domingo, 1 de outubro de 2017

Os Verdadeiros Contos de Fadas. Chapeuzinho Vermelho.

Não me lembro com clareza qual foi o 1° Contos de fadas que li na vida, estou em duvida se é dos 3 Porquinhos, ou da Chapeuzinho Vermelho. Em ambos os casos eles tem uma figura central neste conto, o Lobo Mau. Mesmo não sabendo com Clareza com destes dois contos eu adentrei nos contos de fadas, eu sei de uma coisas, em 3 vezes eu trabalhei em cima do conto da Chapeuzinho Vermelho. Pelo que eu me lembre na primeira vez, tive que fazer colagem de figuras (Lá no distante ano de 2001), nas duas últimas (2006) reescrever o conto clássico, talvez tenha sido dai que veio minha inspiração para criar e escrever contos.

E depois de tanto tempo voltarei a escrever algo sobre esse conto.


Todos já devem ter ouvido falar da curiosa estória de uma menina que levar doces para sua adoentada avó. Conhecemos o corpo da história, desde o começo até o final. Bem Preparem para ter um transformação radical em achar que uma inocente garota, não poder ser tão inocente assim, e que o final da Estória não é feliz.

Pela Estrada A Fora Eu Vou Bem Sozinha...

Chapeuzinho Vermelho é um conto de fadas clássico, de origem europeia do século XIV. O nome do conto vem da protagonista, uma menina que usa um capuz vermelho. Publicada pela primeira vez pelo francês Charles Perrault, e depois pelos Irmãos Grimm (da versão mais conhecida), o conto sofreu inúmeras adaptações, mudanças e releituras (Até os dias de hoje) se firmando como parte cultura popular mundial, se tornando uma das fábulas mais conhecidas de todos os tempos.

Mas nem sempre a história da Menina do capuz vermelho e essa que a conhecemos. Há alguns séculos, (Popularmente conhecida como Idade Média) uma forma de alertar as pessoas para não falar com estranhos era contar a macabra história de Chapeuzinho Vermelho. Sim macabra, antes do conto ser como o conhecemos hoje, ele era macabro, violento e estarrecedor. E com diversas interpretações.

A primeira versão da história escrita por Perrault era uma história para adulto, O capuz vermelho que acompanha a menina nas versões de Perrault e na dos Grimm, surge como símbolo da cor do sangue, da menstruação, cor da alma, da libido e do coração. O “Lobo Mau” na verdade é a figura de um homem. Só tempos depois os Irmãos Grimm alteraram seu conteúdo erótico e adaptaram às crianças numa época antes do século XVIII, ou seja, antes que a revolução burguesa modificasse o pensamento e o comportamento ocidental, e, portanto, modificasse a história bem mais próxima do que a conhecemos hoje.
Versão Consagrada
Era uma vez uma linda e alegre menina que era amada por todos que a olhassem, mas, principalmente, por sua avó, e não havia nada que ela tivesse que não desse para a criança. Certa vez ela deu um pequeno chapéu de veludo vermelho, o qual ficou tão bem nela, que ela nunca usava nada diferente, e então passou a ser chamada de "Chapeuzinho Vermelho". 
Um dia sua mãe disse, "Venha, Chapeuzinho vermelho, aqui tem um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho. Leve-os para a sua avó, pois ela está doente e fraca e isto irá fazer bem para ela. Vá antes que fique muito quente, e quando você estiver indo, caminhe suave e gentilmente e não saia do caminho ou você poderá cair e quebrar a garrafa, e então sua avó não receberá nada. E quando entrar no quarto dela, não se esqueça de dizer Bom dia e não fique espionando por todos os cantos antes de fazer o que pedi."
— Tomarei muito cuidado. - Disse Chapeuzinho para sua mãe, e estendeu a sua mão para se despedir. 
A avó vivia no meio da floresta, a meia légua de distância da vila, e assim que Chapeuzinho Vermelho entrou na floresta, um lobo topou com ela. Chapeuzinho vermelho não sabia que ele era uma criatura malvada, e não tinha nenhum medo dele. 
— Bom dia, Chapeuzinho vermelho. - Respondeu o Lobo.
— Agradeço gentilmente, lobo. 
— Para onde vai tão cedo, Chapeuzinho Vermelho? 
— Para a casa da minha avó. 
— O que você tem no seu avental? 
— Bolo e vinho. Ontem foi dia de fornada, então minha avó pobre e doente terá algo bom, para torná-la mais forte. 
— Onde vive a sua avó, Chapeuzinho Vermelho?
— Um bom quarto de légua além da floresta. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e as castanheiras ficam bem abaixo. Você certamente sabe onde é. - Respondeu.
O lobo pensou consigo mesmo. 
— Que criatura adorável e gentil! Que bocado delicioso e rechonchudo, seria melhor que ela comesse ao invés da velhinha. Preciso agir com astúcia para pegar as duas. - Pensou.
Então ele caminhou durante algum tempo ao lado de Chapeuzinho vermelho, e então disse, 
— Veja, Chapeuzinho vermelho, como são belas as flores por aqui, porque você não dá uma olhada? Eu acho, também, que você não percebeu como os passarinhos estão cantando tão docemente. Você anda muito preocupada, como se estivesse indo à escola, ao passo que tudo em sua volta na floresta é alegria.
Chapeuzinho vermelho ergueu os olhos, e quando viu os raios de sol dançando ali e acolá entre as árvores e belas flores crescendo por todo o canto, ela pensou, "Acho que devo levar um ramalhete de flores colhidos na hora para minha avó, isto irá agradá-la também. Ainda é tão cedo de dia, que devo chegar lá bem cedo." E então ela correu do caminho para dentro da floresta para olhar as flores. E sempre que ela pegava uma, imaginava ter visto outra ainda mais linda à frente e, corria atrás dela, e ia mais e mais para dentro da floresta.
Enquanto isso o lobo correu diretamente para a casa da vovó e bateu na porta.
— Quem está aí?
— Chapeuzinho Vermelho! - Respondeu o lobo. - Estou trazendo bolo e vinho. Abra a porta.
— Levante o trinco. - Gritou a avó lá de dentro. - Estou muito fraca e não consigo levantar.
O lobo levantou o trinco, a porta se abriu e sem dizer uma só palavra foi direto para a cama da avó e a devorou. Então ele vestiu as roupas dela, colocou o capuz dela, deitou na cama e puxou as cortinas.
Chapeuzinho, entretanto, estava correndo e pegando flores, e quando viu que ela tinha colhido tantas que não conseguia carregar mais, lembrou-se de sua avó e foi direto para a casa dela. 
- Oh céus! Como me sinto preocupada hoje e em outras ocasiões eu gostava tanto de ficar com minha avó.
Ela ficou surpresa ao encontrar a porta da cabana ainda aberta, e quando ela entrou no quarto, teve um pressentimento tão estranho, e disse para si mesma.
—Bom dia. - Mas não recebeu nenhuma resposta. Então ela se aproximou da cama e puxou as cortinas. Lá estava sua avó com sua touca esticada até o rosto e parecendo muito estranha.
— Oh! Vovó. - Disse. - Que grandes orelhas você tem!
— Para melhor ouvir você, minha criança.
— Mas, vovó, que olhos grandes você tem!
— Para ver você melhor, minha filhinha. 
— Mas, avozinha, que mãos grandes você tem!
— Para melhor abraçar você.
— Oh! Mas, avozinha, que boca grande você tem!
— Para melhor comer você! 

E mal o lobo disse isto, com um pulo estava fora da cama e engoliu a Chapeuzinho Vermelho. 
Quando o lobo tinha saciado a sua fome, deitou-se novamente na cama, adormeceu e começou a roncar muito alto. O caçador estava passando pela casa naquele momento e pensou consigo mesmo. 
—  Como a velhinha está roncando! Devo saber se ela precisa de alguma coisa.
Ele entrou na casa, indo em direção ao quarto, e quando veio até a cama, viu que o lobo estava deitado nela. 
— Ei que te encontro aqui, seu pecador de uma figa! - disse ele. - Há muito que tenho te procurado. - Então, quando o caçador estava para atirar no lobo, lhe ocorreu que este devia ter devorado a avozinha, e que ela ainda podia ser salva. Então ele não atirou, mas pegou um par de tesouras e começou a cortar a barriga do lobo que estava dormindo. Quando ele tinha feito dois cortes, viu surgir Chapeuzinho vermelho, e quando fez mais dois cortes, a pequena menina saiu, gritando: 
—Ah, como estou assustada! Como é escuro dentro do lobo e em seguida a velha avozinha também saiu, porém, mal conseguia respirar. Chapeuzinho, todavia, trouxe rapidamente duas grandes pedras com o qual eles encheram o corpo do lobo. Quando ele acordou, quis fugir correndo, mas as pedras eram tão pesadas que caiu de imediatamente e caiu morto. 
Os três ficaram contentes. O caçador tirou a pele do lobo e a levou para casa, a avozinha comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido e sentiu-se melhor, mas Chapeuzinho pensou consigo mesma, "Enquanto eu viver, nunca mais sairei do caminho para correr para dentro da floresta, quando a minha mãe me proibir de fazer isso."
Dizem também que uma vez quando Chapeuzinho estava novamente levando bolos para sua velha avozinha, outro lobo (Possivelmente o Lobo dos três porquinhos, ou do 7 Cabritinhos) falou com ela e tentou tirá-la do caminho. Todavia, Chapeuzinho vermelho estava cautelosa e foi diretamente pelo caminho e disse à avó que tinha encontrado o lobo, e que ele disse bom dia para ela, todavia com uma maldade tão grande em seus olhos que se ela não estivesse em uma rua pública ela tinha certeza que teria sido comida por ele. 
— Bem, nós vamos fechar a porta para que ele não entre. Pouco tempo depois o lobo bateu na porta e gritou,
— Abra a porta, avozinha, eu sou Chapeuzinho vermelho e estou trazendo alguns bolos.
Mas elas não responderam, nem abriram a porta, então o lobo de barba cinzenta deu duas ou três voltas ao redor da casa, e por fim saltou no telhado planejando esperar até que Chapeuzinho fosse para casa a noite para então segui-la e devorá-la na escuridão. Mas a avozinha adivinhou o que o lobo estava pensando. Em frente a casa havia uma grande tina de pedra, então ela disse para a netinha. 
—Pegue o balde, Chapeuzinho, eu fiz algumas salsichas ontem, então, leve a água que fervi as salsichas para a tina. Chapeuzinho levou a água até a grande tina ficar bem cheia. Então o lobo sentiu o cheiro das salsichas, e ele farejou e deu uma espiada e esticou tanto o pescoço que não podia mais manter os pés e começou a escorregar, e escorregou direto do telhado para a grande tina e se afogou. Porém Chapeuzinho foi alegremente para casa, e nunca mais fez nada para magoar ninguém.

A Outra Versão.

Acima temos a clássica versão que ouvimos quando crianças, e até mesmo acompanhada de ilustrações, perceberam como ela e amena, com algo que ficam sem pé nem cabeça. Durante os séculos a estrutura do conto mudou bastante, geralmente em tentativas de amenizar alguns pontos violentos. As divergências apontam para uma historia mais sombria ou até mesmo mais maliciosa. O que joga ela mais para a fantasia do que seu conto original que era a brutal realidade. Tal narrativa tinham o intuito de ensinar as crianças sobre algum assunto. E a história da garota da capa vermelha era uma delas

Nessa época era difícil ter acesso a cultura escrita e ensinamentos, tarefa que era delegada aos pais. Utilizavam-se dessas estórias para exemplificar e advertir seus filhos na passagem da infância para a vida adulta. Com jogos psicológicos, esses ensinamentos eram passados de uma maneira muito rústica e eficaz, amedrontando.

No conto original não havia na estória a figura do caçador que salva a mocinha e proporciona um final feliz. Eram apenas a garota ingênua andando pela floresta e um lobo esperto que a engana e a termina jantando. Entre o primeiro encontro da mocinha com o lobo e o seu fim trágico, muitas cenas de violência, crueldade, erotismo e até mesmo canibalismo são descritas nas versões primitivas da narrativa. Da qual todas concordam com o trágico final.

Nem sempre o antagonista era um lobo, em algumas versões é um Lobisomem ou até mesmo um ogro faminto. Versões que o Lobo/Lobisomem/Ogro esquarteja a vovô e se põe no seu lugar, deixando na mesa (Outras versões sugerem na própria cama) "Carne" é "Vinho" fazendo a garota, não sabendo disto, canibalizar a própria avó.

Em outras versões o lobo sugere que a menina se deite com ele, para depois devora-la, fato que abre espaço para interpretações sexuais. Versões dela tirando a roupa e queimando na lareira, é o Lobo dizendo que não precisaria, sem mencionar que ela se deita com o Lobo. Desse momento erótico que vêm as famosas falas de Chapeuzinho, como "oh vovó, que bocão você tem" ou "oh vovó, que mãos grandes você tem", entre outros "elogios".

Em alguns casos, Chapeuzinho é devorada (Nos 2 sentidos) na cama, em outros, percebe quando o lobo se despe, revelando quem ele realmente é. Então pede para sair para urinar (Da qual e até existe a sugestão de golden shower (chuva dourada), proposto pelo lobo, que pede que a menina urine sobre ele) e defecar, que na época que se passa o conto, o banheiro ficava do lado de fora da casa. O lobo só permite que ela sai amarrada a uma corda, mas a menina desliza da corda e foge, sem o auxilio de ninguém.

Na versão original. é publicada em francês, escrita por Charles Perrault, é a versão que disse que Chapeuzinho já é uma mocinha, que recebe falsas instruções do lobo sobre como chegar a casa da sua avó, porém ela acaba nunca chegando na casa da avó, pois o lobo a devora no caminho. E acaba assim, não existe lenhador ou caçador e nem papel para avó, uma história triste mas que tem uma moral bem bacana que é “nunca aceite conselho de estranhos” acho que de todos os Contos de Fadas, esse é o que tem uma moral mais explicita.

É somente com a versão dos irmãos Grimm que a historinha ganha um final feliz graças à introdução do caçador que salva Chapeuzinho e sua avó (Tirando milagrosamente da barriga).

O Caçador, em uma perspectiva mais contemporânea é descrito como um lenhador, porém alguns em relatos mais antigos ele nem mesmo é mencionado, sendo o fim da historia não necessariamente feliz, já que nessa versão não há salvador para Chapeuzinho nem sua avó. E desse modo, nas historias que terminam com final feliz, Chapeuzinho se vale da própria destreza para continuar viva.

Na versão sem o “final feliz” (exceto para o Lobo/Lobisomem/Ogro), após a Chapeuzinho jantar, ela resolve seduzir o lobo, fazendo um Strip-Tease para ele, querendo com isso distrai-lo e sair correndo. Não acaba funcionado e o lobo acaba devorando ela do mesmo jeito (Provavelmente nos 2 sentidos).

Às vezes, porém muito raramente, a capa vermelha é inexistente.

Origens.

Olha a reação do lobo, com medo de ser descoberto.
As origens de Chapeuzinho Vermelho podem ser rastreadas até por de vários países europeus e mais do que provavelmente anteriores ao século XVII, quando o conto adquiriu a forma conhecida atualmente, com a versão dos irmãos Grimm de inspiração. Chapeuzinho Vermelho era contada por camponeses na França, Itália e Alemanha, sempre com um caráter muito popular.

A versão impressa mais antiga é de Charles Perrault, Le Petit Chaperon Rouge, retirada do folclore francês foi inserida no livro Contos da Mamãe Gansa. A história de Perrault retrata uma "moça jovem, atraente e bem educada", que ao sair de sua aldeia é enganada pelo lobo, que come a velha e arma uma armadilha para a menina que termina sendo devorada, sem final feliz. Essa versão foi escrita para a corte do rei Louis XIV, no final do século 17, destinada a um público, que o rei entretinha com festas extravagantes e prostitutas, que pretendia levar uma moral as mulheres para perceberem os avanços de maus pretendentes e sedutores. Um coloquialismo comum da época era dizer que uma menina que perdeu a virgindade tinha "visto o lobo". O autor explica a moral da história ao fim do conto nos seguintes termos:

A partir desta história se aprende que as crianças, especialmente moças jovens, bonitas, corteses e bem-educadas, não se enganem em ouvir estranhos, E não é uma coisa inédita se o Lobo, desta forma,(arranjar) o seu jantar. Eu chamo Lobo, para todos os lobos que não são do mesmo tipo (do lobo da história), há um tipo com uma disposição receptiva - sem rosnado, sem ódio, sem raiva, mas dócil, prestativo e gentil, seguindo as empregadas jovens nas ruas, até mesmo em suas casas. Ai de quem não sabe que esses lobos gentis são de todas as criaturas como as mais perigosas!

Charles Perrault.
No século 19 duas versões da história foram contadas a Jacob Grimm e seu irmão Wilhelm Grimm, a primeira por Jeanette Hassenpflug (1791-1860) e a segunda por Marie Hassenpflug (1788-1856). Os irmãos registram a primeira versão para o corpo principal da história e a segunda em uma sequência do mesmo. A história com o título de Rotkäppchen foi incluído na primeira edição de sua coleção Kinder-und Hausmärchen (contos infantis domésticos (1812). Perrault é quase certamente a fonte do primeiro conto. No entanto, eles modificaram o final, introduzindo o caçador que abre a barriga do lobo e tira a menina e sua avó, colocando pedras no lugar; este final é idêntico ao que há no conto O lobo e os sete cabritinhos, que parece ter influenciado tal mudança. A segunda parte conta como a menina e sua avó prendem e matam um outro lobo, desta vez antecipando seus movimentos baseados em sua experiência anterior. A menina não deixou o caminho quando o lobo falou com ela, sua avó trancou a porta para mantê-lo fora, e quando o lobo se escondia, a avó manda Chapeuzinho colocar no fogo da lareira uma panela com água fervente. O cheiro que sai da chaminé atrai o lobo para baixo, e ele se afoga; O desfecho desta segunda parte também possui semelhança com o de outro conto, Os Três Porquinhos. Os irmãos revisaram novamente a história em edições posteriores até alcançar a versão final, acima mencionada, e publicá-la na Edição de 1857 de seu trabalho.

Interpretações.

Claramente o conto contém diversas advertências, o mais evidente deles e sobre falar com estranhos, mas ainda existem muitas interpretações deste conto, como de outros (Quem sabe eu faço um post a parte), muitos deles de cunho sexual.

Muito antes de existir a famigerada regra 34 da Internet, os contos de fadas misturavam erotismos em suas histórias, sejam de maneira velada ou não, Chapeuzinho e um destes casos da qual a metalinguagem e bem empregada

Despertar sexual.

Chapeuzinho Vermelho tem sido visto como uma parábola da maturidade sexual. Segundo Erich Fromm, Psicanalista e Filósofo Alemão, o conto primitivo camponês dos séculos XVII e XVIII representa o inconsciente coletivo constante no conto, que para ele, trata sobre a confrontação de uma adolescente com a sexualidade adulta.

Por meio da decodificação dos símbolos existentes no conto, Fromm conseguiu analisá-lo. Os simbolismos encontrados por ele no conto para fundamentar sua análise são; o manto vermelho simboliza o sangue do ciclo menstrual, e a garrafa de vinho, (adaptada com a cesta de doces) que é um símbolo de virgindade, a menina atravessa a "floresta escura" da feminilidade, ou mesmo representando a puberdade (com a avó ao fim do caminho simbolizando a idade avançada da mulher). Ou a capa poderia simbolizar o hímen (versões anteriores do conto geralmente não afirmam que o manto é vermelho).

Os avisos dados pela mãe de chapeuzinho, para que não se desviasse do caminho, significariam o cuidado que deveria ter a menina para não quebrar a garrafa e perder seu líquido (hoje contada para não se perder), ou seja, “um alerta contra o perigo do sexo e de perder a virgindade”.

 Ai temos a figura do Lobo/Lobisomem/Ogro. Neste caso, o lobo ameaça a virgindade da menina (já que em algumas versões ele pede que ela tire a capa para sentar-se consigo na cama). O lobo antropomórfico simboliza um homem, que poderia ser um amante sedutor, ou predador sexual (o que fica evidente na moral escrita por Perrault) sedento por sexo e astucioso, que procura desviar a menina do caminho da virtude. Lembra das frases que o Lobo profere nos contos, devorando Chapeuzinho Vermelho. O ato canibal em que o macho devora a fêmea, Lobo mau devorando a Chapeuzinho, simplesmente é o ato sexual em si.

A cor vermelha,  símbolo das emoções violentas e do sexo, é a tônica que colore todo este conto. Segundo o genial psicanalista Grodeck,” o Chapeuzinho é o símbolo do prepúcio masculino uma transferência prematura da atração sexual”,que é acentuada pelo fato de a avó estar velha e doente, demais até para abrir a porta, acrescenta o psicólogo Bruno Bettelheim. Bettelheim prossegue: “A pessoa imatura, que ainda não está pronta para o sexo, mas é exposta a uma experiência que suscita fortes sentimentos sexuais, recais nas formas edípicas de lidar com ele. A pessoa só acredita então que possa vencer no sexo livrando-se dos competidores mais experientes-daí as instruções específicas que Chapeuzinho dá ao lobo para que este chegue á casa da avó. É como se estivesse dizendo; Deixe-me sozinha,vá ao encontro da vovó que é uma mulher madura; ela será capaz de lidar com o que você deseja, eu não."

Agora sim faz todo o sentido o por que da Vovó do Pica-Pau
querer se casar com o Lobo.
Na variação dos Irmãos Grimm, uma solução: depois de uma experiência ruim, Chapeuzinho se convence de que ainda é imatura e deve estabelecer aliança com sua avó. Tanto a coisa se passa assim, que é a avó, com a sua sabedoria que engendra o estratagema para castigar o (Outro) lobo e é obedecida pela neta. Juntas, com facilidade dão um castigo exemplar ao lobo. Os Grimm especificam a seguinte questão: O lobo pensa, tenho que acabar primeiro com a avó a figura protetora da menina. Depois eu a terei só para mim.

“As crianças sabem de algo que não podem explicar; gostam de Chapeuzinho Vermelho e o lobo na cama.” - Diz Djuna Barnes.

“Chapeuzinho Vermelho , de forma simbólica projeta a menina nos perigos do conflito típicos durante a puberdade, e depois salva-a deles, para que ela possa amadurecer livre de conflitos.” Através de Chapeuzinho, a menina tende a entender a natureza contraditória do homem: tendências egoístas, associais, violentas e potencialmente destrutivas do id (homem). Mas também aprende as propensões altruístas, sociais, reflexivas do ego (o caçador). Então Chapeuzinho Vermelho é uma estória para meninas quase na puberdade? Não, mesmo uma criança de quatro anos se questiona, dentro dos seus limites e tira as suas conclusões corretas ouvindo a trama.

Chapeuzinho é curiosa, deseja descobrir coisas ( sua mãe já advertiu , de início, que não fique espionando pelos quatro cantos).Quando ela encontra a vovó que lhe parece “muito estranha” , a menina se confunde com os disfarces usados pelo lobo, mas ela não se intimida e quer entender o que está se passando e passa a interrogar a “vovó”: porque estas orelhas tão grandes? Porque estes olhos tão grandes? Porque as mãos tão grandes, porque a boca terrível, ela está enumerando os quatro sentidos, audição,visão ,tato, paladar “ que a criança púbere usa para compreender o mundo.

Isso difere da explicação ritual (Abaixo) em que a entrada na idade adulta é biológica, não socialmente determinada. Esta conotação sexual é muito forte, porém é velada nos antigos contos medievais.




Ataques de lobos.

O Etólogo Geist Valerius da Universidade de Calgary, Alberta, Canadá escreveu que a fábula foi baseada em risco real de ataques de lobo na época. Ele argumenta que os lobos eram de fato perigosos predadores, e fábulas serviam como uma advertência válida para não entrar em florestas onde era conhecido para que os lobos viviam, e estar a olhar para tal. Essa interpretação tem o respaldo dos muitos ataques de lobos frequentes em regiões campestres da França, onde a história era frequentemente contada. A figura do lobo como antagonista também é muito comum nas fábulas de Esopo.

Os ciclos naturais.

Em termos de mitos solares e outros ciclos de ocorrência natural, o capuz vermelho pode representar o sol brilhante que é, em última análise engolido pela noite terrível (o lobo), e as variações em que ela é cortada da barriga do lobo representam o amanhecer. Nesta interpretação, há uma conexão entre o personagem Lobo Mau e Skoll, lobo do mito nórdico que vai engolir o Sol personificado em Ragnarök..

Ritual.

O conto tem sido interpretado como um ritual de puberdade, decorrentes de uma origem pré-histórica (às vezes uma origem decorrente de uma era matriarcal anterior). A menina, sai de casa, entra em uma liminar e passando pelo atos do conto, é transformada em uma mulher adulta pelo ato de sair da barriga do lobo. Ou ainda como um renascimento, mas assim adquirindo uma visão mais cristã. A menina que insensatamente ouviu o lobo renasceu como uma nova pessoa ao ser salva da barriga dele. Havendo aí um paralelo com a narrativa bíblica em que Jonas consegue ressurgir com vida de dentro da barriga de um Grande Peixe.

Os dois caminhos.

No começo da história a protagonista pode escolher entre um caminho longo e seguro e um caminho rápido e perigoso. Fica então evidente um arquétipo cristão de moralidade, aonde a menina escolhe um caminho que vai lhe levar de encontro a fera do lobo, ao invés de perseverar na segurança do caminho longo. Essa seria uma moral essencial das fábulas em geral, aonde o protagonista é levado a fazer uma escolha entre a virtude e desafio, ou o vício e o aparente atalho que este parece oferecer.

Outras Versões.

As versões contadas da história da Chapeuzinho Vermelho variam muito, com a adição ou a diminuição de elementos de acordo com cada autor. Em algumas versões, é acrescido o aviso da mãe de que Chapeuzinho pegue o caminho da vila para chegar à casa da avó e de não falar com estranhos, retratando a desobediência da garota em ir pelo bosque, que seria o caminho mais curto, e em falar com o Lobo-Mau na primeira oportunidade. Este fato atribui mais uma moral ao conto, que é o de dar atenção aos conselhos dos pais. Também em releituras mais leves e adaptadas à reação sensível de uma criança, a avó e a Chapeuzinho não chegam a serem devoradas pelo lobo, já que a avó é apenas escondida no armário pelo vilão, enquanto Chapeuzinho consegue fugir antes que ele a alcance. Com a chegada do politicamente correto, algumas versões nem mesmo incluem uma punição para o lobo, deixando no lugar a redenção do antagonista ou mesmo uma fuga sem volta.

Andrew Lang incluiu uma variante como "A Verdadeira História do Chapeuzinho Dourado" em O Livro Vermelho de fadas, derivado da obra de Charles Marelles, em Contos de Charles Marelles. Esta variante dizia explicitamente que a história havia sido mal contada. A menina foi salva, mas não pelo caçador, quando o lobo tentou comer ela, sua boca foi queimada pelo capuz de ouro que ela usava, que ficou encantado.

James N. Barker escreveu uma variação de Chapeuzinho Vermelho em 1827 como uma história de cerca de 1000 palavras. Mais tarde foi reimpresso em 1858 em um livro de histórias coletadas editada por William E Burton, chamado de Enciclopédia de Inteligência e Humor. A reimpressão também apresenta uma gravura em madeira de um lobo vestido de joelhos segurando a mão de Chapeuzinho Vermelho.

No século XX, a interpretação do conto foi muito popular, com muitas novas versões sendo escrito e traduzidas, especialmente na esteira da análise freudiana, desconstrução e teoria crítica feminista. Esta tendência também levou a uma série de textos acadêmicos sendo escrito que se concentram em Chapeuzinho Vermelho, incluindo obras de Alan Dundes e Zipes Jack.

No Brasil, é comum relacionar o conto a duas músicas de sucesso do cantor Braguinha feitas especialmente para a historinha contada para crianças: Pela Estrada a Fora e Lobo Mau.

Depois, quando a história já tinha um forte caráter infantil, o XXI, trouxe ainda novas versões: a irreverência e o deboche em Dalton Trevisan, os desenhos de Maurício de Sousa atraindo o público mais infantil, Neil Gaiman impressionando seus leitores ao expôr uma Capuchinho/Chapeuzinho indiferente a morte da vó pelo lobo, e Deu a louca na Chapeuzinho, filme de 2005 com paródia dos personagens.

Guimarães Rosa, em Fita verde no cabelo, traz uma versão para adolescentes. Ela vai desde o fluxo das fantasias de uma jovem até o momento em que se defronta com a morte de sua avó, sendo desta forma, obrigada a enfrentar seus medos, angústias e solidão. Chico Buarque faz uma paródia, Chapeuzinho Amarelo, para o público pré-adolescente.

Raphael Draccón, em sua série Dragões de Éter, apresenta novamente a fábula da Chapeuzinho Vermelho, mas dessa vez o lobo é um animal marcado por uma bruxa para matá-la, pois esta garota, que tem seu capuz marcado pelo sangue do lobo, é um jovem a ser iniciada na magia branca, da qual sua mãe e sua avó, que dessa vez não foi morta, também são.

Em 2005, Ivone Gomes de Assis publicou Bonezinho Vermelho e a internet no século XXI, uma releitura parodiada, que traz as tendências da mídia virtual. Nesta obra ilustrada, a vovozinha é uma hacker, que se disfarça até nas preferências do cotidiano, afirmando não gostar de nada que é tecnologia. A figura "feia" da vovó tenta quebrar o mito que muitos carregam ao pensar que a voz e a escrita, suave e gostosa, dos participantes de chats, sempre pertencem a pessoas bonitas e cheias de boa intenção. É uma obra bilingue, para crianças e adultos.

Hilda Hilst, também contribui no estudo deste conto, com a divertida paródia A Chapéu, publicada na obra Bufólicas. A autora recria uma Chapeuzinho cafetina do Lobo.

Foi lançado em 1984 o filme de drama e fantasia The Company of Wolves (A Companhia dos Lobos), que retrata a maturidade da mulher e sua vida sexual numa metáfora do conto de Chapeuzinho Vermelho. No filme, Rosaleen é uma jovem e ingênua aldeã que ouve de sua avó histórias sobre os terríveis lobos que vivem na floresta e se disfarçam de homens para seduzir e devorar garotinhas.

Em março de 2011, a WarnerBros lançou o filme Red Riding Hood (A Garota da Capa Vermelha no Brasil e A Rapariga do Capuz Vermelho em Portugal), com direção de Catherine Hardwicke e roteiro por David Leslie Johnson. Nesta versão sombria do conto, um lobisomem assombra um pequeno vilarejo no qual vive a garota Valerie (interpretada por Amanda Seyfried), que deve escolher entre o casamento prometido pela sua mãe e a fuga planejada com seu amor de infância, ao mesmo tempo que desconfia de quem possa ser o lobo.

No seriado americano Grimm, baseado nos contos dos Irmãos Grimm, os "blutbad" são criaturas semelhantes a lobisomens que vivem disfarçadas de humanos. Apesar de alguns serem pacíficos e civilizados, alimentam-se de carne humana por natureza e não resistem à cor vermelha, que libera seus instintos.

Já na série Once Upon a Time, que retrata releituras de contos de fadas clássicos, Chapeuzinho é uma jovem que mora com sua avó numa aldeia aterrorizada por um terrível lobo que ataca em noites de lua cheia. Mais tarde ela descobre que assume a forma do lobo sem se lembrar depois por causa de uma maldição em sua família, sendo que sua avó a protege dos caçadores fazendo-a vestir uma capa vermelha mágica que serve para repelir a maldição. Depois de matar seu próprio amado quando em forma de lobo, ela decide fugir para sempre.

A história também é um dos contos de fadas que aparece no filme musical Into the Woods, de 2014. Aqui, Chapeuzinho é uma menina gulosa, salva do Lobo Mau (interpretado por Johnny Depp) graças ao protagonista, que deve quebrar um feitiço. Em retribuição, ela lhe oferece sua capa vermelha como o sangue, um dos itens solicitados pela Bruxa Má (Meryl Streep) para desmanchar a maldição.

No Japão temos algumas obras que adaptam os contos de fadas, como Grimm Mangá, de Kei Ishiyama, Mas uma obra que se destaca em adaptar o conto de Chapeuzinho vermelho é sem dúvidas, Tokyo Akazukin. Tokyo Akazukin é uma versão moderna da história da Chapeuzinho Vermelho, porém muito mais adulta. Essa eu acredito que vai ter um post só para esse mangá.

Fontes.

A PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS. AUTOR: BRUNO BETTELHEIM. EDITORA: PAZ E TERRA*

http://jornalggn.com.br/noticia/pesquisador-traca-dna-de-chapeuzinho-vermelho

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2003000200025

http://on.ig.com.br/palavra/2015-03-26/mutilacao-estupro-e-canibalismo-as-versoes-originais-dos-contos-de-fada.html

https://amenteemaravilhosa.com.br/verdadeira-historia-chapeuzinho-vermelho/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Capuchinho_Vermelho

https://nomeumundo.com/2012/04/03/a-verdade-sobre-os-contos-de-fadas-chapeuzinho-vermelho/

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