sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Dossiê Operação Prato 10: Entrevista com a Dra. Wellaide Cecim Carvalho a Revista Ufo.

Os homens são inclinados a crer nas coisas vagas, misteriosas e imprecisas. (...)

Se tivéssemos necessidade de prova indiscutível aí estariam agora os discos voadores. As agencias telegráficas estão transmitindo alguns capítulos da novela. Em torno desta já se tramam e enredam outros capítulos, que os telegramas prolongam e enfeitam.

Há quem tenha visto os discos voadores entre as nuvens do Brasil. No sul, no centro, no norte muita gente anda de nariz no céu (...). Os homens foram sempre assim. Houve tempo em que os fantasmas se divertiam com surtidas em certos bairros da cidade. Hoje os fantasmas mudaram de tática. Progrediram. Evoluíram. Escolheram formas modernas. A última delas aí está: discos voadores... Os homens sempre viveram à custa desses pequenos romances. Mais um, menos um, não alteram os ritmos da vida...

DISCOS VOADORES”. O Globo. Rio de Janeiro, 11 julho 1947, p. 1. (BN)




D.O.P 10: Entrevista com a Dra. Wellaide Cecim Carvalho a Revista Ufo.

(Entrevista com Wellaide Cecim de Carvalho, concedida à A. J. Gevaerd, da Revista UFO, publicado em sua edição 116 e 117.)

Uma senhora moderna e corajosa, independente e generosa, decidida e destemida. Esses são apenas alguns adjetivos que eu usaria para definir a médica psiquiatra Wellaide Cecim Carvalho, que tive o privilégio de conhecer e o prazer de entrevistar em Belém, em 15 de agosto. Mas talvez a introdução não seja muito apropriada por causa de apenas uma palavra: senhora. Wellaide, apesar de ter um invejável currículo, é uma pessoa de espírito absolutamente jovem. Começou a faculdade de medicina aos 16 anos e a completou aos 21, entre os primeiros colocados. Teve inúmeras funções em sua vida profissional e foi nada menos do que secretária municipal de Saúde em Belém e subsecretária estadual de Saúde no Pará.

Wellaide acumula ainda muitos outros títulos e hoje trabalha simultaneamente em diversas instituições médicas da capital paraense e noutras cidades. Vive num ritmo frenético – tem cinco telefones celulares – e reserva pouquíssimo tempo para si e para o lazer. Ainda assim, não descuida de suas funções familiares, nem de sua paixão, automóveis velozes. “Meu sonho de adolescente era ser engenheira mecânica”, disse ao desembarcar de um veículo japonês conversível e possante, na porta do hotel em que nos encontramos.

No meio de tanta correria, ela achou tempo – logo ao chegar de seu trabalho de fim semana em Paragominas (mais de 300 km de Belém) – para conceder uma longa entrevista à equipe do canal The History Channel, dos Estados Unidos. E na mesma noite, atendeu a este editor por outras cinco horas, descrevendo detalhadamente suas fantásticas experiências na Ilha de Colares, quando lá serviu ao sair da faculdade de medicina, como médica-chefe da Unidade Sanitária da localidade.

Era seu primeiro emprego e a doutora Wellaide encontrou pela frente um cenário indescritível, jamais imaginado por ela ou mesmo por muitos outros profissionais de maior idade. Ao desembarcar na ilha, os fenômenos que ficaram conhecidos como chupa-chupa passaram a acontecer – e não pararam mais. Ela atendeu a nada menos do que 80 vítimas dos ataques, vivia num pavor cada dia maior de ser também atacada e acabou, felizmente sem violência, tendo várias experiências pessoais e muito próximas com os agressores. Sua entrevista, concedida pela primeira vez à uma publicação ufológica, é um novo marco da Ufologia Brasileira, comparável à concedida em 1997 pelo coronel Uyrangê Hollanda, e mostrará duas coisas. Primeiro, a gravidade dos fatos que ocorreram no Pará, que o Governo luta até hoje para esconder. E segundo, a imensa generosidade de uma médica recém formada em ajudar a população a suportar seu sofrimento.

Quem é Wellaide Cecim Carvalho, a mulher que espantou o Brasil ao declarar ter sofrido pressão dos militares para negar os ataques do chupa-chupa na Amazônia?

Sou amazonense, nascida na cidade de Nova Olinda do Norte e fui para a cidade de Santarém com 12 anos. Estudei em colégios norte-americanos, apesar de até hoje não falar uma palavra em inglês, e cheguei à capital do Pará muito jovem, direto para fazer o vestibular de medicina, pois no Amazonas não existia faculdade dessa área. Passei aos 16 anos na Universidade Federal do Pará (UFPA), quando ainda não tinha título de eleitor, nem carteira de identidade. Fui aprovada em oitavo lugar e descobri que não podia fazer a matrícula, porque não tinha nenhum documento, e fui mandada de volta para casa.

Aos 16 anos?! E o que você fez ao saber que não podia fazer sua matrícula na universidade?

Bem, quando cheguei em casa e contei aos meus familiares o que havia acontecido, meu pai foi conversar com o coordenador do curso e saber porque eu não poderia estudar, já que tinha sido aprovada, e em oitavo lugar. Ele falou que era pelo fato de eu ser menor de idade e não ter a documentação necessária. Não foi fácil, mas com a ajuda de um juiz de Belém, conseguimos realizar a matrícula e eu completei o curso sem repetir um semestre.

Como foi seu contato com o curso de medicina? Era mesmo o que você queria?

Eu tinha muita vontade de ser engenheira mecânica, pois gosto muito de automóvel. Mas, por orientação de meu pai, optei pela medicina, me apaixonando pela psiquiatria logo no terceiro ano do curso. Eu me formei em 1976, faltando um mês e meio para completar 21 anos. Logo depois da colação de grau, eu já tinha sido nomeada diretora da Unidade Sanitária de Colares, porque naquela época a Secretaria Estadual de Saúde sempre procurava os 10 primeiros alunos do curso de medicina para ocuparem cargos de responsabilidade no setor. Eu estava nesse grupo e ocupava o primeiro lugar entre as mulheres. Fui então nomeada responsável pela unidade em 10 de dezembro de 1976, dois dias depois da minha formatura.

Qual foi sua primeira impressão ao tomar conhecimento de como era a Ilha de Colares?

Cheguei lá de uma maneira meio trágica, pois a maré estava baixa e a balsa não podia atravessar o rio que separa a ilha do continente [Rio Guajará-Mirim]. Eu estava acompanhada de um amigo da família, natural do local, num fusca verde que conservei ainda por muito tempo e no qual tive uma experiência terrível. Não conseguindo atravessar o rio, tivemos que utilizar uma canoa. Perto de chegar ao outro lado, bem na hora de descer, a canoa virou e eu quase me afoguei, porque não sabia nadar. Quem me ajudou foi esse meu amigo. Ao chegarmos perto da orla da ilha, percebemos que era um manguezal e ficamos atolados na lama até acima do joelho. Isso fez com que eu tivesse impinge, que durou cerca de seis meses. Então, eu já cheguei naufragando ao meu local de trabalho...

Qual foi a especialidade que você teve que exercer na Unidade Sanitária de Colares? Clínica geral ou psiquiatria?

Eu era médica sanitarista, porque a saúde pública é a única especialidade que engloba todos os programas de atenção e assistência à saúde, como pediatria, clínica geral, médica, ginecologia, dermatologia e pneumologia. Esse foi o meu primeiro emprego. Antes dele, nunca sequer tinha ouvido falar de Colares. Não conhecia nada daquela região.

Como até hoje a Ilha de Colares é uma localidade muito pequena, gostaria de saber como era naquela época?

A ilha toda tinha aproximadamente 6 mil habitantes e na sede do município existiam 2 mil pessoas [Há números controversos sobre a quantidade de habitantes de Colares na época, chegando a 12 mil pessoas. Não há dados oficiais do Governo do Pará quanto a isso, em 1977]. Só que da beirada da ilha até a Vila de Colares, no lado oposto, havia uma estrada muito precária de chão batido. E já que meu fusca verde não conseguiu atravessar o rio, tivemos que pegar um ônibus lá, quando fui apresentada ao prefeito na época, Alfredo Ribeiro Bastos. Ele me levou para conhecer a unidade sanitária, que era um estabelecimento bem básico. Em sua composição técnica tinha uma enfermeira de nível superior, uma odontóloga e 12 técnicos em enfermagem. Eu estava acumulando as funções de médica e diretora da instituição. A vila era muito pequena e tinha luz elétrica proveniente de óleo diesel, que era mantida apenas das 18:00 às 21:00. A partir desse horário, tínhamos que andar com lamparina, vela ou lampião.

Deveria ser um desafio para você. Quais eram os casos que você via com mais freqüência no posto de saúde?

Geralmente, eram acidentes com arraias, muito comuns na ilha. Por esse motivo, me tornei especialista nesses animais e seus ataques. As praias em torno de Colares são infestadas por esses bichos, causando muitos ferimentos às pessoas. Atendi gente que tinha sido atingida até 80 vezes por eles.

Além dos acidentes com as arraias havia outros problemas de saúde na ilha?

Sim, tínhamos também muita poliparasitose, causada pela ingestão de peixes crus, e alguns casos de desnutrição, talvez pelo fato das pessoas não saberem se alimentar de maneira correta. Quase toda a alimentação era oriunda do mar ou dos rios da região, e as pessoas comiam muita farinha de mandioca. Mas, apesar disso, não havia casos de anemia. Outras doenças que tínhamos eram as dermatológicas, como escabiose, conhecida popularmente como sarna, impinges e reumatismo. Muitas pessoas em Colares apresentavam problemas de enxaqueca e pressão arterial elevada. Enfim, o quadro clínico dos moradores da ilha era normal e comparável ao de qualquer outra pequena cidade do interior da Amazônia.

E casos de observação e ataques por supostos seres extraterrestres, você atendeu a muitas vítimas?

Não, antes da chamada onda chupa-chupa, quase ninguém comentava essas coisas ou procurava auxílio na Unidade Sanitária de Colares. O que ocorria, geralmente à noite, era eu ter que atender mulheres grávidas na zona rural, porque a maioria delas gostava de ter seus filhos em sua própria casa, algumas nas redes, no chão, outras na cadeira. Cansei de fazer isso durante a madrugada. Parece que as crianças só gostam de nascer de noite... Eu saía nesse horário, muitas vezes sozinha, carregando um lampião pela estrada de terra e ninguém nunca me contou história de nada, nem visagem, ataque ou de assombração. Aquele era um povo pacato e extremamente católico, mas sem chegar ao fanatismo. Só que, uns seis meses depois que cheguei à ilha, já em julho ou agosto de 1977, começaram a aparecer os casos.

Como foi seu primeiro caso?

Aconteceu no segundo semestre de 1977, no mês de julho. A primeira vítima foi uma moça jovem que vivia na zona rural. Ela foi levada à Unidade Sanitária de Colares extremamente apática e com uma grande fraqueza muscular. Não conseguia falar ou ouvir qualquer coisa, além de não ter reflexo algum. Chegou carregada ao hospital e pensei que tivesse sido acometida por alguma doença, como malária ou hepatite. Perguntei a seus familiares o que havia acontecido e se ela tinha alguma enfermidade pregressa grave, e me falaram que não. Disseram que ela fora atacada por uma “luz” quando estava deitada na rede na varanda de sua casa. Que luz poderia ser aquela, me perguntei.

Como o caso aconteceu e de que maneira a família reagiu ao ver a luz atacar a moça?

Todos ficaram apavorados, mas não tiveram tempo sequer de ajudá-la. Isso aconteceu de madrugada. Estava quase amanhecendo, deviam ser 05:00 horas, quando os familiares chegaram à unidade de saúde e os funcionários de plantão foram me chamar em casa. No final da tarde daquele dia em que a recebi, quando voltou a falar, fui perguntar diretamente a ela o que havia acontecido, pois até então só tinha informações da família. Eu achava que os parentes da moça estavam enlouquecidos. Perguntei até se tinham bebido e se haviam feito alguma festa, coisa comum naquela região – mas não perguntei se estavam drogados, porque naquela época não se usava droga como hoje. Todos me disseram que não tinham bebido coisa alguma e nem fizeram qualquer festa. Fiquei espantada. Foi quando a vítima me descreveu o que se passou. Ela disse que estava deitada na rede quando sentiu algo pesado, intensamente pesado, em cima dela. Descreveu que, ao abrir os olhos, viu um feixe de luz grosso que a queimava e ao mesmo tempo a paralisava. Quando tentou pedir socorro aos familiares, que estavam próximos, não conseguiu mais mover a boca e nenhum músculo, nem a mão ou a perna – a única coisa que ela manteve foram os olhos abertos.

Quanto tempo depois os parentes começaram a perceber o que realmente estava acontecendo?

Não demorou muito, pois eles estavam dormindo em redes ao redor dessa moça. Descreveram que logo no início do ataque sentiram um calor próximo e intenso. Ela repetiu exatamente o que os familiares falaram. Só que me relatou a sintomatologia do fato e eles, apenas o que haviam visto. Na ocasião, a moça estava completamente consciente, mas não tinha nenhum dos reflexos funcionando. Ela estava inapetente, mas lúcida, tanto que seus olhos se mantinham abertos, mas com poucos movimentos. Uma coisa que eu percebi é que, apesar de ser dia, quando eu a examinava, a pupila dela se apresentava dilatada. Ora, pela lógica médica, ela teria que estar em miose, com a pupila contraída ou diminuída pela presença da luz.

De toda a família, só ela foi atacada?

Créditos: History Channel.
Naquele momento, sim. Mas todos presenciaram o ataque. Viram que um feixe de luz tinha incidido sobre a rede em que ela dormia e, quando acordaram, perceberam que do local emanava um forte calor. Assim que viram os raios em cima da moça, correram apavorados para ver do que se tratava. Ela conseguiu pela última vez gritar, pois depois entrou num estado de catatonia. O feixe incidiu sobre o lado direito de seu tórax, que chamamos na medicina de hemitórax. Quando fui examiná-la, me disseram para não tocar, pois estava queimada. Abri sua roupa e vi que em seu peito havia uma extensa queimadura negra, que ia do pescoço até o diafragma. Ela não tinha febre. Perguntei a quantos dias havia acontecido aquilo e os familiares disseram que fazia pouco tempo, menos de uma hora. Ai eu falei: “Mas não pode! Esse ferimento não pode ter acontecido a tão pouco tempo. Essa é uma queimadura de 4 a 5 dias”. A pele já estava necrosada e isso só acontece no mínimo depois de 96 horas.

Além da queimadura havia pontos ou mesmo perfurações no corpo da vítima?

Sim, encontrei no lado direito do pescoço dois orifícios paralelos elevados e de cor avermelhada, semelhante as picadas de insetos. Eram palpáveis e visíveis.

O que você achou daquilo que estava presenciando pela primeira vez?

Bem, aquilo me impressionou muito, mas não estava acreditando na história daquela família, principalmente porque nenhuma queimadura podia ter aquela característica em apenas uma hora. Era uma história surreal. No final da tarde, depois de tomar algumas medicações energéticas, a moça começou a melhorar.

Qual o tratamento que você deu a ela?

A única coisa que eu fiz durante o dia todo foi tentar aumentar a energia da vítima, para que saísse daquele estado de inapetência. Usei seringas com altas doses de complexo B. Quando voltou a falar, ela disse que o local queimado doía terrivelmente. Verifiquei que não era uma queimadura causada por qualquer substância química, efeito térmico ou radiação, porque os ferimentos provenientes desses elementos são totalmente diferentes, bem avermelhados. Os dela estavam em estado de necrose, ou seja, como se já estivesse em processo de cicatrização. Por curiosidade, passei uma pomada anestésica em cima da queimadura, tipo Xilocaína, para que aliviasse um pouco sua dor, já que Dipirona injetável não fazia qualquer efeito. Com uma pinça cirúrgica, puxei a pele da área queimada, que se separou do corpo inteira. Nunca vi nenhum caso parecido em todos os anos que trabalho como médica...

Você voltou a ver essa moça outras vezes ou acompanhou o caso dela?

Sim, assim como todos os casos que atendi. Eu fazia questão de visitar as pessoas, ver como estavam. Foi assim que descobri que, na região do corpo dela atacada por essa luz, não cresciam mais pelos, mesmo após meses do ocorrido. Mas o problema não estava em todo seu corpo, apenas na região acometida pela alopecia [Perda irreversível dos pelos]. A luz não apenas queimava, mas destruía o folículo piloso, a raiz do cabelo, na primeira camada da pele, a epiderme. Então, não era simplesmente uma queimadura superficial, mas algo que chegava a atingir camadas profundas da pele. Além disso, as vítimas viviam adoentadas e muitas não conseguiram sequer recuperar sua saúde. Quanto à moça que atendi, pelo que sei, ela não voltou a ser atacada, mas ficou muito deprimida e fraca depois do fato, como se tivesse perdido sua resistência imunológica.

Doutora, quando saía a pele necrosada da queimadura, quanto tempo era necessário para que o local se recuperasse?

A pele ficava como que em carne viva. Na realidade, ela já estava em processo cicatricial imediato. Quando você puxava aquilo, ficava vermelho e ardendo durante dias, como se tivesse tirado a casca de uma ferida. As vítimas, por sua própria conta, passavam de tudo nos ferimentos: manteiga, gordura de cacau, sebo de carneiro, além de óleo de copaíba. Algumas substâncias aliviavam um pouco a dor, já que os analgésicos não faziam efeito, nem mesmo Dipirona injetável. Eu usava geralmente Xilocaína para abrandar a dor dos pacientes, que demoravam em média de 15 a 30 dias para estarem curados. Após o fato, a pele ficava com aspecto branco, sem pigmentação.

Por favor, descreva como eram as perfurações que você encontrou nas vítimas?

Essas demoravam meses para desaparecer, porque eram não só visíveis mas palpáveis. Mesmo depois de cicatrizada a queimadura, ficavam dois furos na altura do pescoço das pessoas. Eu passava a mão e sentia. Todo mundo via. Na realidade, as perfurações não cicatrizavam porque não eram ferimentos, mas sim orifícios, que depois fechavam e ficavam planos. Daí nada mais se via.

Com que freqüência os casos de pessoas queimadas por essas luzes eram registrados?

Inicialmente, recebíamos uma ocorrência a cada três dias. Depois, os casos passaram a ser diários – às vezes, atendíamos de três a quatro pessoas num único dia. Em pouco mais de um mês, já havíamos atendido mais de 40 vítimas. Era uma coisa crescente e as pessoas começaram a abandonar a ilha. O esvaziamento de Colares chegou a 60-70% e a população local ficou reduzida a uns 2 mil habitantes. Na Vila de Colares, no centro da ilha, não restaram mais do que uns 800 habitantes. Muitos fugiram de medo, pois os ataques não mais se concentravam no período noturno, como antes. Eles passaram a acontecer à tarde, também. A situação era tão terrível que ninguém mais pescava ou caçava. Tudo fechou: escolas, fórum, cartório e até a delegacia. A cidade inteira parou.

Onde os ataques eram mais frequentes, na zona rural, dentro da ilha ou no litoral?

Geralmente no interior da ilha, mais até do que nas praias. Os ataques começaram a se tornar freqüentes e intensos, especialmente na zona rural e perto das florestas. Havia uma região chamada Santo Antonio das Mucuras, lugar de onde vieram à Unidade Sanitária de Colares muitas pessoas atacadas pela luz vampira. Segundo o depoimento das vítimas, os objetos desciam e ficavam sob a copa das árvores. Talvez fosse essa a maneira deles se camuflarem.

As autoridades não tomaram nenhuma providência diante do que ocorria?

A princípio, não, por mais que os moradores começassem a cobrar providências. De qualquer forma, eu ainda continuava achando que aquilo era algum tipo de alucinação visual, delírios coletivos simultâneos e automutilação. Achava que eram as próprias vítimas que de alguma forma faziam aquilo, mas não entendia o por quê. A situação chegava a “dar um nó” na minha cabeça e eu me perguntava freqüentemente como é que alguém podia se mutilar com o mesmo tipo de delírio, com uma mesma alucinação visual e sinestésica. O que mais me intrigava era o fato dos casos serem idênticos, embora ocorressem em lugares muito distantes entre si. A diferença no horário dos ataques era muito pequena e impossibilitava uma ação combinada das pessoas, sem contar que as vítimas sequer se conheciam. Isso não existe em literatura alguma, nem mesmo na psiquiatria. Ninguém alucina assim. Não posso ter uma alucinação assim, igual à sua, eu estando aqui e você lá em Mato Grosso Sul, por exemplo. Isso é impossível!

Qual foi sua opinião sobre esses fatos, naquela época, e como você lidou com sua conclusão de que não poderiam ser alucinações?

Na verdade, eu não tinha uma opinião concreta sobre os casos, mas pensava que poderiam ser algum tipo de alucinação visual combinada com autoflagelação. Realmente, não sabia o que eram os ataques e tinha muitas dúvidas. Demorei bastante para perceber que não poderiam ser delírios, até por causa do meu ceticismo e eu ser uma médica recém formada. Se isso acontecesse agora, jamais teria demorado tanto tempo para compreender os fatos e não perderia a oportunidade de colher dados importantes, que hoje enriqueceriam muito a pesquisa dos ufólogos. Minha imaturidade e, talvez, falta de humildade profissional, por ser nova na profissão, atrapalharam muita coisa.

E você decidiu permanecer na Ilha de Colares mesmo sabendo que a situação piorava a cada dia e você poderia ser atacada?

Sim, decidi. Mas não foi fácil. Como todo mundo ia embora, eu também pensei em deixar a região, mas o prefeito Bastos e o padre Alfredo de Lá Ó me convenceram a ficar. As pessoas ficaram em pânico e não sabiam o que realmente estava acontecendo, nem nós, da unidade de saúde. Quando percebi, estava trabalhando apenas com três secretárias, pois a odontóloga, a enfermeira e muitos dos técnicos tinham ido embora. Ficamos sozinhas. Foi quando eu juntei minhas coisas para deixar a ilha e disse ao prefeito que ia embora. Ele foi correndo buscar o padre, um texano e filho de uma libanesa com espanhol [Que havia sido xerife no Texas e também era ufólogo e médico otorrinolaringologista], e ambos me fizeram ver que eu precisava ficar. O prefeito disse que todos podiam fugir, mas que ele, o padre e eu teríamos que ter o profissionalismo e permanecer. Tentei até retrucar e lembro que respondi a ele: “Mas até o delegado foi embora!” O senhor Bastos então disse: “Mas o delegado não trata de pessoas e nem tem o seu estudo”. Aquilo foi como uma bofetada na minha cara. Eu saí de dentro do meu fusca verde, com toda a minha bagagem, e disse: “Vou ficar!” E fiquei até a coisa piorar muito.

Você tinha plena consciência do risco que estava correndo ao permanecer...

Sim, sabia de todos os riscos. Mas o prefeito fez um trato comigo: ele colocaria pessoas vigiando minha casa durante a noite, para eu poder dormir e ter condições, no dia seguinte, de dar assistência às vítimas. Ele distribuía, tanto na sede do município, quanto na zona rural – que era constituída de oito localidades –, pistolas, latas, pedaços de pau, fogos de artifício e garrafas térmicas com café bem forte, para que a população não dormisse e soltasse fogos a cada 10 minutos. Os moradores que ficavam teriam que bater latas à noite inteira para afugentar as luzes.

E o método do prefeito funcionava?

Funcionou por algum tempo, mas os ataques continuavam. Descer os objetos não desciam, mas continuavam a vitimar as pessoas do alto. Depois, nem soltar fogos, nem café forte, nem nada impedia os ataques, que voltaram ao normal e com força total. Os acontecimentos tiveram início em julho de 1977 e os cerca de 40 casos a que me referi foram registrados principalmente à noite e na madrugada, especialmente na zona rural. Foi a partir do mês de outubro daquele ano que as ocorrências começaram a ser também no final da tarde e início da noite. E já não atingiam apenas a zona rural, mas chegavam até a sede do município. No mês seguinte, os casos aconteciam durante toda à tarde, principalmente a partir das 16:00 horas. Nesta fase do fenômeno chupa-chupa, eu passei a achar que “eles”, o que quer que fossem os pilotos daquelas máquinas, estavam tomados de muito desespero, a ponto de fazerem de tudo para chegarem às vítimas. Não sei por que, não acredito que eles estivessem ali com intuito de maldade pura e simples. Eles precisavam de alguma coisa que aquela gente tinha...

Quando você diz “eles”, a quem exatamente você está se referindo?

“Eles” quer dizer os seres extraterrestres, que se acredita estarem por trás dos ataques. Hoje eu me refiro a eles assim. Na minha opinião, naquela época havia uma esquadrilha de naves perdida na Amazônia e precisando desesperadamente de combustível ou alguma outra coisa para voltar ao seu local de origem. Quem somos nós, simples mortais, para saber qual combustível eles usavam? O nosso vem do álcool e do petróleo, mas e o deles, será que não vinha dos seres humanos? Penso que estavam retirando a energia vital das pessoas e transformando-a em algo. Comecei a perceber isso a partir dos primeiros 40 casos que atendi. Tentei elucidar minhas dúvidas e dar uma resposta à população, porque todos me cobravam muito uma posição.

Por você ser uma das pessoas mais instruídas de toda a ilha, certamente...

Sim, por isso. As pessoas me perguntavam o que era aquilo e eu comecei a parar de pensar como médica e passei a raciocinar como ser humano. Queria saber por que as vítimas enfraqueciam tanto e tão rapidamente após os ataques. Apresentavam diarreia, gritavam e tinham dores articulares que duravam meses. Muitas ficavam apáticas, temerosas, depressivas e irritavas. Pouco falavam, mas eu, ao visitá-las em suas casas, perguntava sempre se sentiam melhor. Muitas vezes respondiam de forma monossilábica. “Mais ou menos. Nunca mais gozei saúde, doutora. Não sei o que eu tenho”, diziam uns. “É como se uma coisa tivesse me chupado”, afirmavam outros.

Era visível o estado de saúde precária das vítimas mesmo meses depois dos ataques? Elas nunca melhoravam?

Sim, visível. Parecia que alguém ou algo havia extraído a energia vital delas, que por isso geralmente ficavam doentes. Foi quando comecei a buscar nos arquivos da Unidade Sanitária de Colares dados sobre os exames de sangue e de urina pregressos das pessoas que haviam sido atacadas, pois muitas delas regularmente faziam check-up no posto, já que viviam numa região onde a incidência de doenças era grande. Por sorte, havia um grande arquivo de vários anos antes de minha atuação lá, contendo dados dos pacientes.

O que você tinha em mente?

Minha ideia era comparar essas informações com as atuais e verificar o que havia mudado. Descobri uma coisa incrível: 100% daqueles que tinham feito exames laboratoriais antes dos ataques foram acometidos por uma súbita anemia, na qual o número de hemácias em seu sangue havia reduzido para quase 50%. Também descobri que a coloração das células sanguíneas dos pacientes havia mudado.

Esse era um padrão constante nas pessoas que foram atacadas?

Sim. Por exemplo, um paciente que tinha feito um exame no mês de março de 1977, que acusou 4.600 milhões de hemácias e uma taxa de 12,5 g⁄dL de hemoglobina, apresentou após o ataque apenas 3 milhões de hemácias e 9 g⁄dL de hemoglobina. Muita gente chegou a ter variações ainda mais marcantes, de perder até 50% das hemácias. Ora, era impossível isso acontecer em tantas pessoas ao mesmo tempo, e só naquela região. Das 80 pessoas que atendi ao todo, cerca de 80% apresentavam anemia grave [Os valores normais para a concentração de hemoglobina sanguínea definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 13 g⁄dL para homens, 12 g ⁄dL para mulheres e 11 g ⁄dL para gestantes e crianças entre seis meses e seis anos. Abaixo desses dados, o indivíduo é considerado anêmico].

E quanto aos ataques em si, como eles aconteciam, segundo a descrição das inúmeras vítimas que você atendeu?

Ouvi muitos relatos, quase todos idênticos. Primeiro, não era um raio de luz que vinha do céu, mas sim de um objeto que descia perto da copa das árvores e ficava camuflado entre elas. Ele brilhava, fazia um barulho muito alto e todos eram cilíndricos – nenhuma vítima me descreveu artefatos como discóides. Por isso, eu não entendo o nome dado à expedição militar feita na região, Operação Prato, que presume que os objetos tinham este formato de disco. O escritor Daniel Rebisso, autor de Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular, 1991], os descreveu como sendo metálicos e prateados, com diversas luzes na parte superior e inferior. Eles ficavam parados em cima das árvores e quando se deslocavam não o faziam de maneira retilínea. Esse fato até eu presenciei: eles se movimentavam de forma elíptica.

Os casos eram muito semelhantes entre si?

Sim, eles não tinham discordâncias, todos eram iguais. Veja bem: eles não eram parecidos, mas sim iguais. Quando uma pessoa me procurava na unidade de saúde com uma grande queimadura no hemitórax, tanto no lado direito ou esquerdo, eu já procurava os orifícios no pescoço, pois sabia que iria encontrá-los. Referia-me a eles como semelhantes às marcas feitas por presas de vampiros.

Algum caso dos que chegaram ao seu conhecimento fugiu do padrão já descrito de ataques e consecutiva queimadura?

O único caso que fugiu um pouco do padrão de queimadura no tórax e perfurações no pescoço deu-se com uma paciente que ficou tomando conta da casa para cuidar de seus filhos no terreiro. Ao ser atacada, levantou as mãos para se proteger, sofreu as queimaduras ali, nas mãos. No mais, as pessoas tinham todas os mesmos sintomas após os ataques. Não tinham febre, mas apresentavam uma queda em sua resistência imunológica, pois ficavam muito doentes, sem apetite ou disposição para fazer suas tarefas rotineiras. Percebi até que começaram a ter o raciocínio mais lento. Usando uma palavra popular da Amazônia, ficaram “lesos”.

Vamos voltar um pouco em nossa conversa. Eu gostaria de saber como é que as pessoas atacadas chegavam à unidade sanitária?

Elas nunca chegavam sós, estavam sempre amparadas ou carregadas por parentes, amigos, compadres, comadres ou vizinhos, porque não conseguiam andar. Essas pessoas, em geral, testemunharam o que havia acontecido às vítimas, mas saíam ilesas. Coisa curiosa é que, quando os ataques ocorriam, os atacados nunca estavam sozinhos... Às vezes eram casais namorando ou pessoas que ainda insistiam em ir a festas. Depois, com a repetição dos casos, acabaram todas as festividades e tudo parou. E olhe que isso é coisa difícil aqui no Pará, onde o povo é mesmo muito festeiro e animado...

Você tem informações de casos em que mais de uma pessoa foi atingida simultaneamente?

Isso com freqüência acontecia. Com um casal de namorados, por exemplo, os dois geralmente eram atacados juntos. Num grupo grande, muitos eram picados. Os que se safavam voltavam depois para ajudar os colegas. Mais para frente, as pessoas pararam de sair e nem mesmo os pescadores se atreviam a continuar suas atividades, pois vários deles foram atacados em pleno mar – nem durante o dia havia pesca após outubro de 1977. Ninguém mais ousava sair de casa, pois com o decorrer do tempo as luzes começaram a ficar mais audaciosas, fazendo vítimas em plena luz do dia e nas ruas da Vila de Colares.

Você atendeu apenas umas 80 pessoas atacadas.

Mas quantas vítimas ao todo você estima que o chupa-chupa fez? Creio que o número de pessoas atacadas foi muito grande, mas muitas não tinham acesso fácil à sede do município, vivendo na zona rural de Colares, e nunca procuraram ajuda médica. Por isso, não entram em estatísticas. Naquela época, eram necessárias várias horas de barco para atravessar o Túnel da Laura, região que separa o litoral da ilha. Muitas pessoas vinham carregadas em redes, outras tinham até medo de trazê-las e serem atacadas no caminho. Eu também tinha receio de ir vê-las em suas residências, e recebia constantemente a notícia de que mais e mais moradores estavam sendo atacados pela luz. Até mesmo os funcionários da unidade não queriam levar medicamentos às regiões mais afastadas, com medo.

Havia padrão no sexo ou idade das vítimas?

Créditos: Revista Ufo.
Bem, eram atacados mais homens do que mulheres, mais adultos jovens do que pessoas idosas. Poucos casos de crianças foram registrados, e nenhum com menores de 10 anos. Não atendi ninguém tão jovem ou idoso com idade avançada. Era como se houvesse um respeito por tais faixas etárias. A paciente mais idosa que atendi, e que inclusive foi a óbito, tinha 72 anos. Ela foi atacada dentro de sua cozinha, que não tinha janela, protegida do Sol ou chuva apenas por uma cortina de plástico. Isso aconteceu entre 17:00 e 18:00 horas.

Vamos tratar desse caso logo adiante. Agora, por favor, descreva se havia algum padrão físico entre as vítimas?

É interessante destacar que todas as vítimas eram magras e nenhuma tinha sobrepeso ou era obeso. Além disso, todos eram pardos ou caboclos. Não atendi nenhuma pessoa branca ou loira, mesmo porque existia apenas uma meia dúzia delas na ilha toda, isso contando ainda com a técnica de laboratório da Unidade Sanitária de Colares e eu. A grande maioria das vítimas era composta por agricultores, pescadores e donas de casa, casados e que não usavam álcool. Sei disso porque fiz questão de perguntar a todos as circunstâncias de suas vidas, já que no início dos casos eu achava que eram alucinações e poderiam ser provocadas por bebida alcoólica. Estava enganada...

Houve alguma incidência de ataques dentro das mesmas famílias, ou seja, integrantes do mesmo grupo familiar eram atacados?

Não. Aconteceram vários casos em que primeiro era atacado o marido e, depois de quatro a seis semanas, a esposa ou os filhos. Mas não simultânea ou imediatamente. Eu até achava que alguns fatos poderiam ser brigas de casal, mas não consegui provar um único caso. Enfim, eu usava todos os argumentos a mão para justificar minha incredulidade. Aplicava todas as teorias possíveis, menos que fosse “coisa de outro mundo” ou extraordinária.

Era possível identificar quando o chupa-chupa estava perto da cidade, através de sons?

Todos sabíamos quando eles estavam a caminho, pois faziam um zumbido parecido com o de besouros. Quando as pessoas escutavam esse som, iam logo procurar um local para se esconder. Ainda bem que os objetos não eram silenciosos, pois se fossem teriam atacado muito mais pessoas. Esses artefatos, sempre de formato cilíndrico, chegaram a um extremo de audácia ao passar a emitir seus raios de luz através das frestas das casas de madeira e palha da ilha, que geralmente não tinham forramento. As luzes de fato penetravam pelas frestas com extrema habilidade e pontaria. Para se proteger, as pessoas cobriam esses espaços com papéis, jornais ou revistas, tampavam até mesmo o buraco da fechadura, o que resolveu um pouco a situação.

Os raios de luz eram emitidos dos objetos voadores sempre linearmente ou faziam curvas para atingir as pessoas?

Mantinham-se linearmente, nunca faziam curvas. Às vezes, eram emanados de forma oblíqua, mas sempre retos e nunca na horizontal. Percebi isso porque, para ter uma melhor comunicação com os pacientes, eu desenhava num papel o que eles me descreviam, pedindo que verificassem se estava representando corretamente os casos. Os moradores relatavam que as luzes geralmente entravam pelas janelas e portas – quem não as tinha corria logo para providenciar tudo novo –, até mesmo pelas telhas, que eram colocadas uma sobre as outras para reforçar a proteção.

Você acredita que as pessoas atacadas foram escolhidas por alguma razão específica, talvez por ter ou não alguma determinada doença? Ou os ataques se deram ao acaso? Qual era o padrão das vítimas?

Tirando as características da faixa etária e da estrutura física das vítimas, não notei nenhuma predileção por parte deles. Bem, eram atacados mais homens do que mulheres, mais adultos jovens do que pessoas idosas. Poucos casos de crianças foram registrados, e nenhum com menores de 10 anos. Não atendi ninguém tão jovem ou idoso com idade avançada. Todas as vítimas eram magras e nenhuma tinha sobrepeso ou era obeso. Além disso, todos eram pardos ou caboclos. Não atendi nenhuma pessoa branca ou loira, mesmo porque existia apenas uma meia dúzia delas na ilha toda. A grande maioria das vítimas era composta por agricultores, pescadores e donas de casa, casados e que não usavam álcool. Mesmo as duas pessoas que foram a óbito [A doutora Wellaide admitiu que pode haver mais casos de morte, que não são de seu conhecimento] nada de especial tinham em comum, exceto problemas cardíacos. Ou seja, não morreram em função da agressão que sofreram, mas sim porque não resistiram às suas conseqüências.

Muitos dos pacientes que você atendeu em Colares chegaram a falecer?

Não, apenas três casos, todas mulheres. O primeiro aconteceu num hospital de Belém. Essa senhora chegou carregada à Unidade Sanitária de Colares e recebeu a medicação energética necessária, ao mesmo tempo em que controlávamos sua pressão. Ela era um pouco idosa, tinha 72 anos, apresentava problemas cardíacos e hipertensão. Esperei 36 horas e não vi resultados no tratamento. Não tivemos sequer uma reação da paciente. Daí resolvi conversar com o prefeito para levarmos aquela senhora ao Hospital dos Servidores do Estado, em Belém. Tivemos dificuldade até para colocá-la no carro, pois estava com espasmo muscular [Contração exagerada e permanente de um músculo]. Mas ela foi deitada no banco traseiro do automóvel, com as pernas para fora da janela. Estava quase cadavérica, da mesma maneira como ficam os animais que eram atacados, completamente secos e enrijecidos. Assim que chegou ao hospital, morreu.

O que aconteceu depois desse primeiro óbito?

Pedi para os familiares da falecida acompanharem todos os procedimentos e exigirem que fosse feita necrópsia. Eles pediram, mas não foram atendidos. Era época de repressão e a ditadura militar estava efetiva, com o Ato Constitucional n° 5 em vigor. Num período como aquele, a gente não podia pedir muita coisa... Quando os parentes da falecida retornaram, pedi a eles a cópia da declaração de óbito e constatei que estava escrito que a causa da morte foi dada como desconhecida.

E os demais óbitos?

O segundo caso foi de uma paciente mais jovem, em torno dos 44 anos, mas que também tinha hipertensão. Ela foi atacada em sua casa por uma luz que entrou pela janela. A vítima teve as mesmas características da primeira e a causa da morte também não foi esclarecida. Esses dois fatos aconteceram no mês de outubro. Já o terceiro foi em novembro ou dezembro. A mulher foi levada a minha casa pela comadre dela. Estava num estado deplorável e falava com dificuldade. Foi atacada da mesma forma que as outras, porém morreu seis anos após o contato com a luz. Foi acometida de manchas vermelhas na pele [Núcleos eritematosos sistêmicos] e insuficiência renal.

Houve envolvimento de alguma outra instituição de saúde paraense com as mortes, seja no tratamento das vítimas ou análise de seus cadáveres?

Bem, além do Hospital dos Servidores do Estado, as vítimas poderiam ter sido levadas ao Instituto Médico Legal Renato Chaves, que deveria proceder à autópsia dos cadáveres. Só que, como não tínhamos óbito em via pública, e sim dentro do Hospital dos Servidores, não houve amparo legal na hora das exigências e as necrópsias não foram feitas. A lei era essa: só se fazia autópsia de gente que morria em via pública. E a declaração de óbito da segunda vítima foi da mesma forma que a primeira e pelo mesmo hospital, sem ter sido levada ao IML: causa desconhecida.

Mais uma frustração, não? Mas teve o caso de uma vítima que você acompanhou pessoalmente ao hospital...

Foi o último caso. Eu levei a vítima até o hospital, deixei-a lá e retornei a Colares. Eu tinha prometido ao prefeito que retornaria, que não ficaria em Belém. Esse era o medo dele. Nessa ocasião, liguei para a Secretaria Estadual de Saúde Pública (SESPA) e pedi que os funcionários atendessem meus apelos, feitos através de ofícios àquela instituição, pedindo ajuda, supervisão, explicação e apoio. Ninguém da SESPA me respondia, seja por temor, pois nenhuma equipe queria ir à ilha, os técnicos tinham medo de serem atacados ou por receio de desafiar a ditadura militar, querendo expor, se envolver ou ter que concordar com algo que naquela época não permitiam que fosse conhecido. E assim, a SESPA ficou de fora do fenômeno chupa-chupa.

Qual foi a conseqüência daquelas mortes entre a população, mais pânico do que antes?

Sim, elas provocaram mais pânico em todos. Tanto que muitas pessoas fugiram da ilha após os dois primeiros casos. Os que ficaram, começaram a pressionar o prefeito para que acionasse a Secretaria de Saúde Pública e as Forças Armadas a tomarem providências, e foi o que ele fez: chamou os militares da Aeronáutica.

Houve casos de animais serem atacados e seus proprietários não?

Sim, houve, mas também outros em que seus donos também eram vítimas. Com certeza, os bichos eram vitimados com maior freqüência que os seres humanos. Geralmente, encontrávamos mortos os animais que tinham mais pelos ou penas. Ao amanhecer, eles apresentavam crises compulsivas e morriam. Quando não tinham sido atacados recentemente, apareciam queimados, secos e esturricados, com olhos abertos e arregalados, como se fossem colocados vivos dentro de um forno. Os locais em volta das cenas dos ataques tinham odor de pelo queimado. Ninguém tinha coragem de comê-los, mesmo que tivéssemos fome e nada para nos alimentar. Ninguém sequer tentou, pois estávamos apavorados. Foi a partir daí que começamos a pescar siri...

Você teve conhecimento de algum caso em que animais e seres humanos foram atacados simultaneamente?

Que eu saiba, não. Veja, por exemplo, o caso daquela senhora cardíaca de 72 anos que mencionei. Ela estava dando comida aos seus animais quando foi atacada, mais eles não sofreram nada.

E os objetos que atacavam humanos eram os mesmos que vitimavam os animais?

Sim, eram os mesmos. Acredito que muita gente não viu isso acontecer, mesmo porque os ataques aconteciam mais à noite. Os moradores escutavam um barulho estranho e alguns pensavam que eram pessoas querendo roubar seus animais, pois havia falta de comida na região. Quando corriam para o quintal, para afugentar o suposto ladrão, não encontravam ninguém. Viam apenas a luz emanada do chupa-chupa e voltavam rapidamente para dentro de casa. Às vezes até tentavam pedir socorro.

Quais espécies de animais eram mais atacadas durante a onda chupa-chupa?

Geralmente eram patos, galinhas, porcos e vacas, além de cachorros que iam à direção da luz para ver o que estava acontecendo. A forma da morte era sempre a mesma: no dia seguinte, todos estavam secos e com os olhos arregalados. Estimo que um número muito maior de animais foi atacado, muito mais que pessoas. Essa talvez seja uma informação que os ufólogos não sabiam, até porque nunca achei que fosse interessante.

De fato, eram desconhecidos os ataques a animais durante a onda chupa-chupa. Essa informação é muito importante e dá uma dimensão maior do que foi o fenômeno. Agora, partindo para seus contatos pessoais, quando foi seu primeiro avistamento de um objeto voador em Colares (PA)?

Foi em outubro de 1977. Nessa época, a Aeronáutica já estava com dois postos de observação lá, um montado na praia que fica em frente à Vila de Colares e, outro, a 50 m da minha casa, no campo de futebol. Eles cercaram a cidade com seus equipamentos de observação. Então, a partir das 16:00 horas, todos nós já ficávamos atentos. Eu ia atender algumas pessoas e voltava rapidinho para casa, pois os ataques começavam cada vez mais cedo.

Que tipo de equipamentos os militares tinham naquela época? Eram muitos?

Muitos e de altíssima tecnologia. Essa história que eles não tinham tecnologia era pura mentira [Conforme relatado por alguns integrantes da Operação Prato]. O radar dos militares era muito potente, apitava freneticamente sempre que “eles” estavam se aproximando. Tinha noite que eu ia bisbilhotar toda vez que o radar disparava, porque, depois que vi o disco voador pela primeira vez e percebi que os seres não queriam nada comigo, eu fiquei audaciosa. Tinha um tenente capixaba que me arrasava cada vez que fazia isso. Ele dizia: “Volte para sua casa e deixe de ser irresponsável, porque a sua segurança é responsabilidade nossa”. E eu, por ser rebelde, falava: “Não sou soldado, nem cabo e não tenho que obedecer às suas ordens”.

Conte como foi a sua primeira observação?

Certo dia, fui chamada às 16:00 horas para atender uma criança que tinha quebrado a clavícula, exatamente o filho mais novo da única paciente que teve as mãos queimadas para se proteger da luz que aterrorizava as pessoas. Então, fui com as três secretárias da unidade até a casa dela. Eram mais ou menos umas 17:00 horas, quando terminei de fazer todos os curativos e imobilizar o local do ferimento. Pensei que poderia ter feito isso em apenas 20 minutos, mas acabei demorando uma hora. A criança estava muito nervosa e gritava muito. Quando terminei o atendimento, a família levou o garoto imediatamente para casa e eu fechei a unidade com as três secretárias – a Loló, uma senhora de 88 anos cheia de ferimentos de arraias, Jucemar e um rapaz de 16 anos. Nesse horário não havia mais ninguém na rua e nós andávamos a passos rápidos. Quando chegamos na frente da casa do presidente do Sindicato dos Pescadores, cujo apelido era Compadre Caneco, ouvi um barulho de algo caindo – sua casa era vizinha à minha. Olhei para baixo e vi minha acompanhante Jucemar desmaiada, caída no chão.

Quando isso aconteceu vocês já estavam quase chegando em sua casa...

Sim, faltavam poucos metros. Então, a Loló começou a me empurrar, a bater no meu braço e a apontar o dedo para cima, querendo me mostrar algo. Ela não olhava, apenas mostrava algo, mas eu estava ocupada dando atendimento à dona Jucemar. Enquanto isso, o povo gritava nas janelas das casas para que saíssemos de lá. Mas eu não podia correr, não sei porque. Era uma mistura de três sentimentos distintos: curiosidade, êxtase e espanto. E caso acontecesse algo ali comigo, seria a prova definitiva de que a população não era delirante, histérica ou alucinada.

O que se passou em seguida?

Eu olhei pra cima e vi algo cilíndrico, com a aparência de metal e uma beleza suprema. Não era prata ou inox e tinha um brilho que nunca vi, com luzes na parte inferior e superior, azul, rosa e amarela, uma de cada cor. Posso comparar grosseiramente as cores daquele objeto com as do arco-íris. E o metal talvez seja como um inox classe A, extremamente polido e bem tratado, mas não era bem o tipo que conhecemos. Nunca mais vi material semelhante. O objeto devia ter aproximadamente uns 4 m de diâmetro, estava super baixo e era gigantesco. Moro num prédio de 13 andares e o artefato estava a uma altura de um edifício de 10.

Como era o movimento daquele objeto?

Ele ia em direção à baía, voltava novamente e passava sobre minha cabeça. Nesse momento, eu achava que poderia cair sobre mim. Aí ele passava de volta, calmamente. Seu movimento era elíptico, sempre indo em direção à baía. Aquilo não era uma luz e sim algo metálico, mesmo porque, apesar de estar entardecendo, o dia estava claro e o céu sem nuvens. Eu via o artefato com clareza.

Você conseguiu ver se havia alguma coisa dentro daquele objeto?

Sim. Quando ele começou a baixar, pude ver algo na parte da frente, como se fosse uma janelinha transparente. Enxerguei seres dentro do artefato, apenas da cintura pra cima, e eles tinham um formato humanoide. O que me chamou a atenção foram seus longos e volumosos cabelos amarelos. Tudo aquilo que falam nos gibis é mentira, eles apresentam formas humanas! Eram duas silhuetas de criaturas parecidas com humanos. Não tinham cor verde como alguns atribuem aos extraterrestres, e sim cor de gente. A parte da frente do artefato era transparente e tinha uma janela panorâmica. Deu para ver nitidamente a silhueta das criaturas quando desceram e chegaram à altura de um prédio de cinco andares. Eu os vi do tórax para cima, por isso não os identifiquei como mulheres ou homens. Só sei que não tinham a mesma altura – um era um pouco mais alto que o outro.

Você tinha alguma ideia do que poderia ser aquilo que estava vendo?

Claro, porque você só acredita no que seus olhos vêem. Tal objeto ficou quase 15 minutos sob minha cabeça e eu não sabia o que “eles” iam fazer comigo. Fiquei ali parada. Até pensei em correr, mas se tivesse feito como a Loló fez, fugir de medo, eles poderiam atacar a Jucimar, que estava desmaiada. Além do mais, eu queria ver e saber o que realmente era aquilo. Precisava continuar vendo para acreditar de uma vez por todas que a população não estava louca. Muitos moradores gritavam pedindo para que eu saísse de lá, mas não me movia. Esses poucos minutos duraram uma eternidade, mas foi uma das coisas mais lindas que já que vi.

Qual foi a atitude dos militares da Aeronáutica quando viram isso acontecer com você e seus acompanhantes?

Eles correram para a praia onde estavam instalados os radares, equipamentos e as máquinas de alto alcance que trouxeram para a ilha. Uma equipe de militares foi para o campo de futebol, onde estava instalada outra base de observação. Mas os objetos apenas iam e voltavam para a baía. Tudo aquilo durou pouco tempo, mas mesmo assim os militares se movimentaram. Os radares apitavam freneticamente, enquanto os soldados fotografavam tudo. Então, depois, o artefato foi em direção à baía e sumiu...

Após esse fato você se sentiu pressionada pelos militares?

Depois que os oficiais viram que já não podiam mais esconder os fatos e que era verdade que “eles” existiam, começaram a fazer propostas piores para mim, para que eu dissesse que eram esquadrilhas de russos estudando a população brasileira. Isso porque já não podiam mais falar que eram apenas delírios dos moradores. A população inteira da ilha já estava vendo tudo a olho nu e durante o dia. Não recebi essa ordem diretamente do coronel Uyrangê Hollanda, mas sim de seus subordinados. Ele, Hollanda, nunca vinha me falar qualquer coisa, acho que por receio.

Como era seu contato com os militares a esta altura dos acontecimentos?

Era de hostilidade. As primeiras pessoas que eles visitaram foram o prefeito, eu e o padre. Todos os militares tinham a mesma proposta: fazer com que o prefeito me convencesse a obedecê-los e que o padre, por também ser médico, persuadisse a população a acreditar que todos estavam tendo uma histeria coletiva. Os tenentes da Aeronáutica pediram para que eu aplicasse nas vítimas os tranquilizantes Idsedin [Que hoje é conhecido como Psicosedin], Diazepam e Benzodiazepam. Pediram-me para que convencesse as testemunhas de que estavam tendo alucinações. Eles chegaram a me dar caixas desses remédios, mas eu não os ministrei às pessoas. E ainda lhes disse: “Mas como faria isso? Então sou histérica também, bem como vocês! Porque eu os vi e todos vocês correram para fotografar o UFO quando estava sobre mim. Por que vocês não tomam também o remédio?”

Eles a ameaçavam? De que forma?

Sim. Eles me falaram: “Se a senhora continuar acreditando no que a população fala, vai sofrer severas punições. Será punida por sua instituição e pelas Forças Armadas”. Percebi que corri o risco de ser presa, castigada e transferida, além de ter o meu registro cassado pelo Conselho de Medicina do Pará. Os militares sabiam que minha palavra na comunidade era muito importante, até mesmo mais do que a do prefeito e do padre. Chegaram a afirmar que se eu dissesse aos moradores que tudo aquilo era alucinação, eles iriam acreditar. E era justamente isso que queriam! “Sabemos que você é muito querida pelo povo e a única na ilha que tem nível superior, além do padre. Convença seus pacientes de que estão tendo alucinações, delírios e visões”, pediam.

Quando os militares lhe deram os medicamentos que queriam que você ministrasse às pessoas, falaram como se fosse uma ordem?

Bom, como uma ordem eu não sei, mas tenho certeza de que não foi um mero pedido. Eles me solicitaram aquilo com muita convicção. E disseram: “Nós trouxemos esses medicamentos. Entregue uma cartela a cada uma das pessoas que disser ter sido atacada por esta tal luz. Você ficará responsável pela administração dos remédios”. Até aquela época eu já havia atendido mais de 50 casos e disse que não ia receitar medicação para ninguém. Primeiro, porque aquelas eram drogas e só podem ser indicadas para pacientes que tenham necessidade e, ainda assim, com receita de cor azul. O Benzodiazepam, por exemplo, é um medicamento de tarja preta indicado para o alívio sintomático da ansiedade, agitação e tensão devido a estados psiconeuróticos e distúrbios passageiros, causados por situação estressante. Pode também ser útil como coadjuvante no tratamento de certos distúrbios psíquicos e orgânicos. Mas como não quis medicar ninguém com essas drogas, os militares começaram a me tratar com hostilidade.

O coronel Uyrangê Hollanda estava junto dos tenentes que levaram os remédios?

Não, geralmente eram seus comandados que vinham à Unidade Sanitária de Colares. O Hollanda se mantinha sempre polidamente a distância, me cumprimentava, mas nunca se aproximava de mim para me dar nenhuma ordem. Mesmo porque, acho que no fundo ele sabia que tudo aquilo que estava se dando na ilha era verdade. Talvez ele fosse o mais íntegro de todos os militares, mas recebia ordens de seus superiores e tinha que cumpri-las. Os militares usavam fardas oficiais da Aeronáutica, mas não tinham nenhuma identificação. Apresentavam um sotaque da região Sul do país, não sendo paraenses. Muitos até se identificavam como biólogos e geólogos, só que um deles, o que dirigia um jipe, era sargento e não tinha nível superior.

Os militares que a procuravam no posto de saúde eram sempre os mesmos?

Não, mas normalmente vinham entre 3 e 4 soldados conversar comigo. Nunca vinham sozinhos. O número total deles na Ilha de Colares era de 33 ou 34 pessoas, entre oficiais e soldados. Geralmente, sempre havia alguém me vigiando. Certa vez um militar, referindo-se ao meu avistamento, me disse que “aquilo não foi nada, deve ter sido algum acidente aéreo, apenas isso”. Então falei: “Como assim, acidente? Então, para vocês aquilo foi acidente? Se não for para explicar à população o que realmente aconteceu, o que vocês vieram fazer aqui? Botar esses medicamentos garganta abaixo nas pessoas?” Eles estiveram lá na unidade entre os meses de outubro a dezembro de 1977.

Os militares tinham uma atitude grosseira ou rude com a população?

Sim, muito. Aquela senhora que foi queimada na mão, por exemplo, estava sendo atendida na casa do prefeito quando eles chegaram, abriram a porta e gritaram: “Pare com seus ataques histéricos, vá para sua casa cuidar da sua família”. O prefeito ficava muito dividido nessas ocasiões, pois acho que tinha medo de enfrentá-los. Ele me dizia: “Doutora, não discuta com eles porque se forem embora será pior para nós”. Eu contestava e falava: “Mas não posso dopar uma população inteira...”

Você guarda algum sentimento ruim daquela época, em relação aos militares?

Sim, tenho mágoa da tirania daqueles soldados. Naquela época, apesar de ser médica e ter estudado tanto tempo, estava formando minha personalidade. O que ocorreu fez com que, até hoje, eu não goste de militares. Era uma mulher, profissional e jovem, estava tentando proteger uma população por qual era responsável e cujo trabalho era paga – muito bem paga, por sinal. Ganhava uma verdadeira fortuna para uma recém-formada. Comparativamente, seria o equivalente a uns R$ 35 mil hoje em dia. Então, tinha mais do que obrigação de cuidar daquela população.

A pressão que você recebia dos militares era sempre a mesma, constante?

Quando o radar tocava, eu saía sem vela ou lampião na mão para que ninguém me identificasse e ia ver o que estava acontecendo. Mas sempre havia uns dois ou três militares me observando, para me levar de volta para casa. Eu não deixava que eles me tocassem, mas sempre ficava brava e acabavam me levando detida para a delegacia. Eu me lembro até de uma vez em que lhes disse: “Como vocês vão me prender, se nem tem prisão especial aqui na ilha?” Um deles então retrucou: “Nós pedimos uma cela qualquer e colocamos na frente uma placa escrito ‘cela especial’ para você”.

O Hollanda chegou pessoalmente a fazer alguma proposta ou pressão para você não revelar o que estava acontecendo na região?

Não, nunca. Ele sempre foi muito gentil comigo, mas suas ordens partiam sempre do comandante, é óbvio. E quando tinha que falar algo para mim, mandava alguém. Ele nunca vinha pessoalmente. Eu identificava os enviados pelas listras e estrelas bordadas nos uniformes, pois nenhum tinha identificação de nome. Como já fui estagiária de medicina na Aeronáutica, sabia qual era cada patente.

Como você descreveria o comandante da Operação Prato, coronel Uyrangê Hollanda?

Ele era uma pessoa introspectiva, tímida e calada. Um militar reservado que não tratava sua equipe com hostilidade e nunca levantava a voz. Nunca ouvi um grito dele, nem nos momentos de agonia em meio a tantas aparições. Hollanda sempre se mantinha a distância, mas me observava muito. Inclusive, sabia que os militares me vigiavam com binóculos e acompanhavam todos os meus passos. E eu sabia que todas as ordens partiam dele. Quando nos encontrávamos, ele apenas me cumprimentava e perguntava: “Tem atendido muitos pacientes, doutora?” Nada mais do que isso.

Você chegou a ver algum militar estrangeiro participando de alguma atividade na Ilha de Colares?

Não, nenhum. Todos os que conheci eram capixabas, mineiros, goianos, pernambucanos e uns pouquíssimos paranaenses. Eram sempre militares da Aeronáutica, sem roupa de camuflagem. Eles usavam o uniforme oficial mesmo, calça azul e blusa branca. Mas causava estranheza não usarem no peito seu nome de guerra, porque são obrigados a isso. Todas às vezes que eu perguntava o nome de um militar, eles diziam: “Me chame apenas de tenente”. Nunca falavam nada de pessoal além disso. Para se ter uma ideia, eu só fui saber o nome do capitão Hollanda depois que tinha partido de Colares, em 1978...

Naquela época, quando você não estava mais em Colares, ainda aconteciam ataques?

Ocorriam esparsamente, uma vez a cada 30 dias. Nesse período, a Aeronáutica já tinha sido retirada do local e enviado um relatório à Secretaria Estadual, para que eu fosse transferida imediatamente por insubordinação e rebeldia. Se isso acontecesse hoje, com certeza, estaria presa, porque seria mais rebelde ainda. Agora tenho mais discernimento do que antigamente.

Você chegou a ser transferida para outra unidade, longe dos acontecimentos de Colares?

Era para eu ser transferida para a cidade de Juruti, na divisa do Pará com o Amazonas, em março de 1978, para exercer o cargo de diretora da Secretaria Estadual de Saúde. Tudo estava pronto, faltava apenas aprovar a portaria estadual, mas eu não queria ir. Fui então conversar com o secretário de Saúde do Pará, o doutor Manoel Ayres, e dizer que não ia sair dali. “Então a senhora vai ter que ser demitida por insubordinação”, ele me disse. Saí de seu escritório e voltei pra casa. Dois dias depois, fui recebida pelo governador do Estado, Aluízio Chaves, que escutou tudo mas não prometeu nada. Pouco tempo depois, o mesmo secretário me chamou novamente, disse que eu não iria mais para Juruti e que ele ia cancelar a portaria de transferência para tal localidade. Mas, mesmo assim, eu não retornaria à Colares. Ele queria que eu fosse chefiar uma unidade no interior do Maranhão.

As autoridades paraenses sabiam a gravidade dos acontecimentos e não fizeram nada?

Sabiam sim, porque a imprensa local divulgava. As pessoas que fugiam de Colares passavam as informações aos jornalistas, tanto que o repórter Carlos Mendes [Veja entrevista em UFO 115] publicou matérias detalhadas sobre o assunto no jornal em que trabalhava. Mendes é uma das pessoas mais valentes e corajosas que eu conheço, e merece esse título. Ele tem muito a revelar sobre esse assunto.

Como você se sente falando sobre os ataques do chupa-chupa?

Essa deve ser a minha centésima entrevista sobre o assunto, e talvez a última, porque isso nunca me ajudou, só me atrapalhou. Dou essas informações como a ressalva que peço às pessoas que as recebem, que só divulguem aquilo que é verdade e não usem a Ufologia para atos escusos, o que só faz desmoralizar os pesquisadores. Eu não sou ufóloga e tenho plena certeza de que jamais serei, até por falta de tempo, mas tenho plena convicção de que não somos os únicos seres inteligentes no meio de milhões de galáxias. Depois de ler muito sobre Ufologia, percebi o quanto fui equivocada quando tomei algumas atitudes, em 1977.

Absolutamente, Wellaide. Suas ações refletiram a situação daquela época e não há nada de errado nelas. Você deu enormes contribuições. Por falar nisso, descreva as outras observações que você teve naquela região.

Bem, minha segunda experiência com aqueles objetos voadores não identificados deu-se no campo de futebol, quando “eles” tentaram fazer – segundo os ufólogos dizem – contato de terceiro grau. Ou seja, queriam se comunicar conosco. Até então eu nem sabia o que era isso. Mas, naquele dia, parecia que queriam pousar e manter contato.

Como se deu esse fato?

A Aeronáutica ainda permanecia na área e o radar dela acusou algo estranho no céu, por volta das 18:00 horas, entre os dias 15 e 25 de novembro de 1977. Saí correndo e fui para a estrada principal que dá acesso à ilha. Ali já havia um aglomerado de pessoas, inclusive dentro da água, querendo acertar o objeto com pedras e estilingue. Mas os militares tentavam impedir que os moradores fizessem isso, porque acreditavam que o objeto pretendia pousar. Estava difícil, pois umas 200 pessoas corriam para a estrada para evitar que a nave descesse. Muitos acreditavam que a população seria massacrada. Os militares queriam que o objeto pousasse, mas os populares não.

O objeto era o mesmo que você viu antes?

Era outro bem grande, umas três ou quatro vezes maior que o primeiro, tanto em largura como em altura. Por isso que eu acho que aquele primeiro deveria ser alguma aeronave pequena, e essa seria a nave-mãe. As duas tinham as mesmas características metálicas, formato e cores. Só que eu não pude ver silhuetas de seres, porque tinha tanta gente gritando, batendo latas, jogando pedras e foguetes que aquilo virou uma confusão. Os moradores não obedeciam aos militares e tentei convencê-los a não continuarem aquela bagunça, pois era perigoso. “Eles” poderiam revidar. Então, a partir disso, a Aeronáutica não teve como esconder mais nada.

O que você acha que aquele objeto estava fazendo ali, uma tentativa de pouso malsucedida?

Depois de muito tempo pensando, cheguei à conclusão de que aqueles objetos poderiam estar apenas perdidos naquela região da Amazônia, talvez desgarrados de um grupo maior e pretendendo apenas voltar ao seu local de origem. Não sei como, mas “eles” pareciam estar armazenando alguma forma de combustível para poder retornar ao seu mundo e, talvez, a energia e o combustível que precisassem era justamente nossa energia vital sintetizada.

Sempre se teve a ideia de que o chupa-chupa extraía sangue, além da energia vital das pessoas. Você acha que a perda de energia é decorrente da perda de sangue?

Com certeza. Para onde ia o sangue sugado dessas pessoas, eu não sei lhe dizer. Eu fazia diversos exames laboratoriais e não percebia mudanças extremas. Acredito que “eles” faziam as duas coisas, tirar a energia das pessoas e mexer em sua parte hematológica.

As vítimas não tinham hemorragia, mas para onde ia o sangue?

Elas não apresentavam vômitos, nem diarreia sanguinolenta, nem mesmo hemorragias gengivais ou pelos poros. Curiosamente, as mulheres apresentavam até três ciclos menstruais num único mês, pois quando se está anêmico se menstrua com mais intensidade.

O que você pensa hoje a respeito da ação desses seres? Eram hostis ou estavam fazendo uma pesquisa, digamos, na Terra?

Olhe, pesquisa não era, pois “eles” não pareciam estar nos usando como cobaia. Se fosse assim, haveria captura de pessoas, e não houve nenhum caso. Tive a notícia do desaparecimento de dois pescadores, que as autoridades só encontraram seu barco. Agora, não se sabe se foram agredidos e, assim, possam ter caído ao mar. Ou levados pelos seres... Nisso não acredito, porque eles tiveram mil maneiras de nos destruir e, se quisessem, o teriam feito. Então, deduz-se que não eram hostis e não nos usavam como objetos de pesquisa. Minha impressão é que estavam apenas nos observando e por alguma razão ficaram desfalcados em “matéria-prima” para retornar ao seu local de origem, tendo que fazer as extrações de sangue.

Tudo indica que conseguiram a “matéria-prima” que precisavam...

Sim, tanto é prova disso que eles desapareceram logo em seguida. Hoje tenho plena convicção de que muitos casos apresentados ao longo desses anos e atribuídos ao chupa-chupa não são verdadeiros. Acho isso porque, quando você questiona as supostas vítimas, várias se contradizem. Talvez por ser sanitarista e psiquiatra, sou muito detalhista e observo com cuidado a reação das pessoas.

Enfim, como aconteceu o seu terceiro e último avistamento?

Ocorreu quando tive que sair da ilha para buscar alguns medicamentos na capital, Belém. Planejei sair de Colares lá pelas 04h00, pois a maré estava baixa nesta hora, e retornaria à cidade antes do final do dia, já que os rios voltariam a subir às 17h00. Tinha que pensar em tudo, principalmente na travessia da balsa. Fui sozinha no meu fusca verde, morrendo de medo. Peguei a estrada que liga a Vila de Colares ao porto onde a balsa estava ancorada, que tem uns 6 km, e quando já estava na metade do caminho meu carro parou inexplicavelmente. O motor pifou completamente, apesar da chave ainda estar na ignição. Foi quando percebi que aquela situação não era normal. Comecei então a escutar um barulho estranho, que pensei que fosse do veículo. Achei que tivesse estourado a correia ou coisa parecida, pois o fusca geralmente é muito barulhento. Então, vi um clarão imensamente maior que o meu carro, bem acima do veículo. Era como se eu tivesse entrado num tubo de luz. Aquilo era enorme, tinha o tamanho de uns quatro automóveis enfileirados.

O que aconteceu depois? Você viu o objeto?

A primeira coisa que eu fiz foi deitar no banco e me jogar para baixo do volante. Tinha a impressão que “eles” estavam com raiva de mim e que iam me trucidar. Fiquei de olhos fechados esperando um choque, pancada ou qualquer coisa que acontecesse. Mas, quando abri meus olhos, o feixe de luz diminuiu e foi se afastando. Não deu para ver direito o que era, porque meu carro não tem teto solar. Eu fiquei paralisada, pois sabia que não podia pedir socorro a ninguém – onde eu estava era mato para todos os lados. Resolvi ficar quieta, esperando que tudo acabasse logo. Quando não dava mais para ver o objeto, resolvi tentar ligar o carro novamente. Dei a partida e saí dali igual louca pela estrada, nem com os buracos me importava. Quando cheguei na balsa, perguntei para o proprietário se havia visto alguma coisa estranha e ele, tão assustado quanto eu, respondeu que sim. Foi incrível.

Como você se sentiu após essa experiência?

Eu tremia e estava toda arrepiada, super nervosa. Não acertava subir na balsa com o fusca e tive dificuldade até para frear o carro em minhas manobras. Cheguei a bater o pára-choque na rampa, fazendo o fusca estancar. Então, desci do carro e pedi ajuda para o proprietário da balsa embarcar o veículo. Aproveitei e perguntei a ele se eu estava queimada, pois não conseguia sentir nada. Mas não tinha nada, ainda bem!

O fusca verde não deu problema depois?

Não, ficou perfeitinho. Fiquei com medo dele nunca mais funcionar, mas ele ligou e saiu desembestado pela estrada. Agora, o problema foi que eu me entreguei àquela situação, pois tinha certeza que “eles” iam fazer alguma coisa comigo. Deitei e simplesmente fechei os olhos esperando uma reação, como se eu fosse receber um tiro ou algo assim. Foi a mesma sensação... Mas, felizmente, o barulho parou de repente e tudo se acabou. Na hora, fiquei com medo de que eles tivessem parado o som porque estavam em cima de mim, mas tinham realmente ido embora.

É estranho que você não tenha sido atacada em nenhum dos três contatos, inclusive neste caso, quando era uma presa facílima...

É, eles tiveram oportunidades de me atacar e não o fizeram. Mas posso lhe confessar uma coisa, que até conversei com o ufólogo Daniel Rebisso [Consultor de UFO e autor do livro Vampiros Extraterrestres na Amazônia, edição particular, 1991]. Eu acho que fui poupada por causa da cor do meu cabelo, que na época era loiro natural. O Daniel diz que não tem nada a ver, mas continuo achando que sim. Ora, meu cabelo tinha a mesma cor do cabelo dos seres, e talvez isso os tenha impedido. Além disso, só existiam seis pessoas loiras em toda Colares, pois a maioria da população era cabocla, de cabelos e olhos escuros. Nenhuma pessoa loira foi vitimada. Nenhuma! Quando eu vi os seres dentro no objeto, no meu primeiro encontro, percebi que tinham cabelo longo e volumoso, de cor amarela. Então, ainda questiono isso e acho que deve existir alguma relação. Por que eles não atacaram pessoas loiras?

O que sua família achava de você estar no centro de todos esses acontecimentos?

Meu pai dizia que eu era louca. Falava que eu devia ter ido para o Líbano fazer especialização, ou para qualquer outro lugar, pois na época tínhamos dinheiro para essas viagens. Ele dizia: “Veja só, você foi ficar numa localidade como aquela, onde tem um monte de coisa estranha acontecendo. Vai que acontece algo contigo”. Meu pai também já estava acreditando no que a Aeronáutica estava espalhando no Estado, que tudo aquilo estava sendo causado pelos russos ou norte-americanos. Minha mãe ficava muito mais desesperada do que meu pai, pois ela sempre foi super protetora. É sempre assim: quando jovens, tentamos sempre mostrar aos nossos pais que tudo aquilo que eles investiram em nós valeu a pena. Era assim que me sentia trabalhando em Colares, ajudando aquelas pessoas humildes e sendo totalmente útil à sociedade.

Você ainda vai a Colares? Tem notícias do que ocorre por lá?

Não. Há uns 15 anos não piso lá. Minha vida é muito corrida e não tive mais tempo. Mas acredito que não esteja acontecendo mais nada lá. Agora, as histórias do chupa-chupa já são quase que crenças, contadas e deturpadas. Como lendas que vão passando de pai para filho, que cada um conta de uma forma diferente. Ainda há lá pessoas que querem aparecer de qualquer maneira na imprensa, nem que seja com mentiras.

Wellaide, você tem ideia de quanto seus depoimentos contribuíram para a Ufologia?

Sim, embora nunca tenha me importado com Ufologia e nem tenha feito qualquer estudo nesse sentido, até os meus 21 anos de idade, quando vivi aquelas experiências. Acredito que todos esses fatos podem contribuir para que a ciência pesquise detalhadamente o tema. Minhas entrevistas foram divulgadas por diversos veículos de comunicação, tanto no Brasil como no exterior, especialmente nas redes de televisão italiana, francesa, inglesa e espanhola. Na época, não entendia a importância dada pelas pessoas ao fato, mas hoje, quando buscamos melhorias nas condições de vida da população e de nosso planeta – que o homem insiste em destruir –, por que não pesquisar tal tema? Se nós, médicos, fazemos tantas pesquisas para a cura das mais variadas doenças, por que não contribuir com a Ufologia? Ainda fico me perguntando por que as pessoas que têm informações a dar sobre o assunto as omitem? Por que os pilotos dessas grandes empresas aéreas só falam depois que se aposentam? Na época em que o chupa-chupa estava acontecendo, as autoridades sabiam e a imprensa publicava constantemente informações a respeito. Mas você não acha estranho que as universidades locais e institutos de pesquisa não apresentassem qualquer interesse sobre o assunto? Nem mesmo cientistas e pesquisadores da Amazônia, ou mesmo profissionais na área de pesquisa, investigaram os fatos... É estranho, mas vou lhe responder como psiquiatra. O ser humano tem uma característica ímpar e tudo aquilo que ele não encontra uma explicação lógica “precisar ser” ignorado. A humanidade prefere ver aquilo que não compreende como algo inverídico ou inexistente, porque é mais fácil assim. É mais simples colocar de lado o que é inexplicável do que buscar uma lógica para tentar explicá-lo.

Você chegou a ser ridicularizada na época por defender a realidade dos casos?

Não tenho vergonha de ser ridicularizada, nem tenho medo ou temor de falar sobre isso, pois tenho plena certeza do que vi e vivi junto daquelas pessoas. Já fui hostilizada por muitos céticos, tanto hoje quanto antigamente. Mas nunca me calei, pois não me importo com a opinião das pessoas. Não estou aqui para convencer ninguém, apenas para relatar minhas experiências. Cada um que tire suas próprias conclusões. Na realidade, quem hostiliza é exatamente o leigo, aquele que não tem a menor noção nem conhecimento dos fatos, aquele que acha que o ser supremo é o humano, apenas porque não rasteja...

Fontes.

Livros:
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  • PETIT, Marco Antonio. UFOs: Arquivo Confidencial. Campo Grande: CBPDV, 2007
  • RANGEL, Mário. Sequestros Alienígenas. Campo Grande: CBPDV, 2007
Artigos de Revistas:
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  • ATHAYDE, Reginaldo. Extraterrestres atacam e matam no nordeste. Revista UFO, Campo Grande, nº 7, p.7-11, abr/jun 1989.
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http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/ufovia/entrevistas4.htm

http://www.abovetopsecret.com/forum/thread454886/pg1  

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