terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Sereias.

Sereia ou Sirena é uma figura da mitologia, presente em lendas que serviram para personificar aspectos do mar ou os perigos que ele representa. Quase todos os povos que dependiam do mar para se alimentar ou sobreviver, tinham alguma representação feminina que enfeitiça os homens até se afogarem. O mito das criaturas híbridas, representadas na mitologia grega, como um ser que continha o corpo de um pássaro e a delicadeza de uma mulher. Ao longo do tempo, transfiguram-se na Idade Média em mulheres metade peixe. É provável que o mito tenha tido origem em relatos da existência de animais com características próximas daqueles que, mais tarde, foram classificados como sirénios.

A Mermaid (Uma Sereia) de John
William Waterhouse. Créditos: Wikipédia

Etimologia.

Sereia de Canosa (século IV a. C.).
Créditos: Wikipédia.
A palavra da língua portuguesa "sereia" (do português arcaico serẽa) e suas equivalentes em outras línguas latinas derivam do grego antigo Σειρῆν no singular (Σειρῆνες no plural), Seirến, enquanto a palavra "sirena" deriva de Σειρήνα, Seirína, nomes de um ser mitológico. No português, os equivalentes masculinos das sereias são chamados de tritões, nomes de seres da mitologia grega que não estavam relacionados às antigas sirenas da mitologia.

Em inglês, o tritão é chamado merman; em holandês, meerman ou zeemeerman; em alemão, Wassermann; em dinamarquês, havman; e em finlandês, vetehinen.

Nomes dados à sereia medieval e moderna em outras línguas:

  1. Em inglês: Mermaids (de mere, "mar" em inglês medieval, e maid, "moça" ou "virgem");
  2. Em Holandês: Zeemeermin ou Meermin;
  3. Em Alemão: Meerjungfrau, Seejungfrau ou Fischweib;
  4. Em Dinamarquês e Norueguês: Havfrue
  5. Em Sueco: Sjöjungfru ou Havsfru;
  6. Em Finlandês; Merenneito ou Vedenneito;
  7. Em Francês; Sirène;
  8. Em Castelhano e Italiano: Sirena. 

Mitologia Grega.

A mitologia grega foi a quem mais colaborou com o imaginário ocidental. Em 1100 a.C., eles criaram não só as sereias como as sirenas: mulheres-pássaros que causavam naufrágios ao distrair marinheiros com a voz. Diferentemente das mulheres-peixe, nunca se apaixonavam por humanos. Eram filhas do deus-rio Achelous (Aqueloo), criadas para serem amigas de Perséfone, filha de Zeus e Deméter.

Filhas do rio Achelous e da musa Terpsícore, tal como as harpias, habitavam os rochedos entre a ilha de Capri e a costa da Itália. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam por ali para os navios colidirem com os rochedos e afundarem. Odisseu (Ou Ulisses), personagem da Odisseia de Homero, conseguiu salvar-se porque colocou cera nos ouvidos dos seus marinheiros e amarrou-se ao mastro de seu navio, para poder ouvi-las sem poder aproximar-se. As sereias representam na cultura contemporânea o sexo e a sensualidade.


Na Grécia Antiga, porém, os seres que atacaram Odisseu eram, na verdade, retratados como sendo sereias, mulheres que ofenderam a deusa Afrodite e foram viver numa ilha isolada. Se assemelham às harpias, mas possuem penas negras, uma linda voz e uma beleza única.

Algumas das sereias citadas na literatura clássica são:
  1. Pisinoe (Controladora de Mentes),
  2. Thelxiepia (Cantora que Enfeitiça),
  3. Ligeia (Doce Sonoridade),
  4. Aglaope,
  5. Leucosia,
  6. Parténope.
Uma lenda popular na Grécia, provavelmente de origem medieval, diz que Thessalonike, irmã de Alexandre, o Grande, tornou-se uma sereia após a morte. Ela vive no mar Egeu e quando marinheiros a encontram ela lhes faz uma só pergunta: "O rei Alexandre vive?" (em grego: Ζει ο βασιλιάς Αλέξανδρος;), os marinheiros devem responder "Vive e ainda reina" (em grego: Ζει και βασιλεύει). Qualquer outra resposta a deixará furiosa e a transformará numa górgona, condenando o navio e todos os marinheiros a bordo.

Segundo a lenda, o único jeito de derrotar uma sereia ao cantar seria cantar melhor do que ela.

Em 1917, Franz Kafka escreveu o seguinte no conto O silêncio das sereias:

As sereias, porém, possuem uma arma ainda mais terrível do que seu canto: seu silêncio.

Sereias Modernas.

Sereia no século 12. Igreja de São Cristóvão de Rio Mau.
Créditos: Wikipédia.
Ao longo da Idade Média, a começar pelas regiões do Mediterrâneo, a sereia como mulher-peixe suplantou a mulher-pássaro do mito grego como a criatura que supostamente levava à perdição dos marinheiros, como mostra a evolução do significado de Seirến no português e em outras línguas latinas. A transformação pode estar relacionada ao desenvolvimento da navegação (devido, entre outras coisas, à invenção do leme) que permitiu aos navios viajar pelo alto mar, onde se supõe que as novas sereias vivam, fora de vista das rochas costeiras onde as antigas sirenas supostamente se empoleiravam.

Tanto sirenas quanto sereias têm talentos musicais; as sirenas cantam e tocam flauta e lira, enquanto as sereias dependem apenas de suas vozes e seus únicos apetrechos são pentes e espelhos. Supõe-se que as sereias podem causar e acalmar tempestades à vontade e que, como a Esfinge, elas podem levar homens a armadilhas com questões e enigmas.

Na Idade Média e Moderna, as sereias foram vistas como criaturas naturais, como uma espécie de animal, não como seres sobrenaturais. Nos bestiários e nos sermões as sereias eram comparada com as atrações fatais da riqueza, do sexo e da bebida (Para o Cristianismo estes seres significavam pecado, vaidade e luxúria). Por essa razão, são relativamente comuns na arte sacra, como decoração de igrejas e altares.

Na Idade Média, as sereias com caudas de peixe foram primeiramente descrito por um monge da Abadia de Malmesbury em torno de 680 d.C. As sereias dos bestiários e outros manuscritos medievais desempenhavam as funções básicas de mostrar a bondade e a riqueza da Criação de Deus; e personificar os pecados mortais, as tentações da carne e a vaidade como pecado corporificado na beleza, no espelho e no pente, os inseparáveis objetos característicos da imagem contemporânea das sereias. Por essa razão, são relativamente comuns na arte sacra, como decoração de igrejas e altares. Frequentemente, aparecem segurando um peixe, para simbolizar o cativeiro da alma do cristão arrastado para o pecado por encantos e pela adulação.

Junto com os dragões, as sereias são um dos animais fantásticos mais representados no Românico Português. O fortalecimento das histórias, podem ser das histórias de marinheiros, que pensavam que tinham visto essas criaturas na espuma do oceano e do mar. Na realidade, eles provavelmente viram vaca-marinha-de-steller ou peixes-boi.

Foi como símbolos de vaidade que elas adquiriram pente e espelho, não vistos na arte clássica. Na heráldica, é comum a representação de "sereias em sua vaidade", segurando esses apetrechos, para simbolizar a eloquência atribuída ao portador do brasão ou a seus antepassados.

Supunha-se que as sereias, embora tivessem inteligência humana, não tinham alma. Podiam, entretanto, conseguir uma alma se aceitassem ser batizadas ou, segundo algumas versões, se elas se casassem com um humano.

Sereias Nas Diversas Culturas.
  • Oriente Médio.
Atargatis, Nabatean, Jordan Archaeological Museum.
Créditos: Wikipédia.
A primeira referencia às sereias vem da Assíria (1000 a.C.): a deusa síria do céu, do mar, da chuva e da vegetação, também cultuada pelos romanos como Dea Syria. Deusa poderosa com atributos muito complexos, Atargatis (ou Derketo) podia ter várias representações. Como deusa celeste, ela surgia cercada de águias, viajando sobre as nuvens. Como regente do mar, poderia ser uma deusa serpente ou peixe. Podia ainda ser a essência fertilizadora da chuva, com a água vindo das nuvens e das estrelas. Ainda podia aparecer como a própria deusa da terra e da vegetação, cuidando da sobrevivência de todas as espécies. Um mito antigo descreve a descida de Atargatis do céu como um ovo, do qual surgiu uma linda deusa sereia.

Segundo Diodoro Sículo, Atargátis, era uma deusa que amou um pastor mortal e teve com ele uma filha, a futura rainha Semíramis. Envergonhada, Atargátis pulou em um lago e tomou a forma de um peixe. Inicialmente, era representada como um peixe com cabeça e pernas humanas, como o deus babilônio Ea, mas mais tarde, segundo Luciano de Samósata, passou a ser representada com a forma de uma sereia.
  • A Melusina da Mitologia Francesa.
Melusina é uma personagem da lenda e folclore europeus, um espírito feminino das águas doces em rios e fontes sagradas. Ela é geralmente representada como uma mulher que é uma serpente ou peixe (ao estilo das sereias), da cintura para baixo. Algumas vezes, é também representada com asas, duas caudas ou ambos, e, por vezes, mencionada como sendo uma nixie.

O segredo de Melusina revelado, do Le Roman de Mélusine. Uma das 16 pinturas de Guillebert de Mets, cerca de 1410. O original está na Bibliothèque nationale de France. Créditos: Wikipédia
  • Heráldica.
Melusina é às vezes utilizada como figura heráldica, tipicamente em brasões de armas no Sacro Império Romano-Germânico e na Escandinávia, onde apóia cada cauda escamosa em um dos braços. Ela pode aparecer coroada. O brasão de armas de Varsóvia apresenta uma sereia (denominada syrenka em polonês) muito semelhante a uma representação de Melusina, brandindo uma espada e escudo. Ela é o espírito das águas do Vístula, que identificou para Boreslaus de Masovia, o sítio apropriado para uma cidade em fins do século XIII.
  • Versões Literárias.
Raymond observa sua mulher, Melusina,
no banho, e descobre que ela possui a
parte inferior do corpo de serpente.
Ilustração da obra de Jean d'Arras,
Le livre de Mélusine (O Livro de Melusina),
1478. Créditos: Wikipédia.
A mais famosa versão literária dos contos de Melusina, aquela de Jean d'Arras, compilada em cerca de 1382–1394 foi elaborada numa coletânea de "histórias inventadas" pelas damas enquanto teciam.

O conto foi traduzido para o alemão em 1456 por Thüring von Ringoltingen, a versão que tornou-se popular como conto de fada. Foi posteriormente traduzido em inglês (cerca de 1500), e frequentemente reimpresso tanto no século XV quanto no século XVI. Há também uma versão em prosa chamada a Chronique de la princesse ('Crônica da princesa').

Ela conta como Elynas, o Rei de Albany (um eufemismo poético para a Escócia) saiu para caçar certo dia e deparou-se com uma bela dama na floresta. Ela era Presina, mãe de Melusina. Ele persuadiu-a a casar-se com ele, e ela só concordou sob a condição — pois frequentemente há uma condição dura e fatal vinculada a qualquer união entre fada e mortal — de que ele não deveria entrar na alcova quando ela desse à luz ou banhasse suas crianças. Ela deu à luz trigêmeas. Quando ele violou este tabu, Presina deixou o reino com suas três filhas, e viajou para a ilha perdida de Avalon.

As três garotas — Melusina, Melior e Palatina (ou Palestina)— cresceram em Avalon. Em seu décimo-quinto aniversário, Melusina, a mais velha, perguntou por que elas haviam sido levadas para Avalon. Ao ouvir sobre a promessa quebrada pelo pai, Melusina jurou vingança. Ela e suas irmãs capturam Elynas e o trancafiam, com suas riquezas, numa montanha. Presina se enraivece quando toma conhecimento do que as garotas haviam feito e as pune por ter desrespeitado o pai. Melusina foi condenada a tomar a forma de uma serpente da cintura para baixo, todo sábado.

Raimundo de Poitou encontrou Melusina numa floresta da França, e lhe propôs casamento. Da mesma forma que sua mãe havia feito, ela estabeleceu uma condição, a de que ele nunca deveria entrar no quarto dela aos sábados. Ele quebrou a promessa e a viu sob a forma de uma meia-mulher, meia-serpente. Ela o perdoou. Somente quando, durante uma discussão, ele a chamou de "serpente" em plena corte, é que ela assumiu a forma de um dragão, deu-lhe dois anéis mágicos e se foi para nunca mais voltar.

No "The Wandering Unicorn" de Manuel Mujica Láinez, Melusina conta sua história de vários séculos de existência, da maldição original até a época das Cruzadas.
  • Lendas.
Melusina por Ludwig Michael von
Schwanthaler (1845). Créditos: Wikipédia.
As lendas de Melusina estão especialmente ligadas às áreas setentrionais, mais célticas, da Gália e dos Países Baixos. Sir Walter Scott narrou uma história de Melusina em Minstrelsy of the Scottish Border (1802—1803), confiante que
"o leitor encontrará as fadas da Normandia ou Bretanha, adornadas com todo o esplendor da descrição oriental. Também a fada Melusina, que casou-se com Guido de Lusignan, Conde de Poitou, sob a condição de que ele nunca tentasse invadir sua privacidade, pertence a essa última categoria. Ela deu ao conde muitos filhos, e construiu para ele um magnífico castelo através de artes mágicas. Sua harmonia não foi interrompida até que o marido xereta quebrasse as condições da união, ocultando-se para espionar a mulher tomando seu banho encantado. Mal Melusina descobriu o intruso indiscreto, transformou-se num dragão e partiu com um grito de lamentação, e nunca foi mais foi vista por olhos mortais; ainda que, mesmo nos dias de Brantôme, ainda se supunha que ela protegia seus descendentes, e teria sido ouvida lamentando-se nas correntes de ar à roda das torres do castelo de Lusignan, na noite antes que este fosse demolido."
Quando o conde Siegfried das Ardenas comprou os direitos feudais sobre Luxemburgo em 1963, seu nome estava ligado a versão local de Melusina. Em 1997, Luxemburgo emitiu um selo postal comemorativo desta Melusina, que possuía basicamente os mesmos dons mágicos que a ancestral dos Lusignan. A Melusina de Luxemburgo fez surgir o castelo de Bock por mágica na manhã após o casamento dela. Pelos termos do matrimônio, ela exigiu um dia de absoluta privacidade a cada semana. Infelizmente, Sigefroid, como os luxemburgueses o chamam, "não conseguiu resistir à tentação e num dos dias proibidos ele a espiou no banho e descobriu que ela era uma sereia. Quando ele soltou um grito de surpresa, Melusina percebeu-o e a banheira imediatamente afundou-se na rocha sólida, carregando-a com ela. Melusina surge brevemente na superfície a cada sete anos como uma bela mulher ou serpente, carregando uma pequena chave de ouro na boca. Quem quer que tire a chave dela a libertará e poderá tomá-la como sua noiva. "

Martinho Lutero conhecia e acreditava na história de outra versão da Melusina, die Melusina zu Lucelberg (Lucelberg na Silésia), a quem ele se refere várias vezes como um súcubo (Obras, edição Erlangen, volume 60, pág. 37–42). Johann Wolfgang von Goethe escreveu o conto Die Neue Melusine em 1807 e publicou-o como parte do Wilhelm Meisters Wanderjahre. O dramaturgo Franz Grillparzer encenou o conto de Goethe e Felix Mendelssohn criou uma abertura de concerto denominada "A Fada Melusina", seu Opus 32.

Melusina é um dos espíritos das águas pré-cristãos que às vezes são responsabilizados pela troca de crianças. A "Dama do Lago" que sumiu com o bebê Lancelot e o criou, era desta espécie perigosa de ninfa das águas.
  • Usos Notáveis.
  1. Uma versão estilizada de uma sereia, a qual é similar a algumas das lendas de Melusina, funciona como a mascote que aparece no logotipo da rede de cafeterias Starbucks.
  2. Na ficção, a lenda de Melusina é parte de "Possession: A Romance", de A.S. Byatt. Uma de seus principais personagens, Christabel LaMotte, escreve um poema épico sobre Melusina.
  3. "Melusina" não parece ter sido um nome feminino muito popular na Europa, mas Ehrengard Melusine von der Schulenburg, Duquesa de Kendal e Munster, amante de Jorge I da Grã-Bretanha, foi batizada como Melusine em 1667.
  4. O título do primeiro romance de Jakob Wassermann é Melusine. Curiosamente, seu sobrenome (Wassermann) significa "homem da água" em alemão.
  5. "The Fairy Melusina" é um poema épico escrito pela poetisa fictícia Christabel Lamotte no romance popular "Possession" de A.S. Byatt.
  • Mami Wata da Mitologia Africana
Mami Wata pertence a um panteão de espíritos ou divindades da água, adorados na África Ocidental, África Central, e África Austral e na diáspora africana, no Caribe e partes da América do Norte e América do Sul.

Cartaz contemporâneo de uma Mami Wata, "serpente priestess" pintado pelo artista
alemão Schleisinger (Hamburg), ca. 1926, exibida em santuários como uma imagem
popular de Mami Wata, na África e na diáspora. Créditos: Wikipédia.
Alguns devotos e iniciados têm relatado a antropólogos que Mami Wata é normalmente descrita em excessos. Ela possui uma beleza não humana, cabelos longos não naturais, e uma tez mais leve do que o normal. Também é descrita como uma sereia , que sua cauda tinha uma cor esverdeada , e que se vissem muitos peixes em um local do Rio , diziam que a mami wata estava ali.
  • Folclore Britânico.
As sereias aparecem no folclore britânico tanto para prever desastres quanto para provocá-los. Elas podem também ser um sinal de mau tempo. Às vezes, porém, mostram-se mais benéficas e dão meios de cura a humanos. Os tritões são também citados, como mais feios e selvagens que as sereias, mas com pouco interesse por humanos.

A julgar por crenças similares na Europa do Norte, o povo do mar do folclore inglês originalmente não tinha cauda de peixe, mas foi influenciado pelo desenvolvimento da concepção mediterrânea de sereia na Idade Média.

Diversas variantes da balada Sir Patrick Spens descrevem uma sereia que fala aos navios condenados; em algumas, ela lhes diz que nunca verão terra outra vez, e em outras, ela afirma que há uma costa próxima, o que eles são sábios o suficiente para compreender que significa a mesma coisa.
  • Cornualha.
Em Zennor, Cornualha, uma sereia apaixonou-se por um rapaz e o atraiu para o mar.

Perto da península de Lizard, também na Cornualha, um homem chamado Lutey ajudou uma sereia encalhada a voltar para a água. Ela lhe deu seu pente e disse que ele e seus descendentes seriam capazes de quebrar os feitiços das bruxas e controlar demônios, mas nove anos depois ela voltou e o arrastou para as ondas.

Na década de 1840, o folclorista Robert Hunt ouviu que várias famílias da Cornualha diziam ter poderes fantásticos por serem descendentes de uma sereia ou tritão. Por outro lado, uma sereia arruinou a baía de Padstow com bancos de areia, porque alguém ali atirou nela.
  • Gales.
As sereias da fronteira galesa não vivem no mar, mas em lagos e rios. Em Marden (Herefordshire) o sino de uma igreja caiu uma vez em uma poça profunda de um rio, onde uma sereia o agarrou. Em Child's Ercall (Shropshire) a sereia de um lago oferecia a alguns homens ‘um pedaço de ouro, grande como a cabeça de um homem, e estava bem perto’, quando um deles disse um palavrão de espanto e ela gritou e desapareceu.
  • Escócia.
The Mermaid of Zennor (A sereia de Zennor) de
John Reinhard Weguelin. Créditos: Wikipédia.
Uma conhecida citação de sereias aparece em "O Senhor de Lorntie", que Robert Chambers narra em Popular Rhymes of Scotland:
"O jovem Senhor de Lorntie, em Forfarshire, regressava certo dia tarde da caça, acompanhado somente por um criado e dois cães galgos, quando, ao passar junto de um lago solitário situado a cerca de três milhas ao sul de Lorntie, e que naquela época estava completamente rodeado de bosque, ouviu os gritos de uma mulher que parecia estar afogando-se. Sendo de caráter intrépido, o jovem lorde pulou do cavalo e se dirigiu para a margem do lago, e ali viu uma bela mulher que lutava com a água e parecia estar afogando-se.
-"Socorro, socorro, Lorntie!", exclamou. "Socorro, Lorntie, socorro, Lor...."
E as águas, penetrando em sua garganta, pareceram afogar os últimos sons de sua voz. O Lorde, incapaz de resistir a um impulso de humanidade, se lançou ao lago, e quase ia agarrar os loiros cabelos da moça, que flutuavam como madeixas de ouro sobre a água, quando seu criado o segurou por trás e o obrigou a sair do lago. O servo, mais perspicaz que seu amo, se deu conta que aquela era um espírito aquático. "Espera, Lorntie, espera um instante!", exclamou o fiel servo, "aquela dama não era outra, Deus nos proteja! que uma sereia!" Lorntie, imediatamente reconheceu que ele falava a verdade, e quando montava no cavalo, se viu confirmada, pois a sereia, tirando meio corpo para fora da água, exclamou um voz de frustração e ferocidade diabólica:
"Lorntie, Lorntie, se não fosse por teu criado, teria seria sido uma presa muito fácil!".
  • Irlanda.
Na Irlanda, sereias e tritões são chamados de merrows, murdhuacha, moruadh, moruach, muir-gheilt, samhghubha ou suire.

Da cintura para baixo, as sereias são peixes. Da cintura para cima, são belas jovens com pele pálida, olhos escuros e cabelos compridos. Os tritões são feios, com pele, dentes e cabelos verdes, nariz vermelho e adunco, e olhos pequenos e estreitos.

São geralmente de natureza pacífica e benévola para com os humanos, com os quais às vezes se casam. Os filhos desses casamentos têm membranas entre os dedos das mãos e dos pés e, às vezes, também uma pele escamosa.

Todos têm membranas entre os dedos e podem se transformar em humanos e animais terrestres com ajuda de uma capa mágica de penas vermelhas. Se a capa for roubada, serão incapazes de retornar a seu mundo subaquático. Nas lendas, esse é um recurso frequentemente usado por mortais para conquistar uma noiva merrow.

Há uma lenda sobre uma jovem chamada Liban, filha de Eochaid e Etain, que foi surpreendida pela enchente de uma fonte sagrada que havia sido negligenciada. Ela foi carregada a uma caverna submarina junto com seu cão, enquanto o resto de sua comunidade, exceto Conang e Curman, foi destruído. Liban ficou presa por um ano até que ela rezou para que pudesse ser como os peixes. Foi então transformada, tornando-se como um salmão da cintura para baixo. Seu cão tornou-se uma lontra.

Como sereia, Liban ficou livre, mas permaneceu debaixo d'água até que, 300 anos depois, um clérigo chamado Beoc a ouviu cantar. Ela lhe pediu para que a tirasse d'água e a levasse para Saint Comgall. Liban foi batizada e foi-lhe dada a escolha entre mais 300 anos de vida ou entrar imediatamente no Céu. Ela escolheu a segunda opção e sua imagem foi esculpida em muitas das colunas e assentos das igrejas construídas na estrada que ela tomou para Saint Comgall.
  • Ilha de Man.
Na ilha de Man, entre a Grã-Bretanha e a Irlanda, as sereias são chamadas ben varrey e os tritões, dinny-mara. Há uma lenda na qual um pescador carregou uma ben varrey encalhada de volta ao mar que, como recompensa, lhe disse como encontrar um tesouro. Mas o pobre e ignorante pescador não reconheceu o valor do ouro da Armada Espanhola e o jogou de volta ao mar.

Outra lenda fala de uma sereiazinha que quis a boneca de uma menina e a roubou. A mãe da sereiazinha lhe deu uma bronca e a fez devolver a boneca, junto com um colar de pérolas.

Uma história conta de uma ben varrey amistosa que vivia perto de Patrick. Durante uma estação de pesca, quando os barcos do porto de Peel pescavam além do promontório de Spanish Head, a sereia subitamente ergueu-se da água e grigou shiaull er thalloo! ("velejem para terra!"). Os pescadores que haviam aprendido a confiar nos conselhos dessa sereia imediatamente levaram seus botes para os abrigos. Aqueles que não atenderam ao aviso perderam todo o equipamento e alguns perderam a vida.
  • Dinamarca.
Na Dinamarca, as havfruen são muito belas e podem ser vistas a pentear os longos cabelos loiros na superfície do mar, a apascentar seu gado branco como leite nas dunas, ou ainda em meio às brumas que flutuam sobre o mar no início do verão. Essas aparições geralmente prenunciam tempestades e mau tempo.

Essas sereias podem tanto ser benévolas quanto malévolas e têm o dom da profecia. O nascimento do rei dinamarquês Cristiano IV foi previsto por uma sereia.

Há histórias de sereias que visitam as fogueiras feitas por pescadores no litoral, à noite, na forma de uma bela jovem molhada e sofrendo com o frio. Qualquer um que se deixe seduzir pode ser arrastado por ela a seu mundo subaquático, junto com todos os outros corpos de afogados que jamais retornam à superfície.

O havman ou havmand (havstrambe na Groenlândia) é descrito como tendo a forma de um belo homem, às vezes com pele azul e tendo cabelo e barba negros ou verdes. Quando não está em seu lar subaquático, pode ser visto nas escarpas e cavernas rochosas da costa. Geralmente é considerado benigno enquanto não for perturbado.

Modernamente, as sereias dinamarquesas são conhecidas principalmente pelo conto A Pequena Sereia (Den lille havfrue, no original dinamarquês), de Hans Christian Andersen. Ela vive no fundo do mar com o pai, rei do mar; sua avó e suas cinco irmãs mais velhas. Quando uma sereia chega aos 15 anos, permitem-lhe nadar à superfície para olhar o mundo exterior. Quando as irmãs chegam à idade apropriada, uma a a cada ano, a Pequena Sereia ouve ansiosamente suas histórias sobre o mundo da superfície.

Quando chega a vez da Pequena Sereia ela chega à tona, vê um navio com um belo príncipe e se apaixona por ele. Uma grande tormenta chega e a Pequena Sereia salva o príncipe do afogamento e leva-o, inconsciente, à costa, perto de um templo. Ali espera até que uma jovem encontra o príncipe, que não chega a ver sua salvadora.

A Pequena Sereia pergunta à avó se humanos podem viver para sempre, caso não se afoguem. Ela explica que eles têm uma vida muito mais curta que os 300 anos do povo do mar, mas quando as sereias morrem, desfazem-se em espuma e deixam de existir, enquanto os humanos têm uma alma imortal que vive no Céu. A Pequena Sereia, ansiando pelo príncipe e por uma alma imortal, visita a Bruxa do Mar, que lhe vende uma poção que lhe dá perna em troca de sua língua; e a Pequena Sereia tem a mais bela voz do mundo. Beber a poção a fará se sentir como se uma espada a atravessasse e andar sobre seus pés lhe parecerá como andar sobre facas. E ela só conseguirá uma alma se o príncipe a amar e casar-se com ela, pois então uma parte de sua alma fluirá para ela. De outra forma, ao amanhecer do primeiro dia depois que ele casar-se com outra mulher, a Pequena Sereia morrerá de coração partido e se tornará espuma do mar.

A Pequena Sereia bebe a poção e encontra o príncipe, que se sente atraído por sua graça e beleza mesmo se ela é muda. Mais que tudo, gosta de vê-la dançar e ela dança para ele, apesar de sentir dores horríveis. Quando o pai do príncipe ordena ao filho que se case com a filha do rei vizinho, o príncipe diz à Pequena Sereia que ele não pode fazer isso, porque não ama aquela princesa. Prossegue e diz que só amará a jovem do templo, mas diz que a Pequena Sereia está começando a tomar o lugar da garota do templo em seu coração. Acontece que a princesa é a jovem do templo, ao qual havia sido enviada para ser educada. O príncipe a ama e o casamento é anunciado.

O príncipe e a princesa se casam e o coração da Pequena Sereia se parte, quando ela pensa em tudo de que desistiu e em toda a dor que sofreu. Ela se desespera, mas antes do nascer do Sol, suas irmãs lhe dão uma faca que a Bruxa do Mar lhes deu em troca de seus cabelos. Se a Pequena Sereia matar o príncipe com a faca, ela se tornará de novo uma sereia e viverá sua vida plena.

Mas a Pequena Sereia não consegue se decidir a matar o príncipe que dorme com sua noiva. Ao nascer do Sol, ela atira-se no mar e seu corpo se dissolve em espuma, mas em vez de cessar de existir, ela sente o calor do Sol. Ela transformou-se em um espírito, uma filha do ar. As outras filhas do ar lhe dizem que ela se tornou como elas porque se esforçou de todo coração para ganhar uma alma imortal. Se fizer por merecer sua própria alma fazendo boas ações, um dia alcançará o reino de Deus.
  • Ilhas Guam
Estátua de Sirena em Agana, Guam, EUA. Créditos: Wikipédia.
Uma sereia lendária de Guam é um conto da jovem Sirena, que viveu em Agana e que adorava nadar foi amaldiçoada pela mãe a virar peixe. Mas a avó interveio e a transformação só rolou pela metade. A moça se tornou protetora dos marinheiros.
  • Mitologia Japonesa.

Konjaku Hyakki Shui de Toriyama Sekien.
Créditos: Wikipédia.

As sereias são chamadas no Japão de “ningyo”, e as duas histórias mais conhecidas de ningyo são a de Amabie e a de Yao Bikuni. A palavra ningyo, formado pelos kanji “nin”, pessoa, e “gyo”, peixe, traduzida como sereia, é utilizada para designar as criaturas ocidentais metade peixe-metade ser humano e também as criaturas orientais que possuem características aquáticas e humanas.

Com o torso e o rosto variando entre humano e peixe, as sereias nipônicas possuem dedos longos, garras afiadas e brilhantes escamas douradas, podendo variar em tamanho, desde o tamanho de uma criança a um adulto. Suas cabeças foram, por vezes, descritas como sendo deformadas, possuidoras de chifres, ou dentes proeminentes. Em outras versões, as sereias são descritas com uma forma que lembra a versão mais familiar de sereias ocidentais, mas com uma aparência sinistra, meio demoníaca. Segundo a lenda, são capazes de emitir um canto agradável como a canção de um pássaro ou o doce som de uma flauta. Mas, ao contrário das sereias das lendas do Atlântico e do Mediterrâneo, uma Ningyo do Pacífico e do Mar do Japão são criaturas horríveis, sendo consideradas como um pesadelo surreal ao invés de uma mulher sedutora. Porém, acredita-se que a carne de uma Ningyo pode conceder a imortalidade e, suas lágrimas transformam-se em pérolas e, quando consumidas, trazem a juventude eterna sendo, portanto, assunto de muitos contos populares, alguns assustadores.
  • Folclore Brasileiro.
  1. Iara ou Mãe-d'água: Segundo o folclore brasileiro, é uma linda sereia que vive no rio Amazonas. Segundo Câmara Cascudo, a presença das sereias no folclore brasileiro é produto de um processo de convergência com as lendas europeias que se deu no século XIX. Aparecem para seduzir pelo canto os navegadores e pescadores e fazê-los naufragar e morrer. Mostram-se, às vezes, aos pescadores, que se apaixonam e atiram-se n'água, morrendo afogados. Confundem-na com a Mãe-d'água, que originalmente era a Cobra-grande e não tinha processo algum de sedução, e também como Iemanjá, frequentemente representada como uma sereia européia, loura e de olhos azuis.
  2. Gruta das Encantadas: A Gruta das Encantadas é uma gruta localizada no sul da Ilha do Mel, no Paraná, Brasil.
  3. A Sereia da Furna do Diamante: No litoral do Rio Grande do Sul, mais precisamente nas praias de Torres, existe a lenda que uma sereia protege um esconderijo repleto de diamantes e pedras preciosas. Esta sereia, conforme a lenda, aparece na entrada de uma gruta, sempre na meia-noite de toda sexta-feira de lua cheia. Se alguém tiver a sorte de ver a sereia e presenteá-la com um pente, sem nada perguntar, descobrirá onde está enterrado o tesouro.
Sereias na Idade Moderna.

Anúncio da "Sereia de Fiji" do circo de P.T. Barnum.
Créditos: Fantastipédia.
Ao contrário de outros seres semi-humanos do mito e do folclore, como os centauros, as sereias continuam a ser alegadamente vistas até nossos dias. É como se houvesse o desejo de provar que são reais. Outra expressão desse desejo de acreditar é o aparecimento de sereias falsificadas e exibidas em feiras e circos, geralmente feitas com o torso superior de um macaco e a cauda de um salmão.

Alguns animais lendários do folclore e da criptozoologia supostamente podem se mostrar como sereias: é o caso de Morag, o monstro do lago Morar.

Na era dos Descobrimentos, ver uma sereia era quase obrigatório para os exploradores. Mapas dos séculos XVI e XVII comumente apresentam sereias nos mares pouco explorados. Cristóvão Colombo viu três perto do Haiti. Sir Richard Whitburne viu uma quando descobria a Terra Nova em 1610, e a tripulação de Henry Hudson viu outra. Em todos os casos, os relatos comparam o que foi visto com as imagens da arte - Colombo achou suas sereias menos bonitas e mais masculinas do que esperava.

Em 3 de novembro de 1523, o médico Ambrosius Paré relatou ter visto um tritão do tamanho de um menino de cinco anos e era "como um homem até o umbigo, exceto pelas orelhas; no resto do corpo se assemelhava a um peixe.

Os homens de Hendrik [Henry] Hudson viram uma sereia em 15 de junho de 1608:
"Do umbigo para cima, suas costas e seios eram como os de uma mulher (...) sua pele era muito branca e o longo cabelo, de cor negra, caía para trás. Ao mergulhar, viram sua cauda, que era como a cauda de um golfinho, mas pintada como a de uma cavala."
Em 1620, o capitão Richard Whitbourne viu uma sereia quando estava à beira da baía de St. John, na Terra Nova. Seu rosto era belo, mas tinha listras azuis na pele no lugar de cabelo. As proporções de sua cauda eram "como uma flecha de farpas largas".

Em 1614, o capitão John Smith, navegando nas Índias Ocidentais, viu uma sereia "nadando com toda a graça possível perto da costa". Como Paré, observou que as orelhas eram muito longas, mas que de resto ela era bela. Seu cabelo era verde e ela era um peixe da cintura para baixo.

Em 1717, uma sereia foi capturada perto da ilha de Bornéu "Tinha 59 polegadas (1,5 metro) de comprimento e suas proporções eram como as de uma enguia." Teria vivido quatro dias em cativeiro. Recusou-se a comer e fez e sons lastimosos como os de um camundongo. O relato desses eventos, de 1754, sugere que sereias mortas nunca eram encontradas porque sua carne apodrece muito rapidamente. Nas proximidades, em 1652, mais de 50 pessoas haviam visto um tritão e uma sereia, ambos cinza-esverdeados com corpos afilados, nadando lado a lado.

Em 1739, pescadores perto da cidade de Exeter viram um tritão com pés palmados e uma cauda como a de um salmão. Seu nariz era "algo deprimido" e tinha cerca de 4 pés (1,2 metro) de comprimento.

Em Campbelltown, Escócia, em 1811, um agricultor andava à beira-mar quando viu algo branco sobre uma rocha negra a alguma distância da costa. Ele escalou as rochas até poder vê-lo: Era um tritão de pele branca com uma cauda cinza-avermelhada. Tinha cabelo comprido e entre 4 e 5 pés (1,2 a 1,5 metro) de altura. Dias depois, uma jovem da vila viu um tritão mergulhar de uma rocha no mar. Tinha cabelo escuro e comprido, pele branca e uma cauda castanho-escura e afilada.

Em Port Gordon, Escócia, pescadores viram um tritão com braços notavelmente compridos, boca grande e cabelo encaracolado curto e verde-acinzentado. Mergulhou para fora da vista e então retornou com uma sereia para ver os pescadores.

Em 1931, na ilha escocesa de Benbecula, uma sereia morta foi encontrada e enterrada perto da costa pelo xerife. "A parte superior da criatura era do tamanho de uma criança bem-alimentada de três ou quatro anos, com um seio anormalmente desenvolvido". Ela tinha cabelo escuro e longo e pele branca. "A parte inferior do corpo era como a de um salmão, mas sem escamas".

Em 1938, um Dr.Donnelly pescava perto das Ilhas Virgens quando viu uma sereia. Todos os dias, por uma semana, ela seguiu seu barco, agarrando-se à sua linha de pescar e então, quando ele puxava o anzol vazio, aparecia à superfície e ria. Seu cabelo era curto e penugento. Sua pele era branca como a barriga de um peixe. Não era bela, mas o médico relatou que parecia ter inteligência humana.

A Sereia de Fiji.
Desenho contemporâneo da "Sereia de Fiji", de
1850. Créditos: Fantastipédia
"Em meados de julho de 1842, um jovem cavalheiro com o nome Dr. J. Griffin, um membro do Liceu Britânico de História Natural, chegou a Nova York com uma curiosidade notável: uma sereia de verdade supostamente capturada perto das ilhas Fiji no Sul do Pacífico. A imprensa estava esperando por ele, pois durante todo o verão eles estiveram recebendo cartas do médico descrevendo sua sereia. Ao chegar no hotel, os repórteres estavam esperando-o, pedindo para ver a sereia. A contragosto, o homem mostrou a criatura, que convenceu a todos com a sua “autenticidade”. 
Logo depois, o empresário P.T. Barnum visitou os principais jornais da cidade, onde explicou que estava tentando convencer o Dr.Griffin para exibir sua sereia em seu museu. Infelizmente, o médico não estava disposto a fazê-lo. Barnum ofereceu aos jornais o uso de uma xilogravura de uma bela e seminua sereia. Os jornais, cada um pensando que tinha o desenho exclusivo, aceitaram a oferta e no domingo 17 de Julho de 1843, xilogravuras de sereias apareceram em todos os jornais. Simultaneamente, Barnum distribuiu dez mil cópias de um panfleto sobre sereias por todas a cidade. 
Com toda essa publicidade, a curiosidade para ver a sereia de Fiji (ou Feejee) foi o tema principal das conversas de toda a cidade. Todos queriam ver por si mesmos. Então Dr. Griffin concordou em exibi-la durante uma semana no Concert Hall, na Broadway. Enormes multidões apareceram na exposição, e Dr. Griffin deu palestras para multidões sobre suas experiência como explorador, contando também suas teorias da história natural. Essas eram um tanto peculiares. Por exemplo, seu principal argumento era  de que as sereias deveriam ser reais uma vez que todas as coisas na Terra também existiam no oceano – como cavalos marinhos, leões marinhos, cães marinhos, etc. Desse modo, deveríamos assumir que também há “humanos marinhos”.
Contudo, não passa de um golpe de marketing de Barnum! Ele sabia que a sereia de Fiji era uma farsa (aliás, existiam várias sereias de Fiji!) e foi ele quem enviou as cartas para os jornais e criou o personagem Dr. Griffin, cujo verdadeiro nome era Levi Lyman, e ele era cumplice de Barnum.

Barnum consultou um naturalista sobre a autenticidade da sereia. O profissional havia lhe assegurado que era falsa. No entanto, Barnum percebeu que não era importante se a sereia era ou não real. Tudo o que importava era que o público fosse levado a acreditar que fosse real. Seus anúncios davam a impressão de que se poderia ver a sereia viva, mas obviamente o que se mostrava era esse grotesco espécime preservado.

A criatura era um exemplar de uma forma de arte tradicional aperfeiçoada por pescadores no Japão e Índia orientais que construíam falsas sereias costurando a parte superior de corpos de macacos com a cauda de peixes. (Era um falso-criptoide feito com uma cabeça de macaco, o torso de um bebê orangotango e a cauda de um peixe). Eles muitas vezes criavam esses animais para uso em cerimônias religiosas. Acredita-se que a sereia de Fiji tenha sido feita por volta de 1810 por um pescador japonês.

É possível que esse exemplar foi perdido em um incêndio do circo (Museu) de Barnum na década de 1860 (No entanto, é provável que ela estivesse no Museu de Kimball, que também foi incendiado no início dos anos de 1880), mas foi amplamente imitado por montagens semelhantes de outros circos e espetáculos de monstruosidades, até os dias de hoje.

Mais tarde, as sereias de P. T. Barnum passaram para a coleção de Ripley, o fundador do programa “Acredite se Quiser”.

Robert Ripley apresenta uma "sereia" no seu programa "Acredite se Quiser" (Believe it or Not). Créditos: Fantastipédia
É possível que muitas dessas sereias tenham sido peixes-bois e outros mamíferos aquáticos semelhantes, hoje classificados cientificamente como "sirenídeos" ou ainda focas e outros pinípedes.

Entusiastas da criptozoologia também costumam especular (alguns com seriedade, outros ironicamente) sobre a possibilidade de um ramo hominídeo evoluído a partir de "macacos aquáticos", levando em conta a hipótese de Alister Hardy, que especulou sobre a possibilidade de a ausência de pelos nos humanos, em comparação aos seus parentes mais próximos entre os macacos, estar relacionada a uma etapa semi-aquática de sua evolução.

O Documentário das Sereias.

Sim, quando o assistir, eu acreditei.

O canal Animal Planet (da Discovery Channel) entre os anos de 2012 e 2013, renasceu com força total o mito das sereias com a exibição do documentário Sereias: O Corpo Encontrado (Mermaids: The Body Found). Nele é afirmado que elas existem, são mostradas gravações com celulares, reconstituições e cientistas da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration - Órgão Federal Americano) dão depoimentos falando sobre suas pesquisas sobre as sereias.

Com o sucesso do 1° "documentário", fizeram uma continuação chamada Sereias: Uma Nova Evidência (Mermaids: The New Evidence).

No filme “Sereias: O Corpo Encontrado” o biólogo marinho Brian McCormick, funcionário da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), descobre um som diferente, que eles denominam bloop, através de microfones submarinos. Sua equipe sai então em busca de mais evidências quando começa a ter contratempos com a marinha americana em casos de encalhes de baleias. Na África do sul um animal não identificado é encontrado no conteúdo estomacal de um tubarão branco. McCormick não só relaciona esse corpo aos bloops que seu microfone gravou, mas também o identifica como uma sereia, um hominídio semi-aquático produtor de ferramentas e que se comunica usando sons, um canto, inclusive compreensíveis por outros mamíferos aquáticos.

Incrível não é, Logo depois vem a 2° parte do "Documentário"

Visto por mais de mais de 3.6 milhões de pessoas nos Estados Unidos Sereias: A Nova Evidência (Mermaids: The New Evidence) de 2013, mostrava nova evidência sobre a existência das Sereias. Pensado de forma racional e devido as velocidade da Informação no Mundo, uma noticia desta que pode mudar significativamente as cadeias evolutivas humanas, e gerar um debate na academia cientifica, além de reescrever o que sabemos sobre a teoria da Evolução, tal noticia sobre a a existência de Sereias, teria explodido no YouTube e na grande imprensa muito antes de um documentário no Animal Planet, certo?

Pare para analisar toda grande fato explode na grande mídia, ou alternativa e depois virar documentário, esse é o caminho natural. Os da Sereia vez o oposto. Em 2012, o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), órgão americano que trata de assuntos relacionados a meteorologia, oceanos, atmosfera e clima, expediu uma Declaração Oficial afirmando que não existem evidências provando a existência de sereias.
Sereias são reais? Jamais foi encontrado nenhuma evidência de humanoides aquáticos. Por que, então, eles ocupam o inconsciente coletivo de quase todos os povos marítimas? Essa é uma pergunta melhor deixar para os historiadores, filósofos e antropólogos. (Fonte: http://oceanservice.noaa.gov/)
O curioso pronunciamento se deu, após o canal Discovery Channel exibir um documentário explicando a “possibilidade” da existência do ser mitológico, explorando algumas similaridades entre os seres humanos e mamíferos marinhos.

Quando muita gente se tocou na natureza fictícia da descoberta, um surto de ódio contra o canal começou na internet. Gente reclamando de ter sido enganada, ludibriada e que perdeu seu tempo assistindo ao Mockumentary (documentário de mentira) começou a atacar o canal. Perante a situação, claro, a imprensa aproveitou o ensejo para “desmascarar” o programa, exibir inúmeros tweets e posts do Facebook, e uma declaração do NOAA (Departamento de Pesquisa Oceanógrafa) sobre a inexistência de conexão entre a entidade e o conteúdo.

Até a CNN resolveu fazer uma matéria revelando a verdade sobre tudo, dizendo que os cientistas eram atores, que havia uma linha nos créditos finais dizendo “alguns fatos são baseados em ficção” e dando voz aos reclamões online. O canal queria testar novos formatos de programas. Porém, não ficou claro para o público.

Os Mockumentary tinham várias evidências inventadas. Uma delas, de um porta-voz da NOAA, que afirmava que 65 pesquisadores concluíram que sereias vivem pacificamente ao nosso redor. Só que a própria NOAA soltou um comunicado posterior dizendo que não há evidência da existência desses seres.


As imagens de uma sereia gravada por um garoto com um celular e de outras “flagradas” por pesquisadores próximas do mar foram produzidas em computação gráfica. O “sereiologista” Marcus Plumkin, da Universidade da Flórida, que afirmava que essas criaturas habitam as águas quentes do Caribe e do Mediterrâneo, nunca existiu – era apenas um ator
Mockumentary, uma fusão das palavras mock (imitar) e documentary (documentário); e não é o primeiro exibido pelo canal que já levou ao ar “Dragões, uma fantasia real”. 
O Discovery Channel exagerou, afinal se uma evidência de um novo hominideo foi apresetada em um canal de Tv, não seria estranho que biologos e antropologos não ficariam interessados.

Muito além de Sereias, a Teoria dos Primatas Aquáticos.

O show não aborda somente a suposição da criatura encontrada ser uma sereia e a conspiração governamental para encobrir as provas, ele também apresenta uma teoria há muito tempo esquecida, a Teoria dos Primatas Aquáticos. Confesso que antes do programa, nunca tinha ouvido falar sobre ela.

O primeiro autor a propô a Teoria dos Primatas Aquáticos foi o patologista alemão Max Westenhöfer, em 1942 no livro Der Eigenweg des Menschen. Sendo posteriormente aperfeiçoada pelo biólogo inglês Alister Hardy em 1960. Eles sugeriram que os antepassados do ser humano, viveram numa fase semi-aquática, colhendo moluscos e outros animais no litoral.

Para os defensores da teoria, foi nesta fase semi-aquática que os hominídeos perderam a maior parte do pelo corporal, aumentaram as camadas de gordura sobre a pele e ficaram com a postura ereta. Atualmente ela é uma teoria rejeitada pelo mundo científico. O professor de antropologia John Hawks, explica que o problema dela é a parcimônia.
(…) Teoria do macaco aquático explica todos esses recursos, mas explica-los todos duas vezes. Cada uma das características abrangidas pela teoria ainda requer uma razão para que possa ser mantido depois homínidas deixou o ambiente aquático. Cada um destes motivos provavelmente seria suficiente para explicar a evolução dos traços na ausência do ambiente aquático. Isso é mais do que parcimonioso (…) 
Mesmo sendo rejeitada (e sem querer ser defensor de uma conspiração), é importante destacar que um dia foi considerado absurdo elefantes terem um ancestral semi-aquático, hoje algo aceito.

“O padrão preservado nos dentes é muito similar ao dos mamíferos aquáticos que vivem atualmente. Isso reforça a hipótese de que, em algum ponto da evolução dos elefantes, estes animais eram dedicados a uma vida inteiramente aquática ou anfíbia — eles provavelmente passavam a maior parte do tempo na água” (Erik Seiffert).
  • Defensores da Teoria dos Primatas Aquáticos.
Nos dias de hoje, a teoria dos primatas aquáticos é defendida por alguns poucos cientistas, uma delas é Elaine Morgan. Encontrei o vídeo de uma palestra onde ela expõe seu ponto de vista e explica parte da teoria. Na oportunidade também elenca fatos que, talvez, sejam os motivos para seu trabalho não ser levado a sério.

Fontes.                                                                                                                                            022 de 186

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sereia

https://fantasia.fandom.com/pt/wiki/Sereias

https://pt.wikipedia.org/wiki/Atargatis

https://pt.wikipedia.org/wiki/Melusina

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mami_Wata

https://medium.com/@mundodrive/sereias-existem-de-verdade-aprendi-isso-no-discovery-channel-f533125e34b5

http://scienceblogs.com.br/bessa/2013/02/sereias-existem-o-documentario/

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/afinal-sereias-existem/

https://www.b9.com.br/37987/a-sereia-o-jornalista-e-o-internauta/

http://www.assombrado.com.br/2017/04/sereias-lenda-fotos-videos-relatos-e.html

https://sesereias.wordpress.com/2014/09/03/a-historia-real-da-sereia-de-fiji/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3tese_do_macaco_aqu%C3%A1tico

http://johnhawks.net/

https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/04/080415_cienciaelefanteancestral_np.shtml

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