Sequestro.
A agonia dos passageiros do ônibus carioca que faz a linha 174 teve início às 14h20 de segunda-feira. No bairro do Jardim Botânico, fez sinal o assaltante Sandro do Nascimento. Com bermuda, camiseta e um revólver calibre 38 à mostra, ele pulou a roleta e sentou-se próximo a uma das janelas. Vinte minutos depois, um dos passageiros conseguiu sinalizar para um carro da polícia que passava pela rua. O ônibus, então, foi interceptado por dois policiais. Nesse momento, o pânico já se havia instalado. O motorista e o cobrador abandonaram o veículo e alguns passageiros também conseguiram escapar, pulando pelas janelas e pela porta traseira. Dez passageiros, porém, foram tomados como reféns pelo sequestrador. Luciana Carvalho foi uma das primeiras que teve a arma colocada na cabeça. Sandro a levou para a frente do ônibus e queria que ela dirigisse o veículo. Foi ali que o sequestrador fez o primeiro disparo, um tiro contra o vidro do ônibus, feito para intimidar os fotógrafos e cinegrafistas no local.
Willians de Moura, que na época era estudante de administração, foi o primeiro refém a ser liberado, ficando outras dez pessoas que eram todas do sexo feminino. Após a liberação de Willians, Sandro apontou a arma na cabeça de Janaína Neves e a fez escrever nas janelas, com batom, frases como: "Ele vai matar geral às seis horas" e "ele tem pacto com o diabo".
Após um tempo, Sandro libera também uma mulher chamada Damiana Nascimento Souza. Damiana já tinha sofrido dois AVCs e, naquele momento, passou mal novamente tendo um terceiro derrame. Segundo uma reportagem da Revista Época, o derrame "deixou-a sem a fala e sem os movimentos do lado esquerdo do corpo. (…) Desde então, caminha com dificuldade, comunica-se por escrito e apenas dois motivos a fazem deixar a casa humilde, no topo do Morro da Rocinha: ir ao médico e depositar flores no cenário da tragédia".
Um dos momentos de maior tensão foi quando o assaltante andou de um lado para o outro com um lençol na cabeça de Janaína. Segundo ela, Sandro afirmou que iria contar de um até cem, e quando chegasse no fim da contagem, ele a mataria. Sandro contava pulando os números e, ao chegar no número cem, fez a refém se abaixar e fingiu dar-lhe um tiro na cabeça. Após isso, fez ameaças: "delegado, já morreu uma, vai morrer outra".
Resultado do Sequestro e Morte.
Momentos de tensão e diálogo fizeram cenário entre as reféns e Sandro por muito tempo. Às dezoito horas e cinquenta minutos no horário de Brasília, Sandro decidiu sair do ônibus, usando a professora Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Ao descer, um policial do Grupamento de intervenção tática tentou alvejar Sandro com uma submetralhadora e acabou errando o tiro, acertando a refém de raspão no queixo. Geísa acabou também levando outros três tiros nas costas, disparados por Sandro.
De acordo com o Instituto Médico Legal, Geisa foi alvejada quatro vezes. A primeira vez, pela arma do policial. O que deveria ter sido o tiro letal em Sandro feriu de raspão o queixo da moça. A reação do bandido foi se abaixar, usando a jovem como escudo. Ao mesmo tempo, disparava à queima roupa atingindo o tronco e o meio das costas de Geisa.
Com sua refém morta, Sandro foi logo imobilizado enquanto uma multidão correu para tentar linchá-lo. Ele foi colocado na viatura com outros policias segurando-o. Sandro foi morto por asfixia ali dentro. Segundo sua tia Julieta Rosa do Nascimento, a assistente social Yvone Bezerra e a avó Dona Elza da Silva (a única pessoa que participou de seu enterro), Sandro não era capaz de matar ninguém, mas de acordo com a polícia do Rio, Sandro tinha um comportamento nervoso e agressivo e chegou a quebrar o braço de um policial e morder outros ao tentar, supostamente, tirar uma arma deles.
Seu corpo foi enterrado no dia 14 de julho de 2000, no Cemitério do Caju (centro do Rio de Janeiro). O sepultamento foi acompanhado apenas por sua avó, Elza da Silva, e Ivanildo de Jesus Severo, então presidente da associação de moradores da favela Nova Holanda. Após alegações de que a morte de Sandro foi ocasional, os policiais responsáveis pela morte de Sandro foram levados a julgamento por assassinato e foram declarados inocentes. Em novembro de 2001, a linha 174 mudou de número para 158.
Geísa Firmo Gonçalves foi enterrada em Fortaleza — CE, no cemitério do Bom Jardim. Seu enterro foi acompanhado por mais de 3.000 pessoas.
Quem foi Sandro.
Sandro Barbosa do Nascimento, também conhecido como Alê da Candelária (São Gonçalo, 7 de julho de 1978 – Rio de Janeiro, 12 de junho de 2000), foi um sobrevivente do massacre da Candelária, em 1993. Sete anos mais tarde Sandro sequestrou o ônibus 174, fato que foi televisionado para todo o país e até mesmo para o exterior. No desfecho deste sequestro, após a polícia atirar na direção de Sandro e erroneamente também atingir a refém Geisa Firmo Gonçalves, então grávida de dois meses, os dois foram mortos.
Sandro Barbosa do Nascimento nasceu em São Gonçalo e antes de seu nascimento, seu pai biológico abandonou sua mãe assim que descobriu que ela estava grávida. Aos oito anos de idade, Sandro presenciou o assassinato de sua mãe na favela onde moravam. Foi então que ele virou menino de rua e adotou o apelido de "Mancha". Ele acabou se viciando em drogas, roubando para manter seu vício em cocaína. Sandro nunca aprendeu a ler ou escrever, apesar de ter sido mandado para inúmeras instituições de atendimento a jovens delinquentes.
Sandro frequentava a igreja da Candelária, onde recebia comida e abrigo. Ali, fez amizade com vários outros menores de rua. No dia 23 de julho de 1993, Sandro presenciou o massacre da Candelária, que resultou em 8 mortes. Ele mesmo não ficou ferido no incidente.
Confira os fatos que marcaram o sequestro do ônibus 174.
- 14h10min - O ônibus linha 174 (Central-Gávea), da Viação Amigos Unidos, deixa o ponto final na Praça Sibélius em direção ao centro do Rio.
- 14h25min - Um homem embarca no veículo em frente do Hospital da Lagoa, na Rua Jardim Botânico.
- 14h30min - Suspeitando de possível assalto, policiais militares num veículo interceptam o ônibus em frente do Clube Militar, no Jardim Botânico. O motorista salta pela janela. Um assaltante, sentado atrás do motorista, puxa uma arma e faz uma mulher refém.
- 14h40min - Mais policiais chegam ao local, o trânsito é bloqueado e começam as negociações. Com a arma apontada para a cabeça de um dos oito reféns - uma mulher -, o assaltante pede duas pistolas 45 e duas granadas, além de R$ 1 mil.
- 14h50min - A situação fica mais tensa, com policiais tentando negociar com o criminoso.
- 15h50min - O assaltante dispara um tiro contra jornalistas e policiais. Ninguém é ferido.
- 16h - O bandido põe o rosto para fora da janela e, apontando a arma para a cabeça de uma garota, diz: "Vocês estão pensando que isso é um filme? Não é, ela vai morrer."
- 16h02min - Carlos Leite Faria, de 35 anos, pula a janela do ônibus e é preso pela polícia como suspeito de ser cúmplice do bandido. É levado para a 15.ª Delegacia Policial, na Gávea.
- 16h30min - O estudante William Nunes de Moura, de 28 anos, é libertado. Ele diz que o bandido está drogado e grita muito.
- 17h15min - Damiana Nascimento de Souza, de 39 anos, é libertada. Desfalecida, é encaminhada ao Hospital Miguel Couto, no Leblon.
- 17h40min - O bandido dispara para dentro do ônibus. Uma refém vai até a janela e grita que uma mulher foi atingida e está morta.
- 18h44min - Um senhor de muletas é libertado.
- 18h45min - O bandido sai do ônibus com uma refém. Atingido por dois tiros na cabeça, ele morre. A refém leva três tiros e é levada para o Hospital Miguel Couto, onde também morre.
O caso foi retratado em dois filmes:
- Em 2002, foi lançado o filme documentário Ônibus 174, do diretor José Padilha.
- Em 2008, foi retratado em formato de ficção pelo diretor Bruno Barreto, no filme intitulado Última Parada 174. Onde fatos reais remetem aos telespectadores os fatos ocorridos em tal episódio.
https://www.terra.com.br/brasil/2000/06/12/098.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sequestro_do_%C3%B4nibus_174
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sandro_Barbosa_do_Nascimento
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