quarta-feira, 1 de abril de 2020

A Peste Negra.

Surto da Peste negra na Europa. Créditos Wikipédia
Semana passada, especificamente no dia 27 de março de 2020, o Papa Francisco, 266º da Igreja Católica, concedeu às 18h (horário da Itália, 14h no horário de Brasília) a bênção extraordinária de "Urbi et Orbi", normalmente concedida apenas no Natal e na Páscoa. No evento, o crucifixo que foi exposto durante a peste negra voltou à Praça São Pedro.

É a segunda vez na história em que o objeto religioso está exposto. O crucifixo é do século 16 e pertence à Igreja de San Marcello al Corso, de Roma. A primeira aparição pública da cruz se deu ente 1521-1522, durante a peste negra na Itália. A bênção especial Urbi et Orbi (para a cidade e o mundo) é uma exceção e reforça a gravidade da situação global, principalmente na Itália , um dos países mais atingidos pelo surto do novo coronavírus.

Durante a cerimônia, foi recitado o trecho do evangelho em que Jesus acalma o mar enquanto ele e seus discípulos estavam em um barco. O papa pediu para que os católicos, em momento de quaresma, mantenham o recolhimento espiritual, que rezem pelos infectados e pelo fim da pandemia.

Para algo de quase 500 anos atrás voltar a luz do mundo é por que realmente essa pandemia não e uma gripezinha que um atleta pode suportar.

Peste negra (ou Morte negra) é o nome pela qual ficou conhecida uma das mais devastadoras pandemias na história humana, resultando na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia. Somente no continente europeu, estima-se que tenha vitimado pelo menos um-terço da população em geral, sendo o auge da peste acontecendo entre os anos de 1346 e 1353. A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida ao ser humano através das pulgas (Xenopsylla cheopis) dos ratos-pretos (Rattus rattus) ou outros roedores.

Acredita-se que a peste tenha surgido nas planícies áridas da Ásia Central (ou Conhecida atualmente como China) e foi se espalhando principalmente pela rota da seda, alcançando a Crimeia em 1343. No total, a praga pode ter reduzido a população mundial de em torno de 450 milhões de pessoas para 350–375 milhões em meados de século XIV. A população humana não retornou aos níveis pré-peste até o século XVII. A peste negra continuou a aparecer de forma intermitente e em pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo do século XIX.

As populações de alguns roedores das pradarias viviam em altíssimos números em enormes conjuntos de galerias subterrâneas que comunicavam umas com as outras. O número de indivíduos nestas comunidades permitia à peste estabelecer-se porque, com o constante nascimento de crias, havendo sempre suficiente número de novos hóspedes de forma contínua para a sua manutenção endémica. Naturalmente que as populações de ratos e de humanos nas (pequenas) cidades medievais nunca tiveram a massa crítica contínua de indivíduos susceptíveis para se manterem. Nessas comunidades de homens, a peste infectava todos os indivíduos susceptíveis até só restarem os mortos e os imunes. Só após uma nova geração não imune surgir e se tornar a maioria, a peste regressou nas comunidades humanas, portanto, a peste atacava em ondas de epidemias.

A peste negra gerou vários impactos e consequências religiosas, sociais e econômicas, afetando drasticamente o curso da história europeia.

Infecção Inicial.

A Peste. Créditos: Wikipédia.
A condição inicial para o estabelecimento da peste foi a invasão da Europa pelo rato preto indiano Rattus rattus (hoje raro). O rato preto não trouxe a peste para a Europa, mas os seus hábitos mais domesticados e mais próximos das pessoas criaram condições para a rápida transmissão da doença. A sua substituição pelo Rattus norvegicus, cinzento e muito mais tímido, foi certamente importante no declínio das epidemias de peste na Europa a partir do século XVIII.

A peste foi quase certamente disseminada pelos mongóis, que criaram um império na estepe no final do século XIII. Gêngis Khan com as suas hordas de nômades mongóis conquistou toda a estepe da Eurásia setentrional, da Ucrânia até à Manchúria. Teriam sido os mongóis que, após a sua conquista da China, foram infectados na região a sul dos Himalaias pela peste, já que essa região alberga um dos mais antigos reservatórios de roedores infectados endemicamente.

Os guerreiros mongóis teriam infectado as populações de roedores das planícies da Eurásia, da Manchúria à Ucrânia, cujos reservatórios de roedores infectados endemicamente existem hoje. Os ratos pretos das cidades e do campo da Europa ocidental não são suficientemente numerosos ou aglomerados em grandes comunidades para serem afetados endemicamente, e terão sido afetados pela epidemia do mesmo modo que as pessoas, morrendo em grandes quantidades até acabarem os indivíduos suscetíveis, ocorrendo nova epidemia quando surgia uma nova geração. Logo terão sido apenas os mediadores da infecção entre por um lado os mongóis e os roedores infectados da sua estepe, e os europeus.

Deste modo explica-se que, ao contrário de qualquer época precedente, a peste tenha surgido em quase todas as gerações na Europa após o século XIV: estava estabelecido um reservatório da infecção logo às suas portas, na Ucrânia (onde de fato foram as epidemias mais frequentes, até à última que aí se limitou). Também é por esta razão explicado o fato da peste ter atingido simultaneamente a Europa, a China e o Médio Oriente, já que as caravanas da Rota da Seda facilmente comunicaram a doença a estas regiões limítrofes da estepe.

A Peste na Europa.


Progressão anual da peste negra na Europa no século XIV. A cor verde indica zonas pouco atingidas. Créditos: Wikipédia.
A peste responsável pela epidemia do século XIV surgiu durante o cerco à colônia genovesa de Caffa, na Crimeia pelos mongóis do Horda Dourada comandados pelos eu cã Jani Beg. Após dois anos de cerco, surgiu uma epidemia de peste entre os sitiantes, que os obrigou a retirar, mas antes disso catapultaram cadáveres infectados para o interior das muralhas. Na cidade morreram tantos habitantes que tiveram de ser queimados em piras, já que não havia mão de obra suficiente para enterrá-los. Vários navios genoveses fugiram da peste, chegando a diversos portos europeus com os porões cheios dos cadáveres dos marinheiros. A transmissão teria sido feita pelos ratos pretos de Caffa, que transmitiram as suas pulgas infectadas aos ratos destas cidades. Assim se explica que apesar de algumas cidades terem recusado os navios, tenham sido infectadas igualmente, já que os ratos escapavam pelas cordas da atracagem.

A primeira cidade infectada pelos navios genoveses foi Constantinopla, em maio de 1347. Seguiu-se Messina, no fim de setembro, Génova e Marselha em novembro. A epidemia chega a Pisa em 1 de janeiro de 1348 e nesse mesmo mês atinge Spalato (Split), Sebenico (Šibenik) e Ragusa (Dubrovnik), de onde passa para Veneza, onde chega em 25 de janeiro. Em menos de um ano todas as costas mediterrânicas estavam infectadas.

Assim descreve Bocaccio os sintomas:
"Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais".
Uma das maiores dificuldades era dar sepultura aos mortos:
"Para dar sepultura à grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra sagrada junto às igrejas; por isso passaram-se a edificar igrejas nos cemitérios; punham-se nessas igrejas, às centenas, os cadáveres que iam chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios".
Médico da Peste com fato e máscara "protetora" antipeste,
este modelo é muitas vezes associado à época do surto
da peste negra, mas na realidade só foi inventado
em 1619, por Charles de Lorme. Créditos: Wikipédia.
Em Avinhão, na França, vivia Guy de Chauliac, o mais famoso cirurgião dessa época, médico do papa Clemente VI, sobreviveu à peste e deixou o seguinte relato:
“A grande mortandade teve início em Avinhão em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias; decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo". E continua: Não se sabia qual a causa desta grande mortandade. Em alguns lugares pensava-se que os judeus haviam envenenado o mundo e por isso os mataram.”
No meio de tanto desespero e irracionalidade, houve alguns episódios edificantes. Muitos médicos se dispuseram a atender os pestilentos com risco da própria vida. Adotavam para isso roupas e máscaras especiais. Alguns dentre eles evitavam aproximar-se dos enfermos. Prescreviam à distância e lancetavam os bubões com facas de até 1,80 m de comprimento.

Da península Itálica, espalhou-se através da Europa, atingindo a Grã-Bretanha e Portugal em 1348 e, na Escandinávia, em 1350. Algumas zonas foram inexplicavelmente poupadas, como Milão e a Polônia.
  • Portugal.
Em Portugal, a peste entrou no outono de 1348. Matou entre um terço e metade da população, segundo as estimativas mais credíveis, levando a nação ao caos. Foram inclusivamente convocadas as Cortes em 1352 para restaurar a ordem.

Um dos efeitos indiretos da peste em Portugal seria a revolução após o reinado de D. Fernando (Crise de 1383-1385). Este interregno, mais que uma guerra civil pela escolha do novo rei, terá antes sido a luta da nova classe de pequena nobreza e burguesia que subira a escada social aproveitando as oportunidades após os desequilíbrios sociais provocados pela peste, contra o "antigo regime" desacreditado, a enfraquecida e esclerótica alta nobreza que presidira à catástrofe e cujos titulares, nascidos e criados nos anos da doença, não terão adquirido as capacidades necessárias à governação eficaz. De facto esta elite da alta nobreza, clero e Casa Real, terá respondido à substancial perda de rendimentos e aumento de custos de mão de obra devido à peste com maior autoritarismo e tirania. Assim se explica a tendência desta frágil alta nobreza de se aliar com a sua também atacada congénere castelhana.

Flagelantes: movimento religioso místico que surgiu como reação à peste. Créditos: Wikipédia
A peste, que nunca antes existira na Península Ibérica, voltou a Portugal várias vezes até ao fim do século XVII, ou seja sempre que nasciam um número suficientes de novos hóspedes não imunes. Nenhuma foi nem remotamente tão devastadora como a primeira, mas a Grande Peste de Lisboa em 1569 ceifou 600 pessoas por dia, ao todo 60.000 habitantes da cidade sucumbiram perante a Morte Negra. A última grande epidemia foi em 1650. No entanto, no seguimento da terceira pandemia, a peste foi importada para o Porto em 1899 do Oriente (provavelmente de Macau onde grassou desde 1895 até ao fim do século). A epidemia do Porto foi estudada por Ricardo Jorge, que instituiu as medidas de Saúde Pública necessárias, e que a conseguiram limitar.

Recorrência.

A doença voltou a cada geração à Europa até ao início do século XVIII. Cada epidemia matava os indivíduos susceptíveis, deixando os restantes imunes. Só quando uma nova geração não imune crescia é que havia novamente suficiente número de pessoas vulneráveis para a infecção se propagar. No entanto nenhuma destas epidemias foi tão mortal como a primeira, devido às modificações de comportamento e à eliminação dos genes (como alguns do MHC) que davam especial susceptibilidade aos seus portadores. Epidemias notáveis foram a Peste Espanhola de 1596-1602, que matou quase um milhão de espanhóis, a Peste italiana de 1629-1631, a Grande Praga de Londres de 1664-1665 e a Grande Peste de Viena em 1679.

A peste londrina foi a última naquela cidade. O Grande Incêndio de Londres logo no ano seguinte, em 1666 queimou completamente as casas de madeira e telhados de colmo comuns até então, e novos materiais como a pedra, os tijolos e as telhas foram usados na construção de novas casas, contribuindo para afastar os ratos das habitações. O mesmo processo, aliado a melhores condições de higiene e à substituição do rato preto pelo rato cinzento (Rattus norvegicus, que evita as pessoas), e à resistência genética crescente das populações, contribuíram para o declínio contínuo das epidemias de peste na Europa.

Judeus queimados vivos Crônica de Nuremberg, 1493.
Créditos Wikipédia.
Inclusive, na época não havia uma explicação para algo tão terrível que estava acontecendo no continente. A população do século 8 trazia teorias estranhas para explicar os acontecimentos sangrentos: alinhamento dos planetas que espalhavam as bactérias no ar, mendigos, ciganos, envenenamentos da água feito pelos judeus, eram algumas das justificativas colocadas para tentar entender o que se passava.
A Europa viveu um clima de pânico, pois parecia que aquele cenário de caos não teria fim. A teoria mais popular de como a peste bubônica terminou, foi a partir do momento que foi implementada melhorias na higiene e nas medidas públicas de saúde.

A primeira providência tomada foi a implementação das quarentenas. A população sadia passou a ficar dentro de suas casas, só saindo quando fosse extremamente necessário, enquanto os mais abastados e podiam bancar saiam das áreas mais povoadas e viviam em isolamento.

Com os europeus reclusos, outra coisa que auxiliou no quadro de propagação dessa mazela foram as melhorias dos hábitos de higiene pessoal e, ao invés de enterrarem os corpos, eles passaram a cremar os falecidos, entrando em menos contato ainda com a Yersina pestis.

Por último, mas não menos importante, na Idade média, as cidadelas não possuíam sistema de saneamento, eram muito sujam e isso ajudava a proliferação. Além das ruas, a água também era contaminada por dejetos humanos infectados.

A partir do momento que os municípios passaram a ser limpos corretamente e o saneamento e tratamento das águas foram implementados, foi a última e mais forte medida para que a enfermidade fosse extinta.

Levou mais de 200 anos até que a Europa conseguisse restabelecer seus habitantes para o número anterior a peste. Mas não foi a perda da civilização que ocorreu nesse período, a nação também perdeu muito em termos de trabalho, arte, cultura e economia.

A Peste na China.

As primeiras descrições da peste na China relataram os casos ocorridos em 1334 na província de Hubei (Quase 700 anos separa a Peste do Corona nesta província), aparentemente casos limitados. Entre 1353 e 1354, com a China sob domínio dos mongóis, uma epidemia muito mais extensa ocorreu, nas províncias de Hubei, Jiangxi, Shanxi, Hunan, Guangdong (Cantão), Guangxi e Henan. Os autores da época estimaram, talvez exageradamente, que de um terço a dois terços da população da China teria sucumbido, em algumas regiões mais de 90% da população.

A Peste no Médio Oriente.

A doença entrou na região pelo sul da estepe, atual Rússia, em 1347, as tropas regressavam a Bagdade após campanha militar na estepe do Azerbeijão. No final de 1348 já está no Egito, Palestina e Antioquia, espalhando a morte. Meca foi infectada em 1349, sendo a doença trazida pelos peregrinos durante o Haje, e depois o Iémen em 1351. Morreu cerca de um quarto da população da época.

A partir de Veneza e Gênova, a bactéria Yersinia pestis, causadora da peste bubônica, se espalhou até atingir a Sicília, onde chegou em meados do segundo semestre de 1347, para, em seguida, alcançar Túnis, em abril de 1348. A velocidade de transmissão resultou da substancial relação comercial que as duas cidades mantinham – paradoxalmente, a mesma rota por onde muitas ideias se espalharam pela Europa e Norte da África serviu, nesse caso, para praticamente destruir ambas regiões. Em pouquíssimo tempo, cidades onde hoje ficam Argélia e Marrocos estavam tomadas pela epidemia. Em Túnis, provavelmente a maior cidade do norte da África naquele momento, a peste chegou a matar cerca de mil pessoas por dia. Em pouquíssimo tempo, praticamente todo o mundo islâmico havia sido tomado pela epidemia. As estimativas do número total de mortos variam entre um terço da população geral e até 50% dos habitantes das grandes cidades muçulmanas. A praga, que em 1349 atingiu o Egito, chegou praticamente ao mesmo tempo em outras regiões como Toscana, Provença, Bordeaux, Paris e Londres. O número de mortos na Europa, África e Ásia era algo que não tinha precedentes. Esse ciclo de horror e pestilência bubônica devastou cidades inteiras. O ímpeto dessa onda epidêmica só diminuiria anos mais tarde, “em 1352 nas estepes da Rússia central”. A magna pestilencia, como os textos latinos se referiam ao flagelo, foi economicamente destrutiva para praticamente todo norte da África em razão do “declínio da população rural e seu gado”, da drástica redução na “produção agrícola” e dos “recursos arrecadados pelo governo com impostos”. A situação era tão inaudita que no Cairo, a produção agrícola do período entre 1348 e 1349 foi isenta de taxação para não desaparecer, já que a cidade chegou a perder 7.000 habitantes diariamente para a praga.

A Terceira Epidemia.

A terceira epidemia ocorreu no século XIX, mas a sua disseminação foi efetivamente travada pelos esforços das equipes sanitárias.

Iniciou-se provavelmente na estepe da Manchúria, onde as marmotas infectadas foram caçadas em grandes números pelos imigrantes chineses que as vendiam aos ocidentais para produzir casacos. A partir de 1855 espalhou-se por toda a China, ameaçando os europeus de Hong-Kong em 1894, o que levou ao envio de equipes de médicos e bacteriologistas para a região. No entanto foi impossível evitar a sua disseminação por navios para portos em todo o mundo, incluindo na Europa e Califórnia. Fora nesta altura que os roedores selvagens das pradarias americanas e do Brasil foram infectados.

Esta pandemia matou 12 milhões de pessoas na China e Índia.

Causos Estranhos Durante a Peste Negra (naquela época).
  • Nada de tomar banho.
Pode não fazer nenhum sentido hoje, agora que já sabemos que a Peste Negra tem origem bacteriana. Mas, é preciso considerar que na Idade Média as noções de higiene eram outras. Isso porque a população acreditava que a doença era transmitida através do ar — algo que constava na antiga, e hoje inutilizada, teoria miasmática. Na época, os médicos acreditavam que se você entrasse em contato com um miasma (um odor transmissor da doença), você poderia ser infectado.

Dai que vem a famosa associação. Peste Negra e o clássico Médico da Peste com sobretudo preto e a inconfundível máscara de pássaro. Outra curiosidade, tal traje não surgiu quando a Peste devastou a Europa em 1353, e sim 300 anos depois.

No século 17, os médicos que cuidavam das vítimas se vestiam de maneira sinistra que os protegia da cabeça aos pés. Além disso, eles usavam máscaras que tinham a aparência de um longo bico de pássaro. Naquela época, não se sabia a causa da utilização dessas máscaras de peste, o que criou um enigma sobre a própria natureza da doença.

Durante os surtos ocorridos naquele período, as cidades europeias decidiram contratar diversos especialistas para cuidar da população. Tanto os pobres, como os ricos recebiam o mesmo tratamento. Na tentativa de erradicar o surto, os especialistas prescreviam misturas protetoras e antídotos da peste e também faziam autópsias, usando sempre a máscara de bico.

Acredita-se que o traje tenha sido usado primeiramente pelo médico Charles de Lorme, que manteve contato com muitos membros da realeza que estavam infectados, inclusive o rei Luís XIII. A roupa que ele usava era caracterizada por um casaco, calças presas a uma bota e luvas de couro. Os especialistas também portavam uma vara que lhes permitia a possibilidade de afastar as vítimas.

Além disso, o equipamento usado na cabeça também chamava a atenção. Eles utilizavam óculos e uma máscara com dois orifícios para as narinas, sendo o suficiente para respirar. Embora esses casos fossem presentes em toda a Europa, o visual icônico ganhou mais destaque na Itália, local onde, mais tarde, a figura de médico da peste se tornou uma fantasia para as comemorações do teatro Commedia Dell’arte e do carnaval.

Mas a importância do conjunto não era destinada a sua utilização em celebrações, e sim a proteger os médicos do miasma, já que causa da peste negra foi associada a qualquer matéria orgânica em decomposição e aos odores que exalavam. Naquela época, os médicos acreditavam que a praga havia se espalhado por meio de um ar envenenado que, mais tarde, criava um desequilíbrio nos fluidos corporais das pessoas.

Eles também concordavam com a teoria de que perfumes fortes e doces seriam capazes de fazer com que as áreas afetadas fossem dedetizadas e que, dessa forma, fariam o odor sumir. Entre os aromas mais utilizados, estava o incenso e o nosegays, que é um perfume de rosas.

Ilustração dos primeiros médicos que lidaram com a doença Crédito: Aventuras na História.
Os profissionais utilizavam suas máscaras com Theriac, um composto com mais de 50 ervas que também continha pó de carne de víbora, mirra, mel e canela. Para os estudiosos, De Lorme pensou que a forma do bico da máscara proporcionaria tempo suficiente para o ar ser absorvido pelo composto protetor antes de atingir as narinas e, posteriormente, os pulmões.

Um dos modos de ficar doente seria o banho, pois ele abriria os poros da pele para o ar contaminado. Então, através dessa lógica, uma boa camada de podridão, sujeira e poeira na pele era visto como algo excelente.

Nem trocar de roupa era aconselhável, então as pessoas tinham que se virar com o uso de perfumes artesanais para não ficarem fedendo. Claro: aquelas medidas só pioraram as coisas, pois a falta de higiene era ótimo para os germes se espalharem, além de que atraía os roedores cujas pulgas estavam ligadas à peste.

Enquanto a causa ainda era um mistério, a peste se espalhou ao redor do mundo, o que gerou três pandemias terríveis, a Praga de Justiniano, que matou cerca de 10 mil pessoas por dia, em 561 d.C, a peste negra, que matou mais de um terço dos europeus entre 1334 e 1372 e a Terceira Pandemia, que devastou grande parte da Ásia entre 1894 e 1959.
  • Médicos usavam urina e estrume como remédios.
Muitas lendas estavam ligadas à Peste Negra e os profissionais da saúde e curandeiros se viam perdidos, tentando investigar de onde vinha aquele mal. Alguns deles até acreditavam que cheiros ruins podiam afugentar a praga.

Logo, muitos tratamentos consistiam em envolver o indivíduo em urina e em fezes de animais. Enquanto que a água podia abrir os poros, dizia a lenda que tomar banho com um copo ou dois de urina poderia proteger alguém da peste. O desespero certamente fazia as pessoas tentarem de tudo.

Neste tempo de Coronavírus, tal pratica foi ressuscitada. Um grupo de homens de Hiriyur, na Índia, viralizou nas redes sociais no começo do mês, lá quando a OMS CLASSIFICOU O VÍRUS COMO UMA PANDEMIA ao publicar um vídeo em que o banho de fezes de vaca é tratado como forma de evitar o contágio do novo coronavírus. Três homens e uma criança são vistos em uma tina de excrementos, defendendo que o mergulho no cocô da vaca os tornará imunes ao covid-19.

"Todo o mundo está apavorado com a epidemia do vírus letal", diz um dos homens, em hindu, segundo tradução feita pelo jornal New York Post. "Se todos começarmos a tomar banho de excremento, vamos conseguir imunidade contra o vírus", continua. Ainda, o homem defende que os banhos sejam tomados uma vez por mês.

Como a vaca é considerada um animal sagrado na Índia, suas fezes, urina e leite são utilizadas com frequência em rituais de purificação.
  • Foi difícil o acúmulo de corpos, mas a morte mudou o modelo de servidão.
Um surto de Peste Negra que afetou Londres na era medieval, de 1348 a 1350, dificultou o enterro de tantos corpos. Eles simplesmente não cabiam nos cemitérios disponíveis na cidade. Segundo o livro History Of London, de 1756, de William Maitland, o Bispo de Londres teve que comprar uma propriedade conhecida como "a terra de nenhum homem", especialmente para enterrar as vítimas. Mas, logo o novo terreno lotou. Um dono de terras teve então que comprar uma outra propriedade de pouco mais que 50 mil metros quadrados para enterrar ainda mais vítimas.
AA doença chegou a matar 85% da população em Londres. Créditos: Getty Images/Aventuras na História.
A situação foi bem feia, mas em seu livro In The Wake Of Plague, o autor Norman Cantor diz que, por outro lado, a Peste Negra melhorou a vida dos plebeus no século 15, pois os proprietários de terras mais empreendedores ficaram mais dispostos a atender as demandas dos serviçais."Devido à menor taxa de nascimentos, os plebeus podiam pedir mais salários e depois uma eliminação das restrições e tarefas da servidão", afirmou o escritor.
  • Orgias Entre os Mortos.
Neste tempo de Coronavírus, ficou foda fazer uma foda. Espanha e Itália proibiram qualquer ato sexual não normal durante o período de quarentena.

O prefeito da cidade italiana de Bugliano, Fabio Buggiani, tomou uma medida um tanto diferente para conter o avanço da epidemia do novo coronavírus: o político proibiu a prática de orgias e “gang bang” (neste post aqui) em todo o território municipal. As informações são do DOL. Além disso, Fabio Buggiani vetou qualquer tipo de atividade sexual que envolva mais de duas pessoas. A multa para quem burlar a proibição é de € 875 – cerca de R$ 4,6 mil. Não se sabe como será feita a fiscalização.

Na Itália, o 1° país mais afetado pelo coronavírus, ficando atrás apenas da China, já são até o dia de hoje (01/04), 12.428 mortes por coronavírus foram registradas na Itália e 105.792 pessoas já foram infectadas

Em Barcelona, Segundo o jornal catalão Mundo Deportivo, Polícia prendeu oito pessoas que participariam da orgia. Segundo a notícia uma das pessoas envolvidas na orgia se arrependeu de última hora e avisou aos policiais. O motivo oficial para a reunião de pessoas era a apresentação de um novo site, que seria seguido pela orgia. A festinha ainda não havia começado quando os policiais chegaram ao local. As oito pessoas envolvidas que estavam no local foram presas, acusadas de crime contra a saúde pública. Os agentes da Mossos d'Esquadra também encontraram drogas em grande quantidade em um dos quartos da casa.

Com ao menos 9.053 mortes, a Espanha é o 2° país no mundo que mais teve vítimas nesta pandemia de coronavírus. O governo espanhol informou também que, em 24 horas, detectou mais de 7,7 mil contágios da doença em seu território.

Na Europa durante a Peste Negra a coisa era um pouco mais hardcore. A Peste Negra era considerada um castigo de Deus, que teria origem não apenas nos miasmas, mas também no mundo espiritual. As crenças também que a tragédia estaria sendo causada por bruxaria foi vitalizada. Houve pânico.

Acreditando que o fim do mundo estava próximo, algumas pessoas jogaram tudo para o ar e investiram em atitudes pecaminosas — entre elas bacanais e orgias. O objetivo era investir e celebrar a vida antes que ela acabasse.

Mas a vida carnal muitas vezes trombava com a morte e as duas se misturavam. Orgias ocorriam em cemitérios, como nas lápides do Champfeur, em Avignon, na França. Por lá, as atividades sexuais grupais se estabeleceram e continuaram até o fim do século 14, forçando a Igreja a proibir a prática.

Hoje.

Atualmente, a versão da doença está erradicada. Contudo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, de 2010 a 2015, foram registrados 3.248 casos da maleza pelo mundo, com 584 mortes. Com os tratamentos da medicina atual, é muito mais fácil de controlar e tratar os enfermos.

Podendo ser encontrada em todos os continentes, com exceção da Oceania. O risco de contágio ainda existe, apesar de ser pequeno. Os lugares de maior concentração de casos são na África, Ásia e América do Sul, sendo que desde a década de 1990, a maioria das ocorrências é na República Democrática do Congo e no Peru.

Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_negra

https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2020-03-27/papa-francisco-da-bencao-com-crucifixo-da-epoca-da-peste-negra.html

https://www.historiadomundo.com.br/idade-media/peste-negra.htm

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-peste-negra-como-uma-das-maiores-pragas-do-mundo-chegou-ao-fim.phtml

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-4-fatos-bizarros-sobre-peste-negra-que-assolou-a-europa-na-idade-media.phtml

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/por-que-os-medicos-que-lutavam-contra-peste-bubonica-usavam-mascaras-de-bico-de-passaro.phtml

https://180graus.com/noticias/prefeito-proibe-orgias-sexuais-para-tentar-conter-pandemia-do-coronavirus

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/03/21/policia-prende-oito-pessoas-que-participariam-de-orgia-em-barcelona.htm

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/03/31/eua-ultrapassam-a-china-em-numeros-de-mortos-pelo-coronavirus.ghtml

https://exame.abril.com.br/mundo/italia-registra-837-mortes-por-coronavirus-e-novos-casos-estabilizam/

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/01/espanha-tem-novo-pico-de-mortes-por-coronavirus-em-um-dia-foram-864-nas-ultimas-24-horas.ghtml

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/11/grupo-de-indianos-busca-cura-para-coronavirus-em-banho-de-fezes-de-vaca.htm

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/11/grupo-de-indianos-busca-cura-para-coronavirus-em-banho-de-fezes-de-vaca.htm

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