quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A Macabra Unidade 731.

Complexo da Unidade 731, Harbin. Créditos: Wikipédia.
2° Guerra Mundial. Sim todas as Histórias e Estórias envolvendo esse conflito mundial são vistas sob diferentes óticas quando analisadas. Algo que são analisados são os chamados Crimes de Guerra. De uma maneira geral, um ato é definido como um crime de guerra a partir do momento em que uma das partes em conflito ataca voluntariamente objetivos (tanto humanos como materiais) não militares. Um objetivo não militar compreende civis, prisioneiros de guerra e feridos.

E na 2° Guerra houve diversos Crimes de Guerra, tanto do lado Aliado (Hiroshima e Nagasaki), quanto do Eixo (O Holocausto). Um crime de guerra é uma violação do direito internacional ocorrida em guerras, principalmente com violação dos direitos humanos. Os crimes de guerra são definidos por acordos internacionais, incluindo as Convenções de Genebra e, de maneira particular, o Estatuto de Roma (no artigo 8), gerindo as competências da Corte Penal Internacional (CPI).

A Convenção de Genebra (1949) instituiu uma lista de crimes de guerra - atos cometidos durante conflitos militares que são condenáveis e proibidos. Alguns dos atos considerados crimes de guerra são: utilizar gás venenoso, lançar ataques propositalmente contra civis, privar prisioneiros de guerra de um julgamento justo, torturar prisioneiros de guerra e pegar reféns entre a população civil.
Ok por que estou relembrando a história da 2° Grande Guerra? Gosto de História. A 2° Grande Guerra exerce um fascínio em mim.

A 2° Guerra tem um Plot principal, Hitler contra França e Inglaterra, contudo e mais que uma treta entre 3 países. Ela possui outros plots, plots secundários por assim dizer, plots estes que geralmente sempre ficam em segundo plano nas aulas, principalmente já que esses plots secundários são igualmente macabros que o Principal. Um professor ou outro trás esses enredos a luz mostrando o por que da 2° Grande Guerra ser conhecida assim.

E uma coisa vai puxando a outra, também gosto de ler Mangás, e recentemente o mangá, My Hero Academia se viu recentemente envolvido em uma complicada polêmica. My Hero Academia, ou Naruto de cabelo verde da década de 2010, não é um dos mangás que acompanho assiduamente, contudo puxou o gancho para esse post que estava adormecido.

No mais recente capítulo (259) , foi revelado o nome do Dr. Ujiko, na verdade se chama “Maruta Shiga“. O problema é que “Maruta” é uma referência direta a um dos piores crimes de guerra já cometidos pelo Japão.

“Maruta” faz referência à macabra Unidade 731, que utilizava humanos em bizarros experimentos durante a Segunda Guerra Mundial. O programa recebeu o codinome de maruta (toras de madeira) pois os membros da Unidade de referiam às vítimas de forma jocosa, perguntando “quantas toras foram derrubadas?”. Entre as pessoas selecionadas para os experimentos estavam criminosos comuns, guerrilheiros anti-japoneses, prisioneiros políticos e pessoas capturadas por “atividades suspeitas”.

Isso gerou um tremendo problema para a obra no Japão, fazendo com que tanto a editora Sueisha quanto o autor Kohei Horikoshi precisassem vir a público se desculpar e prometer alterar o nome do personagem. Porém, parece que já era tarde, pois a China teve uma reação bem radical em meio a toda a controvérsia.

A Bilbili, um dos maiores serviços de streaming do país, retirou todas as temporadas de My Hero Academia de seu catálogo. O mangá também foi banido pela Tencent, maior portal de internet da China. Isso também influenciou o novo game mobile de My Hero Academia, que foi encerrado temporariamente, pois seus desenvolvedores são chineses.

A Macabra Unidade 731.

Vimos que um capítulo fez, contundo o que é a Unidade 731? E o por que da China ter ficado bolada com um Capítulo, a ponto de coloca-lo em seu Index Librorum Prohibitorum.

Unidade 731 (731部隊 Nana-san-ichi Butai) foi uma unidade secreta de pesquisa e desenvolvimento de guerra biológica e química do Exército Imperial Japonês que realizou experimentação humana letal durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), parte da Segunda Guerra Mundial. Foi responsável por alguns dos crimes de guerra mais notórios realizados pelo Império do Japão, não e a toa que e chamada de a Auschwitz Asiática. A Unidade 731 ficava no distrito de Pingfang de Harbin, a maior cidade do Estado fantoche japonês da Manchúria (agora no nordeste da China).

Foi oficialmente conhecido como o Departamento de Prevenção de Epidemia e Purificação de Água do Exército de Guangdong (関東軍防疫給水部本部 Kantōgun Bōeki Kyūsuibu Honbu). Originalmente criada sob a polícia militar Kempeitai do Império Japonês, a Unidade 731 foi comandada até o fim da guerra pelo general Shiro Ishii, um oficial do Exército de Guangdong. A própria instalação foi construída entre 1934 e 1939 e adotou oficialmente o nome "Unidade 731" em 1941.

Alguns historiadores estimam que até 250.000 homens, mulheres e crianças - dos quais ao menos 600 todos os anos foram fornecidos pelos Kempeitai - foram submetidos à experimentos realizados pela Unidade 731 apenas no prédio de Pingfang, que não inclui vítimas de outros locais de experiências médicas, como a Unidade 100.

Os participantes da Unidade 731 atestam que a maioria das vítimas que foram usadas como cobaias eram chinesas, enquanto uma pequena porcentagem eram de prisioneiros de guerra soviéticos, mongóis, coreanos e aliados. Quase 70% das pessoas que morreram no campo de Pingfang eram chinesas, incluindo civis e militares. Cerca de 30% das vítimas eram soviéticas. Alguns outros eram nativos do Sudeste Asiático e de ilhas do Pacífico, na época colônias do Império do Japão e um pequeno número de prisioneiros de guerra aliados. A Unidade recebeu apoio generoso do governo japonês até o final da guerra em 1945.
  • Experimentos.
O prisioneiro acordou quando a anestesia começou a perder seu efeito. Amarrado á mesa de operação, ele percebeu horrorizado que seu abdômen estava aberto, um médico removia seus intestinos. Tomado pela dor o prisioneiro gritava, enquanto os vários médicos se revezavam examinando e dissecando vários órgãos. Em dado momento seu braço foi amputado. Ele viu tudo, sentiu tudo por mais de uma hora, até morrer.

A Unidade 731 fazia testes de todos os tipos, as vivissecções e amputações eram feitas para determinar o efeito de perda de sangue em batalha. Outro grupo estudava o efeito de armamentos em corpos humanos. Vivos, claro. Prisioneiros eram amarrados a estacas e bombas detonadas próximos a eles. Também eram usados como alvos de granadas e como testes do efeito de lança-chamas em soldados inimigos.

Doenças sexualmente transmissíveis eram um problema sério entre os soldados japoneses, então os cientistas japoneses infectavam prisioneiros com sífilis e outras doenças, e os dissecavam, vivos, após cada fase da doença. (não os mesmos prisioneiros, claro).

Para testar se essas doenças eram transmissíveis de mãe para filho eles contaminavam prisioneiros, os forçavam a fazer sexo e depois que a mulher engravidava, era dissecada para estudar se a doença passou para a criança. Isso era feito em várias fases da gravidez e depois do parto. Partos aliás costumavam acontecer, todos fruto de experimentos ou estupro. Os recém-nascidos eram usados em experimentos.

Um relato conta que para determinar se instinto materno se mantém mesmo em condições extremas, colocaram uma prisioneira russa com seu bebê em uma câmara de gás e observaram sua reação quando começaram a encher a câmara de veneno.

Outros experimentos japoneses incluíam uma centrífuga onde um prisioneiro era girado até a morte, câmaras onde a temperatura era aumentada até determinarem o máximo que um humano poderia suportar, e bombardeio com raios-x em doses letais.

Também pesquisaram bastante sobre efeitos da hipotermia, deixando prisioneiros nus no inverno congelante da Manchúria, submergindo membros dos prisioneiros até congelamento total, que era determinado batendo com um pedaço de madeira no membro congelado, e há o relato da mulher que tentou puxar os braços congelados presos e toda a carne se desprendeu, ficando apenas os ossos.

Cena do Filme, Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana (Men Behind the Sun)

Como complemento dos experimentos de hipotermia, depois que a gangrena se desenvolvia os pacientes eram observados para determinar quanto tempo alguém conseguia viver com parte do corpo apodrecendo.
Algumas atrocidades foram gratuitas, uma mera sessão de treinamento onde novos médicos aprendiam as técnicas que deveriam usar nos experimentos. Outros casos tinham uma motivação, como as salas repletas de pulgas contaminadas onde os prisioneiros eram jogados, e acabavam contaminados.

Havia uma câmara de pressão para testar os efeitos de mergulhos profundos, era comum os olhos dos prisioneiros saltarem das órbitas. Para descobrir se água do mar poderia ser usada no lugar de soro fisiológico, aplicavam injeções nos pacientes. Também testaram o efeito de injetar urina e sangue animal nas veias dos prisioneiros. Para determinar o tempo necessário para uma embolia acontecer, ar era injetado em outros prisioneiros. Para sobrecarregar o sistema renal, urina era injetada nos rins.

Um relato em uma exposição recente no Japão descreve como os médicos enfiaram uma agulha no dedo médio de um bebê de 3 dias, para monitorar mais facilmente a temperatura dele.

O Japão experimentou com Antraz, peste negra, febre tifóide e outras doenças. Com o que aprenderam fizeram um ataque biológico contra Changde, China, onde pulgas carregando peste negra mataram 580 mil pessoas.

Entre as mais de 12.000 vítimas da Unidade 731, a grande maioria era de chineses, mas não eram soldados, essencialmente eram civis capturados, com a desculpa de serem “bandidos” ou “comunistas”. O resto dos prisioneiros eram coreanos, russos, mongóis e até alguns ocidentais mas isso nunca foi confirmado.

O mais assustador é que a Unidade 731 não era algo excepcional. O Dr. Ken Yuasa relata que era comum em hospitais e clínicas japonesas na China ocupada pedirem à polícia “um comunista” pra praticar. Ele conta de uma vez onde dois prisioneiros foram levados ao hospital, anestesiados e uma equipe de acadêmicos os usou para praticar cirurgias de apendicite, amputações e traqueostomia. Depois de 90 minutos a aula acabou, os dois forma mortos com uma injeção.

Quando os soviéticos avançaram e a derrota parecia inevitável, Tóquio mandou dinamitar a Unidade 731 para ocultar as provas do que haviam feito, mas com 2,3km quadrados e um monte de prédios, sobrou muita coisa pra contar a história.
  • A Paperclip Japonesa.
A maior atrocidade de todas incrivelmente ainda estava pra ocorrer. Com o fim da guerra e quase todos os registros destruídos, todas as informações sobre as pesquisas existiam apenas na mente dos médicos e cientistas da Unidade 731. Os Estados Unidos, interessados no conhecimento adquirido em armas biológicas ofereceu total imunidade aos prisioneiros japoneses.

Eles aceitaram, repassaram boa parte do que aprenderam matando e torturando 12 mil pessoas e saíram livres. Nenhum, absolutamente nenhum dos carniceiros capturados pelos americanos foi preso, como aconteceu com pesquisadores nazistas na Operação Paperclip. Em 6 de maio de 1947, Douglas MacArthur, como Comandante Supremo das Forças Aliadas, escreveu a Washington, DC afirmando que "dados adicionais, possivelmente algumas declarações de Ishii, provavelmente podem ser obtidos informando os japoneses envolvidos de que a informação será mantida nos canais de inteligência e não será empregada como "provas de crimes de guerra". Outros que foram presos pelas forças soviéticas foram julgados nos julgamentos de crimes de guerra de Khabarovsk, em 1949. Os relatos de vítimas, buscando por justiça foram, em grande parte, ignorados ou desacreditados no Ocidente como propaganda comunista.

De acordo com a imunidade secretamente concedida aos integrantes da Unidade 731, por parte dos Estados Unidos, estes puderam exercer livremente suas atividades durante o período de Ocupaçaõ Americana do Japão. Um destes “cientistas” foi Masami Kitaoka, ex integrante da Unidade 1644, que continuou seus experimentos, entre 1947 e 1956, no National Institute of Health Sciences (Instituto Nacional de Ciências da Saúde). Seus experimentos consistiam na infecção de prisioneiros com ‘rickettsia’ e na infecção de doentes mentais com tifo.

No entanto, no início da década de 1950, após o final da Ocupação Americana do Japão, tiveram início as discussões a respeito das atividades da Unidade 731. No ano de 1952, um experimento realizado no Hospital Pediátrico Municipal de Nagoia, resultou na morte de uma criança e a morte foi publicamente ligada a ex integrantes da Unidade 731. Anos mais tarde, a mídia especulou que assassinatos atribuídos oficialmente pelo governo, a Sadamichi Hirasawa, foram na verdade cometidos por membros da 731. Já no ano de 1958, o autor Shusaku Endo, publicou um livro intitulado “The Sea and Poison” (O mar e Veneno), sobre experimentos  com seres humanos, que acredita-se ser baseado em fatos reais.

No ano de 1981, o autor japonês Morimura Seiichi, publicou um livro intitulado “A Gula do Demônio”, seguido pelo livro “A Gula do Demônio: As Sequelas”, de 1983, que pretendiam revelar as “verdadeiras” operações da Unidade 731, mas que na verdade se tratavam de operações da Unidade 100, além de utilizar fotos não catalogadas de vivissecção, atribuídas à Unidade  731, o que levantou sérias dúvidas quanto à confiabilidade dos fatos apresentados.

Foi também no ano de 1981 que foi surgiu a primeira declaração de que foi praticada a vivissecção em seres humanos na China, através das declarações de Ken Yuasa. No ano de 2001, foi exibido o documentário japonês “Demônios Japoneses”, que contém as entrevistas com 14 ex-integrantes da Unidade 731, todos condenado à prisão na China e libertados após cumprirem suas penas. Ken Yuasa, que também dá seu testemunho, foi condenado inicialmente à morte por crimes de guerra, mas posteriormente a pena foi alterada, segundo as autoridades chinesas, após o prisioneiro ser submetido a um extenso programa de “re-educação”, que incluía testemunhar publicamente sobre as atrocidades cometidas pelas forças de japonesas.

Desde o final da Ocupação Americana do Japão, o governo japonês têm feito repetidamente, pedidos de desculpas por conta das atitudes de suas forças no período pré-guerra, de um modo geral, no entanto, pedidos de desculpas por ações específicas, só são realizados após consensos bilaterais sobre a ocorrência de crimes de guerra, que requerem evidências amplamente documentadas. Um destes casos foi a compensação paga à Coréia do Sul, por conta dos crimes relacionados ao emprego das chamadas “Mulheres de Conforto ou Mulheres de Alívio” (emprego de mulheres locais, como escravas sexuais de oficiais), ocorrido em 1965.

Já no caso da Unidade 731, a situação é muito mais complexa. Diferente do ocorrido na Alemanha nazista, que mantinha extensa documentação e catalogação de todas as atividades, mesmo as que envolviam experimentos com seres humanos, as atividades da Unidade 731 não estão “devidamente” documentadas, sendo levadas ao conhecimento público por testemunhos de ex-integrantes, que em diversos dos casos, não tinham envolvimento direto com as ações  declaradas e que desta forma, não podem ser utilizados para determinar as ações impetradas realmente.

Livros de história japoneses, normalmente contém alguma referência à Unidade 731, mas sem entrar em maiores detalhes sobre as alegações de crimes de guerra. Todavia o historiador japonês Saburo Ienaga, publicou em meados da década de 1960, um livro intitulado “Nova História do Japão”, que incluía detalhada descrição, baseada em testemunhos de ex-oficiais, a respeito das ações da Unidade 731 (o livro também trazia informações a respeito do Massagre de Nanjing). Na época, o Ministério da Educação ordenou que estas informações fossem removidas, alegando que somente testemunhos eram insuficientes para provar que estas ações de fato ocorreram, e sendo este um livro utilizado em escolas públicas, seria errado transmitir tais fatos como verdadeiros. Ienaga desde então, ingressou  na justiça japonesa, com diversas  ações contra o Ministério da Educação, exigindo compensações pela violação do seu direito de livre expressão, por danos morais e danos materiais. Ao longo dos anos, Ienaga não obteve sucesso, até que finalmente em 1997, a Suprema Corte do Japão, considerou que os testemunhos eram suficientes para o reconhecimento das ações, e que a remoção das menções violava o direto de livre expressão, dando ganho de causa a Ienaga.

Neste mesmo ano, o advogado Kōnen Tsuchiya moveu com uma ação conjunta, contra o Governo Japonês, exigindo compensações pelas ações  praticadas pela Unidade 731, utilizando evidências fornecidas pelo historiador Prof. Makoto Ueda, da Universidade Rikkyo. Todas as instâncias judiciais consideraram que faltava embasamento legal para dar continuidade à ação. A alegação foi que mesmo havendo evidências de que houve de fato, experimentos com seres humanos, as reparações deveriam ser determinadas através de tratados internacionais, e não por uma corte local.

Debate no Japão.

Carro de som de um grupo de extrema-direita japonesa
(uyoku dantai), num protesto próximo ao Santuário Yasukuni, no
aniversário de 2006 da rendição incondicional do Japão
(15 de agosto). Créditos: Wikipédia.
Há uma percepção arraigada fora do Japão, de que existe relutância no país em discutir tais eventos e/ou admitir que houve crimes de guerra. Contudo, os eventos controvertidos da era imperial japonesa são debatidos abertamente na mídia, com vários partidos políticos e grupos ideológicos assumindo posições bastante diferentes. O que diferencia o Japão da Alemanha e Áustria, é que no Japão não há restrição à liberdade de expressão relativa a este assunto, enquanto que na Alemanha, Áustria e vários outros países europeus, o revisionismo do Holocausto é considerado uma ofensa criminal.

Até a década de 1970, tais debates eram considerados temas periféricos na mídia. Na mídia japonesa, as opiniões políticas de centro e de esquerda costumam dominar os editoriais dos jornais, enquanto a direita costuma dominar as revistas. Os debates a respeito de crimes de guerra estavam majoritariamente confinados aos editoriais de tabloides onde apelos pela derrubada da "América imperialista" e a revivida veneração ao imperador coexistiam com pornografia. Em 1972, para comemorar a normalização das relações com a China, o Asahi Shimbun, um importante jornal liberal, publicou uma série sobre crimes de guerra japoneses na China, incluindo o Massacre de Nanquim. Isto abriu as comportas para debates que continuam desde então. A década de 1990 é geralmente considerada como o período no qual tais assuntos tornaram-se verdadeiramente predominantes, e incidentes tais como o Massacre de Nanquim, Santuário Yasukuni, mulheres de conforto, a precisão histórica dos livros escolares japoneses e a validade do Julgamento de Tóquio foram debatidos, mesmo na televisão.

Como o consenso dos juristas japoneses é que as forças imperiais tecnicamente não cometeram violações da lei internacional, muitos uyoku dantai no Japão tomaram isso na acepção de que os julgamentos de crimes de guerra foram exemplos da justiça dos vencedores. Eles encaram os condenados por crimes de guerra como Showa Junnansha (ou Mártires do Showa), sendo "Showa" o nome dado ao reinado de Hirohito. Esta interpretação é vigorosamente contestada por grupos pacifistas e pela esquerda política japonesa. No passado, estes grupos costumavam argumentar que os tribunais possuíam alguma validade, fosse pela Convenção de Genebra (mesmo considerando-se que o Japão não a assinou), ou sob um conceito vago de direito ou consenso internacional. Alternativamente, eles têm argumentado que, embora estes julgamentos possam não ter sido tecnicamente válidos, ainda assim são justos, algo que está em consonância com a opinião popular no Ocidente e no resto da Ásia.

No início do século XXI, o interesse revivido pelo passado imperial do Japão trouxe à baila novas interpretações de grupos rotulados como "nova direita" e "nova esquerda". Tais grupos salientam que muitos atos cometidos pelas forças japonesas, incluindo o Incidente de Nanquim (eles geralmente não usam a palavra "massacre"), foram violações do código militar japonês. Foi sugerido que se tribunais de crimes de guerra houvessem sido conduzidos pelo governo japonês do pós-guerra, em estrita conformidade com as leis militares japonesas, muitos daqueles que foram acusados ainda assim teriam sido condenados e executados. Logo, do ponto de vista moral e legal houve falhas dos militares e do governo japonês, ao não executarem seu papel constitucionalmente definido.

A nova direita/esquerda também assume o ponto de vista de que os Aliados não cometeram crimes de guerra contra o Japão, porque o Japão não era signatário da Convenção de Genebra, e, como vencedores, os Aliados tinham todos os direitos de exigir algum tipo de reparação, com a qual o Japão concordou em vários tratados.

Todavia, sob a mesma lógica, a nova direita/esquerda considera que o assassinato de chineses suspeitos de atividades de guerrilha foi perfeitamente legal e válido, inclusive aqueles que foram mortos em Nanquim, por exemplo. Eles também assumem o ponto de vista que muitas baixas entre civis chineses foram a resultante de táticas de terra queimada dos chineses nacionalistas. Embora tais táticas sejam discutivelmente legais, a nova direita/esquerda assume a posição de que algumas das mortes de civis acarretadas por esta tática são erroneamente atribuídas aos militares japoneses. De forma semelhante, assumem a posição de que aqueles que tentaram processar o governo japonês em busca de indenizações não tinham qualquer caso legal e/ou moral para apresentar.

A nova direita/esquerda também encara de forma menos simpática as colocações coreanas de que também teria sido vítima, porque antes da anexação pelo Japão, a Coreia era tributária da Dinastia Qing e, de acordo com eles, a colonização japonesa, embora indubitavelmente dura, foi melhor do que o domínio anterior em termos de direitos humanos e desenvolvimento econômico.

Também argumentam que o Kantogun (também conhecido como "Exército de Kwantung") foi ao menos parcialmente responsável pelas atrocidades. Embora o Kantogun fosse na época nominalmente subordinado ao alto comando japonês, sua liderança demonstrava significativa auto-determinação, conforme demonstrado na trama do assassinato de Zhang Zuolin em 1928, e no Incidente de Mukden de 1931, o qual levou à fundação do estado fantoche de Manchukuo em 1932. Além disso, nesta época, era política oficial do alto comando japonês confinar o conflito à Manchúria. Mas, num desafio ao alto comando, o Kantogun achou conveniente invadir a China, sob o pretexto do Incidente da Ponte Marco Polo. Todavia, o governo japonês não somente falhou em levar os oficiais responsáveis por estes incidentes à corte marcial, mas também aceitou a guerra contra a China, e muitos dos que estavam envolvidos foram promovidos (bem como alguns dos oficiais envolvidos no Massacre de Nanquim).

Se Hirohito foi ou não responsável por tais malogros é um ponto de atrito entre a nova direita e a nova esquerda. Oficialmente, a constituição imperial, adotada sob o imperador Meiji, concedia plenos poderes ao imperador. O artigo 4 determinava que "o Imperador é o cabeça do Império, combinando em Sua pessoa os direitos de soberania, e os exercita, de acordo com as cláusulas da presente Constituição" e o artigo 11 prescrevia que "o Imperador possui o comando supremo do Exército e Marinha".

Para o historiador Akira Fujiwara, a tese de que o imperador não possuía autoridade para reverter decisões do gabinete é um mito (shinwa) fabricado no pós-guerra. Outros argumentam que Hirohito deliberadamente modelou sua gestão ao modo da monarquia constitucional britânica, e que sempre aceitava as decisões e consensos atingidos pelo alto comando. De acordo com esta posição, o fracasso moral e político repousa primariamente nos membros do Alto Comando Japonês e do Gabinete, a maior parte dos quais foram posteriormente condenados no Tribunal dos Crimes de Guerra de Tóquio como criminosos de guerra classe-A, ficando à parte todos os membros da família imperial, tais como os príncipes Chichibu, Asaka, Takeda e Higashikuni.
  • Reinterpretações Controvertidas Fora do Japão.
Alguns ativistas fora do Japão também apresentaram reinterpretações controvertidas do imperialismo japonês. Por exemplo, os pontos de vista de Ji Man-Won, ex-oficial direitista da Coreia do Sul, têm causado controvérsia na Coreia e além. Ji tem elogiado o Japão por "modernizar" a Coreia, e declarou sobre as mulheres forçadas a tornarem-se escravas sexuais: "a maioria das velhas que afirmam ser ex-mulheres de conforto, ou escravas sexuais dos militares japoneses durante a II Guerra Mundial, são fraudes". No sudeste asiático, tais opiniões são amplamente consideradas como ofensivas, difamatórias das mulheres envolvidas e representando revisionismo histórico, semelhante ao daqueles que negam o Holocausto na Europa.
  • Investigações Posteriores.
Fantasmas da guerra: Nam Koo Terrace, um palacete
em Hong Kong construído em 1918 e abandonado há
décadas, do qual diz-se ser frequentado por fantasmas
de "mulheres de conforto", mortas ali pelos
japoneses. Créditos: Wikipédia.
Da mesma forma que nas investigações de criminosos de guerra nazistas, investigações oficiais e inquéritos ainda estão em andamento. Durante os anos 1990, o governo da Coreia do Sul iniciou investigações de alguns indivíduos que alegadamente enriqueceram colaborando com os militares japoneses. Na Coreia do Sul, também alega-se que na vigência do clima político da Guerra Fria, muitos de tais indivíduos e/ou seus associados ou parentes tornaram-se capazes de obter influência com a riqueza adquirida em colaboração com os japoneses e auxiliaram na cobertura, ou na não investigação de crimes de guerra, a fim de não incriminarem a si mesmos.

Órgãos não-governamentais e particulares também realizaram suas próprias investigações. Por exemplo, em 2005, um jornalista independente sul-coreano, Jung Soo-woong, localizou no Japão alguns descendentes de pessoas envolvidas no assassinato em 1895 da imperatriz Myeongseong (rainha Min), a última imperatriz da Coreia. O assassinato foi obra da Sociedade do Oceano Escuro, talvez sob os auspícios do governo japonês, por causa do envolvimento da imperatriz nas tentativas de reduzir a influência japonesa na Coreia. Jung registrou os pedidos de desculpas dos entrevistados.

Visto que estas investigações continuam, mais evidências são descobertas todos os dias. Tem sido declarado que o governo japonês destruiu intencionalmente os registros sobre mulheres de conforto coreanas. Alguns têm citado registros de inventário japoneses e relações de empregados no campo de batalha como evidência desta firmação. Por exemplo, um dos nomes na lista era o de uma mulher de conforto que declarou ter sido forçada à prostituição pelos japoneses. Ela foi classificada como enfermeira juntamente com pelo menos uma dúzia de outras mulheres de conforto comprovadas, que não eram nem enfermeiras nem secretárias. Atualmente, o governo da Coreia do Sul está investigando centenas de outros nomes nestas listas.

Informação sensível a respeito da ocupação japonesa da Coreia é frequentemente difícil de obter. Muitos argumentam que isto se deve ao fato do governo do Japão ter enveredado por caminhos escusos para encobrir muitos incidentes que de outra forma levariam a sérias críticas internacionais. Por seu lado, os coreanos frequentemente tem expresso sua repulsa pela experimentação com seres humanos levada a cabo pelo Exército Imperial Japonês, onde pessoas com frequência tornavam-se cobaias em experimentos macabros com nitrogênio líquido ou programas de desenvolvimento de armas biológicas. Embora alguns testemunhos vívidos e perturbadores tenham sobrevivido, eles são amplamente negados pelo governo japonês até a presente data.

Desculpas Oficiais.

O governo japonês considera que as posições legal e moral pertinentes a crimes de guerra são distintas. Assim, embora sustentando que o Japão não violou leis ou tratados internacionais, os governos japoneses do pós-guerra reconheceram o sofrimento causado pelas forças militares imperiais e neste sentido, emitiram vários pedidos de desculpas. Por exemplo, o primeiro-ministro Tomiichi Murayama, em agosto de 1995, declarou que o Japão "através de seu domínio colonial e agressão, causou enormes danos e sofrimento às pessoas de muitos países, particularmente aquelas das nações asiáticas", e expressou seus "sentimentos de profundo remorso" e expressou suas "sinceras desculpas". Também, em 29 de setembro de 1972, o primeiro-ministro japonês Kakuei Tanaka declarou: "o lado japonês está intensamente consciente da responsabilidade pelos graves danos que o Japão causou no passado aos chineses através da guerra, e se auto-repreende profundamente."

Todavia, as desculpas oficiais são amplamente encaradas como inadequadas ou somente uma troca simbólica por muitos dos sobreviventes de tais crimes e/ou pelas famílias de vítimas mortas. Em outubro de 2006, enquanto o primeiro-ministro Shinzo Abe expressava suas desculpas pelos danos causados no período imperialista, mais de 80 legisladores japoneses do partido do governo visitavam o Santuário Yasukuni. Muitas pessoas prejudicadas por crimes de guerra das forças imperiais também sustentam que não foram expressas quaisquer desculpas por atos particulares e/ou que o governo japonês meramente expressou "arrependimento" ou "remorso". Em 2 de março de 2007, a questão foi novamente levantada por Abe, tendo ele negado que os militares houvessem forçado mulheres a se tornarem escravas sexuais durante a 2° Guerra Mundial. Segundo declarou, "o fato é que não há evidência para provar que houve coação". Antes do seu pronunciamento, um grupo de legisladores do Partido Liberal Democrata também tentaram revisar as desculpas dadas por Yohei Kono em 1993 às ex-"mulheres de conforto". Contudo, isto provocou reações negativas na Ásia e em países ocidentais.

Algumas pessoas no Japão afirmam que o que está sendo exigido é que o primeiro-ministro japonês e/ou o imperador façam dogeza, gesto no qual o indivíduo se põe de joelhos e curva a cabeça até o chão — uma forma elevada de pedir desculpas nas sociedades da Ásia Oriental e que o Japão não parece muito disposto a fazer. Alguns apontam para um gesto do chanceler da Alemanha Willy Brandt, o qual ajoelhou-se no monumento às vítimas judaicas do Gueto de Varsóvia, em 1970, como um exemplo de um gesto poderoso e eficaz de desculpas e reconciliação semelhante à dogeza, embora nem todos concordem com isso.

Citando o gesto de Brandt como um exemplo, John Borneman, professor adjunto de antropologia em Cornell, declara que, "um pedido de desculpas representa uma troca não-material ou puramente simbólica pela qual o transgressor voluntariamente rebaixa seu próprio status como pessoa". Borneman mais adiante declara que uma vez que tal tipo de desculpas é dado, a parte ofendida deve perdoar e buscar reconciliação, ou senão as desculpas não terão qualquer efeito. A parte ofendida pode rejeitar as desculpas por uma série de razões, uma das quais é evitar a reconciliação, porque, "ao manter a memória da ferida aberta, a recusa impede uma afirmação da mútua humanidade ao instrumentalizar o poder embutido no status de ser uma vítima permanente."

Consequentemente, alguns argumentam que a relutância de uma nação em aceitar os gestos conciliatórios que o Japão já fez, pode dever-se ao fato de não acharem que o Japão "se curvou" o bastante para assegurar desculpas sinceras. Por outro lado, alguns acreditam que uma nação em particular pode escolher rejeitar a reconciliação em busca de um status de "vítima" permanente, como forma de assegurar seu poder sobre o Japão.


No ano de 2003, o Primeiro-Ministro do Japão, respondendo a uma solicitação da Câmara dos Representantes do Japão, declarou que o Governo Japonês não possui qualquer documentação relacionada com a Unidade 731, mas que reconhece a gravidade do assunto e que quaisquer documentos que fossem descobertos futuramente, seriam tornados públicos.

O Homem Por Trás do Sol.

Men Behind the Sun (em chinês : 太阳 太阳 731 / 黑 太陽 731 ; pinyin : hēi tài yáng 731 , que significa literalmente Black Sun: 731 , também chamado às vezes Man Behind the Sun, em português recebeu o nome de Campo 731: Bactérias – A Maldade Humana) é um filme de Terror/Drama Histórico de Hong Kong, dirigido por Tun Fei Mou, na verdade pseudônimo de Godfrey Ho no ano de 1988.

Longa-metragem polêmico nasceu do esforço da China em mostrar para o mundo as atrocidades cometidas pelos japoneses contra o seu povo, durante a Segunda Guerra Mundial. O longa é uma dramatização das torturas sofridas por prisioneiros na Unidade 731, responsável pelo programa nipônico de guerra bacteriológica, que utilizou seres humanos em experiências macabras.

Apesar da precariedade da produção, Campo 731 (ou Men Behind The Sun) é uma obra extremamente perturbadora e é preciso ter estômago forte para suportar algumas cenas bem pesadas, que pasmem, foram realizadas COM A UTILIZAÇÃO DE CADÁVERES HUMANOS DE VERDADE!! Quase um Filme Snuff, quase pois não entra nesta categoria.

A China e Hong Kong quiseram fazer o filme para mostrar o que o exército Japonês fez durante a 2ª Guerra Mundial. Diz a lenda que ambos deu carta branca para o diretor retratar com fidelidade e realidade, mesmo que chocante, o que acontecia na Unidade 731. Inclusive o governo Chinês cedeu cadáveres humanos reais para cenas com mortos. Acredito que tenham usados animais de verdade, como o a infame cena que o demente médico Shirô Ishi joga um gato vivo em dezenas de ratos famintos, que o devoram em minutos.

Este é o primeiro filme a ser classificado como "III" (equivalente à classificação norte - americana NC-17) em Hong Kong.


Embora Mou afirme que ele estava tentando representar precisão histórica com o filme, ele foi criticado por a aparência do filme como um filme de terror negando qualquer valor educacional.

Por causa de seu conteúdo gráfico, o filme sofreu polêmica em massa com censores em todo o mundo. Foi originalmente proibido na Austrália e causou protestos públicos no Japão a tal ponto que o diretor Mou até recebeu ameaças de sua vida. O filme recebeu vários minutos de cortes obrigatórios para permitir uma liberação no Reino Unido.

O filme gerou mais controvérsia por usar o que Mou afirma ser uma filmagem de autópsia de um garoto e também por uma cena em que um gato vivo parece ser jogado em uma sala para ser comido vivo por centenas de ratos frenéticos. Embora no documentário de 2010 Black Sunshine: Conversas com T.F Mou, Mou tenha declarado que o gato estava cansado após a participação no filme e recebeu dois peixes como recompensa, que o gato foi molhado com mel e que o os ratos lambiam e comiam apenas o mel.

Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Unidade_731

https://ovicio.com.br/apos-polemica-my-hero-academia-e-banido-na-china/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crime_de_guerra

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crimes_de_guerra_do_Jap%C3%A3o_Imperial

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Men_Behind_the_Sun

https://contraditorium.com/2018/02/27/nao-leia-este-texto-se-quer-continuar-achando-japao-fofinho-bonzinho-injustamente-atacado-na-2a-guerra/

http://publicadosbrasil.blogspot.com/2015/04/o-japao-e-sua-macabra-unidade-731.html

http://www.assombrado.com.br/2013/05/campo-731-bacterias-maldade-humana.html

https://china-underground.com/2012/10/17/35-rare-images-of-the-infamous-japanese-experiment-unit-731-in-china/

https://www.ranker.com/list/japanese-unit-731-experiments/christopher-myers

http://www.nytimes.com/1999/03/07/weekinreview/world-revisiting-world-war-ii-atrocities-comparing-unspeakable-unthinkable.html

https://www.nytimes.com/1995/03/17/world/unmasking-horror-a-special-report-japan-confronting-gruesome-war-atrocity.html?pagewanted=all&src=pm

https://books.google.com.br/books?id=2Ls4AAAAIAAJ&q=unit+731&dq=unit+731&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjN0OWkqMbZAhWJyVMKHTPbD3QQ6AEIMDAB

https://books.google.com.br/books?id=yCZ6yr-J3dIC&pg=PR19&dq=unit+731&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjsps_FqMbZAhWR7lMKHe-cBiQ4ChDoAQhMMAU#v=onepage&q=unit%20731&f=false

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