negando a possibilidade de estar envolvido. “Para fins de registro, não sou J, nem K ou qualquer outro dos pseudônimos que mencionei”, escreveu. “Nem estou escrevendo algo para divulgar o que sei em outros meios.”

Rick Klein, do fuzzymemories.tv, não acredita na história de Poag “por diversos motivos”, disse. “Mas seja lá quem for que fosse o ‘Max’, com certeza ele não agia como se tivesse qualquer tipo de autismo – sob influência de medicamentos ou não.”

O mais provável, argumentou Klein, era que os culpados tivessem algum relacionamento com a WGN. “É importante ter em mente que tudo isto foi feito para e contra a WGN.” Após uma tentativa falha de invadir completamente o sinal da WGN, os intrusos atacaram a WTTW. E há referências à WGN – a menção de Chuck Swirsky e a hora em que tudo ocorreu, durante os destaques esportivos, as referências ao Tribune e a Clutch Cargo, que era exibido pela emissora.

“Teria sido um funcionário descontente da WGN-TV?”, perguntou Klein. “Ou alguém que foi recusado para um emprego lá? Talvez um engenheiro ou alguém com conhecimento técnico e equipamento para fazer isso?”

Manchetes referentes ao caso, Ilustração de Courtney Nicholas

“Acredito mesmo que este mistério ainda pode ser solucionado”, disse. “Suspeito que mais gente não tenha falado no passado porque tinham medo de perder seu emprego ou ferir sua reputação na competitiva indústria televisiva. É surpreendente que ninguém tenha metido a boca no trombone até agora.”

Max Headroom não atormenta mais Marcus, o investigador aposentado. Sua experiência com invasões em sinais de rádio e TV lhe conferiu uma certa tolerância para o incomum. “No mundo do rádio, muitas esquisitices acontecem. E você pode fazer uma dessas uma vez, e provavelmente escapar, agora se o faz diversas vezes, há mais chances de acabar sendo pego. E nós não vemos esse cara faz mais de 20 anos.”

O Departamento de Justiça se recusou a comentar o caso especificamente. Mas pela lei, o hacker de 1987 estaria livre de recriminações, de acordo com seu manual de cybercrimes: “na ausência de um estatuto específico de limitações, o período padrão de cinco anos se aplica.”

Nos EUA, um hacker de TV atualmente pode ser acusado sob a Lei de Fraudes e Abusos de Computador de 1986, uma lei usada para penalizar, com o que seus críticos tem chamado de penas “draconianas”, diversos hackers relativamente do bem nestes últimos anos, incluindo aí Aaron Swartz e Andrew Auernheimer.

Mas o caso Headroom não é parecido com os hacks que ganham cobertura da mídia agora, com seus tons políticos e sociais. Enquanto isso, a digitalização dos sistemas televisivos e seu uso de fibra ótica e criptografia de sinais ajudaram a fazer este tipo de invasão cada vez mais parecer coisa de uma era diferente. E quando você para e olha para o passado, nada chegou tão perto quanto o incidente Max Headroom em termos de notoriedade ou bizarrice. Não havia motivação clara, nem mensagem, e trinta anos depois, nenhum culpado. Foi um truque possível somente naquela época, feito por curiosidade e a glória pura e simples de fazê-lo.

Trata-se de terreno fértil para estudos em mídia, talvez – uma interferência cultural cyberpunk, um protesto anárquico décadas antes de Anonymous e hackativismo tornarem-se termos comuns, lembrando ao público desavisado o quão desavisado ele realmente era. Mas o impacto do incidente fica envolto em suas próprias trevas. Fico pensando se os hackers suspeitavam que seu golpe momentâneo no espectro das transmissoras poderia ganhar nova vida na internet, onde ainda é reproduzido infinitamente, sujeito a análises e reações de choque. Vivendo naquele espaço ambíguo entre o fantástico e o assustador, onde “o hacker” mantém sua existência.

Em março de 1989, não muito depois que um jovem de 25 anos chamado Kevin Mitnick ser preso por invadir os computadores da NSA [Agência Nacional de Segurança dos EUA], o Tribune refletia sobre este tipo de pessoa relativamente novo. “Certa vez vistos como excêntricos, hackers hoje em dia geralmente são vistos como forças malévolas cujo conhecimento arcano e atos irresponsáveis ameaçam a utilidade fundamental dos computadores. Homens de negócios passaram a vê-los como criminosos que buscam roubar dinheiro e informações.” Não houve nenhuma menção à invasão acontecida na cidade-natal do jornal, aquela que parecia atacar diretamente a mídia e talvez os “maiores nerds de jornais do mundo”, em especial.

Independente de qual foi a sua motivação, a verdadeira vitória do responsável pelo incidente Headroom, naquele dia e após todos esses anos, talvez seja sua sinistra persistência. Apesar de suas origens analógicas, ele ainda dá o ar de sua graça em nossas telas. Um quarto de século depois e a imagem fantasmagórica de um hacker, interrompendo a programação normal por nada além de, aparentemente, pregar uma peça, ainda faz as pessoas perderem o sono.

Em busca de qualquer resquício de significado, Poag volta-se para o personagem de Max. Em seu programa, o “verdadeiro” Max Headroom invadia programas no Channel 23, zombando da mídia controladora de mentes.

“Por alguns preciosos segundos, a vida imitou a arte, pra variar”, disse-me Poag em um último email. “Quão precioso é isso? Uma espiada por trás da cortina... O público viu um animal raro e em risco de extinção, um hacker de verdade. Algo real, diferente das porcarias que Hollywood empurra. Eles podiam decidir por si mesmos se ririam disso ou ficaram aterrorizados.”

Escrito por Chris Knittel.

5 Agosto de 2014 // 12:28 PM CET.





Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Incidente_Max_Headroom

http://motherboard.vice.com/pt_br/read/o-misterio-do-mais-sinistro-hack-de-televisao-ja-feito

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