O bombardeamento das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, a mais de 70 anos, pode ser considerado o maior atentado terrorista da história da humanidade, já que o objetivo do governo e do exército dos Estados Unidos era aterrorizar a população japonesa e, assim, evitar uma invasão ao país para por fim à guerra.
"A bomba atômica era mais do que uma arma de destruição terrível; era uma arma psicológica.
Henry L. Stimson, 1947"O papel dos bombardeamentos na rendição do Japão e a justificativa ética dos Estados Unidos para executar tal ataque tem sido objeto de debate acadêmico e popular há décadas. J. Samuel Walker escreveu em abril de 2005 sobre a historiografia recente sobre o assunto que "a controvérsia sobre o uso da bomba parece certa para continuar." Ele escreveu: "A questão fundamental que tem dividido os estudiosos ao longo de um período de quase quatro décadas é se o uso da bomba era necessário para conseguir a vitória na Guerra do Pacífico em condições satisfatórias para os Estados Unidos."
Debate Sobre os ataques
Explosão nuclear em Nagasaki, Japão, em 9 de agosto de 1945. Créditos: Wikipédia. |
- Apoio à Utilização de Armamento Atômico.
Embora alguns membros das autoridades civis tenham usado dissimuladamente canais diplomáticos para iniciar as negociações pela paz, por si só não poderiam negociar uma rendição ou mesmo um cessar-fogo. O Japão, sendo uma Monarquia constitucional, apenas poderia entrar num tratado de paz com o apoio unânime do gabinete japonês, e todo esse era dominado por militaristas do Exército Imperial Japonês e da Marinha Imperial Japonesa, sendo todos inicialmente opostos a qualquer tratado de paz. Na altura, chegou-se a uma situação de empate político entre os líderes civis e militares, estando esses últimos cada vez mais determinados a lutar sem olhar custos e eventuais desfechos. No pós-guerra, vários continuaram a acreditar que o Japão poderia ter negociado termos de rendição mais favoráveis caso tivessem continuado a infligir alto nível de baixas nas forças inimigas, terminando, eventualmente, a guerra sem uma ocupação do Japão e sem a mudança de Governo.
O historiador Victor Davis Hanson chama a atenção para a resistência japonesa crescente, fútil como foi em retrospecto, como a guerra veio a sua conclusão inevitável. A Batalha de Okinawa mostrou esta determinação de lutar a todo custo. Mais de 120.000 tropas japonesas e 18.000 tropas americanas foram mortas na batalha mais sangrenta do teatro do Pacífico, somente 8 semanas antes da rendição final do Japão. Na verdade, mais civis morreram na Batalha de Okinawa do que na explosão inicial das bombas atômicas.
Quando a União Soviética declarou guerra contra o Japão em 8 de agosto de 1945 e conduziu a Operação Tempestade de Agosto, o Exército Imperial Japonês ordenou que suas forças na Manchuria lutassem "até o último homem". Entretanto, em apenas três semanas, o Exército da URSS conseguiu destruir a força principal do Exército Imperial japonês que ocupava o norte da China e a Coréia, composta por cerca de 1 milhão de homens.
Alguns historiadores consideram, ainda, que os estrategistas dos Estados Unidos também queriam terminar a guerra rapidamente para minimizar a expansão da influência soviética nos territórios libertados pela URSS da ocupação japonesa. Especialmente porque havia começado a invasão soviética da Manchúria e da Coréia, em agosto de 1945, com uma ofensiva que destruiu rapidamente o Exército Imperial Japonês que ocupava o norte da China. Enquanto isso, em adição aos ataques soviéticos, ofensivas foram programadas para setembro no sul da China e Malásia.
O Major General Masakazu Amanu, chefe da seção de operações nos quartéis generais imperiais japoneses, declarou que estava absolutamente convencido que suas preparações defensivas, que começaram no começo de 1944, poderiam repelir qualquer invasão Aliada de suas ilhas com as mínimas perdas. Os japoneses não desistiriam facilmente por causa de sua forte tradição de orgulho e honra — muitos seguiam o Código Samurai e lutariam até o último homem ser morto.
Após descobrirem que a destruição de Hiroshima fora causada por uma arma nuclear, os líderes civis ganharam mais e mais firmeza em seus argumentos de que o Japão tinha de admitir sua derrota e aceitar os termos da Declaração de Potsdam. Mesmo após a destruição de Nagasaki, o Imperador mesmo precisou intervir para terminar um impasse no gabinete.
Os americanos projetavam a perda de muitos soldados na Operação Downfall, que consistiria em duas etapas, a invasão americana no Sul do Japão (na ilha de Kyushu) simultânea à invasão soviética da ilha do norte (Hokkaido), programadas para novembro de 1945 na Operação Olympic, seguida da invasão da ilha principal, Honshu, e da ocupação de Tóquio, que ocorreria na Operação Coronet, programada para março de 1946. Entretanto, os números reais de perdas resultantes da Operação Downfall eram alvo de controvérsias e debates. Basicamente, as perdas dependeriam da persistência, da reabilitação da resistência japonesa e da velocidade com que os americanos conseguiriam ocupar Kyushu (em novembro de 1945), e ainda, se seria realmente necessário o desembarque próximo à baia de Tóquio, projetado para março de 1946. Também havia dúvidas sobre quais seriam as capacidades do Japão de repelir as forças aliadas com o uso de armas químicas, como as que os japoneses utilizaram contra a China.
Anos após a guerra, o Secretário de Estado James F. Byrnes clamou que 500.000 vidas americanas teriam sido perdidas — e esse número tem sido repetido desde então autoritariamente, mas, no verão de 1945, planejadores militares dos EUA projetaram 20.000 - 110.000 mortes em combate da invasão inicial de novembro de 1945, com cerca de três a quatro vezes este número de feridos. (O total de mortes em combate dos EUA em todas as frentes na II Guerra Mundial em quase quatro anos de guerra foram 292.000). Entretanto, estas estimativas foram feitas usando a inteligência que brutalmente subestimou a força japonesa reunida para a batalha de Kyushu em número de soldados e Kamikazes.
Além disto, a bomba atômica acelerou o fim da Segunda Guerra Mundial na Ásia, liberando centenas de milhares de cidadãos ocidentais, incluindo cerca de 200.000 holandeses e 400.000 indonésios ("Romushas") de campos de concentração japoneses; também, as atrocidades japonesas contra milhões de chineses, tais como o Massacre de Nanquim, tiveram um fim.
Apoiadores também apontam para uma ordem dada pelo Ministro da Guerra japonês em 11 de agosto de 1944. A ordem lidava com a disposição e execução de todos os prisioneiros de guerra Aliados, somando mais de 100.000, se uma invasão da terra natal dos japoneses acontecesse.
Em resposta ao argumento que a matança de civis em larga escala era imoral e um crime de guerra, apoiadores dos bombardeios tem argumentado que o governo japonês declarou guerra total, ordenando muitos civis (inclusive mulheres e crianças) a trabalhar em fábricas e escritórios militares e lutar contra qualquer força invasora. O padre John A. Siemes, professor de filosofia moderna na Universidade Católica de Tóquio e uma testemunha ocular ao ataque da bomba atômica em Hiroshima escreveu:
“Discutimos entre nós a ética do uso da bomba. Alguns a consideraram na mesma categoria que o gás venenoso e eram contra seu uso em uma população civil. Outros eram do ponto de vista que na guerra total, como deflagrada no Japão, não havia diferença entre civis e soldados e que a bomba em si era uma força efetiva podendo acabar com o derramamento de sangue, alertando ao Japão que se rendesse e assim evitando a destruição total. Parece lógico para mim que aquele que apoia a guerra total em princípio não pode reclamar da guerra contra civis.”Finalmente, apoiadores também apontam os planos japoneses, desenvolvidos por sua Unidade 731, de lançar aviões pilotados por Kamikazes com uma carga de moscas contaminadas por peste bubônica para infectar a população de São Diego, Califórnia. A data alvo era para ser 22 de setembro de 1945, apesar de ser improvável que o governo japonês tivesse permitido que tantos recursos fossem desviados de propósitos defensivos.
Oposição Ao Uso De Bombas Atômicas.
O Projeto Manhattan tinha sido concebido originariamente como um contra-ataque ao programa da bomba atômica da Alemanha Nazi, e com a derrota da Alemanha, vários cientistas que trabalhavam no projeto sentiram que os EUA não deveriam ser os primeiros a usar tais armas. Um dos críticos proeminentes dos bombardeios era Albert Einstein. Leo Szilard, um cientista que tinha um papel fundamental no desenvolvimento da bomba atômica, argumentou:
“Se tivessem sido os alemães a lançar bombas atômicas sobre cidades ao invés de nós, teríamos considerado esse lançamento como um crime de guerra, e sentenciado à morte e enforcado os alemães considerados culpados desse crime no Tribunal de Nuremberg.”O seu uso tem sido classificado como bárbaro, visto que cem mil civis foram mortos, e as áreas atingidas eram conhecidas por serem altamente povoadas por civis. Nos dias imediatamente anteriores ao seu uso, vários cientistas (inclusive o físico nuclear americano Edward Teller) defendiam que o poder destrutivo da bomba poderia ter sido demonstrado sem causar mortes.
O que era originalmente o edifício municipal de promoção industrial tornou-se no Memorial da Paz de Hiroshima, em Hiroshima. Créditos: Wikipédia. |
Outros têm alegado que os japoneses já estavam essencialmente derrotados, e portanto o uso das bombas foi desnecessário. O general Dwight D. Eisenhower assim aconselhou o Secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em julho de 1945. O oficial de maior patente no Cenário do Pacífico, general Douglas MacArthur, não foi consultado com antecedência, mas afirmou posteriormente que não havia justificativas militares para os bombardeios. A mesma opinião foi expressa pelo Almirante da Frota William D. Leahy (o Chefe de Gabinete do Presidente), general Carl Spaatz (comandante das Forças Aéreas Estratégicas dos E.U.A. no Pacífico), e o brigadeiro general Carter Clarke (o oficial da inteligência militar que preparou cabos japoneses interceptados para os oficiais americanos);[4] Major General Curtis LeMay; e o almirante Ernest King, Chefe das Operações Navais dos E.U.A., e o Almirante da Frota Chester W. Nimitz, Comandante-chefe da Frota do Pacífico.
Eisenhower escreveu no seu livro de memórias The White House Years:
“Em 1945, o Secretário de Guerra Stimson, ao visitar o meu quartel-general na Alemanha, informou-me que o nosso governo estava a preparar-se para lançar uma bomba atómica no Japão. Eu era um dos que sentiam que havia um número de razões contundentes para questionar a sabedoria de tal acto. Durante a sua recitação dos factos relevantes, eu tinha estado consciente de um sentimento depressivo e por isso vocalizei-lhe as minhas graves suspeitas, primeiro com base em minha crença de que o Japão já estava derrotado e que o lançamento da bomba era completamente desnecessário; segundo porque pensei que o nosso país deveria evitar chocar a opinião mundial pelo uso de uma arma cujo emprego não era mais, como pensei, obrigatório como uma medida para salvar vidas americanas.”O United States Strategic Bombing Survey escreveu, após ter entrevistado centenas de japoneses civis e líderes militares, depois da rendição do Japão:
“Baseado numa investigação detalhada de todos os fatos e apoiados pelo testemunho dos sobreviventes líderes japoneses envolvidos, é a opinião da Survey que, certamente antes de 31 de dezembro de 1945, e, em todas as probabilidades, antes de 1.º de novembro de 1945, o Japão ter-se-ia rendido mesmo se as bombas atômicas não tivessem sido lançadas, mesmo se a Rússia não tivesse entrado na guerra e mesmo se a invasão não tivesse sido planejada.”No entanto, é de realçar que a pesquisa referida assumiu que seriam necessários adicionais ataques convencionais - com as casualidades diretas e indiretas inerentes - para forçar a rendição do Japão nas datas mencionadas no relatório.
Outros críticos defendem que o Japão estaria a tentando se render pelo menos a dois meses, mas que os Estados Unidos recusavam a rendição pois insistiam que esta deveria ser incondicional. De fato, enquanto que vários diplomatas eram a favor da rendição, os líderes militares japoneses estavam decididos a combater uma batalha decisiva em Kyushu, na esperança de conseguirem negociar melhores termos num futuro armistício - o que os americanos sabiam através da descodificação de comunicações japonesas interceptadas. O governo japonês nunca decidiu em que termos, além da preservação do sistema imperial, aceitaria cessar as hostilidades. Até 9 de agosto, o governo japonês encontrava-se dividido, com os mais conservadores a insistirem que o Japão deveria desmobilizar as suas próprias forças, não deveriam existir tribunais para crimes de guerra nem ocupação. Apenas a intervenção direta do Imperador terminou a disputa e mesmo depois disso, ainda houve uma tentativa militar de golpe de estado falhada para evitar a rendição.
Outra crítica é que os EUA deveriam ter esperado por um breve período a fim de avaliar o efeito da entrada da União Soviética na guerra. Os EUA sabiam, e o Japão não, que a União Soviética havia concordado em declarar guerra ao Japão três meses depois do dia da vitória na Europa; com efeito, os soviéticos de fato realizaram um ataque em 8 de agosto de 1945. A perda de qualquer perspectiva de que a União Soviética poderia servir de mediador neutro para uma paz negociada, aliada à entrada do Exército Vermelho (o maior exército ativo no mundo), poderiam ser suficientes para convencer as forças armadas japonesas da necessidade de aceitar os termos da Declaração de Potsdam (desde que alguma proteção para o Imperador estivesse presente). Como não haveria imediata invasão norte-americana, alega-se que os EUA não tinham nada a perder se esperassem alguns dias para descobrir se a guerra poderia ser terminada sem o uso da bomba atômica. A rendição japonesa aconteceu antes que se soubesse da escalada dos ataques soviéticos na Manchúria, na Ilha de Sakhalin, e nas Ilhas Kuril; mas, se a guerra tivesse prosseguido, os soviéticos seriam capazes de invadir Hokkaido bem antes da invasão aliada de Kyushu. Outras fontes japonesas afirmaram que os bombardeios em si não foram a razão principal para a capitulação. Ao contrário, alegam, foram as rápidas e devastadoras vitórias soviéticas no continente na semana seguinte à declaração de guerra proferida por Stalin que causaram a mensagem de rendição japonesa em 15 de agosto de 1945.
Fontes. 042 de 186
https://misteriosdomundo.org/20-fatos-surpreendentes-sobre-os-ataques-de-hiroshima-e-nagasaki/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamentos_de_Hiroshima_e_Nagasaki
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Pac%C3%ADfico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Downfall
https://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_Manhattan
https://pt.wikipedia.org/wiki/Little_Boy
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fat_Man
http://www.ndl.go.jp/constitution/e/etc/c06.html
http://www.ndl.go.jp/constitution/e/etc/c05.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiroshima
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nagasaki
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rendi%C3%A7%C3%A3o_do_Jap%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Debate_sobre_os_bombardeamentos_de_Hiroshima_e_Nagasaki
https://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/hiroshima-e-nagasaki-bombas-e-terror.htm
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