sábado, 6 de abril de 2019

Enciclopédia dos Mitos e Lendas do Brasil: O Cabeça de Cuia.

Cabeça de Cuia é uma lenda da região nordeste do Brasil, mais precisamente criada no estado do Piauí.

A lenda do Cabeça de Cuia trata-se da história de Crispim, um jovem pescador que morava nas margens do rio Parnaíba. e de família muito pobre.

Em uma das épocas de poucos peixes no rio devido às suas cheias, Crispim e sua mãe sofriam com a fome.

Conta a lenda que certo dia, Crispim saiu cedo para pescar, porém naquele dia nada conseguiu do rio. Sua mãe se compadecendo com a situação, foi pedir à vizinha algo para que pudesse fazer o almoço de seu filho. Porém a única coisa que lhe foi oferecido foi um osso de boi, assim, a mãe de Crispim fez uma sopa rala, sem carne, com o osso apenas para dar gosto à água, que vinha misturada com farinha em forma de pirão.

Nesse dia, ao voltar cansado e frustrado da pescaria Crispim pediu à mãe o que comer e ao se deparar com a sopa de ossos, se revoltou, e no meio da discussão com sua mãe, atirou o osso contra ela, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer sua mãe lhe amaldiçoou a ser um monstro, que ficaria vagando entre os rios, 6 meses no Parnaíba e 6 meses no Poty dia e noite e só se libertaria da maldição após devorar sete Marias virgens. Tomado pela culpa de ter matado sua mãe, Crispim, desesperado, põe-se a correr. Enquanto corre, sua cabeça começa a crescer, ao passo que seus cabelos se transformam em lodo. Por onde passa as pessoas caçoam daquela cabeça imensa, chamando-o “cabeça de cuia”, dando início à lenda, e Crispim, sem encontrar remédio para sua sorte, lança-se nas águas do rio, onde teria se afogado.

Porém, seu corpo nunca foi encontrado e, até hoje, as pessoas mais antigas proíbem suas filhas virgens de nome Maria de lavarem roupa ou se banharem nas épocas de cheia do rio. Alguns moradores da região afirmam que o Cabeça de Cuia, além de procurar as virgens, assassina os banhistas do rio e tenta virar embarcações que passam por ali. Outros também asseguram que Crispim ou, o Cabeça de Cuia, procura as mulheres por achar que elas, na verdade, são sua mãe, que veio ao rio Parnaíba para lhe perdoar. Mas, ao se aproximar, e se deparar com outra mulher, ele se irrita novamente e acaba por matá-la. O Cabeça de Cuia, até hoje, não conseguiu devorar nem uma virgem de nome Maria.

A Prefeitura de Teresina instituiu, em 2003, o Dia do Cabeça de Cuia, a ser comemorado na última sexta-feira do mês de abril.

Créditos: Ilustração de Arnaldo Alburquerque (2007)
    Ainda no século XVIII, quando Oeiras ainda era a capital do Piauí, já havia na região próxima ao encontro dos rios Poty e Parnaíba uma povoação com considerável população e comércio ativo. A localização privilegiada (por ali passavam obrigatoriamente as pessoas que se deslocavam da capital ao litoral do Estado) e, em pouco tempo, a localidade viu sua população se multiplicar, transformando-se num dos mais importantes centros comerciais da região do Parnaíba, a tal ponto que, em 1832, a povoação é elevada à qualidade de Vila, passando a se chamar de Vila do Poti. Com a chegada do Conselheiro Saraiva, chegou-se a cogitar a construção da nova capital naquele local, ideia que só foi abandonada em razão das constantes cheias no local, o que causava enchentes e epidemias de doenças. Assim, o governador Saraiva, convencendo parte da população da Vila do Poti a acompanhá-lo, resolve fixar-se em local próximo conhecido como Chapada do Corisco, que mais tarde ficaria conhecido como Vila Nova do Poti, enquanto a antiga Vila passa a ser chamada de Vila Velha do Poti. Teresina, a nova capital, seria fundada em 1852, passando a ter esse nome em homenagem à imperatriz Teresa Cristina. O local da primeira povoação, a Vila Velha do Poti, seria, agora, um bairro da nova capital.

    Antes mesmo da construção da nova capital, no local que hoje é o bairro Poty Velho (quando ali sequer havia uma vila, mas tão somente uma povoação que se erguera no local da antiga morada dos índios Poti), é que morava Crispim, filho de Josias. Crispim não tinha irmãos e seu pai morrera quando ele era ainda muito pequeno, de modo que o rapaz, ainda muito cedo, teve de aprender o ofício de pescador, com o fim de ajudar a sua mãe no sustento do lar.

    Quando Crispim já contava com uns 18 anos, sua mãe já estava velha e cheia de problemas de saúde. A essa altura, a povoação já havia sido elevada à condição de Vila. Moravam em uma casinha muito pobre, onde tudo faltava. O jovem não conseguia arrumar nenhum trabalho e vivia exclusivamente da pesca. Não eram poucos os dias em que passavam fome, o que vinha se repetindo com muita frequência naqueles dias devido às recentes cheias que elevavam o nível das águas do rio e deixavam a água dos rios barrenta, o que dificultava a pescaria, pois os peixes não enxergavam a isca. Crispim, vivia preocupado e aborrecido com referida situação e tinha por costume afogar as mágoas entre um gole e outro de aguardente. Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas, sempre é possível conseguir um pouco de cachaça. As pessoas nunca ajudam com alimento, mas pra oferecer bebida sempre há quem o faça. A bebida, contudo, não ajuda a resolver os problemas. Quando chegava em casa, já embriagado e sem ter comido o dia inteiro Crispim, não raras vezes discutia com sua velha mãe, e, na maioria das ocasiões, terminava por agredi-la. Xingava, socava o ar e esbravejava. Logo com ela, coitada, que vivia preocupada com o futuro do filho diante da situação miserável que enfrentavam, e tentava tudo ao seu alcance para agradá-lo, o que quase nunca conseguia até mesmo porque nada tinha.

    Certo dia, Crispim saiu cedo para pescar. Contudo, não conseguiu pescar nada o dia inteiro. O rio não estava pra peixe. Chegando em casa, furioso, pediu o que comer. Tudo o que sua mãe tinha preparado na vã tentativa de agradar ao filho quando chegasse era uma sopa à base de um osso de boi, sem carne, para dar gosto à água, que vinha misturada com farinha em forma de pirão. Em um acesso de fúria e revolta, o rapaz pega o tal osso e, com ele, agride a velha mãe, atingindo-a fatalmente na cabeça.

    A velha, então, morre, deixando um desesperado Crispim que, enfim, havia percebido o pecado que cometera. Tomado pela culpa, Crispim, desesperado, põe-se a correr. Enquanto corre, sua cabeça começa a crescer, ao passo que seus cabelos se transformam em lodo. Por onde passa as pessoas caçoam daquela cabeça imensa, chamando-o “cabeça de cuia”, dando início à lenda, e Crispim, sem encontrar remédio para sua sorte, lança-se nas águas do rio. A velha, coitada, tão pobre e sem nenhum familiar que pudesse lhe sepultar, fora enterrada em um canto qualquer pelos vizinhos, como se fosse uma indigente.

    Os dias passam e se transformam em meses. Os moradores da vila davam Crispim como morto. Tragado pelas águas do rio onde provavelmente se afogara.

    Certo dia, uma moça de nome Maria lavava roupas à beira do rio. Despreocupada, não percebe a figura que se aproxima. Para quem estava de fora do rio, o que se podia ver era apenas uma imensa cuia coberta de lodo, o que não era assim tão incomum. Contudo, a uma velocidade incrível, o monstro nada rumo à garota, saltando da água como se fosse um peixe voador, indo ao encontro dela. Para a felicidade da moça, que só o percebe quando já está em salto, o monstro erra o alvo, caindo ao chão ao lado dela, de modo que a moça põe-se a correr, pedindo por ajuda, sendo acudida por pescadores que por ali se encontravam.

    Os pescadores, contudo, não viram o monstro e, pelo fantástico do relato, não acreditam na moça. Tentam acalmá-la e a acompanham até em casa. Os relatos correm, mas o povo tem a moça como louca ou mentirosa, de modo que as pessoas não acreditam nela.

    Os dias se seguem normalmente. Na vila, o vai-vem das pessoas. Era dia de feira. Em um barzinho, pescadores conversavam e ingeriam aguardente. De repente, uma moça toda arranhada e com as vestes rasgadas, de nome Maria Antonia, surge correndo como quem foge de algo. Vinha do rumo do rio. Quando lhe perguntam o que acontecera, diz que um horrível monstro, da cabeça em forma de cuia e com cabelos de lodo, a tinha atacado, de modo que ela só conseguiu se livrar a muito custo.

    Mas que monstro era esse que já havia atacado duas vezes em poucos dias? E parece que havia uma predileção por moças de nome Maria. Logo o boato se espalha. Havia uma criatura diabólica no rio. Há uma epidemia de pânico. Os pais com filhas de nome Maria trancam as jovens dentro de casa. Mas mulheres de outros nomes e até os homens tinham medo. Somente os pescadores, ainda que com medo, entravam no rio para obter o sustento da família, mas faziam isso bem armados e atentos o tempo inteiro para qualquer eventualidade.

    Cansados de viver com medo, os homens da vila organizam uma expedição: o objetivo era capturar o monstro. Procuram em meio às águas mas não o encontram. A procura segue por dias, mas, enfim, chegam à conclusão de que nada havia ali. Alguns chegam a dizer que era invencionice das moças. Coisa de quem não tem o que fazer e fica inventando histórias pra ver se chamam atenção.

    Com o passar do tempo, dias depois, chegam as notícias do ataque do monstro em povoações ribeirinhas vizinhas. Por isso não o encontraram. E as moças que atacara novamente eram Marias. Graças a Deus ninguém havia morrido.

    À noitinha, vagavam nas proximidades do rio, um casal de jovens amantes. De tão apaixonados, nenhum dos dois se lembrava do monstro. Mas ele estava ali. De dentro das águas a observar o casal a se acariciar. O monstro pelo cheiro sabia: aquela ali era uma virgem, uma Maria. Como estavam longe, o monstro mostrou uma nova habilidade: seu espírito possuiu o rapaz que tentou levar a moça ao rio. Mas essa percebendo o que ia acontecer, vendo a fera na água, conseguiu se livrar e pôs-se a correr. O plano não deu certo e os moradores da Vila conheciam agora a habilidade do monstro.

    As “Marias” da vila, desde então, passaram a se manter longe do rio. Dizem que vez ou outra o monstro possuiu ainda alguns moradores e saiu pela povoação a procurar vítimas, sem, contudo, obter sucesso. Há quem diga, mesmo, que ele teria ainda a habilidade de se transformar novamente em Crispim, que teria sido visto vez ou outra pela Vila, mas os moradores dele corriam o tendo por assombração, e, logo, ligaram os pontos: Crispim era o monstro, vagando pelos rios em tormento eterno como maldição pelo homicídio praticado contra a mãe.

    Vez ou outra há quem diga ver o monstro, vagando pelas águas dos rios Poty e Parnaíba à procura das sete Marias que possam livrá-lo de seu encanto maldito, mas, até hoje, não encontrou nenhuma. Não fica apenas em Teresina: roda todo o Rio Parnaíba e o Poty e também seus afluentes, de modo que já foi visto, inclusive, em Amarante e em Parnaíba. Em sua busca eterna, há quem diga, inclusive, que, vez ou outra, ele aparece também no rio Mearim, no vizinho estado do Maranhão, no trecho entre as cidades de Pedreiras e Trizidela do Vale. Provavelmente a dificuldade em encontrar Marias Virgens o levou a expandir sua área de atuação. Afinal, hoje em dia, é cada vez mais raro encontrar uma moça virgem, ainda mais de nome Maria...

    A LENDA DO CABEÇA DE CUIA.
    • I.
    O povo que não acredita
    Em história de pescador,
    De vaqueiro e cachaceiro,
    De poeta cantador.
    Motorista e seringueiro,
    Marinheiro e caçador.

    Dizem que toda mentira
    Deturpa sempre a verdade,
    Por menos que ela seja
    Dita na sociedade,
    Contada por muita gente,
    Se torna realidade.

    Uma história de verdade
    Contada de uma maneira
    Deturpada, duvidosa,
    Como fosse brincadeira,
    Por mais que seja real,
    Nunca será verdadeira.

    Existe história lendária
    Que virou verdade pura,
    Com o tempo ganhou fama
    Com personagem e figura
    Inserida no folclore,
    Enriquecendo a cultura.
    • II.
    Entre todas criaturas
    Sempre o homem é o mais forte,
    Enfrenta feras nas selvas,
    Escapa no fio da sorte.
    Tem o instinto voraz.
    Só quem o vence é a morte

    O homem tem enfrentado
    Perigos no alto-mar,
    Nos espaços siderais,
    Monta usina nuclear,
    Não domina o universo
    Porque Deus não vai deixar.

    Existe homem no mundo
    Que desconhece o amor
    E contra pais e irmãos
    As palavras do Senhor.
    Xinga Terra, Sol e astros
    As coisas do Criador.

    Muitos anos atrás
    Existiu no Piauí
    Um pescador que pescava
    No Parnaíba e Poty.
    A sombra da maldição
    Estava perto de si.
    • III.
    O seu nome era Crispim,
    Cresceu sem religião,
    Sem pai pra lhe dar conselho,
    Sem amigo e sem irmão,
    Sua mãe muito velhinha,
    Sem mágoa no coração,

    Acontece que Crispim
    Não aprendeu a trabalhar.
    Para sustentar a mãe,
    Ele tinha que pescar.
    Quando não pescava nada,
    Danava a esbravejar.

    Devido à necessidade,
    Ele só vivia aflito,
    Ameaçava sua mãe,
    Dava soco, dava grito,
    Agredia todo mundo,
    Chamava o rio maldito.

    Sua mãezinha chorava,
    Muito tristonha e velhinha,
    Sem esperança de vida,
    Em sua pobre casinha,
    O sofrimento do filho,
    Com a pobreza que tinha.
    • IV.
    Vendo o filho em desespero,
    A mãe se compadecia.
    Assim vivia Crispim,
    Sem ter sorte em pescaria,
    Xingava até sua sombra
    E a roupa que vestia.

    Um certo dia Crispim
    Voltou pra casa zangado.
    Não tinha pescado nada,
    Crispim ficou irritado.
    Xingando os rios e os peixes,
    Tudo que tinha ao seu lado.

    A mãe lhe disse: “Filhinho,
    Não pense mais em mazela,
    Coma um pirão com uma ossada
    Que tem naquela panela”.
    Crispim pega um corredor,
    Bateu na cabeça dela.

    A pancada foi tão grande,
    Levou a velha ao chão.
    A mãe antes de morrer
    Jogou-lhe uma maldição:
    “Serás transformado em monstro,
    Num ente sem coração”.
    • V.
    “Filho maldito e ingrato,
    Tu foste muito ruim.
    Matar tua genitora,
    Te amaldiçôo, Crispim.
    Serás um monstro maldito,
    Triste será teu fim.

    Nas águas desses dois rios,
    Tu vais ficar a vagar.
    Serás um monstro assombroso,
    Até você devorar
    As sete Marias virgens,
    Mas nunca irás encontrar.”

    Os anjos disseram amém
    Na hora em que a mãe falou.
    Sua madrinha não ouviu,
    Jesus no céu escutou.
    E de repente Crispim
    No monstro se transformou.

    Ficou todo transformado,
    Com a cara muito feia.
    A cabeça cresceu tanto,
    Que dava uma arroba e meia.
    Caiu nos rios e aparece
    Em noite de lua cheia.
    • VI.
    A velha foi sepultada
    Como se fosse uma indigente.
    Não ficou nem um registro,
    Não apareceu parente.
    E Crispim ainda vive
    Querendo voltar a ser gente.

    Até mesmo os pescadores
    Nele não querem falar.
    Quando falam sentem medo,
    Passam noites sem pescar.
    Todos temem a qualquer hora
    Com Crispim se encontrar.

    Cabeça de Cuia vive
    Cumprindo sua trajetória.
    Uma velha diz que viu,
    Porém perdeu a memória,
    Se assombra, fica louca
    Quando escuta essa história

    Todo final de semana,
    Sempre, sempre é registrado
    Nas águas desses dois rios
    Alguém morrer afogado,
    Deixando cada vez mais
    Banhista desesperado.
    • VII.
    Crispim Cabeça de Cuia
    Vive ainda à procura
    Das sete Marias virgens,
    Cumprindo sua desventura
    Rio abaixo e rio arriba,
    Em noite clara ou escura.

    Passaram séculos e séculos,
    A história permanece.
    Dizem quando os rios enchem,
    Na correnteza ele desce,
    Dando gargalhadas estranhas
    Toda vez que aparece.

    Ele vaga pelas águas
    Do Parnaíba e Poty
    E no encontro dos rios
    Tem sua estátua ali
    Descrevendo esta lenda
    Folclórica do Piauí.

    PEDRO COSTA (Pedro Costa é cantador, violeiro e poeta piauiense).

    Fontes.                                                                                                                                            047 de 186

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabe%C3%A7a_de_cuia

    https://www.sohistoria.com.br/lendasemitos/cuia/

    http://www.assombrado.com.br/2014/01/a-lenda-do-cabeca-de-cuia.html

    https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-lenda-do-cabeca-de-cuia/

    https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/2017/03/30/o-cabeca-de-cuia/

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