domingo, 13 de outubro de 2019

Nossa Senhora Aparecida. 2° Parte.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, popularmente chamada de Nossa Senhora Aparecida, é a padroeira do Brasil. Venerada na Igreja Católica, Nossa Senhora Aparecida é representada por uma pequena imagem de terracota da Virgem Maria, atualmente alojada na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, localizada na cidade de Aparecida, em São Paulo.

Sua festa litúrgica é celebrada em 12 de outubro, um feriado nacional no Brasil desde 1980, quando o Papa João Paulo II consagrou a Basílica, que é o quarto santuário mariano mais visitado do mundo, capaz de abrigar até 45.000 fiéis.

Chute na Santa.

Fotografia de um televisor exibindo o momento em que
Sérgio von Helde chuta a imagem. Créditos: Wikipédia
Chute na santa é o termo pelo qual ficou conhecido e pelo qual a população brasileira se refere, ainda hoje, a um episódio controverso ocorrido no dia 12 de outubro de 1995. Sérgio Von Helder, ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, proferiu insultos verbais e físicos contra uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida, à qual se dedicava o feriado do dia, durante o programa matutino O Despertar da Fé, transmitido pela Rede Record. Von Helder protestava contra o caráter do feriado nacional de 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida tem como título padroeira do Brasil), refutando a validade da Lei 6.802/1980. O acontecimento provocou forte repercussão em grande parte da sociedade brasileira.

Antecedentes.

Segundo o sociólogo Ricardo Mariano, o boom do interesse midiático pela Igreja Universal chegou ao seu ápice em 1995.

Semanas antes do lançamento da minissérie nomeada "Decadência", líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, já acreditando que a obra pretendia os alvejar, atacavam a Rede Globo e a Igreja Católica, nos jornais e programas da Rede Record como o 25ª Hora. A acusação levantada era que no ponto de vista da Igreja Universal, havia uma afinidade entre as alas católicas e a emissora. Chegou-se a cogitar ingressar na Justiça contra a Rede Globo.

Em 7 de setembro de 1995, em resposta, com Decadência em fase de exibição, a Record exibiu o filme canadense de 1992 "The Boys of St. Vincent", sobre o abuso psicológico e sexual infantil. A Globo fez editorial na abertura da minissérie, declarando que "Decadência não pretende fazer crítica a nenhuma religião ou mesmo a qualquer um de seus representantes".

Catorze frases pronunciadas por Edir Macedo cinco anos antes, numa entrevista para uma revista de grande circulação, a Veja, foram proferidas pelo protagonista da trama, Dom Mariel. Uma frase utilizada, por exemplo, foi: "O dinheiro pode ser usado para o bem ou para o mal"

A TV Globo foi acusada pela TV Record, em 14 de outubro de 2007 no programa jornalístico Domingo Espetacular, de utilizar declarações públicas do bispo em sua minissérie Decadência por meio do matéria produzida acerca da prisão de Edir Macedo em 1992 (controlador da Igreja Universal). As falas do personagem de Edson Celulari, um pastor evangélico corrupto e devasso, insinua às falas de Edir Macedo, o que supostamente sugeriria uma identificação entre ambos. O último capítulo da minissérie foi ao ar no dia 22 de setembro de 1995, 23 dias antes do episódio.
  • O Episódio.
Nos estúdios da Rede Record de São Paulo, o pastor Sérgio Von Helder transmitia o programa evangelístico “O Despertar da Fé”, durante a madrugada, ao vivo para todo Brasil. Uma vez que as igrejas protestantes consideram a utilização de imagens religiosas e a veneração aos santos, características da liturgia e culto católico, como idolatria, o pastor von Helder decidiu "criticá-la" no feriado do dia, que tem forte significado para os católicos, adquirindo uma grande imagem da Senhora Aparecida, desfechando socos e chutes à estátua. Dentre outros gestos e falas, chamou a imagem de “boneco feio, horrível e desgraçado”.
(...) nós estamos mostrando às pessoas que isso aqui não funciona, isso aqui não é santo coisa nenhuma (...) 500 reais - 5 salários mínimos - custa no supermercado essa imagem, e tem gente que compra!! Agora se você quiser uma santa mais barata, você encontra até por 100 [reais] (...) Será que Deus, o Criador do universo, pode ser comparado a um boneco desse, tão feio, tão horrível, tão desgraçado!? 
— Sérgio Von Helde, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, durante o programa O Despertar da Fé, exibido na madrugada de 12 de outubro de 1995.
  • A Reação.
No dia seguinte à exibição do programa pela Rede Record, houve grande cobertura jornalística ao episódio, apresentando o fato como um ultraje deliberado à padroeira do Brasil, e por conseguinte, à fé católica, e como uma demonstração de intolerância religiosa por parte da Igreja Universal. Diversos jornais e revistas brasileiras, publicaram matéria ou nota a respeito, notadamente a Rede Globo.

O insulto à imagem de Nossa Senhora Aparecida provocou forte indignação nos católicos, mas também e em seguidores de outras religiões, inclusive evangélicas. Houve queixas na polícia e na justiça contra o pastor Von Helde. Promotores de Justiça e pessoas comuns acionaram judicialmente a Igreja Universal em vários fóruns, sob alegação de crimes como vilipêndio e desrespeito ao direito fundamental constitucional da liberdade de culto. Durante vários dias, as cenas dos chutes e os desdobramentos judiciais do caso ficaram nos noticiários.

Apesar do escândalo, clérigos católicos argumentam que teologicamente a discussão seria irrelevante, pois a imagem não foi consagrada por um religioso católico, permanecendo apenas uma peça de gesso, tendo o pastor comprado a imagem somente para agredi-la e atingir a fé católica. Da mesma forma, alguns católicos argumentam que o ato de intolerância de Von Helde foi uma má compreensão da crença católica, uma vez que as imagens cumprem a função de "meras fotografias (...), servindo para nos lembrarmos dos santos homens [e mulheres] do passado".
  • Repercussão.
Muitas autoridades se pronunciaram acerca do acontecimento, que se tornou motivo de anedotas e símbolo da intolerância religiosa no Brasil.

Em 1997, o cantor Gilberto Gil lançou seu 33º álbum, intitulado Quanta. Nele está presente a canção Guerra Santa, de sua autoria, na qual tece duras críticas ao bispo e à Teologia da Prosperidade.
  • O Conto da Santa.
Surgiram rumores de que o bispo da IURD teria se desviado e se rendido ao catolicismo romano depois de supostas dores na perna que foram milagrosamente curadas, porém esta história foi desmentida pela revista Isto É na reportagem "O Conto da Santa" de Chico Silva.

O episódio inspirou a canção Milagre da Santa, gravada por uma dupla sertaneja.

Dom Bettencourt, que publicou o boato na renomada revista católica Pergunte e Responderemos, confessou que também soube do caso pela internet.
  • Igreja Católica.
O Papa João Paulo II alertou para que os católicos “não respondessem ao mal com o mal”. O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales disse que “a não ser que controlássemos nossas emoções, haveria o risco de uma guerra santa”. Também afirmou que o governo federal seria em parte responsável pelos incidentes, por fazer (sem critérios, que não os políticos) às concessões públicas de rádio e televisão.

Nos primeiros dias, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota, condenou o incidente ocorrido, mas adotando uma postura conciliatória declarou querer respeito, evitar polêmica e conflito.

Visando revigorar e trazer a mobilização da Igreja, clérigos (padres, bispos e arcebispos) lideraram caminhadas, passeatas e concentrações de desagravo à santa.
  • Igreja Universal do Reino de Deus.
A Igreja Universal não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido, segundo registros, devido o temor que se instalou, Macedo teria oferecido 10 minutos da programação de televisão (via Rede Record) para os líderes católicos, o que foi recusado. Inicialmente defensiva, a Universal posteriormente alegou perseguição religiosa por meio da mídia.

Foram registrados também atentados, invasões, apedrejamentos, incêndio de templos e ameaças de bomba.
"Ele (Sérgio von Helde) agiu como um menino (...) e a TV Globo me transformou num monstro."
— Declaração de Edir Macedo, a um repórter. 
A investigação é produto de inquisição contra o meu cliente.
— Márcio Thomaz Bastos, até então advogado de Edir Macedo.
O pastor Ronaldo Didini, que ganhou fama com o programa de entrevistas 25ª Hora na Rede Record, deu apoio aos atos de Von Helder, perdeu apoio e influência dentro da própria igreja, inclusive o comando do programa e saiu da igreja em 1997. O estopim da saída foi ter apoiado Celso Pitta na corrida para a prefeitura de São Paulo, contrariando a orientação da Universal, que era favorável ao José Serra em 1996.

Os acontecimentos ganharam tais proporções na época que a cúpula da igreja decidiu que Sérgio Von Helde seria enviado para os Estados Unidos e Ronaldo Didini, na época apresentador do 25ª Hora por ter apoiado Von Helder na época foi enviado para a África do Sul.
  • Membros do Governo.
O presidente Fernando Henrique Cardoso pronunciou-se sobre o acontecimento, condenando a intolerância religiosa. O Ministério das Comunicações disse que iria investigar se o pastor infringiu leis de comunicação ao agredir uma imagem religiosa, apoiada por políticos como Afanásio Jazadji.
O Brasil é um país democrático conhecido por sua tolerância (...) qualquer manifestação de intolerância fere seu espírito de união, bem como o seu espírito cristão.
— Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil
  • Condenação.
No dia 30 de abril de 1997, Sérgio Von Helde Luiz foi condenado pelo juiz da 12º Vara Criminal da cidade de São Paulo (SP), Ruy Alberto Leme Cavalheiro, a dois anos e dois meses de prisão por crimes de discriminação religiosa e vilipêndio a imagem. O juiz determinou que seja cumprida em regime semiaberto, por ser o réu primário. Por causa de sua primariedade, o juiz concedeu-lhe o benefício de apelar em liberdade. Com isso, somente se a decisão for confirmada em segunda instância o bispo será recolhido a colônia penal agrícola para cumprir a pena. A defesa ainda não foi intimada da sentença.

Quando a sentença foi proferida, Von Helde estava nos Estados Unidos, para onde foi transferido logo após o escândalo de agressão à imagem da santa. O ineditismo da matéria e a consequente ausência de jurisprudência, obrigou o juiz Leme Cavalheiro a intensas pesquisas para fundamentar a decisão, que tem 16 laudas datilografadas.

O caso também surpreendeu a justiça brasileira por seu ineditismo, com precedente semelhante somente num processo por discriminação política instaurado no Estado do Rio Grande do Sul pela acusação de pregar o nazismo.

O processo criminal ficou parado no Tribunal de Justiça de São Paulo, e Von Helde voltou a morar no Brasil em 1998. Foi promovido a coordenador da Igreja Universal nas regiões Norte e Nordeste e em agosto assumiu a direção geral da TV Itapoan em Salvador, Bahia.

No dia 10 de novembro de 1999, Von Helde foi condenado novamente, a dois anos de reclusão, com direito a suspensão condicional de pena, por incitar o preconceito religioso.
  • Hoje.
Segundo o site UOL em 2009, a pena contra Von Helde acabou reduzida. Um dos crimes imputados a von Helde, o vilipêndio, prescreveu. "A punição foi convertida em uma multa que hoje seria de uns R$ 2.000", calcula o juiz Cavalheiro, então desembargador no TJ-SP.

Sérgio von Helder e sua família moram nos Estados Unidos e continua a trabalhar dentro da igreja Universal, Von Helder está no país de forma legal, com visto de missionário, e atua especialmente na região da Califórnia, junto a imigrantes espanhóis. O portal, filiado a Folha de S.Paulo, diz que ele jamais se arrependeu do chute na imagem.

Primeiros Milagres.

Em 1748, o padre Francisco da Silveira, estava em missa realizada onde hoje é o município de Aparecida, quando escreveu uma crônica onde menciona a imagem de Nossa Senhora como "famosa por muitos milagres realizados". Na mesma crônica descreve que os peregrinos se locomoviam grandes distâncias para agradecer as graças alcançadas.

  • Milagre das Velas.
Estando a noite serena, repentinamente as duas velas que iluminavam a Santa se apagaram. Houve espanto entre os devotos, e Silvana da Rocha, querendo acendê-las novamente, não conseguiu, pois elas acenderam por si mesmas. Este relato é tido como um milagre de Nossa Senhora por seus devotos, e é provavelmente de 1733.
  • Caem as Correntes.
Em meados de 1850, um escravo chamado Zacarias, preso por grossas correntes, ao passar pela igreja onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora Aparecida, pede ao feitor permissão para rezar. Recebendo autorização, o escravo se ajoelha diante de Nossa Senhora Aparecida e reza fervorosamente. Durante a oração as correntes milagrosamente soltam-se de seus pulsos, deixando Zacarias livre.
  • Cavaleiro e a Marca da Ferradura.
Um cavaleiro de Cuiabá, passando por Aparecida, ao se dirigir para Minas Gerais, viu a fé dos romeiros e começou a zombar, dizendo, que aquela fé era uma bobagem. Quis provar o que dizia, entrando a cavalo na igreja. Logo na escadaria, a pata de seu cavalo se prendeu na pedra da escada da igreja (Basílica Velha), vindo a derrubar o cavaleiro de seu cavalo; após o fato, a marca da ferradura ficou cravada na pedra. O cavaleiro, arrependido, pediu perdão e tornou-se devoto.
  • A Menina Cega de Nascença de Jaboticabal - SP.
Por serem muito devotos de Nossa Senhora Aparecida, os membros da família Vaz de Jaboticabal - SP rezavam e falavam muito sobre os acontecimentos referentes a Nossa Senhora Aparecida. O casal desta família tinha uma menina que era cega de nascença e que sempre ouvia atentamente ao que falavam. A menina tinha uma vontade muito grande de ir até a Igreja. Naqueles tempos, onde tudo ainda era sertão, ficava muito difícil de se chegar até lá. Mas com muita dificuldade, fé e perseverança, mãe e filha da família Vaz de Jaboticabal - SP chegaram às escadarias da Igreja, quando, surpreendentemente, a menina cega de nascença exclamou: "Mãe, como é linda esta Igreja!". Daquele momento em diante a menina que era cega de nascença passa a enxergar normalmente.
  • O Menino no Rio.
O pai e o filho foram pescar. Durante a pescaria a correnteza estava muito forte e por um descuido o menino caiu no rio. O menino não sabia nadar e a correnteza o arrastava cada vez mais rápido e o pai desesperado pediu a Nossa Senhora Aparecida para salvar o menino. De repente, o corpo do menino parou de ser arrastado enquanto a forte correnteza continuava e o pai salvou o menino.
  • O Homem e a Onça.
Um homem estava voltando para sua casa, quando de repente ele se deparou com uma onça. Ele se viu encurralado e a onça estava prestes a atacar, então o homem pediu desesperado a Nossa Senhora Aparecida por sua vida, e a onça foi embora.

Coroa Comemorativa.

Para celebrar o centenário da Coroação da Imagem da Padroeira do Brasil, a Associação de Joalheiros e Relojoeiros do Noroeste Paulista - AJORESP, com apoio técnico do Sebrae (São Paulo), promoveu um Concurso Nacional de Design, visando selecionar uma nova Coroa comemorativa do evento.

O Júri Institucional do evento selecionou, por consenso, o projeto da designer Lena Garrido, em parceria com a designer Débora Camisasca, de Belo Horizonte (Minas Gerais). A nova peça foi confeccionada em ouro e pedras preciosas especialmente para a solenidade do Centenário da Coroação de Nossa Senhora Aparecida, no dia 8 de setembro de 2004.

Referências na Cultura Popular.

A telenovela A Padroeira, transmitida pela Rede Globo entre 18 de junho de 2001 e 23 de fevereiro de 2002, traz um retrato fictício da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida, contendo elementos do romance As Minas de Prata, escrito por José de Alencar em 1865 que, por sua vez, havia sido adaptado para o formato de telenovela em 1966 pela extinta Rede Excelsior.

Devoção nas Religiões afro-brasileiras.

Nossa Senhora Aparecida é sincretizada nas religiões afro-brasileiras das regiões Sudeste e Centro-Oeste com a orixá Oxum.

Fontes.                                                                                                                                            139 de 186



Nenhum comentário:

Postar um comentário