terça-feira, 5 de março de 2019

Enciclopédia Das Lendas Urbanas e Dos Mitos e Lendas do Brasil: O Chupa-Cabra.

Chupa-cabra (chupacabras em castelhano, geralmente chupacabra em inglês) é uma suposta criatura responsável por ataques sistemáticos a animais rurais em regiões da América, como Porto Rico, Flórida, Nicarágua, Chile, México e Brasil. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico no ano de 1995, com marcas de dentadas no pescoço e o seu sangue drenado, mas a origem da lenda está relacionada a mutilações de gado que começaram a se tornar assunto de especulações sensacionalistas nos EUA, em 1967.Uma vez que não existem registos da sua real existência, o chupa-cabra é um elemento da criptozoologia.

Assim, não é por acaso que nossos conhecimentos sobre eles vêm quase exclusivamente de imagens borradas ou relatos pouco confiáveis.

Essa imagem mística foi o que atraiu Benjamin Radford, pesquisador do Comitê para a Investigação Cética (CSI, na sigla em inglês), para a história do chupa-cabra. Relatos sobre o chupa-cabra apareceram pela primeira vez em Porto Rico em meados dos anos 1990. Eles descreviam uma criatura bípede de quase um metro e meio de altura com olhos grandes, espinhos nas costas e longas garras.

Essa criatura, segundo esses relatos, estaria matando animais de criação para corte e chupando seu sangue - daí seu nome popular.

Mutilações de Gado nos E.U.A.

Nos E.U.A, a partir do caso de uma égua chamada Snippy, em 1967, houve insistentes boatos sobre mutilação de gado por supostos extraterrestres, que teriam cortado cirurgicamente partes do corpo e deixado os cadáveres para trás.

Sempre que especialistas puderam examinar as carcaças, deram explicações racionais. No caso de Snippy, o veterinário concluiu que ela havia sofrido uma infecção generalizada, causada por tiros nas patas e depois sacrificada com um golpe de instrumento cortante na nuca. O descarnamento da cabeça e pescoço, deixando a maior parte da carcaça para trás, foi o resultado de pegas e outros corvídeos - que não conseguem picar através do couro de um cavalo, mas comem a carne e a pele se encontrarem uma brecha - terem tirado proveito do corte da nuca.

Em 1979, o FBI fez uma ampla investigação dos casos, procurando determinar se as mutilações eram criminosas, recorrendo a exames por especialistas em universidades. A conclusão, no relatório de autoria de Kenneth Rommel, foi de que praticamente todos os casos se deviam a predadores, principalmente coiotes (Canis latrans) que, como esclareceu o patologista, são capazes de fazer cortes que, a olho nu, podem parecer limpos e nítidos como os de uma faca afiada, embora um exame mais cuidadoso mostre como foram rasgados. Em outro caso o veterinário informou que a morte foi devida a uma raposa vermelha (Vulpes fulva) e outros, ainda a necrófagos. O relatório menciona o caso de um corvo observado em Manitoba, Canadá, que despedaçou um réptil e lhe tirou o fígado sem tocar o resto, deixando apenas um furo na pele. Em alguns casos, havia evidências de ação humana, tais como uso de tranquilizante e anticoagulante antes da mutilação, mas não foi possível identificar os responsáveis ou seus motivos. Podia se tratar de sociopatas, algum tipo de ritual ou mera busca de publicidade.

O Vampiro de Moca.

Notícias sobre as mutilações de gado nos EUA eram freqüentes nos jornais sensacionalistas quando se ouviu falar pela primeira vez de caso análogo em Porto Rico, em 25 de fevereiro de 1975 no povoado de Moca. Foi o jornal El Vocero quem difundiu amplamente os casos e batizou o predador com o nome de "O Vampiro de Moca”. A crença popular atribuía a “morcegos vampiro” as mortes dos animais.

Segundo se dizia, as feridas pareciam produzidas por uma punção ou instrumento cortante, que destrói a seu passo os órgãos vitais. No caso das aves, tinha um diâmetro ao redor de 6,4 milímetros, e no das cabras, de mais de 25,4 milímetros. - A localização da ferida variava, embora em sua maioria estivesse no pescoço ou peito do animal. Todos os casos ocorreram de noite, principalmente em horas da madrugada.

Os membros da Comissão de Agricultura do Senado e o comando da polícia especularam que o causador fosse um ser humano desequilibrado ou uma seita satânica.

Em dezembro de 1994 voltaram a se ouvir relatos semelhantes dos povoados de Orocovis e Corozal, no centro da ilha de Porto Rico, e posteriormente em Canovanas (costa norte), Fajardo e Gurabo (leste) e Alaranjado (centro). Também foi visto em Lajas e Bellavista no Ponce.

Nesta ocasião os jornalistas utilizaram um nome com maior penetração na população: chupacabras. Era a primeira vez que se utilizava tal apelativo. E o êxito não se fez esperar, logo todos na ilha falavam desse “animal”.

Os primeiros relatos das testemunhas eram contraditórios. Falava-se de criaturas com estaturas que iam de 0,90 a 1,80 metros. Os braços eram descritos como largas pinças de caranguejo, ou braços pequenos com mãos palmadas de três dedos. Alguns diziam que a cabeça era redonda, outros que era alargada, em forma de pêra. De acordo com algumas testemunhas as pernas do ser eram parecidas com as dos répteis, mas outros afirmavam que se pareciam mais às das cabras. O chupacabras tinha os olhos grandes e vermelhos, e uma espécie de escamas pontiagudas em suas costas que parecem membranas que trocam de cor do azul ao verde, vermelho, púrpura, etc. Outros lhe tinham visto o corpo completamente coberto de pêlo negro.

Tampouco havia concordância na forma de se mover. Dizia-se que era capaz de correr muito rapidamente, subir árvores e saltar mais de 6 metros. E por outro lado se afirmava que tinha as patas atrofiadas; e era incapaz de caminhar, muito menos de correr, por isso se deslocava voando.

A partir de algumas das descrições do chupacabras, jornalistas portorriquenhos publicaram esboços que claramente foram tomados como modelo dos testemunhos posteriores. As descrições passaram a ser bem mais uniformes.

Primeiro Relato.

Em sua longa pesquisa, Benjamin Radford levou cinco anos e demandou viagens por várias regiões, Radford localizou até mesmo a primeira pessoa a relatar ter visto a criatura: Madelyne Tolentino, da cidade de Canóvanas, no leste de Porto Rico. Em 1995, ela disse ter visto uma criatura parecida com um alien da janela de sua casa.

O impressionante da história é a rapidez com que ela se espalhou. Após mais relatos de gente que disse ter visto a criatura, e a ligação feita na mídia local com animais de gado encontrados com o sangue extraído, a viralização foi incontrolável.

Ela primeiro se espalhou por Porto Rico, depois pelo resto da América Latina e o sul dos Estados Unidos. No final de 1995 o programa sensacionalista estadunidense Inside Edition fez uma reportagem sobre o chupa-cabras, logo seguido por outros programas do gênero: Hard Copy, Encounters, Ocurrió Asi e Primer Impacto.

Assim que os programas foram transmitidos da Flórida para as tevês em língua espanhola das Américas, começaram a se apresentar os primeiros relatos em outras partes do continente, a começar pela própria Flórida. Logo os relatos se estenderiam a Venezuela, Guatemala, Colômbia, Honduras, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, outras partes dos Estados Unidos e México. Também se ouviu falar de chupa-cabras no Brasil, Peru, Bolívia, Chile e Argentina, mas com menos insistência. No Brasil, uma reportagem sobre o chupa-cabra no programa Domingo Legal, no SBT, em 1997, levou a uma onda de supostas aparições da criatura por todo o país.

A lenda se espalhou até mesmo online, nos primórdios da popularização da internet, com a participação de grupos entusiastas de óvnis e teóricos conspiracionistas.

Até que no início dos anos 2000 um novo chupa-cabra apareceu, com algumas diferenças em relação ao original. Desta vez era descrito menos como um alien e mais como um animal parecido com um cachorro, andando em quatro patas, mas sem pelos.

E além dos relatos de aparição, alguém também encontrou um corpo de uma dessas criaturas.

Ao ouvir a história, Radford percebeu uma oportunidade de ouro: realizar uma investigação sem precedentes sobre algo cuja fama já se equiparava à de outros monstros lendários, como o pé-grande ou o monstro do Lago Ness.

"Quando você tem um corpo, muda tudo", explica. "Você pode colher amostras de DNA e de ossos, estudar a morfologia", diz.

Chupa-Cabra. Créditos: How Stuff Works.
"No começo estava logicamente cético em relação à existência da criatura", comenta. "Mas ao mesmo tempo tinha consciência de que é possível encontrar novos animais. Não queria simplesmente menosprezar ou descartar a possibilidade. Se o chupa-cabra é real, queria encontrá-lo."

Outros Relatos.

Em abril de 2000, na cidade mineira de Calama (norte do Chile), informou uma centena de animais em um curral estavam mutilados de uma maneira muito estranha, uma situação que durou até quase o final de 2002. Logo houve uma série de denúncias coletadas pela imprensa sensacionalista, vindas de outros setores do país, embora nada extraordinário jamais pudesse ser alcançado. Um fazendeiro matou uma huiña provocando atenção internacional e outros confundiram o feto de um macaco da montanha com este ser. Um mito urbano surgiu de que uma suposta missão da NASA teria chegado ao país para estudar o fenômeno. Depois de muitas especulações, os estudos acabaram indicando que os ataques eram devidos apenas a cães. "Tanto as pegadas quanto os cabelos indicavam que eram cães domésticos".

No primeiro semestre de 2002, bovinos mutilados foram encontrados em vários pontos da Argentina (na área entre as províncias de Río Negro e Santa Fé). Embora ablações dos aparatos reprodutivos dos animais fossem percebidas, a mídia associou os fatos com o fenômeno do chupa-cabra ou com ritos de seitas satânicas. Demorou muito pouco tempo para o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (SENASA) concluir que as mutilações foram realizadas por raposas ou camundongos.

Em julho de 2004, um fazendeiro matou uma criatura parecida com um cão sem pêlos, que ele descobriu atacando seu gado, perto de San Antonio, no Texas . O animal, inicialmente chamado de Besta de Elmendorf, foi posteriormente identificado como um coiote com sarna sarcóptica, depois que seu DNA foi examinado pela Universidade da Califórnia em Davis. Em outubro do mesmo ano, dois outros corpos foram encontrados na mesma área. Os biólogos do Texas examinaram amostras de ambos os cadáveres e puderam determinar que também eram coiotes que sofriam de casos graves de escabiose.

No Condado de Coleman, no Texas, um fazendeiro chamado Reggie Lagow capturou um animal com uma armadilha que ele montou depois que algumas de suas aves apareceram mortas. A aparência do animal foi descrita como uma mistura de cão sem pêlo, rato e canguru . Lagow colocou o animal à disposição dos oficiais encarregados dos parques e animais selvagens do Texas para serem identificados, embora mais tarde ele tenha declarado em uma entrevista com John Adolfi que ele havia descartado a criatura dois dias depois de tê-la encontrado.

Em meados de agosto de 2006, uma mulher chamada Michelle O'Donnell, do Maine, fotografou um animal estranho ao lado de uma estrada. O'Donnell lembrava ter visto o mesmo animal que pairava perto de sua casa uma semana antes, e o marido dela descreveu-o como uma mistura entre um roedor e um canídeo. O animal aparentemente foi atropelado por um carro e não era identificável. Originalmente, foi relatado que o corpo tinha sido destruída por abutres antes de especialistas poderia examinar -lo, mas mais tarde, os oficiais dos animais selvagens foram capazes de tirar uma amostra de DNA , ele pode determinar que era um híbrido de lobo e cachorro.

Em agosto de 2007, uma mulher chamada Phylis Canion foi informada da descoberta dos restos de um animal de aparência estranha em Cuero (Texas), fora da propriedade de um vizinho. Canion havia passado as últimas semanas tentando fotografar ou filmar uma suposta estranha criatura que ele acreditava responsável pela morte de cerca de 30 de suas galinhas durante vários anos. Canion também afirmou ter visto três criaturas semelhantes aos restos descobertos. Depois de fotografar os restos da criatura, Canion contatou um taxidermista para dissecar a criatura, que ele mais tarde começou a exibir em sua casa. Depois que a notícia alcançou notoriedade nacional, especialistas da Universidade Estadual do Texas, San-Marcos, ofereceram testes de DNA na criatura. A análise resultou na identificação da criatura como um coiote. Canion, não satisfeita, contatou especialistas da Universidade da Califórnia em Davis para uma segunda análise. Nesta ocasião, as análises determinaram que a criatura era especificamente um híbrido: um coiote mexicano e uma cruzamento de lobo. De acordo com cientistas e especialistas em vida selvagem, esse híbrido não é desconhecido e já foi estudado antes. Quanto à aparência estranha do animal, acredita-se que o animal estava possivelmente sofrendo de sarna , o que pode explicar a pele entre cinza e azul do animal.

Cuero (Texas) seria parte de um outro avistamento de um ano depois, em agosto de 2008, quando Brandon Riedel, vice-xerife de DeWitt County (Texas), filmou um animal não identificável nos becos desta cidade com a câmera. O animal era do tamanho de um coiote, mas não tinha pêlos e tinha um longo focinho, assim como pernas dianteiras curtas e longas patas traseiras. Sheriff Jode Zavesky, chefe de Reiter, suspeitou que era o mesmo tipo de coyote identificada por pesquisadores da Texas State University-San Marcos, em novembro de 2007. O vídeo foi mostrado em abril de 2011 em um episódio de a série de televisão Faked or Fake: Paranormal Files, do canal de televisão Syfy , no qual uma equipe de pesquisadores tentou recriar o vídeo da placa usando um cavalo em miniatura e um cão xoloitzcuintle. Nenhum dos animais de teste utilizados parecia coincidir com a criatura no vídeo. A equipe também examinou uma amostra de DNA retirada do suposto cadáver de uma das criaturas encontradas por um fazendeiro local e mais tarde identificada como um híbrido de lobo e coiote.

Em setembro de 2009, a CNN transmitiu um vídeo em que foi feita uma abordagem a um animal morto não identificado. O mesmo relatório afirmava que a população local havia começado a especular sobre a possibilidade de que fosse um chupa-cabra. A taxidermia de Blanco County, Texas, disse que um de seus ex-alunos lhe dera o corpo do animal, que supostamente tinha sido descoberto por um primo daquele aluno em um celeiro, e, aparentemente, morreu depois de beber veneno para roedores. O taxidermista expressou que era uma mutação genética do coiote.

Em julho de 2010, foi relatado que policiais de controle de animais atiraram e mataram um suposto chupa-cabra em Hood County, Texas. No entanto, um oficial de controle de animais deste local alegou que cientistas da Universidade do Texas A&M realizaram testes de identificação no corpo, determinando que era um híbrido entre coiote e cão, com sinais de sarna e parasitas internos. Um segundo chupa-cabra alegado, que foi morto a poucos quilômetros de distância, foi devorado por abutres antes que pudesse ser recuperado para testes.

Em 18 de dezembro de 2010, no Condado de Nelson, Kentucky, um homem chamado Mark Cothren atirou e matou um animal que ele não podia reconhecer. Muitas fotos da criatura foram tiradas e a história foi coletada por várias organizações de notícias. Cothren descreveu a criatura com orelhas compridas, bigodes, uma cauda longa e o tamanho de um gato doméstico. Cothren disse que conversou com o Departamento de Recursos Naturais e da Vida Selvagem de Kentucky , que ele supostamente entregou ao animal para análise posterior.

Em 4 de julho de 2011, Jack Crabtree, de Lake Jackson, Texas , afirmou ter visto um chamado chupacabra em seu quintal. Inicialmente, Crabtree permaneceu firme em sua teoria original dos chupa-cabra, mas depois de sua história foi publicada pelo jornal local e vários jornalistas de outros meios de comunicação reproduzem a história de alguns dias mais tarde, Crabtree mudou de ideia rapidamente e aceito a explicação dos especialistas de que a criatura era provavelmente um coiote rabugento, acrescentando que tinha sido uma piada que ele nunca acreditou. Sua história foi contada pela CNN e pela MSNBC. Em 15 de Julho de 2011, a polícia local conseguiu capturar a criatura Crabtree tinha visto, e os especialistas foram capazes de confirmar que ele foi definitivamente um coiote com sarna.

No início de setembro de 2013, uma família da cidade de Rosario na província de Santa Fé, disse a mídia que ele possuía o corpo de um animal pequeno que foi encontrado na cidade de Vera (norte de Santa Fé) que eles não puderam identificar e que alguns tinham relacionado ao mítico chupa-cabra. Após a divulgação da notícia, o professor Jorge Martí, chefe de Museologia e Taxidermia do Museu de Ciências Naturais Dr. Angel Gallardo de Rosario , examinou o espécime e determinou que era um gato naturalmente mumificado .

Em 7 de setembro de 2013, o canal de notícias FOX 2 News, em San Luis, Missouri, publicou em seu site um relatório sobre dois avistamentos. No primeiro, uma mulher avistou um "animal como um pequeno cão cinzento" perto do portão principal do Lago Velho Colina Speedway, na mesma cidade, enquanto uma semana antes, um caçador reivindicou para ter matado um chupacabras enquanto guaxinins caça . O Departamento de Vida Selvagem do Mississippi determinou que este caso também era um cão com sarna.

Um casal Texas que viveu em um rancho em Victoria County (Texas), disse à imprensa ter atirado e matado um chupa-cabra em sua propriedade, na tarde de 23 de fevereiro de 2014. Um biólogo que trabalhava para o Departamento de Vida Selvagem do Texas, também falou à imprensa, rendendo a seguinte declaração:
"Eu vi esquilos, guaxinins e coiotes com as mesmas características nesta área [o Chupa-Cabra] é uma criatura mítica, mas o que a maioria das pessoas realmente vêem é sarna sarcóptica, que é causada por um ácaro que morde um animal Isso só pode ser um mamífero. cães, gatos, coiotes, raposas, e não é uma versão de que os seres humanos também pode tornar-se infectado"
Em 3 de abril de 2014, outro casal texano alegou ter capturado um chupacabra em Ratcliffe, no Texas, em 29 de março do mesmo ano. Benjamin Radford, da Livescience, sugeriu que o animal era um guaxinim afetado por sarna sarcóptica.

A Difusão do Chupa-Cabra.

Foi no México que a onda de chupa-cabras atingiu maiores dimensões. Começou em Tijuana, em fevereiro de 1996, quando começaram a aparecer novilhos e cabras massacrados no interior de seus currais, como se seus corpos tivessem sido cortados com um facão e com dois ou três pequenos buracos no pescoço.

Três meses depois, o engenheiro e pesquisador mexicano Luis Ruiz Noguez fez um levantamento dos testemunhos surgidos em seu país: dos 32 estados, havia relatos em 19, atacando humanos, vacas, novilhos, cães, gatos, porcos, galinhas e pombas. Até 17 de maio de 1996, contabilizou "692 novilhos, 168 galinhas, 104 cabras, 102 pombas, 36 néscios, 10 porcos, 8 vacas, 8 gatos, 8 coelhos e 2 cães. No total, 1.138 animais".

Algumas das características relatadas:
  • Altura: descreve-se um ser de 40 a 180 centímetros.
  • Cabeça: triangular, em forma de pêra, e redonda.
  • Face: uns disseram com face de canguru, outros viram um bico comprido e afiado, com o focinho curto mas pontiagudo, ou com uma tromba de 30 centímetros.
  • Presas: a maioria reportou duas, mas há alguns testemunhos de três presas, descritas como curtas, compridas, afiadas e tubulares.
  • Orelhas: há relatos com pequenas orelhas alargadas e dispostas para cima, e outros em que se diz que em lugar de orelhas havia duas fossas.
  • Olhos: alguns redondos. Outros rasgados com uma tonalidade alaranjada e avermelhada, mais de acordo com os cânones ufológicos.
  • Patas: em um caso, amostras de estuque mostram um ‘rastro que é parecido com o talão de um ser humano, mas com três dedos como garras de águia’ (sic). Em outro caso, viram patas curtas em forma de rã. As patas são pequenas, por isso caminha curvado, ou grandes, o que lhe permite dar grandes saltos.
  • Braços: extremidades superiores atrofiadas e pregadas ao torso, cuja constituição se semelha a uma membrana que se estende entre seus flancos, o que lhe daria a aparência de um morcego. Outros dizem que se parece com um morcego sem asas. Há outros que lhe viram umas aletas nas costas, quer dizer, os braços não formam parte da membrana alar.
  • Mãos: O que podiam ser as mãos foram qualificadas como pequenas garras.
  • Pele: coberta de pêlo curto, segundo uns, mas um disse ter visto uma “pessoa” com meio metro de estatura totalmente albina e nua. Outros dizem que o corpo está coberto por pêlo muito comprido.
  • Cor: albino, cinza ou negro. Também se disse que, como os camaleões, sua pele troca de cor em tonalidades que vão do negro e azul ao vermelho e violeta.
  • Voo: Emite um forte zumbido ao voar e seu vôo é grácil e veloz. O que se contrapõe com a declaração de uma testemunha "Sua forma de voar é muito torpe".
Como nos EUA, os casos seriamente estudados no México mostraram ação de predadores ou humana. Viu-se também animais mortos por golpes de picadores de gelo. AlguMas necrópsias nas cabras e novilhos concluíram pelo ataque de um animal feroz, possivelmente um jaguar ou puma. Em outro caso, em Chiapas, tratou-se do ataque de uma matilha de cães, como mostraram suas pegadas. Em nenhum caso estudado por veterinários verificou-se a freqüentemente alegada ausência de sangue.

O aumento de temperatura e a prolongação das secas sazonais causavam a migração de animais como pumas, cães, raposas, coiotes, etc., quem em busca de mantimentos atacam os animais de curral. Estimativa de 1973 indicava que o México perdia 2.500 cabeças de gado por mês por causa de predadores. Devido à difusão da lenda pela tevê, muitos desses ataques, em outros anos corretamente relacionados a animais selvagens, passavam a ser atribuídos ao chupa-cabras.

Exames de DNA.

O ponto de partida óbvio eram os corpos dos supostos chupa-cabras. Um total de uma dúzia de corpos foram encontrados, principalmente no Texas e em outros Estados do sudoeste dos EUA. Eram realmente horríveis: sem pelos, magros e com a pele com aparência queimada. Mas exames de DNA revelaram uma realidade muito mais mundana: os corpos eram invariavelmente de coiotes, cachorros ou guaxinins, com exceção de um, que na verdade tratava-se de um peixe.

Mas como esses animais foram confundidos com monstros extraterrestres? Segundo Radford, a razão era a perda do pelo por causa de sarna sarcóptica, provocada por ácaros, uma doença relativamente comum e capaz de deixar os animais com o aspecto monstruoso no qual se encontravam.

"Os cachorros sarnentos são quase carecas, com a pele muito grossa e num tom vermelho ou preto escuro", observa Alison Diesel, especialista em doenças de pele em animais na Universidade do Texas.

Se a esse aspecto são acrescidas feridas provocadas pela coceira, está formado o chupa-cabra.
  • E as vítimas?
Mas isso era só metade da história - ainda faltava resolver o mistério dos animais vítimas dos chupa-cabras. E a resposta, mais uma vez, foi surpreendentemente simples. Os animais encontrados eram provavelmente vítimas de predadores comuns, como cães ou coiotes. Não é incomum um cachorro selvagem morder um animal no pescoço e depois deixá-lo.

Muitas vezes, o bicho morre com hemorragias internas, sem outras marcas além da mordida.

As marcas no pescoço costumam ser relacionadas com vampiros, graças à lenda do Drácula, mas os animais que se alimentam efetivamente do sangue de outros não agem assim, como observa o pesquisador Bill Schutt, do Museu de História Natural de Nova York.
"As espécies que sugam o sangue o procuram perto da superfície da pele, o que não é o caso da veia jugular, por exemplo".
Os vampiros, segundo Schutt, são pequenos e furtivos, com dentes especializados e um sistema digestivo que lhes permite extrair nutrientes do sangue. Uma criatura do tamanho de um cachorro "morreria de fome rapidamente se alimentando de sangue", segundo ele, por causa da falta de nutrientes essenciais como a gordura.

Além da presença desses sinais de mordidas, Radford acredita que os rancheiros que encontraram os corpos dos animais atacados podiam atribuir a morte deles a um vampiro depois de examiná-los e cortá-los - e ver que o sangue não jorrava.
"Quando um animal morre, o coração para de bater e não há mais pressão sanguínea", explica. "O sangue se acumula na parte mais baixa do corpo e então coagula e se espessa. Isso se conhece como lividez, e dá a ilusão de que o sangue foi retirado do corpo."
Culpa do Anti-Americanismo.

Mas se toda a mitologia ao redor dos chupa-cabras cai rapidamente por terra diante da investigação científica, por que a lenda permanece viva até hoje?

Pode parecer estranho, mas Radford aponta para o forte sentimento antiamericano em toda a América Latina como parte dessa explicação. Isso é particularmente forte em Porto Rico, protetorado dos EUA.
"Falei com vários portorriquenhos, que sentiam que os Estados Unidos os havia explorado, enganado e ignorado, economicamente e de outras formas".
Muitos portorriquenhos acreditam que os chupa-cabras são outra indicação da exploração americana: seriam o resultado de experiências científicas ultrassecretas promovidas pelos Estados Unidos na floresta de El Yunque, não muito longe da cidade onde Madelyne Tolentino fez o primeiro relato sobre a criatura.

Outro fator é a internet. 
"Eu classifico o chupa-cabra como o primeiro monstro da internet", diz Radford. "Se o primeiro testemunho tivesse ocorrido em 1985, algumas pessoas poderiam ouvir falar sobre ele, mas a história não teria viralizado pelo mundo todo."
Filme 'A Experiência' teria inspirado visão do chupa-cabra, segundo Radford. Créditos: BBC
Radford observa que o mito mudou rapidamente.

"O chupa-cabra original tinha espinhos nas costas e olhos grandes. Mas ao longo dos anos o conceito da criatura foi se expandindo, até o ponto de hoje qualquer cachorro sarnento ser chamado de chupa-cabra", diz.

"Hoje as pessoas vão ao Google e procuram 'animal misterioso que ataca as coisas'. E o mito se autoperpetua."

E o que explica o primeiro avistamento, em 1995? Foi inventado?

A resposta de Radford é igualmente inesperada. Ele observa que a descrição feita por Madelyne Tolentino era semelhante à do alien do filme A Experiência (Species, no original em inglês), que havia sido recém-lançado em Porto Rico - ela tinha assistido.

A trama do filme envolvia experiências científicas ultrassecretas dos Estados Unidos e foi parcialmente filmada em Porto Rico.

"Está tudo ali. Ela vê o filme, depois vê algo que confunde com um monstro", diz Radford.

Ele afirma, porém, não acreditar que os relatos sobre o chupa-cabra eram mentira, mas simplesmente o fruto de imaginações extremamente férteis.

"Do meu ponto de vista, não há absolutamente nenhuma razão para acreditar que algo fora do comum esteja envolvido nos ataques ao gado", conclui Radford.

A história toda não passa de uma grande confusão envolvendo confusão científica, identificação errada de animais, exagero da mídia, ansiedade cultural e histeria coletiva. Tudo isso como resultado da impressão que um filme de ficção científica deixou sobre uma mulher em Porto Rico.

Mas as revelações de Radford mostram ainda que, mesmo que a análise rigorosa, todas as pesquisas e toda investigação científica demonstrem que o chupa-cabra não passa de um mito, as pessoas gostam de histórias fantásticas e continuarão a contá-las, por mais estranhas ou inverossímeis que pareçam.

Descrições.

As principais formas dadas aos chupa-cabras incluem as seguintes:
  1. Reptiliana: pele cinza ou verde, escamosa e con espinhos que correm pelo dorso, de 0,9 a 1,2 metro de altura, saltando como um canguru, com focinho similar ao de um cão ou pantera, língua bifurcada e presas compridas. Assobia quando alarmado e deixa um cheiro de enxofre.
  2. Mamífero: também tem postura e salto de canguru e pele grossa com pelo facial cinzento. Cabeça semelhante a um cão, dentes grandes. Alguns disseram tê-lo visto saltar mais de 50 metros em linha reta, sem uso de asas ou outro meio de sustentação no ar.
  3. Morcego: pelo negro, olhos vermelhos, cabeça ovalada, com asas de morcego. Às vezes se arrastam sobre quatro patas, outras se põem de pé como marmotas. Seriam muito rápidos, podem escalar e correm para longe quando são vistos.
  4. Canina: vista como uma raça estranha de cão selvagem sem pelo, com espinha e órbitas oculares muito pronunciadas e dente e garras típicas de caninos. Vários apresentados como chupa-cabras abatidos ou encontrados mortos e submetidos a análises anatômicas ou genéticas mostraram ser coites, raposas ou cães, alguns deles mestiçados ou de aparência atípica.
Crenças e Suposições.

Afirmações e suposições sobre os chupa-cabras divulgadas pela imprensa sensacionalista incluem:
  1. São os mesmos extraterrestres que tripulam os OVNIs.
  2. São extraterrestres que criaram o vírus da AIDS para destruir a raça humana e conquistar a Terra (Porto Rico).
  3. É um mascote de extraterrestres que, por esquecimento ou maldade, abandonaram-no na Terra.
  4. Trata-se do espírito do alienígena morto em Roswell, que está penando porque não lhe permitiram morrer em paz já que foi objeto de uma autópsia e seus restos se encontram congelados em um hangar da Base Aérea de Wright Patterson.
  5. Dois espécimes do Chupacabras teriam sido capturados vivos em Porto Rico nos dias 6 e 7 de novembro de 1995, um no povoado de São Lorenzo e o outro no Parque Nacional El Yunque e levados aos EUA por pessoal militar perfeitamente treinado.
  6. É o resultado de manipulações genéticas altamente sofisticadas, resultado de algum experimento científico maluco que escapou de um laboratório dos Estados Unidos.
  7. "Provavelmente é um pterodáctilo que retornou à vida por manipulações como as que vimos em Jurassic Park" (sic).
  8. É a metamorfose de um morcego que depois de ter se alimentado com águas poluídas, pelas diversas substâncias químicas que jogam nas drenagens, aumentou seu tamanho.
  9. É uma entidade demoníaca liberada na Terra como castigo dos pecados humanos.
  10. É um animal real e normal não classificado pela ciência, a ser estudado pela criptozoologia.
  11. É um animal mutante, aberração da natureza.
  12. É um animal que se esconde em cavernas subterrâneas.
  13. É um fóssil vivo, uma sobrevivência do Thrinaxodon, animal do tamanho de uma raposa (cerca de 50 cm de comprimento) que existiu no Triássico, entre 248 milhões e 245 milhões de anos atrás. Ou seja, um gênero de cinodontes, animais de transição entre répteis e mamíferos.
Na Cultura Pop.

Após o incidente em Cuero (Texas), a popularidade do mito do chupacabra recebeu atenção mundial. Phylis Canion, responsável por capturar o suposto espécime, afirmou ter enviado camisetas destacando o evento para lugares como Itália, Guam e Iraque. A publicidade que Cuero recebeu após este evento levou alguns a sugerir que o mascote da cidade fosse mudado. 

A lenda foi mencionada em várias séries:
  1. No quarto episódio da 16ª temporada da série South Park;
  2. No 21º episódio de As Aventuras de Jackie Chan;
  3. No 29º episódio do desenho animado O Laboratório de Dexter;
  4. No 238º episódio da série de animação japonesa Gintama;
  5. A partir do 17º episódio, é um dos vilões principais da série de heróis japoneses Goseiger;
  6. No filme da animação do Scooby-Doo e o Monstro do México, Nesta versão, é apresentado como um Bigfoot mexicano;
  7. Em Mutante Rex e Ben 10;
  8. No oitavo episódio da quarta temporada de Grimm: Contos de Terror.
  9. "The World Tour", capítulo 11 da quarta temporada de The X-Files, essa mitologia é a estrutura da história, mas as estranhas mortes ocorridas no episódio acabam tendo uma causa diferente.
  10. Na série de animação Phineas & Ferb;
  11. No quinto episódio da segunda temporada de The Walking Dead;
  12. No 18º episódio da sexta temporada de Bones;
  13. No quinto episódio da primeira temporada da série Black-ish;
  14. No 3º episódio da quinta temporada de The Grim Adventures of Billy and Mandy;
  15. Pelo menos um romance de mistério publicado considera aspectos do mito como o tema central do enredo. Outros tipos de livros incluem aqueles que oferecem uma explicação científica do fenômeno;
  16. O Chupa-cabra aparece no Chupacabra: Dark Seas, estrelado por John Rhys-Davies;
  17. O Chupa-cabra aparece em Guns of El Chupacabra, estrelado por Scott Shaw;
  18. Ed Lavandera, da CNN , descreveu os chupa-cabra como " Bigfoot da cultura Latino-americana " e disse que "os chupa-cabra também simboliza o medo de algo que não existe";
  19. banda de rock galesa Super Furry Animals inclui uma canção em seu álbum de 1997 do radiador chamado de "Chupacabras";
  20. Nesse mesmo ano, a banda de rap chilena Tiro de Gracia lançou uma canção chamada simplesmente " Chupacabras ", onde é comparada a super-heróis como Batman, Superman e Aquaman. O single foi incluído no mesmo ano no álbum Ser Humano!!;
  21. O grupo colombiano de merengues Los Bárbaros lançou uma canção em 1995 chamada "El Chupacabras";
  22. Em uma edição especial do Quarteto Fantástico da Marvel Comics , lançada em 28 de dezembro de 2008, um grupo de chupa-cabra é apresentado como antagonista; 
  23. O Chupa-cabra aparece no filme de animação mexicano " La Lenda do Chupacabras " que estreia no México em 21 de outubro de 2016, mas também nos Estados Unidos em 14 de outubro do mesmo ano;
  24. O Chupa-cabra aparece na série televisiva Ugly Americans;
  25. Também o extraterrestre "Stitch" do desenho animado Lilo & Stitch (2002) e suas seqüências parece ter sido inspirado no conceito popular e nas representações do chupa-cabra divulgadas pela cultura de massas, ainda que não receba esse nome e a história se passe em outro cenário (Havaí).
Fontes.                                                                                                                                            032 de 186







  • Luis Ruiz Noguez, "O Chupacabras ou o Frankenstein da mídia"
  • Robert Sheaffer, "The Incredible Bouncing Cow"
  • Investigators: Ayer, Wadsworth, "Case 32: Horse Death"
  • Marc Speir, "Chupacabra? Texas State testing DNA of strange Cuero creature"
  • Jayme Blaschke, "Texas State researchers solve mystery of Cuero chupacabra"
  • Clyde Lewis, "Chupacabra muerte!"

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