quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Enciclopédia dos Mitos e Lendas do Brasil: (Bestiário) Boto Cor-de Rosa.

Mais um Post, sobre as lendas brasileiras, neste parte do Bestiário irei falar sobre uma das mais populares lendas da Amazônia. Diferente de outros seres lendários ou pertencentes ao campo da criptozoologia, (Boitatá, Mapinguari [em breve terão seus posts], Mula sem Cabeça, entre outros...), mas de um animal real comum na amazônia:


Boto-cor-de-rosa, boto-vermelho, boto-rosa, boto-malhado, boto-branco, boto, costa-quadrada, cabeça-de-balde ou uiara são nomes comuns dados a 3 espécies de golfinhos fluviais (não confundir com golfinhos, que pertencem à família Delphinidae) do gênero Inia. As espécies se distribuem nas bacias dos rios Amazonas e Solimões (I. geoffrensis), na sub-bacia Boliviana (I. boliviensis) e na bacia do rio Araguaia (I. araguaiaensis).

É o maior golfinho de água doce, e um dos cetáceos com dimorfismo sexual mais evidente, com os machos medindo e pesando 16% e 55% mais do que as fêmeas. Os adultos apresentam uma coloração rosada, mais proeminente nos machos. Como outros odontocetos, possui um órgão chamado melão utilizado para ecolocalização. A nadadeira dorsal é pequena, mas é muito larga e as suas nadadeiras peitorais são grandes. Esse recurso, juntamente com o seu tamanho médio e a falta de fusão nas vértebras cervicais conferem-lhe uma grande capacidade de manobra para navegar na floresta inundada e capturar suas presas. Tem a dieta mais ampla entre os odontocetos, alimentando-se principalmente de peixes, mas completando com tartarugas e caranguejos. Na época das chuvas se desloca para as áreas alagadas da floresta, onde há uma maior oferta de alimentos.

Em 2011, foi classificada pela IUCN na categoria de espécies com dados insuficientes, devido à incerteza em relação ao número total da população, a sua tendência e o impacto das ameaças. Não é alvo de caça significativa, mas nas últimas décadas tornaram-se frequentes capturas acidentais em redes de pesca. Por sua coloração rosada chama a atenção e é uma das espécies de golfinhos mantida em cativeiro em vários aquários do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Venezuela e Europa, no entanto, é de difícil manutenção e tem uma alta taxa de mortalidade em cativeiro.

"Boto-branco", "boto-vermelho", "boto-cor-de-rosa" e "boto-malhado" são referências a sua coloração, especialmente da região ventral, que é branca com tendência para o avermelhado. "Uiara" vem do tupi ï'yara, que significa "senhora da água". O epíteto específico homenageia o naturalista francês Étienne Geoffroy Saint-Hilaire.

A espécie foi descrita em 1817 por Henri Marie Ducrotay de Blainville como Delphinus (Delphinorhynchus) geoffrensis. Em 1824, Alcide d'Orbigny descreveu o Inia boliviensis como uma espécie distinta, criando assim um novo gênero. Em 1846, John Edward Gray recombinou o nome científico cunhado por de Blainville para Inia geoffroyii. Em 1855, Paul Gervais recombinou a espécie para Inia geoffrensis.

A Lenda.

Como todas as lendas e mitos ao redor do mundo que mencionam humanos se transformando em animais, a do Boto é curiosa por ser ao contrário. Um animal que se transforma em um humano. Talvez um dos poucos mitos de animais que se transformam em humanos ( Kitsunes e Tanukis no folclore japonês)


A “Lenda do Boto cor-de-rosa”, ou simplesmente a “Lenda do Boto”, é uma estória de origem indígena, que faz parte do folclore brasileiro, oriunda da região Amazônica, no norte do País.

Acredita-se que nas noites de lua cheia, próximas da comemoração da festa junina, o boto cor-de-rosa sai do Rio Amazonas, transformando num jovem belo e elegante, metade homem e continua em condição de boto na outra metade do corpo.

Com isso, ele aparece normalmente nas festividades de junho, ou seja, nas comemorações dos Santos Populares (Santo Antônio, São João e São Pedro), as chamadas Festas Juninas, vestido de branco, com um grande chapéu a fim de esconder suas narinas, pois sua transformação não ocorre totalmente.

Muito atraente e com um belo porte físico, o boto sai pelas comunidades próximas ao rio, encanta e seduz a moça mais bonita. O belo rapaz usa sempre um chapéu, leva as moças até a margem do rio (Outras versões falam  que levam para o fundo do rio) e as engravida. Ao engravidá-las, o rapaz volta a ser um boto cor-de-rosa e a moça volta a sua comunidade grávida.

Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente. Por esse motivo, a Lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento; ademais, costuma-se dizer que “a criança é filho do boto” quando é filho de pai desconhecido.

Em noites de festas populares da região do Amazonas, as mães são alertadas para que cuidem de suas filhas, fazendo com que não acreditem nos rapazes que se aproximam querendo namorar, pois pode ser o Boto Rosa disfarçado de homem.

Conta a lenda que sempre que uma moça é tida como desaparecida, dizem que a mesma foi capturada pelo mamífero.

Por esse fato, as pessoas que vivem em comunidades próximas aos rios onde habitam os botos cor-de-rosa o comem acreditando que ficarão enfeitiçadas por ele pelo resto da vida. Acredita-se também que algumas pessoas que comem a carne do boto ficam loucas.

O olho do boto, seco, é considerado um ótimo amuleto para conseguir sucesso no amor. Se o homem quer conquistar uma mulher, dizem que ele deve olhar para ela através de um olho de boto. Desse jeito, ela não vai poder resistir - e vai ficar perdidamente apaixonada...

Parece que as lendas sobre "botos-homens" só surgiram no Brasil a partir do século XVIII. Pelo menos, nenhum pesquisador encontrou registros mais antigos dessa lenda! Mas, na mitologia dos índios tupis, há um deus - o Uauiará - que se transforma em boto. Esse deus adora namorar belas mulheres.

Uma maneira de confirmar se os homens presentes na festa não tratam-se do boto, é comum retirarem os chapéus deles a fim de atestarem as identidades.

Na cultura popular amazônica acredita-se que a pessoa que comer a carne de boto ficará louca e enfeitiçada.

Com direção de Walter Lima Jr., a Lenda do Boto inspirou o filme “Ele, o Boto” (1987).

Risco de EXTINÇÃO!

Toda Lenda em torno do Boto criou um perigo para o mesmo, mesmo sendo considerado uma lenda, populações ribeirinhas, algumas das quais são crédulas nos mitos da grande floresta, temem que o Boto cor-de-Rosa engravidem suas esposas e filhas. ocasionando a morte desta espécie. Mais não é apenas a superstição que evoca uma possível extinção desta espécie, é sim a ameaça sem trégua dos caçadores/pescadores ilegais, que têm fragilizado a espécie.

O Boto cor-de-Rosa é o maior golfinho de água doce do Planeta, pode viver até 50 anos, mas as taxas reprodutivas baixas, o longo período de cuidado parental, aliada a caça tem afetado drasticamente as populações dos Botos da Amazônia. Há registros de caçadores, especializados em Botos, que matam mais de 20 animais, por expedição, para serem comercializados com ribeirinhos. O Boto e um animal totalmente adaptado à Amazônia, sendo elo fundamental da cadeia alimentar da bacia Amazônica e seus rios colossais.

Esses golfinhos estão sendo mortos para servirem de isca na pesca de um bagre carniceiro, localmente conhecido por Piracatinga ou Urubú-d’água; mas, são vendidos com o nome falso de douradinha, no Brasil, e capaz, na Colômbia; enganando os consumidores. Toneladas de Piracatinga são capturadas anualmente com carne de Boto e o volume desse pescado no mercado brasileiro vem aumentando exponencialmente, nos últimos anos.

Até mesmo um personagem importante de nosso folclore tem seus problemas, sejam eles pela ignorância de algumas pessoas (Que nem são culpadas por isso) Ou pela ganância de outras.


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