quarta-feira, 31 de outubro de 2018

E.C.B II: O Caso Richthofen.

Hoje, 31 de Outubro, dia de halloween, ou do saci, a exatos (?) anos, no distante ano de 2002, Suzane von Richthofen uma jovem de 18 anos de família abastada mandou que os Irmãos, Daniel e Cristian Cravinhos assassinassem seus Pais, Manfred e Marísia von Richthofen.

Por que?

O Caso Richthofen.

Suzane e Daniel conheceram-se em agosto de 1999 e começaram um relacionamento pouco tempo depois. Ambos tornaram-se muito próximos, mas o namoro não tinha o apoio das famílias, principalmente dos Richthofen, que proibiram o relacionamento. O Caso a principio se assemelha bastante a famosa Obra Shakespeareana, Romeu e Julieta, um jovem casal apaixonados, da qual suas famílias eram contra o relacionamento.

Diferente da Obra Homônima, da qual e uma drama, se transformou em um Thriller criminal. No dia 31 de outubro de 2002, Suzane abriu a porta da mansão da família no Brooklin, em São Paulo, para que os irmãos Cravinhos pudessem acessar a residência. Depois disso eles foram para o segundo andar do imóvel e mataram Manfred e Marísia com marretadas na cabeça.

O interesse da população pelo caso foi tão grande que a rede TV Justiça cogitou transmitir o julgamento ao vivo. Emissoras de TV, rádios e fotógrafos chegaram até a ser autorizadas a captar e divulgar sons e imagens dos momentos iniciais e finais, mas o parecer definitivo negou a autorização. Cinco mil pessoas inscreveram-se para ocupar um dos oitenta lugares disponíveis na plateia, o que congestionou durante um dia inteiro a página do Tribunal de Justiça na internet. Suzane e Daniel Cravinhos foram condenados a 39 anos e 6 meses de prisão; Cristian Cravinhos foi condenado a 38 anos e 6 meses de reclusão.

A Família von Richthofen.

A famosa família aristocrata von Richthofen da Alemanha possuiu vários membros ilustres em contexto mundial. Entre os parentes da família brasileira, estão: Ferdinand von Richthofen (geógrafo, 1833-1905); Oswald von Richthofen (diplomata, 1847-1906); Else von Richthofen (cientista política, 1874-1973); Frieda von Richthofen (filósofa, 1879-1956); Manfred von Richthofen, o lendário Barão Vermelho (aviador, 1892-1918); Lothar von Richthofen (aviador, 1894-1922); Bolko von Richthofen (arqueóloga, 1899-1983); Hermann von Richthofen (diplomata, 1933).

Manfred Albert von Richthofen e Marísia se conheceram na década de 1970, quando ela cursava medicina e ele fazia engenharia na Universidade de São Paulo (USP). Depois do casamento, foram estudar na Alemanha. Na volta, ele começou a trabalhar para empresas privadas até chegar à Dersa, a estatal que cuida de estradas em São Paulo. Quando voltou da Alemanha, Marísia abriu um consultório de psiquiatria. Suzane nasceu em 3 de novembro de 1983. Quatro anos depois, veio o caçula Andreas.

Nas vizinhanças da casa onde a família morou por quase quinze anos, na Zona Sul de São Paulo, os quatro são lembrados com simpatia. "Era a família Doriana, a família feliz", diz a psicóloga Luciane Mazzolenis, vizinha do casal, a quem Suzane chamava de tia. Os von Richthofen se mudaram do sobrado ( avaliado em R$ 400 mil - em 2000). Mas Manfred e os filhos iam com frequência à casa para pegar correspondências e varrer as folhas do quintal. Os conflitos familiares começaram quando Suzane iniciou seu relacionamento com Daniel.
  • Manfred von Richthofen.
Manfred Albert von Richthofen (Erbach, 3 de fevereiro de 1953 - São Paulo, 31 de outubro de 2002) era um engenheiro alemão naturalizado brasileiro, casado com a psiquiatra Marísia von Richthofen. Através do Ramo familiar, por parte de Pai, teria perdido a maioria de suas posses e influência, principalmente em decorrência da queda do Império Alemão em 1918, e da grande participação da sua nação na Primeira Guerra (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Manfred não era uma pessoa expansiva, mas tinha muito bom humor, era muito inteligente e prezava pela educação dos filhos.

Ele trabalhava na Dersa desde novembro de 1998 e era diretor de Engenharia da empresa desde junho de 2002. Como funcionário dessa empresa, participou do projeto de construção do Rodoanel Mário Covas de São Paulo, via expressa que contorna a cidade, ligando várias rodovias. Manfred recebia na estatal R$ 11 mil mensais, mas tinha posses por causa da sua família. Marísia, que mantinha um consultório psiquiátrico, ganhava em torno de R$ 20 mil em consultas. A fortuna de Manfred era avaliada em cerca de R$11 milhões em valores atualizados.
  • Marísia von Richthofen.
Marísia Von Richthofen (nascida Marísia Silva Abdalla) nasceu e viveu durante catorze anos de sua vida em José Bonifácio, cidade a 40 quilômetros de São José do Rio Preto. O avô de Marísia, Miguel Abdalla, mudou-se de Sorocaba para José Bonifácio em 1920 e foi um dos pioneiros no comércio local. Com Miguel Abdalla, mudaram-se para Bonifácio seus filhos, entre eles Salim Abdalla, que se casou na cidade com Lourdes Abdalla e teve dois filhos - Miguel Neto e Marísia. A psiquiatra estudou na cidade até 1966 e se mudou para São Paulo com seus avós. A notícia deixou seus parentes de Sorocaba e José Bonifácio chocados. Filha de descendentes de portugueses e libaneses, formou-se na USP com seu irmão. Era considerada a mais extrovertida e popular da família Richthofen.
  • Suzane von Richthofen.
Suzane Louise Von Richthofen (São Paulo, 3 de novembro de 1983) Filha do Casal Manfred e Marísia von Richthofen e irmã de Andreas Albert von Richthofen. Até a ocorrência do delito que culminou com sua prisão, Suzane morava com seus pais em uma mansão no Brooklin Velho.
  • Andreas Von Richthofen.
Andreas Albert Von Richthofen (São Paulo, 26 de abril de 1987) é um garoto caseiro considerado tímido, e com poucos amigos. Passava a maior parte do tempo trancado no quarto vendo televisão ou no computador, era educado com os empregados da mansão e esperava a chegada de seu pai todos os dias, quando comentava sobre seu dia.[7] Quando a família ia para o sítio que possuía em São Roque, Andreas e Manfred faziam objetos de marcenaria e cuidavam das plantas do jardim. O garoto estudava dois idiomas e era faixa marrom de caratê. Andreas tinha temperamento reservado, como o de seu pai.

Suzane e Andreas eram muito próximos um do outro. De acordo com os relatos, os dois sempre foram unidos, cúmplices e confidentes. "Um sempre protegeu o outro", afirmou uma amiga de infância de Suzane. "Nunca vi os dois brigarem. Eles conversavam muito e se davam bem", disse a ex-funcionária Silândia. O garoto também gostava de brincar no quintal de casa com uma espingarda de chumbinho e de cuidar de um porquinho-da-índia. Andreas estudou com a irmã no Colégio Humboldt até o fim de 2001, quando passou a estudar no Colégio Vértice por decisão de seus pais, já que Suzane não havia sido aprovada em um vestibular da USP. Na época, o Colégio Vértice era número um em aprovações no vestibular da USP.

Após seu primeiro depoimento, em 31 de outubro de 2002 Andreas foi afastado da irmã, passando a viver com o único tio materno, Miguel Abdalla. Reencontrou Suzane pela primeira vez em 13 de novembro, na reconstituição do caso na mansão da família. Em 14 de novembro visitou a irmã no 89º DP, no bairro Morumbi, acompanhado do advogado dela, Denivaldo Barni. Na ocasião, Barni divulgou um bilhete supostamente escrito pelo garoto. No julgamento da irmã, Andreas afirmou que foi coagido a escrever o bilhete de perdão à irmã.
"Perdoar é abrir o coração. Não só perdoei minha irmã Su, mas continuo a amá-la. Agora, principalmente, é o momento em que ela mais precisa do amor. Apesar da dor, tenho plena certeza de que nossos pais a perdoaram. Ainda ontem ouvi uma frase que muito me marcou: a humanidade deve caminhar unida em busca da civilização do amor"
Após a divulgação do suposto bilhete, Andreas foi "bombardeado" pela mídia sensacionalista, mas o promotor Roberto Tardelli e o tio do garoto, Miguel, saíram em sua defesa, afirmando que o bilhete foi um "golpe baixo" dado por Suzane e seu advogado, Denivaldo. Tais críticas chamaram a atenção do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e Adolescente, que enviou uma notificação ao advogado de Suzane. Andreas visitou Suzane pela última vez na véspera de natal de 2002, no Carandiru, onde não passou pela fila. Segundo a diretora da penitenciária do Carandiru, Andreas entrou direto porque sua presença na fila poderia causar tumulto. Andreas obteve também permissão para que um Audi A4 fosse buscá-lo dentro da penitenciária, o que causou revolta em parentes de detentas que precisaram parar seus carros na rua. A diretora disse que quem foi buscar Andreas era um advogado, por isso pôde entrar com o carro.

Em 2004, foi aprovado nas cinco principais universidades do estado. Em 2005, quando Suzane foi solta, procurou o promotor Tardelli "temendo sua morte" após ver Suzane rondando a casa em que ele vivia com o tio e a avó materna. Andreas soube que ela havia visitado a casa quando a avó, Lourdes, estava sozinha e inclusive registrou fotos com a avó. Andreas e seu tio Miguel não perdoaram Suzane e não aceitaram acolhê-la na época de sua liberdade. A avó materna, Lourdes, perdoou a neta, mas declarou que "não podia aceitar uma atitude dessas e não queria dividir o mesmo teto com ela". Andreas nunca falou sobre o crime para a imprensa e não visita Suzane desde a véspera de natal de 2002. Durante o período em liberdade, Suzane declarou que ligava para o irmão uma vez por semana, mas ele não a atendia. E quando o fazia, a conversa acabava em discussão.

Andreas cursou Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo entre 2005 e 2009. Ingressou no doutorado em Química Orgânica em 2010 na mesma universidade, e recebeu bolsa de estudos do CNPq. Viveu na Vila Congonhas com o tio Miguel e a avó materna Lourdes Magnani Silva Abdalla (falecida em 2006) de novembro de 2002 a meados de setembro de 2011, quando foi noticiado que havia mudado-se para Zurique, Suíça.

A Família Cravinhos.

Os Cravinhos eram considerados a "família do barulho" pela vizinhança, pois consertavam carros e motos e testavam aeromodelos na vila. Casados há 42 anos e há 30 vivendo na mesma vila, Nadja e Astrogildo têm mais um filho, Marco, que é casado e ajudava financeiramente os pais. Cristian, o do meio, era apontado como o problemático. Discutia com os moradores e passava o dia mexendo em motos. Ele adorava esportes radicais: pulou de paraquedas e fazia motocross. Daniel, o caçula, era simpático e educado. Desde os 13 anos, dedicava-se ao aeromodelismo. Foi campeão paulista, brasileiro, pan-americano, sul-americano e o quinto melhor do mundo em aeromodelismo em 1998 em um campeonato disputado em Kiev, Ucrânia. Colegas do aeródromo dizem que era muito habilidoso para construir e pintar os aparelhos. E era de fazer aviões que ele vivia, ganhando cerca de R$1,4 mil por unidade. Chegou a cursar seis meses de Direito na Universidade Paulista (UNIP), mas largou o curso porque não gostou dele. Na década de 1970, o pai, Astrogildo, foi condenado por falsidade ideológica por usar uma carteira falsa da Ordem dos Advogados do Brasil. Mais tarde ele cursou Direito, mas nunca advogou. Aposentou-se como escrivão de cartório. Os vizinhos nunca ouviram brigas e discussões na casa dos Cravinhos.
  • Daniel Cravinhos de Paula e Silva (São Paulo, 1981): autor do assassinato de Manfred. Foi condenado a 39 anos e meio de prisão. Obteve em fevereiro de 2013 junto com seu irmão o direito de regime semiaberto, em que pode sair de dia para trabalhar e voltar à cadeia para dormir.
  • Cristian Cravinhos de Paula e Silva (São Paulo, 1975): autor do assassinato de Marísia. Era um usuário de drogas na época do crime, tendo chegado a ser internado em uma clínica de reabilitação. Cristian foi o primeiro a confessar o crime e, na reconstituição, se emocionou. Até recentemente, os irmãos Cravinhos eram inseparáveis. Daniel e Cristian permanecem na mesma penitenciária, mas já não dividem cela e não se falam. O motivo da discórdia dos irmãos é a estratégia de defesa. Cristian foi condenado a 38 anos e meio de prisão. Como seu irmão, recebeu em fevereiro de 2013 o direito de regime semiaberto.
  • Astrogildo e Nadja de Paula e Silva
Astrogildo Cravinhos de Paula e Silva (São Paulo, 1945): escrivão aposentado e pai de Daniel e Cristian. Concedeu diversas entrevistas e foi criticado por desmoralizar o casal Richthofen em várias declarações para, segundo o promotor Roberto Tardelli, achar uma justificativa para o crime. Em 2010, Suzane afirmou que Astrogildo foi o mandante do crime. 
Nadja Quissak Cravinhos de Paula e Silva (São Paulo, 1946): professora de pintura em tela e mãe de Daniel e Cristian. Concedeu uma única entrevista sobre o caso, para a revista Crescer, em dezembro de 2002. "Eu perdoo meus filhos. Se não o fizesse, não seria digna de ser mãe. Mas acho que eles precisam de punição", declarou na entrevista.
Relação com a Família Cravinhos.

Na tarde de um domingo de agosto de 1999, Manfred, Marísia, Suzane e Andreas foram dar um passeio no Parque Ibirapuera. Conheceram Daniel, competidor de aeromodelismo. Andreas interessou-se pela prática recreativa e pediu aos pais para fazer o curso. Daniel começou a dar aulas de aeromodelismo para Andreas. Em pouco tempo, os dois ficaram muito próximos. Daniel levava o menino para andar de bicicleta e para disputar corridas de autorama. Segundo conhecidos, Andreas ainda teria ajudado a irmã a se aproximar do rapaz. "Suzane achou Daniel bonitinho e mandou um bilhete por Andreas", disse uma amiga de infância de Suzane em depoimento. Manfred e Marísia não se importaram quando Suzane começou a ter um relacionamento mais íntimo com Daniel, acreditando que isso seria passageiro.

Os relatos afirmam que Andreas ouvia os segredos da irmã e participava da vida dela com o namorado. Segundo esses relatos, Andreas costumava praticar algumas delinquências na companhia do casal. Escondido no porta-malas do carro - disse Andreas a interlocutores -, ele teria ido conhecer um motel com a irmã e o cunhado, onde fumaram maconha. Foi por meio do casal que Andreas experimentou maconha, pela primeira vez, no Parque Villa-Lobos. Daniel, segundo o que Andreas afirmou a policiais que investigavam o caso, era como um "irmão mais velho". "Cristian também era um amigo querido", disse ele nos depoimentos.

Com o tempo, o relacionamento tornou-se mais sério e Manfred e Marísia ficaram preocupados. Para sobreviver, Daniel fazia de um a dois aviões por mês e os vendia por cerca de R$1.400. Também fazia manutenção e vendia peças para aficionados. Suzane pedia dinheiro além da mesada ao pai para emprestar ao namorado e dava-lhe muitas roupas e presentes. Seu irmão, Cristian, chegou a ser internado por dependência de cocaína e vivia às voltas com dívidas com traficantes. Também chegou a prestar serviços como informante da polícia. O casal Richthofen achava que Daniel não fazia bem à sua filha.

Amigos de Suzane e Daniel contam que os dois mudaram depois que o relacionamento adolescente se tornou mais sério. Suzane perdeu aos 16 anos a virgindade com Daniel e na mesma época passaram a fumar maconha quase todos os dias, tendo experimentado também ecstasy. A última viagem que Suzane fez sem o namorado foi para a casa de praia de uma das melhores amigas, em Porto Seguro, no réveillon de 2000. Depois disso, era difícil encontrá-la sem Daniel. Para ficar com o namorado, a garota deixou de ir à festa após a colação de grau no colégio, o que deixou seus pais profundamente irritados. Na faculdade de Direito, o contato do casal era tão estreito que nem as excursões escapavam. Daniel ficava ao lado da namorada mesmo em atividades escolares. Ele acompanhou Suzane com a turma dela em uma visita ao Fórum João Mendes Júnior e à ALESP. 'Parecia que a vida de um era em função do outro. Ela só passeava, saía à noite ou viajava com ele', conta Beatriz Chagas, de 20 anos, colega de turma de Suzane na PUC. Companheiros de aeromodelismo dizem que Daniel também mudou.

Às vezes ele abria mão dos treinos para ir buscá-la, diz o estudante de Direito e aeromodelista Ênio Tosta. Em seu quarto, na casa dos pais, Daniel colocou dois painéis com dezenas de fotos dele e de Suzane. Uma caricatura do casal também dividia espaço com o aeromodelo que ele utilizava em competições. Sobre a cama, havia um travesseiro estampado com uma foto de Suzane ao lado de seus bichinhos de pelúcia. Desde o início do namoro o casal aproveitava as tardes para ir ao motel Disco Verde de táxi. Mas no fim de 2001, os pais começaram a tentar convencer Suzane para que desse um fim ao namoro, pois descobriram o envolvimento de Daniel com drogas e a filha "desmotivada" para o estudo. Suzane começou a passar as noites com Daniel às escondidas, dizendo aos pais que ia ficar na casa de amigas estudando. 'Ela nos avisava e a gente encobria a mentira', lembra uma das amigas. Em uma noite de abril de 2002, a estratégia deu errado. Marísia telefonou à melhor amiga de Suzane e descobriu que a filha não havia ido dormir lá. Exigiu explicações na manhã seguinte quando a garota voltou para casa, e Suzane contou que havia passado a noite em um motel. Marísia e Manfred resolveram daí proibir definitivamente o namoro.

No dia das mães de 2002, os von Richthofen iriam almoçar em um restaurante de São Roque. Suzane recusou-se a ir, xingou o pai e apanhou dele pela primeira vez aos 18 anos. Manfred deu um tapa em sua filha, que saiu de casa dizendo que não voltaria. Mas voltou, prometeu aos pais que o relacionamento tinha acabado e tirou a aliança de compromisso do dedo. Porém, o relacionamento continuou às escondidas.

Com a proibição, Suzane, que costumava passar tardes inteiras conversando com a mãe, afastou-se de vez dos pais. Brigava com a família a cada vez que chegava em casa com o namorado. 'Em julho, meus pais foram passar um mês fora. Aquele mês foi como um sonho', disse Suzane. Quando eles chegaram, Suzane sugeriu que lhe comprassem um apartamento ou flat para que ela pudesse morar com Daniel. Manfred recusou, dizendo que a filha deveria se formar, trabalhar e - aí sim - morar com quem quisesse. A negativa incentivou o planejamento do assassinato.

No início de setembro de 2002, o 12º Batalhão da Polícia Militar de São Paulo foi chamado para apartar uma briga em uma casa no bairro de classe média Campo Belo. Os policiais chegaram ao lugar às 02:00 da manhã. Encontraram Manfred no portão vestindo bermudas, camisa e chinelos. Transtornado, Manfred batia boca com Daniel, então aos 21 anos. Suzane, então aos 19 anos, tentava acalmá-los. Aos poucos, os ânimos esfriaram. Mas pai e namorado saíram da discussão remoendo pequenas ameaças. 'Qualquer dia desses ainda quebro esse moleque', disse Manfred a um dos policiais. Um pouco menos calmo, Daniel contou que o engenheiro ameaçava bater na filha se eles continuassem o namoro. 'Tenho vontade de pegar esse velho', afirmou. Era a terceira intervenção da polícia em brigas entre os dois, pois em maio e junho, telefonemas anônimos já haviam pedido ajuda para confusões semelhantes. O motivo era sempre o mesmo: Suzane chegava tarde em casa e tentava entrar com Daniel, o pai impedia e começavam as discussões.

No enterro de Manfred e Marísia, a aliança de compromisso já estava de volta ao dedo de Suzane. A paixão resistiu aos primeiros meses de prisão, mas em março de 2004 uma carta de Daniel a Suzane deu o sinal de que o amor não era o mesmo:
"Não sei por que você não fala mais com os meus pais e nem comigo, será que não confia mais em mim?".
Assassinatos.

Suzane e os Cravinhos, dias antes do crime, fizeram um teste de barulho causado pelos disparos de uma arma de fogo e com isso descartaram a ideia de utilizar uma. Na tarde de 30 de outubro de 2002, Suzane e Daniel Cravinhos repassaram pela última vez os planos do assassinato dos pais da moça. Conversaram com Cristian, que morava na casa da avó, o qual, ainda relutante, não deu a certeza de que participaria nos eventos que se seguiriam à noite. Daniel pediu que o irmão pensasse a respeito e, se resolvesse ajudá-los, que os esperasse em uma dada rua, próxima a um cyber café aonde levariam Andreas. Naquela noite, o irmão de Suzane, Andreas, na ocasião com quinze anos, foi levado pela garota e pelo namorado dela para um cyber café, ele foi seduzido pela ideia de que no aniversário de namoro da irmã a comemoração do casal seria em um motel e a dele seria na LAN house, e que Suzane iria convencer seus pais a deixar o irmão faltar à escola no dia seguinte.

Cristian já estava no cyber café. Ele chegou ao local às 22:12 e saiu às 22:50, para que Andreas não o visse. Por volta das 23:20, Suzane e Daniel encontraram-se com Cristian perto do local. Os três seguiram para a mansão dos von Richthofen no Volkswagen Gol da estudante. Dias antes da noite do assassinato, Suzane havia meticulosamente desligado o alarme e as câmeras de vigilância da casa, de modo que nenhuma imagem do trio chegando fosse capturada.

Por volta da meia-noite, eles estacionaram o carro na garagem. Segundo a polícia, no carro já estavam as barras de ferro, ocas, que foram utilizadas no assassinato. Os rapazes vestiram blusas e meias-calças para evitar que caíssem pelos pela casa, material que poderia ser usado pela polícia para provar a autoria do crime. Suzane abriu o portão, subiu as escadas e acendeu a luz do corredor, para que os irmãos tivessem visão do quarto do casal. Marísia e Manfred dormiam. A estudante separou sacos de lixo e luvas cirúrgicas, que eram utilizadas pela mãe, psiquiatra.

Os irmãos, armados com barras de ferro, entraram no quarto do casal. Daniel seguia em direção ao engenheiro Manfred, enquanto Cristian ia em direção a Marísia. Eles foram golpeados na cabeça. Manfred faleceu na hora, Marísia, ao ser atacada, acordou e tentou se defender com as mãos e por isso teve três dedos fraturados. Cristian disse à polícia que bateu em Marísia por cinco vezes e colocou uma toalha em sua boca para que parasse de implorar para que os supostos "assassinos" não atacassem seus filhos, que, para ela, estavam dormindo. Ainda segundo o relato de Cristian, em determinando momento, enquanto agonizava, Marísia passou a emitir um som "parecido com um ronco". Para tentar silenciá-la, Cristian Cravinhos então pegou uma toalha no banheiro do casal e empurrou-a pela garganta da psiquiatra, o que quebrou um dos ossos do pescoço de Marísia. Depois de confirmar que os dois estavam mortos, Daniel colocou uma arma pertencente a Manfred perto de seu braço, ao lado da cama, e cobriu o rosto dele com uma toalha. O corpo de Marísia foi envolvido em um saco plástico de lixo, que havia sido deixado por Suzane na escada para que os irmãos depositassem as barras de ferro e suas roupas manchadas com o sangue dos pais.
"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.
Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta, pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de 8.000 reais, 6.000 euros e 5.000 dólares. Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam joias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as joias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro. Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.

O dinheiro roubado e algumas joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime, ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na suíte presidencial, pela qual pagaram cerca de 300 reais, pediram uma Coca-Cola e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira expedida pelo motel. O casal ficou no local da 01:36 às 02:56, segundo a polícia.

Ao deixar o motel, a dupla passou no cyber café para pegar Andreas. Eles foram até a casa do namorado da estudante e disseram ao adolescente que ele poderia andar em uma mobilete de Daniel. Pouco depois, conforme o plano original, começou a segunda etapa da simulação. Por volta das 04:00, Suzane e Andreas retornaram para casa. Eles chegaram à mansão, onde Suzane disse ter "estranhado" o fato de as portas estarem abertas. Andreas entrou na biblioteca e gritou para os pais, enquanto Suzane, orando, correu para o cozinha e pegou uma faca e a entregou ao irmão, ordenando-lhe que esperasse do lado de fora da mansão. A estudante ligou para o namorado e depois, junto de Andreas, deu vários telefonemas para dentro da casa, esperando que seus pais atendessem.

Às 04:09, Daniel contactou a polícia. Disse que estava em frente à casa da namorada, que suspeitava de um assalto no lugar e pediu a presença de uma viatura.

Alexandre Paulino Boto foi o primeiro policial ao chegar ao local. Em seu depoimento durante o julgamento do trio, classificou o assassinato como um “crime de amadores”. “O crime era um procedimento de amadores. Largaram as joias, celulares, deixaram uma arma no quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”, afirmou o policial, em 2006. “Um ladrão não deixaria a arma no chão." Boto disse ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou quais seriam os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a atitude impassível diante da morte dos pais”, afirmou. Em seguida, ela perguntou como estavam os pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada. ‘Como?’, perguntou.” O policial também estranhou as perguntas de Daniel, que chegou ao local pouco depois. "Você sabe se levaram alguma coisa de dentro da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha." Em seguida, Daniel falou os valores exatos das quantias guardadas.

Enquanto um policial permaneceu com Suzane e Andreas do lado de fora da mansão, Boto e outro policial entraram na residência, com cuidado, pois ainda havia a possibilidade de se encontrar um suposto ladrão. No andar de baixo, a biblioteca estava totalmente revirada, a sala e a cozinha estavam em ordem. Uma escada levava ao andar superior. Os PMs subiram e verificaram o que parecia ser um quarto feminino, com o closet revirado e bichos de pelúcia jogados ao chão. O quarto seguinte era tipicamente masculino, com um aeromodelo pendurado no teto, tudo organizado; 3 travesseiros cobertos por um lençol. O próximo quarto era de casal, um homem estava morto na cama próximo a uma arma; a hipótese de suicídio foi logo descartada, quando Boto encontrou um corpo feminino debaixo dos lençóis.

Temendo a reação dos jovens, os policiais acionaram uma viatura de resgate. Nessa altura da noite, por volta das 04:30, a família de Daniel já estava no local, abraçada com Suzane e Andreas. Boto pediu que Daniel contasse aos filhos do casal que seus pais haviam sido assassinados. Daniel abraçou os dois, abaixaram a cabeça, cochicharam. Andreas se afastou do grupo, aparentemente em estado de choque. Suzane se aproximou de Boto e perguntou “O que eu faço agora?”.

Por volta das 05:00, já era possível ouvir o som de sirenes se aproximando. O pai de Daniel, Astrogildo Cravinhos, se encarregou de falar com os repórteres de várias redes de televisão, enquanto Suzane e Andreas eram encaminhados à delegacia. O relógio marcava 06:00 e o comportamento do casal logo chamou a atenção de todos na delegacia. Durante a espera para serem atendidos, Suzane tirava um cochilo encostada nos ombros de Daniel. Andreas ficou ali sentado, encolhido e visivelmente abalado, enquanto a irmã trocava carícias com o namorado. Entre as frases enquanto faziam o boletim de ocorrência, eram trocados beijos e carícias entre o casal. Suzane disse ao delegado titular Dr. Enjolras Rello de Araújo, “Eu gostaria que vocês matassem e torturassem esses caras que mataram meus pais” e sorriu para Daniel.

Investigação do Caso Richthofen.

Para todos os envolvidos na investigação do assassinato do casal Von Richthofen, desde o início aquele "latrocínio" parecia uma encenação e os trabalhos se concentraram nas pessoas mais próximas da casa: filhos, empregada, colegas de emprego de Manfred na Dersa e pacientes de Marísia. A polícia investigou o relacionamento de Suzane com Daniel Cravinhos. Segundo amigos da família, Manfred e Marísia não aprovavam o relacionamento que, por pressão maior da mãe, chegou a ser rompido uma vez. No dia 4 de novembro de 2002, Suzane prestou o segundo depoimento aos policiais do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O interrogatório, para tirar dúvidas sobre eventuais contradições, durou cerca de duas horas.

Após suspeitar da compra de uma moto nova por Cristian Cravinhos poucos dias após os assassinatos, a polícia o prendeu preventivamente, enquanto interrogava Daniel. No dia 8 de novembro de 2002, Cristian, Daniel e Suzane confessaram o assassinato do casal.
  • 31 de Outubro.
Como o caso já era um grande mistério, se tratava de vítimas de certa importância social e já havia chamado a atenção da imprensa naquela madrugada, houve uma união de várias equipes de investigação do Palácio da Polícia Civil, em São Paulo. Como era a equipe de plantão naquela madrugada, a equipe H-Sul atendeu ao chamado do 27- DP. A Dra. Renata Helena da Silva Ponte foi ao local do crime juntamente com os investigadores Alexandre Chaim, Marcos, Marcelo, Valter e a perícia, além de acionar o titular, Dr. Ricardo Guanaes, e toda a sua equipe. Quando o chefe dos investigadores da H-Sul, Robson Feitosa, chegou ao local, encontrou seu pessoal e alguns jornalistas. Logo depois, chegou o Sr. Astrogildo Cravinhos, pai do namorado de Suzane von Richthofen. Robson, que tem por hábito filmar os trabalhos de sua equipe para seu arquivo particular, conversou com o perito Salada. Resolveram que fariam uma imagem global e, depois, uma específica, para então estudar melhor o caso. Robson subiu as escadas, filmou os quartos, depois, o andar térreo e, finalmente, a área externa da casa. Ao conversar com o perito Salgueiro, que fazia o exame pericial da área externa, trocou impressões de como os muros eram altos, e a casa, bem protegida. Nenhuma marca nos muros indicava que a entrada do(s) assassino(s) tivesse sido dessa maneira. Robson logo pediu que seu pessoal trouxesse para dentro o Sr. Astrogildo. Queria ouvir o que ele tinha a dizer, na companhia da Dra. Renata e do chefe de investigações da Equipe C-Sul, Sérgio de Oliveira Pereira, o Serjão. Foi impressionante perceber quantos detalhes sobre a família Von Richthofen eram conhecidos por aquele senhor. Ele declarou que jamais imaginou um crime como aquele, contra um homem com tanto dinheiro. Contou que era hábito do casal deixar sempre por volta de 8.000 reais numa caixinha, no quartinho da frente (biblioteca). O marceneiro que havia feito os móveis da churrasqueira também lhe havia confidenciado que o Sr. Manfred era "extremamente chato, detalhista demais, e mandava refazer tudo o que não aprovava completamente". O investigador experiente "deu uma de bobo" e continuou conversando, "dando corda" para a testemunha. O Sr. Astrogildo contou que seu filho Daniel namorava Suzane havia bastante tempo e tinha viajado muitas vezes para a chácara da família Von Richthofen em São Roque, que a mãe dava muitas ordens aos garotos e os repreendia demais, e que o pai era mais flexível. Também disse que nunca soube de nenhuma briga do casal de namorados com os pais da menina. Astrogildo também falou de seu outro filho, Cristian, que era investigador da polícia, do Grupo de Operações Especiais (GOE). Robson perguntou mais detalhes sobre o cargo de Cristian, e o pai esclareceu que na verdade não era investigador, ele só "colaborava" com um delegado do GOE. “De vez em quando ele anda na viatura com eles, eu até repreendi ele para não ficar andando mais com esse pessoal... Chegava em casa com a viatura na porta...”.

Mais tarde, Robson descobriu que Cristian era, na verdade, "ganso" (informante) do GOE. “Se ele fosse realmente investigador, o próprio Cristian ou alguém do GOE teria aparecido no DHPP para se inteirar dos autos. Afinal, os pais da namorada do irmão de Cristian tinham sido assassinados! Mas ninguém nunca apareceu, nem que fosse para coletar informações sobre o caso”, disse Robson ao policial Salada. Enquanto a Dra. Renata e Serjão continuavam a conversa com Astrogildo, Robson se concentrou em sua filmagem. Uma das coisas que logo chamou a sua atenção foi o fato de não terem sido encontrados nenhum pano de chão, rodo ou vassoura na casa inteira. Isso seria discutido mais tarde, pois foi um dos fatos sem explicação em toda a investigação. Os outros investigadores estavam espalhados pela rua, conversando com vizinhos. Era preciso saber se tinham ouvido algum barulho, o que achavam do crime, o que sabiam da família.

Segundo uma vizinha da mansão, a impressão geral era de que os Von Richthofen eram muito discretos, mas simpáticos. Ela já havia visto viaturas da Polícia Militar na porta da casa deles e se sentiu ameaçada, quando, em Julho daquele ano, avistou um jovem casal que havia saído da casa andando descalços em volta do quarteirão e fumando maconha, era a filha do casal Von Richthofen e um rapaz que ela não conhecia. Disse que tentou conversar com os pais da garota por diversas vezes, até que conseguiu encontrar com a empregada enquanto ela saía da mansão, mas a funcionária disse que Manfred, Marísia e Andreas estavam de férias na Europa. Para a Equipe H-Sul, várias incongruências chamaram a atenção logo no início dos trabalhos. Durante toda a perícia, a delegada Dra. Renata esteve no local, enquanto o delegado Dr. Guanaes interrogava a família e comunicava-se por telefone com os peritos.

Enquanto isso, durante seu primeiro interrogatório, Suzane informou que havia uma mala na biblioteca que estava cortada. Salada já tinha visto a mala, mas não o corte, porque estava deitada sobre o rasgo, e 80 quando mexesse nela durante a perícia saberia que estava cortada. Portanto, Suzane verificou muito bem o escritório antes de chamar a polícia, fato que não passou despercebido. Pois ela havia dito ao PM Alexandre Boto que não tinha entrado na casa, mas havia. O corte na mala foi feito por faca de lâmina lisa, mas na prateleira do escritório foi encontrada apenas uma faca de lâmina serrilhada. O criminoso teria trazido a faca, já sabendo que precisaria dela, ou havia guardado a faca depois do uso, o que soou muito estranho aos policiais. A hora aproximada do crime que os peritos informaram para o delegado também não batia com o depoimento da filha, que dizia ter passado em casa por volta da meia-noite e visto os pais dormindo, "até roncando". Essa diferença de horários por si só já levantava dúvidas no depoimento dela. Além disso, o Delegado Guanaes discutia com seus colegas, “que ladrão deixaria uma arma de fogo nova no local do crime?”. Todos os policiais consideraram o fato muito improvável, quase infantil.

Da Equipe C-Sul, no local, acompanharam a perícia e as investigações preliminares a delegada Dra. Cíntia P. C. M. Tucunduva Gomes e os investigadores Sérgio, Wendel, Leandro, Francisco, Santana, Mareei, David e Luciano, que conversaram com os vizinhos, vigia da rua etc. Como se tratava de investigação mais abrangente, a 1ª Delegacia da Capital também enviou seu chefe de investigadores, Carlos Eduardo Montez, O Ado, e mais três homens. No local do crime, faziam parte da equipe da Dra. Cíntia três papiloscopistas, que recolheram impressões digitais da arma, das janelas, dos interruptores e até de papéis e documentos. Para as digitais em papel, foi utilizado um líquido cor-de-rosa, a nihidrina, que as evidencia. Cada detalhe, para ela, poderia esconder uma verdade ou esclarecer uma mentira. De cara, achou estranho que o saco de lixo colocado na cabeça de Marísia fosse igual àqueles usados na casa. Assim que viu o saco, olhou todos os cestinhos de lixo da casa, mas não encontrou nada. Os sacos de lixo do mesmo tipo, guardados na despensa, estavam fechados, sem uso. Quem colocou o saco de lixo na cabeça da vítima deixou o resto do pacote sobre a cama, e não havia na casa nenhum pacote aberto para uso. Outra coisa que logo chamou a atenção dela foi a jarra amarela no criado mudo de Marísia. “Já viu alguém levar uma jarra de água para o quarto sem um copo? Ia beber água durante a noite como?” dizia ela. Além disso, os corpos do casal estavam bastante molhados. Se a jarra tivesse sido utilizada pelo assassino para trazer água na hora do crime e lavar os corpos, isso teria de ter sido feito por alguém que soubesse onde a jarra estava guardada, alguém da convivência da casa. Não fosse assim, a cozinha deveria estar com todas as portas dos armário abertas, o que não ocorria. A Dra. Cíntia fez muitas outras observações relevantes que ficariam guardadas em sua memória no decorrer da investigação: a casa era estranha, não tinha espelhos, exceto os dos banheiros. Tudo estava muito em ordem, o que não é comum em latrocínios. Também existia a dúvida de como os assassinos teriam entrado, se não havia sinal de arrombamento nas portas da casa, os muros da mansão tinham mais de 3 metros de altura, nenhum vizinho teve sua casa usada como passagem e os portões estavam trancados. Outro fato intrigante era a Blazer do casal. Na garagem estava tudo aberto, o controle do portão estava no carro, “então por que o ladrão não carregou a Blazer com o produto do roubo e levou o carro?” indagou a delegada. Nenhum eletrodoméstico ou equipamento eletrônico havia sumido. Várias hipóteses começaram a se formar na cabeça da delegada.

Para todos os envolvidos na investigação do assassinato do casal Von Richthofen, desde o início aquele "latrocínio" parecia uma encenação, e os trabalhos se concentraram nas pessoas mais próximas da casa: filhos, empregada, colegas de emprego de Manfred, na Dersa e pacientes de Marísia. Do local do crime, a Delegada Renata também continuava a passar todas as informações que obtinha por telefone para O Dr. Alvim, num trabalho realmente de colaboração entre as equipes H-Sul e C-Sul. De imediato, a Dra. Cíntia pediu que os investigadores Mareei e David fossem buscar Suzane, Andreas e Daniel na Equipe H-Sul e os levasse para a C-Sul, onde o delegado Dr. Alvim Spinola de Castro os ouviria.

O Dr. Ricardo Guanaes, delegado titular da Equipe H-Sul, foi pessoalmente à casa da família Cravinhos buscar Suzane, Andreas e Daniel, que haviam sido dispensados após o boletimde ocorrência lavrado no 27º DP. Os três jovens foram levados ao DHPP e assim encaminhados: Andreas seria ouvido na Equipe H-Sul, Suzane, na Equipe C-Sul e Daniel aguardaria na equipe A-Sul. Era importante que os 3 fossem separados e ouvidos, sem que um soubesse o que o outro dizia. Só dessa maneira seria possível averiguar se havia discrepância nos depoimentos.
  • Depoimento de Andreas.
Andreas entrou nas dependências da Equipe H-Sul sem nunca antes ter pisado numa delegacia de Homicídios. Apesar da aridez do local, composto de mesas simples, computadores e policiais armados em todas as partes, o garoto não parecia assustado. Pelo contrário. Comportou-se como adulto, depondo de forma controlada, com a cabeça concentrada em tudo o que acontecia ao seu redor. Sentou-se na sala, acompanhado pela advogada Dra. Wanda Aparecida Garcia La Selva, constituída pela Dersa para ajudar o filho de Manfred no depoimento, e começou a relatar o que sabia para a escrivã Aparecida. Parecia uma história comum, sem nenhuma informação relevante para o caso. Andreas, naquele dia trágico, estava cabisbaixo e muito amedrontado. Pensava em cada pergunta para respondê-la, como naturalmente faz aquele que não traz respostas prontas. Não definia os horários fora de rotina com exatidão e seu depoimento soava real.

Segundo ele, acordou às 06:40 e se arrumou para ir à escola. Às 06:55 saiu com o pai, como fazia todo dia. Assistiu às aulas no Colégio Vértice até as 12:45. Suzane foi buscá-lo, como sempre fazia. Chegaram em casa por volta das 13:00. Almoçaram com a mãe, como nos dias normais. O pai não almoçava em casa. Às 13:55 saiu com a irmã para ir ao curso de inglês. A aula terminou às 15:00. Daniel e Suzane foram buscá-lo e juntos foram ao Shopping Ibirapuera comprar o presente de Suzane, que faria aniversário no dia 3 de novembro. Gastaram R$ 3 mil reais em roupas e acessórios das grifes Gucci e Versace (que foram usadas por Suzane um dia depois, no enterro de seus pais). Chegaram em casa por volta das 16:50. Às 17:00, Suzane saiu. Ela havia avisado a mãe que iria até a faculdade onde estudava Direito participar de monitoria. Às 18:00, a mãe chegou em casa, e às 18:40 ou 18:50 chegou o pai. Os pais jantaram às 20:00. Andreas não jantou porque já havia comido um lanche do Habibs . Foi ver TV em seu quarto — assistiu ao desenho Os Simpsons. Por volta das 21:00, o pai veio lhe dar um beijo de boa-noite, enquanto ele tomava banho. Às 22:00, foi a vez de a mãe despedir-se dele. Foi a última vez que viu os dois. Às 22:30, ajeitou as almofadas de sua cama embaixo dos lençóis, para fazer parecer que estava dormindo. Conforme o combinado no dia anterior, iria ao Red Play escondido dos pais, que, rigorosos, nunca deixariam que saísse à noite para jogar nos computadores de um cybercafé. Foi para o escritório e fez uma ligação para o celular de Suzane, que o passou para Daniel. Disse: “Estou pronto, pode vir me buscar”. Daniel veio buscá-lo sozinho. Disse que ele e sua irmã iriam a um motel, como presente de aniversário para Suzane, mas não disse o nome do local escolhido por eles. Chegando ao cybercafé Red Play, cumprimentou todos os funcionários estavam e foi para o computador. Depois de cinco minutos, o casal foi embora. Combinaram que viriam apanhá-lo às 03:00. Às 02:50 ligou para a irmã, que estava saindo do motel para buscá-lo. Juntos, levaram Daniel até sua casa, conversaram um pouco e foram embora. Suzane e Andreas chegaram em casa por volta de 03:55 ou 04:00.

Andreas contou ao delegado que sua casa tinha alarme, o qual estava desligado naquela noite. Mesmo assim, se acionado um dos botões de pânico espalhados pela casa, a empresa de segurança receberia o sinal. Segundo o menino, ao chegarem viram luzes acesas e tudo muito bagunçado, além da porta da frente destrancada e a janela da biblioteca aberta. Andreas declarou que chamou pelos pais e teve muito medo de ser agredido por alguém que ainda estivesse na casa. Também estava assustado demais e esqueceu de apertar o botão de pânico da biblioteca, que acionaria a empresa de segurança. Por fim, foi impedido por Suzane de subir as escadas. Saiu com a irmã pela porta da frente. Dali mesmo ela usou o celular para telefonar para Daniel, que os orientou a sair da casa e esperá-lo, logo após isso, chamaram a polícia pelo 190. Segundo Andreas, Suzane também discou o número de casa, mas ninguém atendeu o telefone.

Ao ler o depoimento do menino, delegado e investigador chefe se entreolharam. Várias lacunas na história precisavam ser preenchidas. Definitivamente, o menino estava falando o mínimo necessário, e nada disse sobre a história da família e suas relações. O Dr. Guanaes resolveu mudar de estratégia. Encaminhou o filho das vítimas e sua advogada para sua sala, mais confortável e menos opressora que a sala em que ele tinha sido interrogado, com uma escrivã relatando em linguagem policial os fatos daquele dia. Robson acompanhou-os e sentou-se no sofá de couro ao lado da mesa. O delegado sentou-se em sua cadeira, o menino à sua frente. Novamente, pediu que ele contasse seu dia. Outra vez o menino foi lacónico, somente respondendo às perguntas que foram feitas. Delegado e policial sabiam que a história estava por demais incompleta. Começaram então a esclarecer Andreas dos riscos que corria ao omitir algum fato:
Delegado Guanaes: “Andreas, vamos esclarecer o que está acontecendo aqui. Seus pais morreram, e quem fez isso pode fazer o mesmo com você. São pessoas que não medem as consequências de seus atos, e, se você estiver de alguma forma envolvido, ou não nos contar a verdade sobre o que sabe, pode até ir parar na Febem.” 
Investigador Robson: “Teu pai levou muita pancada para morrer. Ele e sua mãe estavam vivos quando foram atacados e sofreram muito. Presta atenção, Andreas, eles devem ter implorado pela vida deles. Já pensou sobre isso? Tudo o que você contar pode ajudar a descobrir quem fez isso!.” 
Andreas agitou-se na cadeira. Olhava com aflição para os dois homens que diziam tudo aquilo que ele queria saber, mas não queria ouvir. 
Guanaes: “Pensa nisso, Andreas. Teu pai e tua mãe foram assassinados, aqueles que te amavam, que te colocaram no mundo... Como você pode proteger quem matou aqueles que mais se importavam com você? Acabou, teu mundo caiu, você está sozinho. Conta tudo pra gente!” 
Neste momento, os olhos do menino ficaram marejados. Ele olhou para cima, como se pudesse absorver novamente as lágrimas que teimavam em escorrer pelo rosto. Num fio de voz o jovem, perguntou: 
Andreas: “Vocês têm as fotos dos meus pais aí? Do que aconteceu com eles? Eles morreram mesmo?” 
Robson: “Tenho, mas não vou te mostrar.” 
Andreas: “Por Quê? Eu quero ver!” 
Robson: “Porque o que fizeram com seus pais não se faz nem com um animal sem dono. Você está omitindo coisas em seu depoimento e vai se complicar pelo que nem fez. Sabemos que você não estava lá, mas sabemos que você sabe muito mais detalhes do que está contando para nós.” 
Guanaes: “Conte tudo de uma vez!”

Andreas passou as costas da mão na testa, enxugando o suor que encharcava seus cabelos. Secou-as na calça de moletom, respirou fundo. Perguntou por Suzane e pediu uma água. Meio perdido, amedrontado e muito constrangido, acrescentou em seu depoimento o fato de que fumava maconha. Ele usava o entorpecente havia mais ou menos sete meses, a irmã e o cunhado ofereceram-lhe e ele aceitou, mas não sabia se Daniel e Suzane consumiam a droga antes disso. No dia anterior, logo depois de almoçarem com a mãe, ele e Suzane tinham ido até o quintal fumar um "baseado" atrás da caixa-d'água do casarão. Muitas vezes era ali que se escondiam para obter o prazer proibido. Outras vezes saía de carro com a irmã e o cunhado e fumavam enquanto davam voltas pelo bairro. 
Guanaes: “Você sabia que o Daniel e a Suzane frequentavam motéis?” 
Andreas: “Sim, doutor, eu sabia. Teve uma vez que eu fui com eles, escondido no porta-malas, a um motel chamado Disco Verde. Só saí do carro depois de estar seguro de que ninguém me veria. Os dois queriam me mostrar como era um motel, e lá a gente também usou maconha juntos.” 
Robson: “O que mais você fazia escondido dos seus pais, além da maconha e das saídas à noite?” 
Andreas: “Eu tenho uma mobilete que comprei em sociedade com o Daniel. O Cravo [Sr. Astrogildo] também ajudou a comprar as peças na Amaral Gurgel, na "boca das motos", o Daniel montou pra mim e fica escondida na lavanderia da casa deles. Meu pai nem sonha que eu tenha uma mobilete, ele jamais deixaria.” 
Robson: “E você usa a mobilete quando? Usou ontem?” 
Andreas: “Usei. Depois que eu liguei para a Suzane dizendo que já estava pronto para ir ao Red Play, o Daniel me buscou sozinho e fomos para a casa dele buscar a mobilete. Eu entrei na lavanderia, peguei-a, verifiquei que estava com o tanque cheio, e fui para o cybercafé nela, seguindo o Daniel e a Suzane, que foram no Gol.” 
Guanaes: “E você voltou para casa com ela?” 
Andreas: “Quando eu telefonei para o celular da Suzane, às dez para as três, ela disse que eles já estavam vindo me buscar. Então fiquei dando umas voltas por ali mesmo, esperando eles chegarem. Quando avistei o Gol da Suzane, segui o carro. Eles me levaram para dar uma volta na avenida Brasil e outras ruas que eu não conheço muito bem, e só depois fomos deixar o Dani em casa. Isso devia ser umas quinze para as quatro.” 
Já eram 20:00. Nada parecia fazer o menino falar livremente. Ele só respondia o que lhe era perguntado. Robson, sem aviso prévio, bateu forte na mesa do delegado e disse: 
“"P*rra", Andreas! Eu tô te falando que fizeram patê da cabeça dos seus pais e você fica aí contando historinha de mobilete... Eu não sou moleque, rapaz. Fala a verdade inteira!” 
Guanaes: “Não vem dar diploma de burro pra mim, garoto. Sou delegado, só trato de homicídios. Tá vendo estas pastas aqui em cima da minha mesa? É o meu trabalho, tudo gente que foi assassinada, e eu vou descobrir quem matou!” 
Andreas: “Mas que verdade vocês querem ouvir? Eu sei disso tudo, estou sofrendo e não preciso ser tratado assim” 
Guanaes: “A verdade, sem criar nem esconder nada!” 
Advogada: “Andreas, fale a verdade sem proteger ninguém. A polícia não é o inimigo, o inimigo é quem assassinou seus pais. É você que tem que ajudar a descobrir quem foi.” 
Andreas: “Mas eu não sei o que eles querem saber” 
Guanaes: “É só contar tudo e qualquer coisa, mesmo aquelas que não pareçam importantes. Lembre que a idade que você tem é o tempo que a gente trabalha na polícia.” 
O menino, já cansado, resolveu falar do assunto familiar que sempre o afligia: a relação de Suzane e Daniel, a revolta dos pais com o namoro dos dois, as mentiras, os encontros escondidos, a cobertura que dava a eles, o peso de ser o único da família Von Richthofen a saber que o namoro continuava. Mas era melhor contar tudo. Naquela madrugada, Suzane e Daniel tinham pedido que protegesse o amigo, porque se a polícia soubesse de tudo ele seria o maior suspeito. Suzane implorou: “Andreas, tomara que isso tudo não caia na cabeça do Dani. Ele ficou trinta dias aqui em casa e deixou digital pra todo lado, em tudo quanto é canto da casa. Não fala nada dele para a polícia.” Daniel também tinha conversado com ele: “A polícia vai ficar no meu pé por causa da treta que eu tive com teus pais e também porque eu fiquei morando um mês na tua casa, deixei um monte de impressões digitais.” 
Somente Andreas sabia que, quando Suzane dizia que estava indo para o monitoramento na PUC, estava na verdade indo para a casa dos Cravinhos. Ali, seu namoro era "permitido e abençoado" 
Em julho, o casal Richthofen e o garoto resolveram viajar durante todo o mês para Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha e Finlândia. Foi nesse período que Daniel "mudou-se" para a mansão de "mala e cuia". Dias felizes, piscina, cerveja, muita música, o famoso "sexo, drogas e rock'n'roll". Para tudo acabar na volta dos donos da casa, no fim daquele mês. Mesmo na Europa, Andreas continuou acobertando o relacionamento que a irmã e Daniel mantinham e, disse que não havia contado isso antes, era para que não pensassem mal de Daniel. “Ele é um cara maravilhoso, gosto dele como um irmão mais velho, mas sei que usar drogas é errado. Se meus pais soubessem que eu fumo maconha com a Suzy de vez em quando, cometeriam suicídio. Eu não acho que o Dani seria capaz de fazer algo de ruim com eles, ele ama a nossa família” disse Andreas. 
O delegado Guanaes incentivava Andreas a contar mais detalhes do dia do crime. Perguntou novamente sobre quando chegaram em casa. Segundo o menino, foi entre 03:55 ou 04:00. Durante o percurso, Suzane contou que gastara 300 reais no Motel Colonial. Também falou que, depois de deixar Andreas no Red Play, voltou para casa para pegar dinheiro para o motel (100 reais). Suzane disse que chegou em casa às 00:00, subiu e verificou que os pais estavam dormindo. Pegou o dinheiro e saiu, trancando a porta. Andreas relatou que, ao chegarem, viram luzes acesas e tudo muito bagunçado, além de a porta da frente destrancada e a janela do escritório aberta. Reparou em vários papéis espalhados pelo chão, móveis com portas e gavetas abertas, uma pasta marrom com um corte junto ao fecho. Perto da pasta estavam as chaves-reserva da casa. Segundo o menino, a pasta era da mãe e tinha segredo. Era ali que ficavam guardadas as chaves-reserva, além de dinheiro e cheques recebidos por ela. Também reparou numa faca serrilhada, que era da cozinha. Robson e Guanaes estranharam alguns detalhes do depoimento de Andreas com o que Suzane havia falado aos policiais ao fazer o boletim de ocorrência. Para ver a pasta, teriam que ter entrado na casa. 
Questionaram Andreas, que respondeu: 
“Andreas: Olhei rapidamente. A Suzane entrou, olhou melhor e me contou. A pasta não estava lá?” 
“Robson: Você que tem que dizer se estava ou não!” 
“Andreas: Ela disse que sim.” 
“Guanaes: Ela não deixou você subir por quê? Sabia de alguma coisa?” 
“Andreas: Eu não sei mais nada.” 
Nesse momento, a expressão do rosto de Andreas era de susto e confusão. Só lembrava que naquela manhã, logo antes de tentar dormir na casa dos Cravinhos, a última frase da irmã fora: “Tomara que isso tudo não caia na cabeça do Dani...”. Depoimento terminado. Já eram 22:00 e todos estavam cansados. Robson perguntou a Andreas: 
— Você quer um lanche do McDonald's? — Quero só um sorvete. — Tua mãe acabou de morrer e você quer tomar sorvete? — Você me ofereceu, é só um sorvete. 
Mesmo assim, a polícia insistiu que o garoto se alimentasse com um lanche, fritas, refrigerante e o desejado sorvete. Andreas aceitou as fritas com esforço, rejeitou o lanche e, finalmente, saboreou o sorvete. O objetivo da polícia com isso era cansar Andreas para que ele falasse algo a mais sobre a irmã. Para os policias, a partir desse momento o garoto já passou a desconfiar da irmã.
O depoimento do garoto foi o de maior importância e norteou muito as investigações da Delegacia de Homicídios. Apesar de ter Daniel como irmão mais velho e adorar Suzane, jamais se furtou em responder com verdade a tudo que lhe foi perguntado. Não tinha respostas prontas; nenhum depoimento seu parecia preparado. Sendo assim, qualquer envolvimento de Andreas foi descartado e, para a polícia, Andreas seria a próxima vítima de um crime - até aquele momento não confirmado - praticado por Daniel Cravinhos e talvez, Suzane. A pedido do delegado, o tio de Andreas, Miguel Abdalla foi chamado. Foi pedido que Andreas fosse afastado da irmã e de seu cunhado até que as investigações terminassem, ficando aos cuidados de seu tio.*
  • Primeiro depoimento de Suzane.
Enquanto Andreas estava sendo ouvido na Equipe H-Sul, Suzane e Daniel foram encaminhados para a Delegacia C-Sul, onde os dois ficaram aguardando no corredor. O casal esperou que o Dr. Alvim, delegado da equipe, chamasse a filha das vítimas para ouvir sua história. Enquanto isso não acontecia, trocavam beijos e abraços, chamegos e carinhos. Os policiais que por ali passavam e viam a menina com as pernas sobre o colo do namorado, cochichando e sorrindo, espantavam-se em saber que se tratava da adolescente que acabara de saber que os pais tinham sido assassinados de forma brutal. O primeiro depoimento de Suzane foi acompanhado por Denivaldo Barni, um advogado da Dersa, que chegou à delegacia espontaneamente. A empresa em que Manfred von Richthofen trabalhava achou politicamente correto que um advogado de seu quadro de funcionários acompanhasse os órfãos nos procedimentos policiais que se faziam necessários, dando assistência à família do engenheiro brutalmente assassinado no acontecimento trágico. A filha do casal parecia tranquila, tinha o olhar assustado e uma história para contar que chamou a atenção do delegado Alvim por estar muito pronta e que parecia, de alguma forma, preparada com antecedência. O delegado estranhou, e notificou toda a equipe de que suspeitava da filha do casal.

Suzane declarou que cursava o primeiro ano de Direito na PUC-SP e declarava ter um convívio familiar harmônico. Tinha boa amizade com os pais e com o irmão, Andreas. Seus pais controlavam mais os horários do irmão, que não podia sair à noite, mas nos finais de semana o controle não era tão rígido. Sua casa possuía sensores infravermelhos na porta de entrada e na comunicação entre cozinha e sala que disparavam um alarme quando atravessados. No quarto de seus pais, no Seu, no de seu irmão e na biblioteca havia botões de pânico, que deveriam ser acionados se qualquer barulho estranho fosse ouvido pelos moradores. Um equipamento e tanto de segurança, que segundo ela, estava desligado para que a empregada tivesse livre acesso em toda a casa. Duas câmeras de vídeo estavam direcionadas para as portas de entrada. O monitor de vídeo ficava na cozinha, mas infelizmente não gravava o que era captado pelas câmeras. Declarou também que empregadas domésticas contratadas pela mãe não ficavam mais de seis meses trabalhando em sua casa e que meses antes, por coincidência, ela e a mãe haviam sido seguidas por um Escort azul de vidro escuro em momentos diferentes. Também relatou a história de uma antiga empregada que tinha furtado dinheiro da mansão da família.

Segundo a menina, no dia fatídico ela havia saído de casa por volta das 17:00, indo para a casa de Daniel. Ali, ficaram vendo TV até as 18:00, quando resolveram ir à Blockbuster alugar um filme. Depois de procurar por um título interessante, não encontraram nada e resolveram visitar o irmão de Daniel, Cristian Cravinhos. Eles precisavam devolver a ele uma máquina de cortar cabelo que Daniel havia pegado emprestada. O casal ficou na casa de Cristian por quinze minutos e depois retornou à casa de Daniel. Por volta das 22:30, Andreas ligou para Daniel, que foi buscá-lo conforme haviam combinado. Ele queria ir jogar Counter Strike e Sim City no cybercafé perto de casa, mas teria de sair escondido dos pais. Segundo Suzane, isso acontecia pelo menos uma vez por semana. Juntos, encontraram Suzane na casa de Daniel, onde Andreas pegou a mobilete que ali ficava escondida (era um presente secreto da família Cravinhos, que Daniel montou para o "cunhado" adolescente) e foram os três para o cybercafé Red Play. Às 00:00, Suzane e Daniel retornaram para a residência dela para buscar cem reais que estavam em sua mesa de estudos. Enquanto o rapaz esperou no carro, ela entrou em casa. Encontrou a porta fechada e todas as luzes apagadas, exceto a luz da varanda e do abajur, que ficavam acesos de costume. Subiu e viu os pais dormindo com a porta aberta, como de hábito. Passou pela biblioteca para ver se tinha algum recado para ela, foi ao banheiro e saiu. O casal, segundo ela, foi procurar um motel na Rodovia Raposo Tavares, mas depois mudou de ideia e resolveu se divertir no Motel Colonial, onde chegaram por volta de 01:30. Solicitaram a suíte presidencial, pela qual pagaram 385 reais, e ficaram até as 02:40. Era a comemoração do aniversário de Suzane. Ao saírem, foram imediatamente buscar Andreas no cybercafé. Acompanharam o menino, que deu algumas voltas pelo bairro em sua mobilete. Suzane então deixou o namorado e a mobilete na casa dele e foi com o irmão para casa por volta das 4h. Encontraram a porta da frente da residência aberta, as luzes da cozinha e da sala acesas e viram que a biblioteca estava bagunçada. Uma pasta que continha dinheiro em moeda nacional e e moedas estrangeiras estava rasgada e vazia. Saiu da casa, foi para a área da piscina e ligou para o namorado. Daniel pediu que não entrasse mais na casa e disse que iria para lá. Suzane discou 190 e chamou a Polícia Militar. Os policiais entraram, fizeram breve vistoria e noticiaram que seus pais haviam sido mortos. Confirmou que a arma de fogo que estava no local pertencia a seu pai.

Quando o Dr. Alvim perguntou a ela por que ficou apenas pouco mais de uma hora no motel quando poderia ter ficado muito mais, Suzane respondeu que Andreas havia ligado e pedido que fossem buscá-lo porque o Red Play estava ficando vazio. O irmão sabia que o casal estava num motel. Ela também disse em seu depoimento que não fez sexo com o namorado naquela noite. Suzane contou ao delegado que namorava Daniel fazia três anos e que seus pais nada tinham contra o namoro. Segundo seu depoimento, Daniel frequentava sua casa em datas comemorativas. Também confessou que o casal fazia uso de entorpecentes, mas que achava que seu irmão Andreas nunca tinha experimentado nenhuma droga. Ela não imaginava que Andreas tivesse contado que usavam drogas juntos.
  • Primeiro depoimento de Daniel Cravinhos.
Daniel, em seu depoimento, contou "basicamente" a mesma versão que Suzane. Disse que tinha bom relacionamento com os pais dela, que frequentava sua residência uma ou duas vezes por mês, porque os horários da namorada não batiam com sua programação, que os pais dela regulavam muito seus horários, para que os estudos não fossem prejudicados pelo namoro. Naquele dia, Suzane chegou em sua casa por volta das 17h. Foram comprar ração para peixes, voltaram, mas logo resolveram ir até a locadora Blockbuster pegar alguns DVDs. Desistiram antes de entrar e voltaram para casa de Daniel, onde esperaram o telefonema de Andreas. Depois de deixar o "cunhado" no Red Play, o casal de namorados rumou para a rodovia Raposo Tavares, para procurar um motel onde comemorariam o aniversário de Suzane.

Próximos à rodovia, mudaram de ideia e resolveram ir para o Motel Colonial, onde achavam que "curtiriam melhor" a data. Como o programa escolhido era mais caro e precisavam de mais dinheiro, foram até a casa de Suzane para completar o valor necessário. Daniel ficou no carro enquanto a namorada entrou e saiu, o que levou aproximadamente dez minutos. Seguiram para o Motel Colonial, de onde saíram poucas horas depois para buscar Andreas no cybercafé. Deram algumas voltas com o garoto, que usava sua mobilete, foram para a casa de Daniel, onde ele desceu e guardou o ciclomotor do menino. Suzane e Andreas foram embora, mas telefonaram para ele logo depois, contando que a casa estava revirada. Daniel pegou seu carro e foi imediatamente para a casa da namorada. Enquanto esperavam na rua pela Polícia Militar, deram vários telefonemas para dentro da casa, esperando que Manfred e Marísia atendessem e dissessem se estava tudo bem, mas não entraram com medo de encontrar um assaltante. Daniel, quando soube que seus "sogros" estavam mortos, chamou seu pai. O rapaz também disse que os pais de Suzane bebiam cerveja e uísque diariamente e que achava que o crime poderia estar relacionado com alguma empregada da casa, atual ou antiga.
  • Conflitos nos Depoimentos e Álibis.
Logo, vários conflitos relevantes entre os depoimentos do casal surgiram. Primeiro, quanto ao programa da tarde: Suzane dizia que o casal havia entrado na Blockbuster, Daniel dizia que não. A segunda contradição era quanto às atividades do casal entre deixar Andreas no Red Play e chegar ao Motel Colonial: enquanto Suzane dizia ter ido levar o irmão ao Red Play, depois passado em casa para pegar o dinheiro, em seguida para a Raposo Tavares e, finalmente, para o Motel Colonial, Daniel disse que levaram Andreas, foram para a Raposo Tavares, dali para a casa de Suzane e, em seguida, para o Motel Colonial. Para a polícia, o lapso de tempo entre deixar Andreas na casa de jogos e a chegada ao Motel Colonial à 01:30 daquela madrugada estava confuso. E as versões só se confundem quando são mentirosas. O terceiro conflito era sobre como o tempo foi gasto no motel. Daniel dizia que chegaram ao quarto, usaram a hidromassagem, foram para a piscina e então "pintou um clima" e transaram. Para Suzane, eles tinham ido primeiro para a piscina, depois para a hidromassagem e nada de sexo naquela noite. Poucas horas haviam se passado para que qualquer um deles se confundisse quanto às atividades românticas no motel. O quarto conflito era de que na conversa com o policial, Astrogildo Cravinhos havia alegado que o casal Richthofen sofria de alcoolismo e bebiam todos os dias, tese confirmada por Daniel Cravinhos. Suzane e Andreas afirmaram que apenas o pai bebia vinho socialmente. Na mansão foram encontradas 3 garrafas de vinho do Porto lacradas e o exame do IML constatou que nenhuma das vítimas havia ingerido algum tipo de bebida alcoólica nas últimas 72 horas.

Daniel também não conseguia lembrar que roupa Suzane usava no motel, pois segundo Andreas ela foi levá-lo ao Red Play vestida de um jeito e buscá-lo de outro. Outro detalhe que chamou a atenção da polícia foi a aliança de compromisso que Suzane usava naquela quinta-feira, mas Daniel, não. Quando Ado conversou com Miguel Abdalla, tio da garota, ele contou que seis ou sete meses antes a família Von Richthofen havia comemorado a quebra do compromisso e a retirada da aliança do dedo anular da filha. Bem, ela a estava usando novamente. Houve a decisão de manter o casal completamente separado até que os depoimentos estivessem finalizados, pois alguns detalhes não estavam "bem combinados".

Os investigadores Luciano e Francisco seguiram para o Motel Colonial verificar o álibi do casal de namorados. Eles entraram à 01:36 do dia 31 e saíram às 02:55, apesar de poderem ficar até o meio-dia. Pagaram em dinheiro vivo uma conta de R$ 318,50, que incluía a diária de uma suíte com sauna, piscina, teto solar, cachoeira e hidromassagem e o consumo de uma lata de coca-cola. Os investigadores Wendel e Leandro foram até o cybercafé Red Play ouvir o gerente, Almir, confirmando o álibi de Andreas von Richthofen quanto ao horário de entrada e saída, além de consumo. Foi pedido ao gerente um relatório de frequência de Andreas e Daniel, no qual se verificou que nunca o primeiro havia ficado até tão tarde no estabelecimento como aconteceu no dia do crime. Foram chamados para depor o proprietário do local, dois funcionários noturnos e mais um empregado. Eles achavam que Suzane e Daniel fumavam maconha.

Na noite de quinta-feira em conversa com o Dr. Armando de Oliveira Costa Filho, diretor da Divisão de Homicídios do DHPP, Suzane von Richthofen não perguntou quem estaria cuidando do velório, do enterro e da liberação dos corpos de seus pais. Suas dúvidas se concentravam em saber se poderia vender imediatamente os carros da família e se na próxima semana ela e Andreas poderiam viajar para Portugal, passar um tempo na casa que a família mantinha no país e "estriar a cabeça". Revoltado com o descaso em relação aos pais, o Dr. Armando chamou a atenção dela, explicando que seria responsabilizada por suas ações. Nada ainda podia ser provado, mas o estado de ânimo do casal envolvido era espantoso para a equipe.
  • Acusação.
O promotor Roberto Tardelli esperava que Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Christian Cravinhos pegassem 50 anos de prisão cada um. Suzane, seu namorado Daniel e o irmão dele, Christian Cravinhos, confessaram ter matado os pais dela, a "golpes de pau", na casa em que a família vivia e foram denunciados pelo Ministério Público por crime de duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima; e fraude processual, por terem alterado a cena do crime. De acordo com o promotor, não haveria como o juiz arbitrar a sentença de 60 anos porque Suzane era menor de 21 quando cometeu o crime. Os três são réus confessos e colaboraram para o andamento do processo. Uma considerável vitória da promotoria foi impedir o desmembramento do processo, fazendo com que Suzane e os irmãos Cravinhos fossem julgados juntos. Além disso, segundo o promotor, venceria nesta segunda o período de prisão domiciliar, mesmo que o ministro Nilson Naves, do Superior Tribunal de Justiça, não tenha estabelecido um prazo.

Atuou como 'assistente da acusação', em nome de Miguel Abdalla, que era irmão de Marísia, o advogado criminalista Alberto Zacharias Toron, que foi o último a falar pela promotoria. Ele reforçou a linha de acusação do promotor Roberto Tardelli e insistiu na participação dos três, com responsabilidades idênticas no crime.
  • Defesa.
O advogado Mauro Otávio Nacif defendeu a tese que sua cliente sofreu uma "coação moral irresistível", ou seja, de que ela foi pressionada pelo namorado para participar do crime, sob pena de perdê-lo. O namorado teria ganhado muita importância na vida da ré depois de ela ter perdido a virgindade com ele, aos 16 anos, já que, segundo o advogado, a questão da virgindade era um tabu na casa de Suzane, que recebeu uma educação rígida graças à ascendência alemã e cuja mãe se casou virgem. Ela estaria tão envolvida com o namorado que, na opção entre Daniel e os pais, ela optou pelo namorado. Para o advogado, Daniel "escravizava" Suzane e foi o responsável por seu envolvimento com drogas como maconha — que consumia frequentemente — e ecstasy. Ele diz que Daniel não queria usar preservativos e obrigava Suzane a tomar injeções mensais de anticoncepcionais, que a desagradavam profundamente.

Entrevista de Suzane ao Programa Fantástico.

O programa dominical da Rede Globo Fantástico passou nove meses conversando com Denivaldo Barni, o advogado-tutor de Suzane, para conseguir uma entrevista exclusiva. Naquele período, houve uma conversa telefônica e dois encontros com Suzane sem câmeras. No início de abril de 2006, o advogado confirmou a realização da entrevista, pedindo que naquela reportagem não fôssem exibidas cenas de arquivo. A gravação seria feita em duas etapas: a primeira em 5 de abril de 2006 no apartamento de Barni no Morumbi.

Na tarde de 5 de abril, o Fantástico encontrou uma jovem de 22 anos que falava e se vestia como uma criança. Na camiseta, uma estampa da Minnie. Nos pés, pantufas de coelho. A franja cobria os olhos o tempo inteiro. Ela começou a entrevista mostrando fotos de amigos e da família. Percebia-se ao longo da entrevista que, quando questionada sobre o que sentia pelo ex-namorado, Suzana olhava para Barni: "Muito ódio. Muito, muito, muito. Demais. Ele destruiu a minha família, ele destruiu tudo, tudo, tudo o que eu tinha de mais precioso ele tirou de mim. O que eu tinha de mais precioso…" Logo no começo da gravação, a câmera registrou uma conversa ao pé de ouvido entre Barni e Suzane. O microfone, já pré-ligado, captou o diálogo. Ele orientou Suzane a chorar na entrevista. "Fala que eu não vejo. Chora…".

A entrevista foi ao ar no dia 9 de abril de 2006. O programa televisivo explorou a ideia de que a entrevista de Suzane fosse uma farsa da defesa dela para torná-la vista pela opinião pública de uma outra forma: como uma menina meiga (usando pantufas), imatura, infantilizada e altamente influenciável, o que a teria motivado a fazer o que fez. Baseada na ideia de que Suzane solta poderia influenciar ou até mesmo atrapalhar o julgamento, ela foi presa novamente no dia seguinte à exibição da entrevista.

Por outro lado, Barni defendeu que pediu que sua cliente chorasse para que ela sensibilizasse o irmão Andreas. Segundo Barni, Suzane lutava para receber a herança dos pais, mas o seu irmão opunha-se a isso, tendo acionado a Justiça numa "Ação de Exclusão" de Suzane como herdeira - facultada pela legislação brasileira contra aqueles que atentaram contra a vida dos eventuais legadores.
  • Julgamento.
O julgamento dos três réus foi marcado para 5 de junho de 2006 no 1º Tribunal do Júri de São Paulo. Suzane chegou ao fórum por volta das 11:30. Os irmãos Cravinhos chegaram uma hora antes. O julgamento estava previsto para começar às 13:00.

Os advogados dos irmãos Cravinhos, Geraldo e Divaine Jabur — alegando que não conseguiram se encontrar com seus clientes para melhor preparar a defesa — não compareceram ao júri, com o que o julgamento dos irmãos foi cancelado. Na sequência, após os advogados de Suzane se retirarem do plenário — depois de uma discussão com o juiz quanto ao fato de uma testemunha imprescindível não ter comparecido —, o júri dela também foi adiado.

Com o intuito de evitar novo adiamento, o juiz do caso tomou algumas precauções, como autorizar o encontro entre os irmãos Cravinhos e um de seus advogados no fim de junho de 2006, e nomear um defensor público (e até um substituto para este último) para defender os irmãos, caso seus advogados novamente faltassem. Possíveis manobras da defesa de Suzane não eram esperadas, já que ela não tinha mais o benefício de prisão domiciliar. Um novo julgamento foi marcado para segunda-feira, 17 de julho de 2006. A sentença foi proferida na madrugada de sábado, 22 de julho, às 02:00.
  • Primeiro dia.
No primeiro dia de julgamento (17 de julho de 2006), surgiram polêmicas e novas versões para os fatos. Os três acusados depuseram. Em seu depoimento, Suzane afirmou que não tinha conhecimento do plano para matar seus pais, concebido e executado única e exclusivamente pelos irmãos Cravinhos. Ela também disse que estava "muito maconhada" quando o crime ocorreu, que conduziu os irmãos para a casa sem saber que seus pais iriam ser assassinados, e que só se deu conta do ocorrido ao chegar em casa com seu irmão Andreas. Afirma ainda que Daniel era excessivamente ciumento. Fez menção a uma vez em que ela fez uma viagem à Alemanha e foi obrigada a gastar muito com cartões telefônicos, apenas para manter contato com o namorado. Quando Suzane voltou, Daniel disse a ela que não poderia ficar longe dela por tanto tempo e que tinha tentado se matar por causa da ausência de sua namorada. Suzane declarou ter dado a Daniel presentes caros custeados com o dinheiro dos pais. Segundo Suzane, ela presenteava Daniel com DVDs, TVs e bens caros. 'Ele sempre estava com dinheiro na carteira. Mas era sempre o meu dinheiro', declarou a filha das vítimas do assassinato. Suzane ainda declarou que no clube de aeromodelismo onde ela e seu irmão Andreas conheceram Daniel, ela ficou sendo conhecida como "a galinha dos ovos de ouro da família Cravinhos".

Outro ponto de conflito foi a perda de sua virgindade: enquanto ela afirmava tê-la perdido com Daniel Cravinhos, Daniel disse que ela a perdeu com seu namorado anterior. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, esta discussão é relevante porque desta forma pode cair por terra a principal tese da defesa de Suzane, a de que Daniel exercia um fascínio irresistível sobre isso.

Cristian, por sua vez, também apresentou novas informações: segundo ele, apenas seu irmão Daniel teria matado Manfred e Marísia. Cristian teria assumido esta responsabilidade por achar que, desta forma, Daniel passaria menos tempo preso. O réu também insistiu que Daniel e Suzane estavam convencidos a cometer o crime, apesar de suas tentativas de dissuadi-los; de acordo com ele, Suzane teria dito: "Quero matar meus pais hoje". Segundo a promotoria, Cristian poderia perder o benefício da redução da pena por ter mudado a versão dos fatos. Já Daniel afirmou, entre outros, que a mentora do crime foi Suzane von Richthofen. De acordo com ele, era de conhecimento geral o péssimo relacionamento entre sua ex-namorada e seus pais. Daniel sustentou que Suzane sofria agressões físicas e verbais, além de abusos sexuais (fato que Suzane negou: ela classificou sua família como "normal, do bem"). Por isso e pela herança, Daniel afirmou que Suzane estaria convencida a matar seus pais. Ele também afirmou ter sido "usado" pela ex-namorada para dar cabo de seu plano.

A defesa dos irmãos Cravinhos acusou Suzane de "mentirosa" e pediu uma acareação entre os três acusados, pedido acatado pelo juiz Alberto Anderson Filho. Esta acareação poderia esclarecer pontos cruciais, como quem foi o mentor e qual o real papel de Suzane no crime – há controvérsias, por exemplo, se ela teria ou não visto o corpo dos pais.
  • Segundo dia.
A parte principal do segundo dia de julgamento (18 de julho de 2006) foi o depoimento de Andreas, irmão de Suzane. A primeira pessoa a ser ouvida, Andreas Albert von Richthofen, afirmou que nem ele e nem a irmã foram vítimas de abusos ou maus tratos por parte dos pais, ao contrário do que disse Daniel Cravinhos. O rapaz classificou a relação de Suzane com Manfred e Marísia como normal, sem conflitos excepcionais. Ele também disse ter sofrido "chantagem emocional" para que escrevesse um bilhete dizendo que perdoava a irmã, e que na verdade não a perdoou; afirmou não acreditar em seu arrependimento e nem em sua intenção de desistir da herança, e disse que ele e Suzane foram influenciados por Daniel Cravinhos a usar maconha. Andreas também admitiu se sentir ameaçado pela irmã: "Dizem por aí que ela é psicopata. Eu não sei, mas de uma pessoa assim a gente pode esperar qualquer coisa". Andreas revelou ainda que não consegue fazer uso do dinheiro porque Suzane está complicando o processo. Outra mentira de Suzane teria sido sobre a arma usada no crime. Em seu depoimento, ela disse que a arma era do irmão, o que Andreas negou. Ele disse apenas que Suzane pediu que ele jogasse o objeto fora.

A convite do Ministério Público, foi ouvida também a delegada de polícia Cíntia Tucunduva Gomes. Ela desmontou a versão apresentada no dia anterior pelos irmãos Cravinhos de que apenas Daniel teria golpeado as vítimas: para ela, as agressões foram simultâneas, pois seria impossível que um dos dois tivesse sido atacado sem que o outro esboçasse reação. Gomes também ressaltou a frieza de Suzane, que se portou de modo desapaixonado desde o princípio – após confessar o crime, Suzane teria penteado os cabelos e perguntado ao então namorado se estava bonita, antes de ser fotografada e fichada no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Foram ouvidos ainda: Fábio de Oliveira (agente penitenciário) e Hélio Artesi (pai de uma ex-namorada de Cristian), que atestaram o bom comportamento dos irmãos Cravinhos; Ivone Wagner, que testemunhou que Suzane tratava mal sua mãe; e o policial militar Alexandre Boto, que "estranhou" a atitude de Suzane ao chegar à casa dos von Richthofen para verificar o que havia ocorrido.
  • Terceiro dia.
No terceiro dia de julgamento (19 de julho de 2006), os advogados de Suzane tentaram manobra para incluir novos documentos nos autos do processo: leia a seção relativa à Herança. A mãe dos réus Cristian e Daniel Cravinhos, Nadja Cravinhos de Paula, prestou um depoimento carregado de emoção. Ela ressaltou o arrependimento e profunda vergonha que os filhos estariam sentindo, apesar de pedir aos jurados punição para todos: "Cada um tem que pagar pelo que fez, e não pelo que não fez." Afirmou que perdoou a todos, que os pais de Suzane eram agressivos quando bebiam e que de fato abusavam sexualmente da garota, que Andreas era influenciado em demasia por Suzane, e que Cristian não tinha mais problemas com drogas, pois teria largado dez anos antes.

Reforçando a linha de defesa montada pelo advogado dos filhos, Nadja declarou que Suzane não perdeu a virgindade com Daniel e que Manfred e Marísia bebiam muito e "eram extremamente agressivos" entre eles e com os filhos. Nadja disse que, quando Suzane tinha que ir para o sítio com os pais, entrava em pânico. "Não sei se ela se fazia de vítima, fazendo dele (Daniel) um instrumento", contou a mãe dos Cravinhos. Cristian e Daniel choraram bastante durante o depoimento.

Horas depois, Cristian - acredita-se que influenciado pelo depoimento da mãe - mudou seu próprio depoimento, confessando ter golpeado Marísia von Richthofen até a morte. Ele atribuiu a concepção do plano a Suzane: ela os teria convencido a participar do crime alegando que, com os pais, "não tinha vida", e que Manfred a teria tentado estuprar quando ela tinha 13 anos. Entretanto, manteve as declarações de que teria batido a porta do carro e pisado com mais força, na tentativa de acordar o casal e lhes dar alguma chance de reação. Disse também que, mortos Manfred e Marísia, Suzane o teria acalmado, dizendo: "Você não me tirou nada. Você me deu uma nova vida". Ao final do depoimento, Cristian chorava muito e foi abraçado pelo pai. O julgamento foi suspenso por alguns minutos e os jurados retirados do plenário.

Depôs também Fernanda Kitahara, ex-colega de faculdade de Suzane. Ela confirmou que Suzane e Andreas usavam maconha, e que a droga era comprada por Daniel. Disse que sabia de desentendimentos entre Suzane e os pais, ressaltando um caráter controlador por parte deles: "Ela tinha horário pra voltar pra casa, saindo comigo ou com o namorado" - com isso Suzane teria, por várias vezes, mentido aos pais para encontrar Daniel. Também disse que Suzane era, em sala de aula, quieta e sem amigos, graças ao ciúme exacerbado de Daniel, e contou que Suzane lhe disse que o namorado era perseguido pelo espírito de um amigo, o "Nego" ou "Negão". Este afirmava que a acusada teria de escolher entre os pais e o namorado.
  • Quarto dia.
O quarto dia de julgamento (20 de julho de 2006) começou com a exibição das imagens da perícia realizada no corpo de Marísia. A perita Jane Belucci fez uso de fotografias para esclarecer a dinâmica dos eventos, e a natureza das fotos, tais como a do rosto desfigurado de Manfred, causou desconforto geral. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) concluiu que a mãe da ré morreu por traumatismo crânio-encefálico, causado por "instrumento contundente", com vários golpes. De acordo com a análise, a mãe de Suzane teve uma morte agônica, mantendo-se viva por algum tempo. Enquanto essas imagens eram mostradas, os réus Suzane, Daniel e Cristian permaneceram de costas para o telão, sem em nenhum momento olhar para fotos.

O dia foi reservado ainda para a leitura de depoimentos das testemunhas (ainda na fase processual do caso) e para a exibição da reconstituição do filme e de uma série de reportagens acerca do crime, além dos depoimentos dos acusados. Daniel e Cristian choraram copiosamente durante a exibição de suas encenações, e pediram para serem retirados do plenário. Suzane não foi vista chorando, apesar das declarações em contrário de seus advogados, e também abandonou o plenário — para o promotor Roberto Tardelli, entretanto, arrependimento e desespero não diminuem a pena. Os réus divergiram sobre quem ficou responsável por desarrumar a biblioteca da casa na simulação de roubo, e sobre o momento em que pegaram uma garrafa de água para jogar nas cabeças das vítimas.

Também foram lidas cartas de amor trocadas por Suzane e Daniel. Enquanto o rapaz se emocionou a ponto de ser retirado do plenário, Suzane demonstrou constrangimento e desconforto (especialmente nos trechos em que ela chama Daniel de "meu maridinho" e outros apelidos similares, que arrancaram risos do público), mantendo sua cadeira afastada das dos irmãos.

Para o promotor Tardelli, o comportamento dos réus ressalta a "frieza" de Suzane e o "descontrole emocional" de Daniel. A promotoria disse que iria tentar provar que o crime foi inteiramente planejado, que nenhum dos acusados foi induzido. Para isto eles pretendem lembrar, entre outros, que logo após o crime Daniel e Suzane protagonizavam cenas de amor na delegacia, enquanto Cristian foi a um churrasco, viajou e comprou uma moto.
  • Quinto dia.
No último dia de julgamento (21 de julho de 2006), foram realizados os debates entre acusação e defesa e, após a decisão do Ministério Público de se abrir mão do tempo reservado para réplica, os jurados se reuniram para decidir o futuro dos réus. A advogada Gislaine Jabur tentou convencer os jurados a derrubar as qualificadoras colocadas pelo Ministério Público contra Cristian e Daniel: ela alegou que Cristian não podia ser acusado de duplo homicídio, já que ele matou apenas Marísia; disse que não houve motivo torpe, já que ele não tinha rancor das vítimas; alegou, por fim, que não houve motivo cruel (o laudo do Instituto Médico Legal (IML) atesta que Marísia morreu por traumatismo craniano, e não pela toalha colocada em sua boca). Quanto a Daniel, Gislaine lembrou que, desde a reconstituição do crime, o réu afirmou ter tentado acordar Manfred após tê-lo golpeado, sacudindo seu braço e passando uma toalha por seu rosto. Os advogados também argumentaram que as acusações de fraude e furto não procediam, já que Cristian teria ficado com o dinheiro e as joias a pedido de Suzane.

Os promotores Roberto Tardelli e Nadir de Campos Júnior pediram ao júri a condenação dos réus. A promotoria acusou a defesa de Suzane de preconceito social, quando esta afirmou que a "menina milionária", que vivia alheia à realidade num mundo de conforto material, e que não tinha motivos para cometer um crime, foi facilmente convencida por Daniel a fazê-lo, já que ele, vindo de uma família mais humilde e tendo um histórico de criminalidade e uso de drogas, tinha maior propensão a cometer um crime.

Ao ser acusado pelo promotor de justiça Nadir de Campos Júnior, Daniel Cravinhos teve uma crise de choro e foi abraçado pelo irmão Cristian. Ambos foram retirados do plenário. Suzane, por sua vez, permaneceu no plenário de cabeça baixa, sem esboçar reação.

Os quatro homens e três mulheres que compuseram o júri se reuniram por volta das 22:00, no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo). Eles responderam a um questionário em que julgavam se cada um dos réus era culpado em 12 itens. As respostas possíveis eram sim e não. No caso dos irmãos Cravinhos, as questões eram, entre outras, se houve motivo torpe, se o meio usado foi cruel, se houve possibilidade de defesa das vítimas, e se havia atenuantes. No caso de Suzane, em seis perguntas os jurados deviam decidir se ela agiu ou não sob coação dos irmãos Cravinhos. Com base nos questionários, o juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1° Tribunal do Júri, estabeleceu e divulgou a sentença.
  • Sentença.
O Tribunal do Júri condenou Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos a 39 anos de reclusão, mais seis meses de detenção, pelo assassinato do engenheiro Manfred e da psiquiatra Marísia von Richthofen, mortos a pauladas no dia 31 de outubro de 2002, na residência deles, no bairro nobre do Brooklin, em São Paulo. A pena-base foi de 16 anos, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Ambos tiveram sua pena reduzida em um ano; Suzane por ser à época menor de 21 anos, e Daniel, graças à confissão. Já Cristian Cravinhos foi condenado a 38 anos de reclusão, mais seis meses de detenção. Sua pena-base foi de 15 anos, mais 4 pelos agravantes, também para cada uma das mortes. Ele também teve sua pena reduzida em um ano por ter confessado o crime. Mesmo condenados a quase 40 anos, a lei brasileira só permite que um condenado fique preso por no máximo 30 anos.

A sentença só foi anunciada às 03:00 da madrugada do dia 22 de julho de 2006, pelo juiz Alberto Anderson Filho, que presidiu o julgamento iniciado no começo da semana, no dia 17, no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista. Os condenados ainda podiam recorrer, mas não puderam aguardar em liberdade. Também não podiam ser submetidos a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por homicídio praticado. O advogado de defesa de Suzane Richthofen, Mauro Otávio Nacif, disse que saía "muito triste" do Tribunal e que não iria recorrer do resultado, mas que tentaria reduzir a pena da cliente.
  • Prisão dos Condenados.
Na noite de 20 de novembro de 2002, Suzane foi transferida para a Penitenciária Feminina do Carandiru. Daniel foi levado ao Belém 1 e Cristian ao Belém 2. Suzane ficava sozinha numa cela com cama, televisão, chuveiro e vaso sanitário. Ela recebeu ainda a visita da advogada Claudia Bernasconi e de dois outros defensores da área cível. Suzane pediu ainda que pudesse receber a visita do irmão Andreas, de 15 anos, e de sua avó materna.

Em dezembro de 2004, Suzane teve um habeas corpus negado. Em junho de 2005 ele foi aceito, e Suzane foi solta no final do mês. Contudo, um dia após a polêmica entrevista ao Fantástico em um domingo de abril de 2006, Suzane foi presa novamente (12 de abril). O pedido de prisão foi feito à Justiça pelo promotor do caso, Roberto Tardelli, um dia depois da veiculação das entrevistas concedidas por ela à revista Veja e ao programa Fantástico, da TV Globo. A reportagem exibida pela Globo na noite de domingo procurou mostrar o que seria uma "farsa" montada pela defesa de Suzane. A emissora exibiu trechos de gravações em que os advogados a orientavam a chorar. No pedido, o promotor apresentou uma foto de Suzane ao lado de sua avó materna. Com isso, ao decretar a prisão, o juiz entendeu que o irmão de Suzane, Andreas, estava "ao seu alcance" e que "tornaram-se públicas as divergências havidas entre Suzane e seu irmão, ora por desacordo na partilha de bens dos falecidos pais, vítimas".

Daniel e Cristian receberam em fevereiro de 2013 o direito de regime semiaberto, em que podem sair de dia para trabalhar e voltar à cadeia para dormir. Em 10 de maio de 2013, deixaram o presídio pela primeira vez desde 2006, após o período de quarentena da decisão de regime semiaberto, para benefício do Dia das Mães.

Em agosto de 2014, Suzane foi beneficiada com a progressão da pena, do regime fechado para o regime semiaberto, tendo o direito de trabalhar durante o dia e dormir na prisão. De acordo com a juíza Sueli de Oliveira Armani, da 1ª Vara de Execuções Penais de Taubaté, a ré "encontra-se presa há 12 anos, não apresenta anotação de infração disciplinar ou qualquer outro fator desabonador de seu histórico prisional, (...) não há como negar à postulante a progressão ao regime intermediário". Segundo seu advogado, Denivaldo Barni, Suzane deveria exercer atividades de auxiliar no seu escritório.

Pouco menos de uma semana depois dessa decisão da Justiça, Suzane entrou com pedido para permanecer em regime fechado, na Penitenciária de Tremembé, onde cumpria pena, alegando temor de ser hostilizada em outro presídio - fato que já aconteceu quando se encontrava presa no Carandiru. Afirmou ainda que necessitava do salário que recebia por seu trabalho na oficina de confecção de roupas da FUNAP, na penitenciária de Tremembé, onde tinha bom relacionamento com as demais detentas. O pedido ficou de ser analisado.

Em outubro de 2014, Suzane anunciou seu casamento com outra detenta, Sandra Regina Ruiz Gomes, conhecida como Sandrão, condenada a 27 anos de prisão pelo sequestro e morte de um adolescente em São Paulo. Sandra era ex-namorada de Elise Matsunaga, presa por matar e esquartejar o marido, Marcos Matsunaga, em 2012. Para conviver com Sandra, Suzane teve que assinar um documento de reconhecimento afetivo, exigido para todas as presas que resolvem viver juntas. Com esse documento, ela trocou a ala das evangélicas, onde vivia, e passou a habitar a cela das presas casadas, onde dividia espaço com mais oito casais. Pessoas ligadas a Elise e Sandra disseram que as duas estavam juntas desde o início do ano e que o relacionamento acabou por causa de Suzane. As três trabalhavam na oficina de costura da prisão, onde Suzane era chefe. O relacionamento foi apontado como um dos motivos para Suzane ter aberto mão do direito de passar os dias fora da prisão.

Em fevereiro de 2015, Suzane ficou sozinha na Penitenciária de Tremembé, porque sua companheira, Sandra Regina, recebeu progressão do regime fechado e foi transferida para o Centro de Ressocialização Feminino de São José dos Campos. Com a transferência, Sandra Regina retorna à mesma prisão de onde foi expulsa em 2010, após agredir um agente prisional. O Centro de Ressocialização de São José dos Campos atualmente recebe apenas presas do regime semiaberto, que permite ao detento trabalhar de dia e dormir à noite na prisão, ou, então, trabalhar na própria instituição prisional. Caso Suzane venha a pedir o direito ao regime semiaberto, há vagas para ela naquela unidade prisional, para ficar ao lado da companheira.

Em outubro de 2015, Suzane, presa há oito anos no presídio feminino de Tremembé, ganhou o direito de passar para o regime semiaberto, pois já cumprira mais de um sexto da pena de 39 anos a que foi condenada, e mostrou bom comportamento. Com a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, a condenada pode trabalhar fora da penitenciária no horário comercial e dorme na cadeia. Suzane também terá direito à próxima saída temporária, no Natal. Apesar do novo regime, Suzane não deverá mudar de endereço, pois a defesa pediu que ela continue em Tremembé, na nova ala recém-construída, com capacidade para 78 detentas, e que, atualmente, abriga apenas 22 mulheres.

Em maio de 2016, Suzane foi confinada a uma cela solitária no Presídio de Tremembé, onde cumpre pena, devido ao fato de ter fornecido endereço errado por ocasião da saída que lhe foi permitida para passar o Dia das Mães (Sim, dias das Mães) fora da prisão. Segundo reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, Suzane foi localizada na cidade de Angatuba, no interior de São Paulo, em um endereço que não correspondia ao fornecido à Secretaria de Administração Penitenciária. Para a defesa de Suzane, tudo não teria passado de um mal-entendido, pois o endereço onde ela foi presa distava apenas três quilômetros do fornecido, na mesma cidade. Suzane foi conduzida de volta à cadeia, onde ficou em "regime de observação", por dez dias, até que seja apurada a infração. Por "ter cometido grave infração", a Justiça de São Paulo suspendeu a concessão do regime semiaberto, e Suzane voltou ao regime fechado. Segundo a investigação policial, Suzane foi encontrada no Bairro dos Diogos, num sítio da irmã do novo namorado, dona da farmácia localizada no endereço fornecido por ela quando da saída temporária. O novo namorado de Suzane, Rogério Olberg, conhecido como "Alemão", seria um empresário, cujas atividades são desconhecidas, e a quem Suzane conheceu na cadeia de Tremembé, quando este fazia visitas a uma outra irmã, que se encontra presa no mesmo local. Desde a transferência de Sandra Regina Ruiz Gomes, o "Sandrão", com quem Suzane chegou a dividir uma cela destinada a casais, para o regime semiaberto, em São José dos Campos, que as duas mulheres se separaram.

Em fevereiro de 2017, Suzane foi pré-selecionada para conseguir um empréstimo, através do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), do Governo federal, para cursar uma faculdade particular em Taubaté, próxima a Tremembé, cidade onde cumpre pena em regime semiaberto, no presídio feminino. O curso escolhido foi Administração de Empresas, numa instituição "tradicional e católica", a Faculdade Dehoniana, que oferece ainda os cursos de Teologia e Filosofia. Suzane precisa da autorização da Vara de Execuções Criminais, para poder sair no período das aulas, no horário noturno. Já em abril de 2016, Suzane havia conseguido autorização para cursar Administração em uma faculdade de Taubaté, mas não deu prosseguimento ao curso. Devido ao regime do semi-aberto, ela tem direito a trabalhar e estudar, além de cinco saídas temporárias anualmente.
  • Teste para aval à soltura.
Laudo elaborado a partir do resultado de Teste de Rorschach, para avaliação de possibilidade para progressão ao regime aberto, aponta que Suzane é egocêntrica, narcisista e influenciável para condutas violentas.
  • Entrevista de Suzane a Gugu Liberato.
Em fevereiro de 2015, doze anos após sua condenação, Suzane concedeu uma entrevista ao apresentador Gugu Liberato, que reestreava na Rede Record com um programa de mesmo nome. Nesta ocasião. ela fez revelações inéditas, tais como ter planejado o assassinato dos pais, juntamente com os irmãos Cravinhos, bem como demonstrou estar arrependida do seu ato. Confessou que conheceu Daniel, que se tornaria seu namorado, quando tinha 14 anos, por intermédio da mãe, e que, com ele, levava uma vida "em que podia fazer de tudo", inclusive consumir drogas (maconha). Admitiu sentir falta da presença dos pais, e manifestou vontade de ser perdoada pelo irmão, Andreas. Confirmou sua intenção de abrir mão da herança paterna, e fez revelações sobre seu relacionamento com Sandra Regina, com quem se encontrava vivendo como casal desde o final de 2014. Teceu grandes elogios à companheira e anunciou que as duas pretendiam prolongar essa relação fora das grades. Quanto ao fato de descobrir que podia manter relações sexuais com uma mulher, Suzane admitiu que isso se deu naturalmente, com a convivência na cadeia. Na verdade, segundo confessou, Daniel Cravinhos foi o primeiro e único homem com quem manteve um relacionamento mais íntimo.

Posteriormente Suzane se separou de Sandra, após esta mudar de penitenciária. Atualmente está com um empresário de transportes, que visitava com frequência uma irmã na cadeia onde ela encontra-se.
  • Herança.
A herança dos von Richthofen está avaliada em mais de R$11 milhões. Quando Suzane completou 18 anos, em novembro de 2001, seu pai teria aberto uma conta de 30 milhões de euros na Suíça em seu nome. O dinheiro provavelmente era fruto de corrupção da DERSA, empresa em que Manfred era o engenheiro responsável pela construção do trecho oeste do Rodoanel Mário Covas, de orçamento bilionário. Como a conta está em seu nome, nada impediria que Suzane tivesse acesso ao dinheiro após cumprir sua pena.

Andreas Von Richthofen, o irmão de Suzane, manteve-se em silêncio desde o julgamento do caso, mas resolveu se manifestar em março de 2015 para rebater as acusações contra seu pai. Segundo denúncias do procurador Nadir de Campos Júnior, Manfred mantinha contas no exterior em nome de Suzane com dinheiro que teria sido desviado da estatal onde trabalhava. Na carta dirigida a Campos Júnior, Andreas disse: "Se há contas no exterior, que o Sr. apresente as provas, mostre quais são e aonde estão, pois eu também quero saber e entendo que sua posição e prestígio o capacitam plenamente para tal. Mas que se isso não passar de boatos maliciosos e não existirem provas, que o Sr. se retrate e se cale a esse respeito, para não permitir que a baixeza e crueldade deste crime manche erroneamente a reputação de pessoas que nem aqui mais estão para se defender, meus pais Manfred Albert e Marísia von Richthofen." Ao se referir ao procurador, Andreas também disse que entendia "a raiva e a indignação contra os três assassinos". "Muito da sociedade compartilha desse sentimento. Eu também. É nojento", disse sobre o crime.

Quanto ao patrimônio do casal von Richthofen, no dia 8 de fevereiro de 2011, a justiça decidiu que a jovem é indigna de receber a herança, pois foi condenada por matricídio. O processo de inventário e partilha estava sob análise da justiça desde dezembro de 2002, dois meses após o crime. Suzane ainda tentou pensão alimentícia do espólio dos pais, mas o pedido foi negado pela Justiça.

Em outubro de 2014, Suzane procurou a Justiça a fim de abrir mão de toda a herança em benefício do irmão, Andreas, e manifestou vontade de reencontrá-lo. Os dois não se veem desde o julgamento, em 2006. No mesmo documento, ela dispensou o advogado Denivaldo Berni, que a acompanhou todos esses anos, alegando sentir-se insegura quanto a sua atuação "tanto no aspecto judicial, quanto pessoal". Além disso, pediu que ele fosse proibido de visitá-la. Entre os bens da herança, encontra-se a residência da família Von Richthofen, avaliada em cerca de R$3 milhões.

Em março de 2015, a Justiça de São Paulo determinou que a herança da família seja entregue apenas a Andreas, irmão de Suzane. Na sentença, o juiz determinou que ela deveria ser excluída da partilha, por considerá-la "indigna".
  • Repercussão.
Após o caso von Richthofen ter vindo a público, o deputado federal Paulo Baltazar (PSB–RJ) elaborou projeto de lei que impede que condenados por crimes contra familiares tenham acesso ao espólio da(s) vítima(s). O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em abril de 2006, e aguarda aprovação no Senado. Na mesma oportunidade, também foi aprovado o Projeto de Lei 141/2003, do mesmo autor, que tramitava em conjunto, e que exclui da herança quem matar ou tentar matar o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
  • Suposto assédio sexual praticado por Promotor de Justiça.
Em setembro de 2010, o promotor de justiça Eliseu Berardo foi acusado por Suzane de assédio sexual, e recebeu, por parte da Corregedoria do Ministério Público de São Paulo, como punição, uma suspensão de 22 dias sem direito a receber salário. No entanto, segundo a corregedoria, a punição foi motivada pelo acúmulo de diversos fatores. O promotor negou veementemente todas as acusações.

Fontes.

*CASOY, Ilana. O Quinto Mandamento – Caso Von Richthofen . Editora Arx, ISBN 8575812289

https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Richthofen

https://pt.wikipedia.org/wiki/Investiga%C3%A7%C3%A3o_do_caso_Richthofen

https://pt.wikipedia.org/wiki/Romeu_e_Julieta

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