quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Edifício Joelma.

Às 08:45 da manhã do dia 1° de Fevereiro de 1974, um curto-circuito no ar condicionado seguido de uma explosão inicia a tragédia no 12°, que consequentemente avança os andares acima, até o 25°andar.

1° de Fevereiro de 2017, 43 anos depois desta terrível tragédia, a história se mantem a cada ano mais viva, principalmente sobre sua lendas e mistérios que se perpetuaram durante os anos.





Edifício Joelma Hoje, chamado de
Edifício Praça das Bandeiras.
Inspirado pelo Vídeo do Dr Mistério, e a sensação de Nostalgia, quando relembrei que já vi esse caso no Linha Direto Mistérios, tinha que escrever esse Post.(Quase que uma obrigação, já que o Oberhalb Thoth e um Blog de Curiosidades, Mistérios e Afins).

Construção.

O prédio começou a ser construído, em 1969, pela Joelma S/A, Importadora, Comercial e Construtora que "o dotou do mais moderno sistema de incêndios", conforme afirmou um dos diretores da empresa, Jorge Cassab. Na construção foi utilizada uma estrutura de concreto armado, com vedações externas de tijolos ocos cobertos por reboco e revestidos por ladrilhos na parte externa. As janelas eram de vidro plano em esquadrias de alumínio, e o telhado de telhas de cimento amianto sobre estrutura de madeira.

O subsolo e o térreo seriam destinados à guarda de registros e documentos; entre o 1° e o 10° andar, ficariam os estacionamentos; e, do 11° ao 25°, as salas de escritórios, divididas em duas Torres, Norte (virada para a Av. Nove de Julho) e Sul (virada para a Rua Santo Antônio).

O incêndio.

Capa do Notícias Populares sobre o Incêndio.
Concluída sua construção, em 1972, o Edifício Joelma foi imediatamente alugado ao Banco Crefisul de Investimentos. No começo de 1974 a empresa ainda terminava a transferência de seus departamentos quando, no dia 1 de fevereiro, uma chuvosa sexta-feira às 8h45 da manhã, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no 12° andar deu início a um incêndio que rapidamente se espalhou pelos demais pavimentos. As salas e escritórios do Joelma eram configurados por divisórias, com móveis de madeira, pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética, condição que contribuiu sobremaneira para o alastramento incontrolável das chamas.

Quinze minutos após o curto-circuito era impossível descer as íngremes escadas que, localizadas no centro dos pavimentos, não tardaram a serem bloqueadas pelo fogo e a fumaça. Os corredores, por sua vez, eram estreitos. Na ausência de uma escada de incêndio, muitas pessoas ainda conseguiram se salvar ao contrariar as normas básicas e descer pelos elevadores, mas estes também logo deixaram de funcionar, quando as chamas provocaram a pane no sistema elétrico dos aparelhos e a morte de uma ascensorista no 20° andar.

Nos braços da mãe, que saltou para a morte no 15° andar, uma criança de um ano e meio foi salva em um dos episódios mais dramáticos do incêndio. A multidão acompanhou o salto bem em frente ao prédio. O choro da criança, levada imediatamente ao Hospital das Clínicas, foi ouvido logo após o impacto da queda. No último andar do prédio, segundo o depoimento de Ivã Augusto Pires, coordenador do Serviço de Transportes da Câmara, um rapaz jogou-se ao chão e aproximou-se de gatinhas da borda do terraço. Mas uma labareda fez com que ele escorregasse e ficasse suspenso no ar, segurando no parapeito até não mais aguentar e despencar na rua.

Sem ter como deixar o prédio, muitos tentaram abrigar-se nos banheiros e parapeitos das janelas. Outros sobreviventes concentraram-se no 25° andar que tinha saída para dois terraços. Lembrando-se de um incidente similar ocorrido no Edifício Andraus, dois anos antes, em que as vítimas foram salvas por um helicóptero que pousou em um heliporto no topo do prédio, elas esperavam ser resgatadas da mesma forma.

Na rua os bombeiros tentavam agir em meio à confusão estabelecida pela Polícia Civil, curiosos, PMs, médicos, enfermeiros, soldados do Exército e até escoteiros. Homens e mulheres, alguns em trajes menores, os rostos escurecidos pela fuligem, agitavam-se freneticamente nas janelas tentando chamar a atenção. Mas os helicópteros não conseguiam pousar no terraço escaldante e seus cabos de aço pendiam inutilmente. As escadas Magirus, de 40 metros, não chegavam aos andares mais altos.

No 20° andar, seis pessoas equilibravam-se em um pequeno patamar. Quase não havia lugar para todas. Um rapaz de terno azul agarrava-se muito precariamente a uma parte saliente, uma das pernas já do lado de fora do edifício, como se fosse saltar. Embaixo, os bombeiros acenavam e pediam calma. O fogo acabou, só um pouco mais de paciência, gritava um policial por um megafone. Outros pintaram num amarelo muito vivo, sob grandes faixas de pano - O fogo já apagou! e Coragem, vamos salvá-los! O som do megafone aparentemente não chegou a eles, mas ao ver as faixas um dos rapazes fez um sinal positivo com o polegar, puxou um lenço verde e acenou.

Populares com faixas na Rua, pedindo paciência as pessoas que tentavam pular do prédio.

Resgate.

O Corpo de Bombeiros recebeu a primeira chamada às 09:03 da manhã. Dois minutos depois, viaturas partiram de quartéis próximos, mas devido a condições adversas no trânsito só chegaram no local às 09:10, quando as chamas já atingiam o 20° andar e várias pessoas começaram a se atirar do prédio.

O socorro mobilizou 1.500 homens, entre bombeiros e tropas de segurança, as equipes de cinco hospitais estaduais e outros particulares, quatorze helicópteros, trinta e nove viaturas e todas as ambulâncias da rede hospitalar. Todos os carros-pipa da Prefeitura e vários particulares, além de um grande número de voluntários que antecederam os pedidos das autoridades para doação de sangue. Afim de garantir o livre acesso de ambulâncias e de veículos dos bombeiros ao prédio incendiado, convocaram-se tropas de choque do Regimento 9 de Julho, do Exército e da Polícia Militar, além da Companhia de Operações Especiais e do Departamento do Sistema Viário. Um esquema de emergência foi armado nas imediações do prédio onde se concentraram milhares de curiosos.

Aos 250 bombeiros da capital, juntou-se o reforço de um destacamento de Santo André. Policiais Militares especializados, da Companhia de Operações Especiais (COE) também participaram do trabalho de socorro. Quando a primeira guarnição chegou, comandada pelo sargento Rufino, o fogo consumia só o centro do prédio, mas avançava rapidamente para tomar toda a estrutura. O sargento lamentou não ter podido vir de helicóptero para lançar cordas e escadas pelas laterais ainda intactas do edifício. Como estavam de carro-tanque e as escadas Magirus ainda não haviam chegado, começaram a atirar cordas para subir. O sargento conta que ao chegar ao 12° andar, sua primeira providência foi apagar três corpos em chamas. Logo que uma das quatro escadas Magirus foi instalada, organizou a descida.

Ele carregava pela escada uma menina desmaiada quando uma pessoa se jogou do 19° andar e bateu no corpo de uma outra, que também se jogara do 16°. O peso dos dois arrancou a garota de suas costas e ele só não caiu porque seu pé se enganchou num dos ferros laterais da escada. Na queda morreram dois, mas o que pulou do 19° andar se salvou com ferimentos graves. Os bombeiros usaram quatro jatos de água combatendo o fogo, mas logo de início tiveram problemas, pois os hidrantes da região estavam com defeito. A solução chegou quando a Prefeitura enviou ao local trinta caminhões-pipa. A exemplo do que ocorrera no incêndio do edifício Andraus, faltavam equipamentos, embora desta vez tenham podido usar duas novas escadas de 45 metros que foram anexadas às menores para chegar ao 16° pavimento.

Enquanto um grupo de bombeiros tentava penetrar no prédio, outros procuravam salvar pessoas que se encontravam nas janelas pela parte externa com as Magirus. Um helicóptero do SAR, da FAB, fazia o resgate dos sobreviventes que se encontravam no telhado e que eram auxiliados por homens do COE e pelos tripulantes. Outros treze helicópteros do Governo e de empresas particulares não puderam aproximar-se muito, mas atiraram cordas, sacos de leite e água e tubos de oxigênio aos que se achavam no teto. Depois participaram do transporte dos feridos para os hospitais.

Morrer queimado, ou em queda livre? Essa foi um das difíceis decisões daqueles que a tomaram.

De acordo com o testemunho de um bombeiro, passava das dez da manhã quando os corpos começaram a cair como moscas. Todos queriam sair do edifício de qualquer maneira. Alguns chegaram a pular três andares, com o risco de despencar, para alcançar os andares inferiores onde chegavam as Magirus. O primeiro a se atirar estava no 15° andar. Durante mais de uma hora ele gritou por socorro, desesperado, as vezes encoberto pela fumaça. Pessoas apavoradas tentavam fazer cordas com tiras de pano, que acabavam arrebentando, não resistindo ao peso do corpo humano. Uma mulher, só de calcinha e sutiã, morreu assim, com a cabeça esmagada na calçada.

Os cadáveres se amontoavam na rua cobertos por cobertores, jornais e capas de chuva. Vários minutos depois, um caminhão da polícia e algumas ambulâncias recolheram os primeiros cadáveres e os levaram ao Instituto Médico Legal. No 8° andar os bombeiros encontraram pelo menos onze cadáveres abraçados. O fogo tinha praticamente colado os corpos.

No 12° andar, dezessete pessoas que o capitão Mazzelli, comandante do COE, pretendia salvar, já estavam mortas quando ele chegou. O oficial subiu com um destacamento especializado. Diante do quadro trágico, cinco mortos no banheiro e doze no saguão, o batalhão começou a sentir-se mal e teve que ser retirado pelo helicóptero. Em outra tentativa de salvamento pelo pessoal da FAB, os bombeiros não conseguiram descer no telhado, não somente pelo intenso calor, mas pelo forte cheiro de carne incinerada. Em volta do edifício a multidão rompia os cordões de isolamento e os militares precisaram muitas vezes usar da força para conter os curiosos. As operações eram orientadas pelo próprio Comandante-Geral da Polícia Militar, Coronel Teodoro Cabette, e pelo Secretário de Segurança Pública, General Sérvulo Mota Lima, que foram para a área logo que tomaram conhecimento da tragédia. Policiais e bombeiros lamentaram que muitas pessoas tenham morrido por falta de calma ao se atirarem do prédio.

Apenas uma hora e meia após o início do fogo é que o primeiro bombeiro conseguiu, com a ajuda de um helicóptero do Para-Sar, o único potente o suficiente para se manter pairando no ar enquanto era feito o resgate, chegar ao telhado. Já então muitos haviam perecido devido à alta temperatura no topo do prédio, que chegou a alcançar 100 graus Celsius. A maioria dos sobreviventes conseguiu se salvar por se abrigar sob uma telha de amianto. Quinze bombeiros ficaram intoxicados pela fumaça e muitos fizeram críticas por conta do parco equipamento que dispunham, além dos regulamentos então vigentes de prevenção a incêndios na capital. O Código de Obras do Município de São Paulo, datado de 1934, não dispunha da obrigação de instalações de equipamentos contra o fogo e nem exigia a construção de escadas de emergência. Os recursos concedidos ao Corpo de Bombeiros eram insuficientes, assim como o efetivo da corporação era bastante diminuto.

Por volta de 10:30 da manhã o fogo já havia consumido praticamente todo o material inflamável do prédio. O incêndio foi finalmente debelado com a ajuda de doze autobombas, três autoescadas, duas plataformas elevatórias e o apoio de dezenas de veículos de resgate.

Apenas às 14:20, todos os sobreviventes haviam sido resgatados.

Sequência da tragédia.

  • 08:45 - Início do incêndio no 12° andar. Um curto-circuito no ar condicionado seguido de uma explosão inicia a tragédia. Em pouco mais de 5 minutos as chamas chegariam ao 25° andar.
  • 08:49 - As chamas atingem o 13° andar. Tem início o pânico.
  • 08:55 - Os grandes rolos de fumaça são vistos em todo o centro da cidade. Correria geral. Os bombeiros são informados do incêndio pelos porteiros do Hotel Cambridge.
  • 09:00 - As chamas tomam conta de praticamente todo o miolo do prédio e a fumaça é geral.
  • 09:05 - No topo do edifício inúmeras pessoas se aglomeram, enquanto outras conseguem sair pelo andar térreo. As chamas continuam subindo e chegam ao 20° andar. Ao longe se ouvem as sirenes dos bombeiros e das ambulâncias.
  • 09:10 - As duas primeiras viaturas do Corpo de Bombeiros chegam quando algumas pessoas já se atiram do alto do edifício.
  • 09:15 - As primeiras ambulâncias chegam e começam a remover alguns corpos estendidos no asfalto.
  • 09:20 - Inúmeras pessoas se jogam do alto do edifício.
  • 09:25 - Chegam mais ambulâncias e viaturas do Corpo de Bombeiros. Os primeiros carros-tanque aparecem.
  • 09:30 - A confusão é total na área e a polícia coloca cordões de isolamento. A multidão fica nas proximidades do Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, Praça da Bandeira, Avenida 9 de Julho, Rua Xavier de Toledo e Viaduto Maria Paula. Na Ladeira da Memória as pessoas se ajoelham para rezar.
  • 09:35 - Chegam as unidades móveis de saúde da prefeitura. Os helicópteros da Prefeitura, do Estado, da FAB e de firmas particulares se aproximam, sendo aplaudidos pela multidão. Algumas explosões, talvez de botijões de gás, aumentam o pânico. Caem vitrais do prédio na Rua Santo Antônio. Bombeiros e policiais empurram a multidão. Algumas pessoas improvisam uma corda, com uma cortina, e descem até a escada Magirus. Do 14° andar um corpo cai na Rua Santo Antônio.
  • 09:40 - Diversas pessoas se jogam dos andares e os bombeiros lançam quatro grandes e longos jorros d'água sobre o prédio já totalmente tomado pelas chamas. Os primeiros destroços caem no asfalto, misturando-se aos corpos estendidos. O trânsito da cidade está completamente engarrafado e já pode ser calculado em torno de 500 mil o número de pessoas que se aglomeram no centro para ver o incêndio. Uma mulher que descia por uma corda improvisada, cai, escorregando de cabeça para baixo, até atingir o primeiro grupo de pessoas que trabalham no resgate e que detêm sua queda. Um estrondo no centro do edifício produz uma luz azulada. Outro corpo cai.
  • 09:45 - A confusão é total e o Corpo de Bombeiros coloca uma escada Magirus, conseguindo salvar do 13° andar pelo menos treze pessoas que descem rapidamente. Uma garota se joga do alto do edifício.
  • 09:50 - No local já se encontram o Secretário da Segurança Pública do Estado, o Comandante da Polícia Militar e o prefeito Miguel Colasuonno. Um corpo de homem cai na calçada da Avenida 9 de Julho junto às viaturas do bombeiros. A seguir, outro corpo, justamente quando três helicópteros sobrevoavam o local, tentando o salvamento.
  • 09:55 - No topo do edifício a confusão é total. A multidão implora e frases são escritas no asfalto pedindo calma, muita calma. Algumas pessoas ameaçam se jogar. Outras atiram roupas e sapatos. Alguns são vistos nas janelas dos banheiros de alguns andares à espera de socorro. Uma mulher, no 13° andar, ao lado de mais três pessoas, faz o sinal da cruz, e salta para a escada dos bombeiros que chegava apenas ao 12° andar. É salva.
  • 10:00 - Os bombeiros começam a retirar através de escadas alguns sobreviventes nas janelas do prédio e nos vãos dos andares. As operações de salvamento duram entre 20 e 30 minutos. Os helicópteros tentam encostar-se mais nas paredes para salvar pessoas nas janelas e no topo do edifício. Um rapaz, no 16° andar, tira as roupas e faz uma corda para chegar ao 13°. Por ela descem outras pessoas. Quando chegou sua vez, despencou para a morte. No asfalto, em letras enormes, brancas e amarelas, lê-se: "Deitem-se e esperem o salvamento".
  • 10:05 - Chegam helicópteros particulares, do Governo do Estado e da Força Aérea Brasileira que usam como base de operações o heliporto da Câmara Municipal, distante cerca de 100 metros do local da tragédia.
  • 10:10 - Um rapaz, que tinha tentado descer pela corda improvisada do 16° ao 13° andar, despenca-se por cima da Magirus, e derruba na queda mais três pessoas, inclusive um bombeiro. Todos morreram. Os bombeiros tentam levar a Magirus até o 19° andar, onde se encontram quatro pessoas. Não conseguem. Jogam água e pedem calma.
  • 10:15 - Chegam ambulâncias do INPS e de instituições particulares. Litros de leite, medicamentos e cobertores chegam também para atender aos pedidos feitos pelos médicos que assistem os feridos no heliporto da Câmara. Soros, antibióticos, seringas hipodérmicas são recebidas. Junto ao marco da Bandeira é instalado um posto ao ar livre para doadores de sangue. Centenas de pessoas formam duas grandes filas. Mais duas pessoas se atiram do alto do edifício.
  • 10:20 - Os helicópteros se movimentam rapidamente, enquanto a Praça da Bandeira é transformada num campo de feridos, sobreviventes e pessoas que são medicadas e depois levadas aos hospitais e pronto-socorros. A escada Magirus chega ao 19° andar, retirando 12 pessoas. O helicóptero da FAB transporta, pendurado num cabo, o oficial Caldas, da Polícia Militar. Não consegue resgatar ninguém, mas chega junto às janelas ocupadas por pessoas, no lado da Rua Santo Antônio, e procura encorajá-las.
  • 10:25 - Árvores são derrubadas a machadadas para permitir o pouso de helicópteros na praça. Bombeiros, com megafones, gritam para os que estão descendo pela Magirus: "Atenção! Atenção! Segurem-se bem na escada! Desçam com firmeza!" Nesse momento, com o fogo já reduzido, outro corpo cai.
  • 10:30 - Bombeiros intoxicados são recolhidos pelas ambulâncias. No 19° andar, cinco pessoas começam a se desesperar. Tentam-se atirar pela janela porque o fogo se aproxima. Bombeiros pedem calma. Surgem problemas com as mangueiras, pois muitas delas estavam furadas.
  • 10:40 - Um helicóptero pousa no prédio vizinho, o San Patrick e salva duas pessoas. A multidão aplaude.
  • 10:50 - O fogo diminui, mas ainda é intenso, principalmente no interior do edifício. Do 18° andar em diante. Os bombeiros continuam jogando água. O chão do topo do edifício arrebenta. Mais uma pessoa salta da laje.
  • 10:55 - Há muita gente ainda no 19° e no 20° andar. No 14°, um rapaz, Celso Bidinger, evita que uma moça se atire. Foram salvos pela Magirus.
  • 11:00 - Os bombeiros conseguem penetrar até o 11° andar. O médico, Vanderlei Peixoto, do Hospital das Clínicas, que atendia às vítimas no local, é removido para o próprio hospital, intoxicado pela fumaça.
  • 11:10 - Alguns bombeiros por cordas descem no terraço do edifício para acalmar algumas pessoas. Mas é tarde demais. Dezessete pessoas estão mortas no topo do Joelma. Um reforço de 50 homens da cavalaria é acionado para afastar a multidão.
  • 11:30 - O edifício é um imenso rolo de fumaça e já não se veem mais chamas. A preocupação maior é salvar os sobreviventes, operação que começa logo depois com os bombeiros entrando no prédio para retirar as vítimas fatais.
  • 11:35 - Bombeiros tentam retirar no 19° andar um senhor de terno marrom que estava encostado à janela, demonstrando tranquilidade.
  • 11:40 - Surgem rumores de que o edifício vai desabar. Correria geral.
  • 11:45 - Os primeiros corpos carbonizados aparecem e são levados para o Instituto Médico Legal (IML).
  • 11:50 - Mais um carro funerário sai do local, com sete corpos. Correm rumores de que mais de 30 pessoas saltaram do prédio.
  • 11:55 - Um grupo de seis pessoas é retirado das janelas.
  • 12:00 - Continua o esforço dos bombeiros em resgatar, no 19° andar, o isolado sobrevivente.
  • 12:30 - Somente o helicóptero da FAB consegue se aproximar do prédio devido ao forte calor.
  • 12:35 - Outras sete pessoas, que ainda estavam no 19° andar, são salvas. Até agora o número de salvos é de 80.
  • 12:40 - Enquanto os corpos continuam sendo retirados, outro homem é salvo.
  • 13:00 - A fumaça só é intensa quando os helicópteros sobrevoam o edifício. Novos corpos saem.
  • 13:45 - Joel Correia afirma ter visto de seu escritório, localizado no 31° andar do edifício Conde Prates, na Rua Libero Badaró, 239, algumas pessoas com vida, no 21° andar do edifício.
  • 14:00 - Os dois últimos sobreviventes são retirados das janelas pelos bombeiros. O fogo já está sob controle e continua a operação de retirada dos corpos queimados que vai até o início da noite. Os bombeiros afirmam não haver mais ninguém com vida no prédio.
  • 14:10 - Bombeiros resgatam mais três pessoas no 21° andar, confirmando-se as declarações de Joel.
  • 14:15 - Dezessete pessoas mortas são encontradas no 12° andar.
  • 14:30 - Mais nove mortos são retirados do 15° andar.
  • 15:00 - Os bombeiros dão por encerrada a remoção de sobreviventes.
  • 15:45 - Os bombeiros chegam ao topo do edifício, encontrando mais de 20 mortos, na maioria carbonizados.
  • 16:45 - Um padre chega ao topo do Joelma e administra a extrema-unção. A seu lado, policiais, médicos e bombeiros iniciam a remoção e identificação dos cadáveres.
  • 17:00 - Os bombeiros retiram os dezessete corpos no telhado e descobrem sessenta mortos sob o telhado na ala da Rua Santo Antônio e mais trinta e cinco sob a cobertura da ala voltada para a Avenida 9 de Julho. Os carros são retirados das garagens do edifício.
  • 17:30 - Carros-guincho chegam ao local para auxiliar na limpeza da área.


Personagens.
A ampla cobertura da imprensa tirou do anonimato muitas das vítimas do incêndio e pessoas envolvidas diretamente nas operações para seu salvamento. Diversos veículos de comunicação reproduziram seus relatos e histórias da tragédia, que reunidos ajudaram a reconstruir os momentos dramáticos do incêndio.

  1. Capitão Hélio Barbosa Caldas - Comandante do Serviço de Salvamento do Corpo de Bombeiros, um veterano de muitos incêndios e coragem que ele mesmo acreditava próxima da loucura, rodopiou longos minutos preso a uma corda de 12 metros pendente de um helicóptero, na tentativa de repetir o feito de há dois anos, quando foi o primeiro a descer no terraço do Edifício Andraus para organizar o salvamento dos refugiados. Não foi possível, pois o pequeno helicóptero da FAB não teve condições de se aproximar do prédio, o qual não contava com heliporto. Portanto, teve de providenciar a colocação de um cabo, ligando o terraço do Joelma ao Edifício Saint Patrick, na rua Santo Antonio, para finalmente chegar ao terraço. Faleceu a 20 de junho de 1999.
  2. Joel Correia - Instalado com seu telescópio numa das extremidades do Viaduto do Chá, comunicou à rádio Jovem Pan a existência de sobreviventes no edifício, mesmo com o incêndio dominado e os pilotos de helicóptero não avistando mais feridos a serem resgatados. Foi o responsável pelo fim do pavor em que se encontravam José Ferreira Couto Filho, Ivan Bezerra, Ibar Rezende, Mauro Ligeli Filho, Hiroshi Shimuta e Luiz Carlos Gonzalez. Ele tinha ido visitar um amigo, o gerente da construtura Ferreira Guedes, no 31° andar do edifício Conde Prates. Com o início do incêndio, passou a acompanhar a operação de salvamento com um telescópio. Ao ouvir no rádio a informação de que não havia mais ninguém no prédio, entrou em contato com a Jovem Pan e a informação chegou ao comandante do Corpo de Bombeiros que deu o alarme. O comandante ligou para o escritório onde Joel estava, e ele orientou a localização dos seis homens, no 20° andar, usando o telescópio. Mais tarde o comandante do Serviço de Salvamento do Corpo de Bombeiros reconheceu a ajuda, afirmando que as vítimas estavam realmente vivas e foram salvas.
  3. Idek Butchi - 34 anos, nissei, sobrevivente do incêndio anterior no Edifício Andraus, não só salvou a sua vida como também evitou a morte de mais sete pessoas. Ficou na sacada do 22° andar durante quase cinco horas orientando e acalmando aos que se encontravam com ele, pois esse foi o seu principal ensinamento de sua primeira experiência quando foi salvo por um helicóptero da FAB. Estava no Departamento de Produção e Ações, da Crefisul, no 17° andar, quando ouviu os primeiros gritos. Pensou em descer rapidamente, mas percebeu que o fogo vinha debaixo para cima. Então, começou a subir as escadas e quando chegou ao 22° andar, percebeu que não dava mais para prosseguir. Segundo ele, duas pessoas tentaram descer para o andar inferior, mas ele as convenceu de que isso iria provocar a morte para eles. E todos ficaram incentivados por uma placa escrita Coragem, nós estamos com vocês! mostrada por pessoas que estavam no asfalto. Às 14h20 todos foram resgatados e seguiram para o Hospital Municipal. Embora sem quase poder falar, os oito comemoraram o salvamento dentro da ambulância com abraços e lágrimas.
  4. Rolf Victor Heuer - Gaúcho, então com 54 anos, passou mais de três horas sentado em um dos parapeitos do edifício esperando para ser resgatado. Enquanto aguardava fumava vários cigarros, e sua imagem de aparente tranquilidade foi captada pelas câmeras dos noticiários de televisão e amplamente reproduzida. Antes de ser salvo, ainda conseguiu subir ao 19° andar, onde acalmou uma mulher que ameaçava se jogar de uma janela. De terno e gravata, dono de uma calma absoluta, ficou em pé do lado de fora do edifício, perto de uma janela. De vez em quando secava o suor do rosto com um lenço. A certa altura o Capitão Caldas, pendurado por um cabo, que por sua vez pendia de um helicóptero, aproximou-se para salvá-lo, mas não conseguiu. Alguns minutos antes de ser resgatado, não aguentou mais o calor e tirou o paletó, a gravata e a camisa. Não se perturbou um só instante, mas quando pisou o chão, começou a chorar. Levou 25 minutos para descer a escada Magirus até chegar à rua.
  5. José Roberto Viestel - Gerente do estacionamento do edifício, estava em casa quando foi acordado com a notícia do incêndio. Tentou chegar ao local e, impedido pelo trânsito caótico, deixou as chaves de seu carro com um guarda e seguiu a pé. Lá chegando, ajudou os manobristas na retirada dos veículos guardados para evitar o risco de mais explosões, e quando as mangueiras dos bombeiros começaram a falhar providenciou as do estacionamento, que ele mesmo testava uma vez por semana, para o combate ao fogo.
  6. Augusto Carlos Cassaniga - Sargento do Corpo de Bombeiros. Pulou de uma altura de quatro metros de um helicóptero sobre o telhado, quebrando as telhas de amianto e o tornozelo. Conseguiu fixar uma corda no telhado e a lançou até o prédio vizinho, por onde atravessaria o capitão Hélio Caldas, que já tinha sido herói no incêndio anterior do Edifício Andraus.
  7. Celso Bidinguer - 22 anos, estava no 16° andar quando se refugiou no banheiro com outras seis pessoas. Todas as que estavam com ele morreram, mas Celso conseguiu salvar-se porque ao ver da janela do 13° andar, sozinha e amedrontada, a funcionária Tarsila de Souza, que ameaçava se jogar. Ao se aperceber do risco, decidiu salvá-la. Ele amarrou um pedaço de cortina, que levara para o banheiro, na janela e pelo lado de fora do edifício conseguiu descer três andares até chegar junto a Tarsila, com quem ficou mais de duas horas à espera de socorro, vendo as pessoas se jogarem. A escada dos bombeiros só chegava até o 12° andar, portanto, os dois tiveram que descer por cordas. Ambos sobreviveram.
  8. René Contieri - 56 anos, gerente administrativo da Crefisul, conseguiu evitar que algumas pessoas se matassem, simplesmente mantendo o sangue frio e observando a lógica elementar de que, jogando-se pelas janelas, eliminariam qualquer possibilidade de sobrevivência. Estava no 12º andar, quando recebeu o alerta do detector de fumaça. Ao invés de descer, subiu para pegar o paletó e alguns documentos importantes. No meio do caminho, ainda encontrou com o eletricista que tentava consertar a fiação. Só deu tempo de pegar seus pertences e avisar as nove meninas que trabalhavam no andar para que descessem. Mas a labareda já tomava conta da escada. Recuaram e conseguiram se proteger do lado de fora da janela, em uma laje de dois palmos de largura. O vidro protegia do fogo. Por sorte, o vento estava contra e a janela não estourou. Só faltava a eles a chegada dos bombeiros. Por ser um grupo grande, foi o primeiro a ser resgatado. Cavalheiro, desceu a escada Magirus depois das moças. Faleceu aos 93 anos a 18 de abril de 2010.
  9. Benedito Ferreira França - Fazia uma visita a um amigo que trabalhava no banco Crefisul quando começou o incêndio. Conseguiu descer três andares carregando uma moça. Declarou que quando passou pelo corredor viu várias pessoas encostadas na parede e apenas rezando, sem fazer nada. Queimado nos braços e no rosto e cansado de levar a moça, desmaiou e acordou apenas no hospital.
  10. Antonio Carlos Capobianco - Atribui a sua sobrevivência ao karatê. O mineiro alegou que a filosofia da luta marcial o ensinou a encarar tudo, mesmo a morte, com naturalidade, embora se deva aproveitar todas as oportunidades para viver. Ele aconselhou os circunstantes a não falar muito para não desperdiçar oxigênio. Foi resgatado com mais cinco rapazes no 21° andar.
  11. Carlos Trafaniuc - 23 anos, salvou-se descendo dois andares pendurado em cortinas.
  12. José Flávio Gouveia - Chegou atrasado ao serviço, às 9 horas, quando o fogo já havia começado. O atraso pode lhe ter salvado a vida. Horas depois, no Hospital Municipal, doou sangue para os feridos.
  13. Nílton Antonio de Oliveira - Estava na tesouraria do banco Crefisul, no 13° andar, com mais onze colegas. Todos ficaram espremidos numa marquise por mais de duas horas, mas conseguiram se salvar.
  14. João Alberto Moretti - Se notabilizou nas filmagens do incêndio por ter escalado a marquise e descido do 17° andar até o 12°. Neste, aguardou até que fosse encostada a escada Magirus. Feriu-se apenas levemente e foi levado ao Hospital das Clínicas.
  15. Vítor Manoel Gonçalves Teixeira - Liderou um grupo de nove pessoas quando a permanência na sala do 13° andar em que trabalhavam ficou impossível. Ele abriu o banheiro, quebrou os vidros da janela e, quando a água das torneiras havia esgotado, e já estavam se confortando mutuamente, surgiu uma escada Magirus a 25 centímetros de suas mãos.
  16. Deise Previato - Assessora jurídica da Crefisul. Salvou-se por conta do rompimento da rotina. Ao invés de chegar às 8h30, chegou uma hora mais tarde, quando o fogo já havia começado. Viu a secretária do seu chefe, Linda Passaro, saltar para a morte da Avenida 9 de Julho. O chefe, Attilio Corigliano Jr., era procurado pela mulher, Elizabeth, em vão.
  17. José Gomes Ferreira - 49 anos, motorista de táxi e ex-bombeiro. Parou o carro no momento do incêndio e com boa vontade, sem camisa e com um lenço encharcado cobrindo o rosto, ajudou os seus ex-companheiros de profissão no socorro às vítimas.
  18. Rodolfo Manfredo Júnior - 20 anos. Estava datilografando em um escritório do 21° andar quando soube do incêndio. Subiu com dezenas de pessoas para o terraço do prédio, pois os elevadores já não mais funcionavam. Havia cerca de duzentas pessoas comprimidas e aterrorizadas. Ele conta que viu várias se jogarem, outras tirarem a roupa, pois não suportavam mais o calor, além de cerca de trinta que se contorciam em chamas. Ele conta que teve que dar tapas na cara de alguns que pareciam paralisados, incitando-os a se salvarem. Quando a situação ficou mais dramática surgiu um helicóptero da FAB que pairou no terraço. Rodolfo pulou e agarrou-se à aeronave. Ficou com as pernas ao ar, mas foi salvo ao ser puxado para dentro.
  19. José dos Santos - 20 anos, residente no Jardim Peri, foi o penúltimo funcionário da Crefisul a ser resgatado e salvo pelos bombeiros. Estava no 18° andar quando ocorreu o incêndio e foi para a janela, onde teve que esperar por cerca de quatro horas. Para resgatá-lo os bombeiros tiveram que estender a escada de 45 metros até o 12° andar e prosseguir depois com uma pequena até o 16° andar. Depois, o próprio José amarrou uma corda nas travas da janela e desceu do 18° ao 16° andar, chegando então à escada dos bombeiros numa operação que durou meia hora.
  20. João Aparecido Frutuoso - 24 anos, analista de contas do Banco Crefisul, tinha organizado o grupo que deixou o 15° andar improvisando cortinas para a descida até o 13°, de onde todos passaram à escada com a ajuda dos bombeiros. Ele conta que viu muita gente cair do patamar do 14° andar, além de muitos que perderam os sentidos por conta da inalação da fumaça. Ficou com as mãos e pés queimados.
Consequências.

A parte do edifício que compreendia os escritórios da Crefisul foi totalmente destruída, mas estava segurada na Companhia Seguradora Santa Cruz. Os sete primeiros andares, de garagens, não foram atingidos pelas chamas. Essa parte, administrada pela Joelma, formava um bloco quase isolado do restante do edifício, tendo portas de emergência e de interligação. Todos os dezessete empregados do estacionamento se salvaram. Dos aproximadamente 756 ocupantes do edifício, 191 morreram e mais de 300 ficaram feridos. A grande maioria das vítimas era formada por funcionários do Banco Crefisul de Investimentos.

Segundo o vice-presidente do Crefisul, Garrett Bouton, 1.016 funcionários trabalhavam no edifício. Desse total, 861 ficavam nos andares superiores à garagem e cerca de 600 já haviam chegado quando o incêndio começou. A firma de limpeza Continental tinha 77 funcionários no prédio.

Até as 18 horas do dia da tragédia 125 dos 179 mortos no incêndio do edifício Joelma já tinham sido retirados do Instituto Médico Legal depois de identificados por parentes e amigos. Restaram 54 corpos, dos quais 12 identificáveis e o restante completamente carbonizado. Em 30 horas, do meio-dia até às 18 horas, aproximadamente 8 mil pessoas foram ao local, no bairro de Pinheiros, para reconhecer os cadáveres. O ambiente era de tristeza e até os funcionários não conseguiam esconder a emoção. Cinco mulheres desmaiaram enquanto faziam a identificação. O IML comprou 200 caixões e 50 coroas de flores para facilitar a retirada dos corpos. As vítimas foram colocadas no chão de quatro salas e pela manhã já exalavam um mau cheiro que os funcionários tentaram aliviar colocando incenso. O secretário dos Serviços Municipais, engenheiro Werner Zalouf, afirmou que cerca de 30 pessoas que morreram no incêndio e permaneceram no prédio não foram identificadas. Acredito que o calor durante o incêndio tenha superado 900 graus e nessa temperatura um corpo fica totalmente destruído, restando no máximo um quilo e meio de cinzas. A água que os bombeiros jogaram pode ter transformado tudo em lama.

A tragédia do Joelma, que ocorreu apenas dois anos após o incêndio do Edifício Andraus, reabriu a discussão popular com relação aos sistemas de prevenção e combate a incêndios nas metrópoles brasileiras, cujas deficiências foram evidenciadas nas duas grandes tragédias. Na ocasião, o Código de Obras do Município de São Paulo em vigor era de 1934, um tempo em que a cidade tinha 700.000 habitantes, prédios de poucos andares e não havia a quantidade de aparelhos elétricos dos anos 70.

A investigação sobre as causas do acidente, concluída e encaminhada à justiça, em julho de 1974, apontava a Crefisul e a Termoclima, empresa responsável pela manutenção elétrica, como principais responsáveis pelo incêndio. Afirmava que o sistema elétrico do Joelma era precário e estava sobrecarregado. Além disso, os registros dos hidrantes do prédio estavam inexplicavelmente fechados, apesar do reservatório contar na ocasião com 29.000 litros de água.

O resultado do julgamento foi divulgado a 30 de abril de 1975. Kiril Petrov, gerente-administrativo da Crefisul, foi condenado a três anos de prisão. Walfrid Georg, proprietário da Termoclima, seu funcionário, o eletricista Gilberto Araújo Nepomuceno, e os eletricistas da Crefisul, Sebastião da Silva Filho e Alvino Fernandes Martins, receberam condenações de dois anos.

Após o incêndio, o prédio ficou interditado para obras por quatro anos. Com o fim das reformas, em outubro de 1978, foi rebatizado edifício Praça da Bandeira.

Repercussão na mídia.

Pouco depois da tragédia, uma pequena produtora norte-americana produziu o curta-metragem Incendio, contando as causas e consequências do fogo, utilizando técnicas de animação gráfica e imagens da cobertura da imprensa.

Em 1978, foi lançado o filme norte-americano Catastrophe, um documentário de Larry Savadove, narrado por Willian Conrad, o qual versava sobre tragédias mundiais conhecidas, entre elas, a do edifício Joelma.

Em 1979, foi rodado o filme Joelma 23º Andar, baseado no livro Somos Seis, do médium Chico Xavier, no qual é narrada a história de uma moça que morreu no incêndio chamada Volquimar Carvalho dos Santos. Contudo, no filme ela era intitulada Lucimar. O papel da protagonista foi interpretado por Beth Goulart.

A 30 de junho de 2005, o programa Linha Direta, da Rede Globo, exibiu o quadro Linha Direta Mistério, cujo tema era o edifício Joelma.

A 5 de julho de 2008 foi transmitida no Jornal da Record uma reportagem da série Bombeiro: Herói de Todos que relembrou o acontecimento, mostrando várias cenas e o difícil salvamento. Nessa mesma reportagem foi abordado o incêndio do Edifício Andraus, ocorrido em 1972, o desastre do Bateau Mouche, barco que afundou na Baía de Guanabara, a 31 de dezembro de 1988, além da queda de parte do Elevado Paulo de Frontin, o qual desabou sobre carros e ônibus em 1971, matando mais de 40 pessoas.

Fama de Mal-Assombrado.

A tragédia acabou ajudando a espalhar entre a população rumores de que o terreno no qual o prédio foi erguido seria amaldiçoado, com especulações de que até o fim do século XIX teria sido um pelourinho. Fantasmas rondariam o local.

Uma das tragédias desse incêndio que mais impressionou, foi o fato de que (13) treze pessoas tentaram escapar por um elevador, não conseguindo, e morrendo carbonizadas em seu interior, sendo que devido ao estado dos cadáveres, os corpos não foram identificados, pois naquela época ainda não existia a análise de DNA, sendo então enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, localizado na Av. Francisco Falconi, 837, Vila Alpina em São Paulo.  O fato acabaria sendo inspiração para o chamado Mistério das Treze Almas, as 13 Almas não identificadas, às quais são atribuídos diversos milagres.

As sepulturas atraem centenas de curiosos, principalmente às segundas-feiras, dia das almas. Ao lado das sepulturas, foi construída a "Capela das Treze Almas", onde diariamente muitos visitantes fazem suas preces agradecendo à Deus pelas graças alcançadas e também fazendo seus pedidos.

O local ficou conhecido algum tempo depois do sepultamento das 13 vítimas não identificadas do Joelma, quando pessoas ouviram gemidos e choros misteriosos. Assustados, procuraram verificar de onde vinha aquilo, sendo que descobriram que os gemidos e choros saiam das sepulturas das 13 vítimas.

Então sabendo como morreram (queimados), foi derramada água sobre as sepulturas, sendo que em seguida os gemidos e choros cessaram. Sabendo do ocorrido, pessoas começaram à fazer orações para as 13 almas, pedindo graças diversas. Muitas dizem que foram atendidas, e como agradecimento colocam faixas e "placas" com mensagens de gratidão no local.

Quem visita os túmulos das "Treze Almas" no Cemitério São Pedro, sempre pode verificar a existência de um copo com água sobre cada sepultura, isso com o objetivo de tranquilizar as almas dessas vítimas do incêndio do Edifício Joelma, as quais morreram carbonizadas em um imenso calor.

Volquimar Carvalho dos Santos.

A professora Volquimar Carvalho dos Santos, 21 anos, trabalhava no setor de processamento de dados de um banco que funcionava no 23º andar do Edifico Joelma. Ela era funcionária da empresa havia um ano e meio.

O irmão dela, Álvaro, trabalhava no 10º andar do mesmo prédio. A família de Volquimar é espírita. Ao ser dado o aviso de incêndio, Volquimar e outras quatro companheiras tentaram fugir pela escada, mas quase foram atropeladas pelos funcionários desesperados que tentavam se salvar.

Elas correram para a cobertura do prédio, mas acabaram morrendo por asfixia. Álvaro, irmão de Volquimar, sobreviveu ao incêndio. Álvaro localizou o corpo da irmã no IML horas depois do incêndio ter terminado. Meses depois, Volquimar enviou uma mensagem psicografada para a mãe através do médium Chico Xavier. Na mensagem ela contava como tinha sido os seus últimos minutos de vida.

Em 1979, a história de Volquimar se transformou no filme “Joelma, 23º andar”. O roteiro é baseado nas cartas psicografadas por Chico Xavier que estão no livro “Somos Seis”.

Fatos estranhos ocorreram durante as filmagens, como ruidos misteriosos no local onde não havia ninguém, refletores que eram "derrubados", embora estivessem bem fixados, sendo que um dos fatos mais incríveis, foi a imagem de uma "pessoa" que não estava nas filmagens ao lado dos personagens em uma das cenas, indicando nitidamente ser um dos possíveis "Fantasmas do Edifício Joelma".

Funcionários que já trabalharam no edifício revelam já terem presenciado aparições de espíritos, ouvido gritos e vozes, além de terem visto fenômenos estranhos como faróis de carros vazios acenderem e apagarem.


O Caso do Escritório de Advocacia.

"Em um escritório da advocacia alugado pouco tempo após a re-inauguração, uma assistente ficou até mais tarde para organizar os documentos deixados no final do expediente. Como já era tarde da noite, e devido a existência de muitas salas ainda vazias e sem utilização, o prédio mantinha um silêncio sombrio e assustador.

Isso em conjunto com as lembranças do incêndio que ocorreu no passado, produzia um ambiente ainda mais assustador. Em certo momento a assistente ouviu um barulho na ante-sala do escritório, como se a porta tivesse sido aberta. Quando ela foi olhar, a porta estava fechada, como havia estado antes.

Então ela imaginou que fosse uma outra porta em outra sala do mesmo andar que havia gerado aquele ruído. Instantes depois ela ouviu o barulho novamente, e quando se voltou, viu um vulto de uma mulher passando pela ante-sala.

Ela se assustou chegando a dar uma grito. Foi observar novamente e não havia ninguém no local, apenas ela. Rapidamente ela pegou suas coisas, e saiu do escritório. Quando foi trancar a porta, novamente ela viu o vulto de uma mulher no fundo do corredor, desaparecendo em seguida.

A assistente rapidamente deixou o edifício e tempos depois se demitiu, pois havia a necessidade de ficar em alguns dias até mais tarde e ela não concordou com a solicitação, temendo ver aquele vulto novamente ou algo ainda pior ".

O Caso do Motorista de Entregas.

"Havia chegado com minha perua Kombi no sub-solo do "Edifício Praça da Bandeira", para entrega de algumas encomendas, isso aproximadamente às 20:00 horas. Estacionei como de costume, sendo que meu ajudante retirou as encomendas da perua para entregá-las no local solicitado.

Permaneci então ali dentro da perua sozinho, aguardando o retorno do ajudante para irmos embora.
Algum tempo depois, como que por espanto, vi surgir no fundo do estacionamento uma mulher vestida toda de branco, sendo que ela veio se deslocando em direção à minha perua.

Nesse momento notei que ela não estava caminhando, e sim flutuando a alguns centímetros do chão, indo em direção à outra parede do estacionamento, desaparecendo em seguida.

Saí então da perua e subi até o andar onde estava meu ajudante, e contei para ele o acontecido, saindo em seguida rapidamente do edifício.,

Hoje evito de todas as maneiras fazer entregas à noite naquele local".

A fama de que o local seria mal-assombrado aumentou ainda mais após a divulgação de que o terreno teria sido palco de assassinatos, no acontecimento trágico o qual ficou conhecido como Crime do Poço.

O Crime do Poço.


Casa aonde ocorreu o Crime do Poço.
Recém-formado em química pela Universidade de São Paulo (USP), o professor assistente Paulo Ferreira de Camargo, 26 anos, passou a se dedicar a experimentos estranhos no laboratório da faculdade, o que chamou a atenção dos alunos. Paulo chegou a fazer disparos com uma arma de fogo, alegando depois ser um teste para “verificar os efeitos de atritos nos materiais que compõem a pólvora”. Na ocasião, foi apenas repreendido pelos reitores da universidade. Ao mesmo tempo, porém, ele fazia perguntas esquisitas a seu superior, conhecido como doutor Hoffmann, a respeito dos melhores agentes químicos para efetuar a corrosão de cadáveres. Enquanto isso, contratou dois serventes para escavar um poço de 5 metros no fundo da casa onde morava, na rua Santo Antônio, 104, quase esquina da avenida Nove de Julho, centro de São Paulo. Os dois ganharam 2 mil cruzeiros e concluíram o trabalho no mesmo dia. Para a mãe e para as duas irmãs, que viviam com ele, Paulo disse que pretendia desenvolver uma fábrica doméstica de adubos e que não poderia proceder à engenhoca usando água encanada.


Até o dia 5 de novembro de 1948, apesar de os vizinhos e amigos estranharem o comportamento dele, Paulo Ferreira de Camargo era tido apenas como um sujeito excêntrico. Eis que, naquela data, ele apareceu dizendo que havia feito uma viagem ao Paraná com a mãe e as irmãs, e que as três tinham morrido em um acidente de automóvel. Como assim? E onde elas foram enterradas? Ninguém engoliu fácil a história. Já desconfiados, os conhecidos passaram a suspeitar fortemente de algo mais grave. Não só porque Paulo não apresentava sinais de tristeza, como, principalmente, porque acharam estranho que os jornais não tivessem noticiado uma linha sobre um acidente que deixou pelo menos três vítimas fatais.

EDUCAÇÃO RÍGIDA.

O que se sabia da vida da família Camargo era que, tanto Paulo quanto as irmãs, órfãos de pai desde muito cedo, receberam uma educação rígida da mãe, Benedita Ferreira de Camargo, então com 56 anos. As meninas vestiam-se com extremo recato, mesmo considerando-se a época. De família quatrocentona, Benedita fez tudo para manter o padrão de vida dos filhos, mas suas reservas financeiras estavam se esgotando. As esperanças de arrimo foram todas depositadas no único filho homem. Pode-se imaginar o que representou para Benedita, naquele tempo, a revelação de que Paulo havia se apaixonado por uma moça que não era mais virgem. Tanto ela quanto as filhas, Maria Antonieta, 23, e Cordélia, 19, fizeram uma acirrada campanha contra o relacionamento de Paulo com a ex-balconista Isaltina dos Amaros, 23, que agora trabalhava como assistente de enfermagem. Para aumentar o peso sobre suas costas, o químico ainda tinha sob sua responsabilidade o tratamento de Maria Antonieta, diagnosticada com esquizofrenia.

Isso tudo foram conjecturas levantadas para justificar a atitude radical que o químico tomou para fazer as três desaparecerem. As denúncias cada vez mais frequentes levaram os investigadores da polícia a intensificar suas diligências até que, no dia 23 de novembro, eles chegaram ao poço no fundo da casa dos Camargo. Por causa do forte odor que subia pelo buraco, a polícia convocou o Corpo de Bombeiros para averiguar o que havia ali dentro. Junto com os oficiais, o próprio Paulo Ferreira de Camargo acompanhou os trabalhos de prospecção. Quando percebeu que eles estavam próximos de descobrir o que de fato acontecera, Paulo pediu para ir ao banheiro e, de lá, enquanto assistia pelo vitrô a retirada dos corpos das três mulheres do poço, matou-se com um tiro no coração.

Pelo que a perícia apurou, o crime foi perpetrado em duas etapas. Primeiro, entre 9 e 10 da manhã do dia 4 de novembro, o assassino matou a mãe e a irmã mais velha, Maria Antonieta, na sala de casa, e arrastou os corpos até o quintal dos fundos. A terceira vítima, Cordélia, que trabalhava como datilógrafa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, foi executada por volta do meio-dia, quando chegava em casa para almoçar. Antes de jogar os corpos emborcados no poço, Paulo encapuzou as três com panos pretos. Depois do resgate, um dos bombeiros morreu vítima de infecção cadavérica. Tanto Paulo Ferreira de Camargo quanto a mãe e as irmãs dele foram enterrados no cemitério da Consolação, em São Paulo. No dia 25, os jornais publicaram uma entrevista com a enfermeira, na qual ela confirmava a pressão da família contra o namoro com Paulo.


OSWALD DE ANDRADE.

Paulo Ferreira Camargo.
A repercussão do caso na época foi tão escandalosa que levou até o modernista Oswald de Andrade a dedicar-se à elucubração dos motivos que teriam levado o assassino a agir tão estupidamente. Entre 11 e 16 de dezembro de 1948, Andrade escreveu uma série de cinco artigos sobre o episódio. Publicada na Folha da Manhã com o título “Crime sem castigo”, a série recebeu chamada de capa no jornal. Neles, além de (Fiódor) Dostoiévski, Oswald de Andrade evocou Jean-Paul Sartre, mais especificamente O Ser e o Nada. Em um dos artigos, Andrade causou polêmica ao justificar a atitude do assassino, atacando a moral conservadora da época. Escreveu ele: “Com a violência da censura ancestral, Paulo viu agigantar-se diante dele a família inútil. A psicogênese do crime evidentemente já trabalhava em seu inconsciente. Chegou o momento em que ele gritou ‘não!’ àquela pobre gente, que representava a incompreensão e o tabu das velhas castas e dos superados preconceitos”. O caso ainda inspirou a jornalista Helena Silveira, autora de uma peça chamada O Poço. O espetáculo marcou a estreia do Teatro Cultura Artística.



Por causa de vários eventos nefastos registrados no mesmo lugar, o terreno onde ficava a casa dos Camargo passou a ser considerado macabro. Muito antes do chamado “crime do poço”, em um tempo em que sequer haviam abolido a escravatura, aquele pedaço funcionou como pelourinho para castigar negros desobedientes. Bem depois do crime, em 1974, no mesmo terreno, um incêndio de proporções devastadoras levou à ruína o famigerado edifício Joelma, provocando a morte de mais de 170 pessoas e deixando outras 300 feridas. Com um projeto arrojado para a época, o edifício de 1971 tinha 25 andares, dez de garagem e, de acordo com a Joelma S/A Importadora Comercial e Construtora, “estava dotado do mais moderno sistema anti-incêndios”. Para fugir do mau agouro, a construtora havia voltado a portaria do prédio para a avenida Nove de Julho, registrando assim um número diferente do da residência dos Camargo. Não adiantou. Depois do incêndio, o prédio ficou interditado para obras durante quatro anos. Em 1978, foi reinaugurado com o nome de Novo Joelma. Mais tarde, em 2000, sem nunca ter registrado uma ocupação completa, foi rebatizado como Edifício Praça das Bandeiras. Nada de fenomenal aconteceu desde então…

Vídeo do Dr Mistério que me fez copilar esse Post.

Linha Direta Mistérios. O Enigma do Edifício Joelma - Tv Globo (2005)


Notas.

Incêndio no Edifício JoelmaEdifício JoelmaCrime do PoçoO Professor da Usp que enterrou a família no quintal de casaIncêndio do JoelmaOs Mistérios do Joelma.

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