domingo, 5 de maio de 2019

Enciclopédia dos Mitos e Lendas do Brasil: A Cabra Cabriola.

"Eu sou a Cabra Cabriola,
Que como meninos aos pares,
Também comerei a vós,
Uns carochinhos de nada..."


A Cabra Cabriola é um ser imaginário da mitologia infantil portuguesa, mas também surge no resto da península Ibérica, foi depois levada para o Brasil pelos portugueses. A Cabra Cabriola é a personificação do medo, um animal em forma de cabra, um animal frequentemente de aspecto monstruoso comedor de crianças, um papa-meninos.

Os Aspectos Gerais do Mito da Cabra Cabriola.

A Cabra Cabriola, era uma espécie de Cabra, meio bicho, meio monstro. Em Pernambuco, o Mito é do fim do século XIX e início do século XX. Esse mito Ocorre também em outros estados do Nordeste, a exemplo de Alagoas, Sergipe e Bahia.

Era um Bicho que deixava, a partir da descrição feita pelas mães ou cuidadoras, qualquer menino arrepiado só de ouvir falar. Soltava fogo e fumaça pelos olhos, nariz e boca. Atacava quem andasse pelas ruas desertas nas noites de sexta. Mas, o pior era que a Cabriola[1] entrava nas casas pelo telhado ou porta, à procura de crianças malcriadas e travessas, e com sua voz rouca e do outro mundo.

As crianças não podiam sair de perto das mães, ao escutarem qualquer ruído estranho perto da casa. Podia ser qualquer outro bicho, ou então a temível Cabriola, assim era bom não arriscar. Astuta como uma Raposa e fétida como um bode, assim era a criatura.

Em casa de menino obediente, bom para a mãe, que não mijasse na cama e não fosse traquino, a Cabra Cabriola não passava nem perto.

Quando no silêncio da noite, alguma criança chorava, diziam que a Cabriola estava devorando algum malcriado. O melhor nessa hora era rezar o Padre Nosso e fazer o Sinal da Cruz.

Considerada mais temida que o Lobisomem e a Mula-sem-Cabeça, que são mitos vindos de fora há muito mais tempo, a Cabra Cabriola, logo se tornaria o consolo das mães, já que não precisavam se esforçar muito para fazerem seus filhos tomarem o rumo da cama logo cedo. Para os pequenos era o maior pesadelo.

São muitos e faz parte da tradição regular, os contos populares em que figura a Cabra Cabriola em ação. Os testemunhos de época logo se tornavam preciosos reforços para as mães colocarem na linha seus filhos travessos ou malcriados.
  • Informações Complementares sobre a Cabra Cabriola.
Nomes comuns: Cabra Cabriola, Cabriola, Papão de Meninos, Bicho-Papão, etc.

Origem Provável: O mito do Bicho Papão que ataca as crianças travessas é bem antigo e remonta ao tempo da Idade Média na Europa. É uma assombração portuguesa que se tornou parte do nosso fabulário.

E na América Central há também o Gulén-Gulén-Bo, que é um negro que fortuitamente assusta e come as crianças mal criadas, e tem as mesmas características da Cabriola.

No Brasil, deriva-se de um mito afro-brasileiro, onde acreditava-se tratar-se de um duende maligno que tomava a forma de uma Cabra. Costumava atacar as mães quando estavam amamentando. E nessa ocasião bebiam seu leite direto nos seus seios, e depois devoravam as crianças. Além de Pernambuco, há versões deste mito nos estados do Ceará, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pará.

A figura da Cabra Cabriola, também é mencionada na Espanha e Portugal. Chegou ao Brasil durante o período da colonização portuguesa.
  • Um Relato documental sobre o Mito da Cabra Cabriola.
São inúmeros e mui vulgares os contos populares em que figura a Cabra Cabriola[1], mas este é particularmente seu:

Havia uma mulher que tinha três filhos de tenra idade, e saindo sempre à noite para angariar meios de subsistência para eles, recomendava-lhes muito insistentemente, que se prevenissem contras as astúcias da Cabra Cabriola, não abrindo a porta senão a ela própria, cuja voz e toada e particular perfeitamente conheciam.

Certa noite, porém, chegado o monstro, bate à porta, e ignorando o acordo estabelecido, pede como se fosse a mãe das crianças, que a deixem entrar; mas, falando naturalmente com a sua voz forte, grossa e horrível, nada conseguiu das suas artimanhas, e saiu desesperada bramindo:
"Eu sou a Cabra Cabriola,
Que come meninos aos pares,
E também comerei a vós,
Uns carochinhos de nada...". 
Retrocede depois, oculta-se, e aguarda a volta da mulher, e com semelhante artifício aprende-lhe a toada, e repara bem no seu metal de voz.

No dia seguinte vai à casa de um ferreiro, manda bater a língua da bigorna, e conseguindo assim modificar a sua voz tornando-a mesmo igual à da mãe dos meninos, vem à noite, espreita a sua saída e depois, bate à porta cantarolando a conhecida toada:
"Filhinhos, filhinhos
Abri-me a porta,
Qu´eu sou vossa mãe;
Trago lenha nas costas,
Sal na moleira,
Fogo nos olhos,
Água na boca,
E leite nos peitos
Para vos criar..." 
E as pobres crianças na persuasão de que era a sua própria mãe que assim lhes falava, abrem pressurosas e alegres a porta, e inopinadamente acometidas pela esfaimada Cabra Cabriola, são devoradas por ela.

Fontes.                                                                                                                                            061 de 186

[1] Pereira da Costa recolheu a estória da Cabra Cabriola no seu Folclore Pernambucano (pp. 80/81. Revista do Instituto Histórico Brasileiro, tomo LXX, Parte II. Rio de Janeiro, 1908).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabra_Cabriola

https://www.sitededicas.com.br/folk_cabra_cabriola.htm

http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=21448

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