Os outros panteões também se difundiram por causa da Cultura Pop. Jeová, Thor, Zeus, Hórus, Minerva, Amaterasu, Shiva. Provavelmente são nomes das quais você já ouviu incontáveis vezes, e provavelmente sabe com detalhes seus mitos da qual compõe. Curiosamente, conhecemos bastante sobre os outros Deuses, contudo qual Divindade Brasileira vem a sua cabeça neste exato momento? (Só deixando claro, o Pai, o Filho e o Espírito Santo não valem.) Mas alguma vez na vida você já parou pra pensar sobre os deuses das culturas nativas do Brasil?
Se pensou em Tupã, de fato deve ser o único Deus indígena conhecido. Ao que parece, nossa herança cultural nativa é sempre sub-julgada pelas culturas estrangeiras.
Antes da chegada dos europeus que colonizaram o Brasil, as mais de mil tribos indígenas que viviam aqui já cultuavam uma série de divindades e mitos a respeito da criação da vida. Todos sempre ligados à natureza, meio em que originalmente esses povos viviam. Entre tupis, guaranis, considerados os mais importantes, ianomâmis, araras e outros tantos menos populosos, criou-se um verdadeiro legado mitológico. Atualmente, os mais de 450 mil índios, que conseguem sobreviver mantendo suas raízes em meio à civilização esmagadora, lutam com força para manter viva mais essa cultura brasileira.
Vamos a essas Divindades Brasileiras.
Divindades Tupi-Guarani.
À época, só existiam apenas dois conceitos de populações indígenas: os Tupi, falantes de línguas tupi-guarani, e os Tapuia, falantes de outras línguas não-Tupi. Os Tupi, já conhecidos dos europeus, em grande parte já estavam em processo de conversão ao catolicismo e submissão aos europeus (portugueses, holandeses e franceses), já com o conceito eurocêntrico de serem “civilizados” por tal. Os Tapuia, que é a transcrição lusófona que em tupi antigo (tupinambá) significa “forasteiro”, um conceito etnocêntrico relativo a “bárbaro”, já eram ditos “arredios” por sempre enfrentarem os portugueses e seus rivais Tupi, resistirem à catequização e não por menos, ao contato com os Tupi e os europeus, povos falantes de “línguas incompreensíveis”, conceito dito tanto pelos europeus quanto pelos povos Tupi, mantinham-se sempre íntegros e na preferência do isolamento.
Estudos demonstram que os tupis teriam habitado originalmente os vales dos rios Madeira e Xingu, que são afluentes da margem meridional do rio Amazonas. Estas tribos, que sempre foram nômades, teriam iniciado uma migração em direção à foz do rio Amazonas e, de lá, pelo litoral para o sul. Supõe-se que esta migração, que teria também ocorrido pelo continente adentro no sentido norte-sul, tenha principiado no início da era cristã.
Numa hipótese alternativa, o folclorista Luís da Câmara Cascudo aponta a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão dos tupis-guaranis (incluindo os povos guaranis junto com os tupis).
Jaci, a deusa da lua. Créditos: R Mendez. |
Alguns autores suspeitam que, nesta trajetória, os tupis tenham enfrentado os tupinambás, que já habitariam o litoral; outros sustentam que apenas se tratava de levas sucessivas do mesmo povo, os posteriores encontrando os anteriores já estabelecidos. Certo é que, nesse processo, as tribos tupis derrotaram as tribos tapuias que já habitavam o litoral brasileiro, expulsando-as, então, para o interior do continente, por volta do ano 1000.
- Encontro com os Europeus.
Houve uma grande miscigenação entre tupis e europeus. Muitos dos bandeirantes paulistas do século XVII, por exemplo, andavam descalços e mal sabiam falar a língua portuguesa, preferindo utilizar a língua tupi. A mestiçagem física e cultural entre tupis e portugueses gerou as culturas cabocla e caipira.
- Nhanderuvuçu.
- Tupã.
Seria um tipo de líder na mitologia tupinambá. Em analogia simples, poderia ser comparado ao deus grego Zeus, ou mesmo ao deus nórdico Thor, pois ele compartilha a mesma explicação comum nos deuses dos povos antigos para os relâmpagos. Tupã também tem a característica da onipresença, que é muito comum nas religiões cristãs, judaica e islâmica. (Tupã, o trovão, era uma divindade secundária, que não possuía rito próprio. Exatamente por não possuir rito próprio, os padres católicos que procuravam difundir o cristianismo entre os índios escolheram Tupã como um símbolo para o deus cristão, de forma a facilitar a compreensão do cristianismo pelos índios, enxertando, na figura de Tupã, os princípios cristãos. Ao mesmo tempo, associaram Jurupari ao diabo cristão, de forma a desestimular seu culto entre os índios tupis.) Os jesuítas, na época da colonização, difundiram uma opinião errônea de que o trovão em si seria um deus indígena, sendo que na verdade, ele é apenas a maneira utilizada por Tupã para se expressar.
Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e seu mensageiro Tupã. Tupã não era exatamente um deus, mas sim uma manifestação de um deus na forma do som do trovão. É importante destacar esta confusão feita pelos jesuítas. Nhanderuete, "o liberador da palavra original", segundo a tradição mbyá, que é um dialeto da língua guarani, do tronco linguístico tupi, seria algo mais próximo do que os catequizadores imaginavam.
Câmara Cascudo afirma que Tupã é um "trabalho de adaptação da catequese". Na verdade o conceito "Tupã" já existia: não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondante), portanto, não passava de um efeito, cuja causa o índio desconhecia e, por isso mesmo, temia. Osvaldo Orico é da opinião de que os indígenas tinham noção da existência de uma Força, de um Deus superior a todos. Assim ele diz: "A despeito da singela ideia religiosa que os caracterizava, tinha noção de Ente Supremo, cuja voz se fazia ouvir nas tempestades – Tupã-cinunga, ou "o trovão", cujo reflexo luminoso era Tupãberaba, ou relâmpago. Os índios acreditavam ser o deus da criação, o deus da luz. Sua morada seria o sol
Para os indígenas, antes dos jesuítas os catequizarem, Tupã representava um ato divino, era o sopro, a vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa.
- Jaci.
- Guaraci.
- Ceuci.
- Anhangá
- Sumé.
- Iara.
Wanadi. |
- Abaçai.
- Angra.
- Andurá.
- Chandoré.
- Rudá.
- Jurupari.
- Ceuci.
O nome caipora vem do tupi-guarani Caapora, e quer dizer "habitante do mato". Caipora é representado pela forma de um índio jovem, coberto de pelos e vive montado em uma espécie de porco-do-mato. Ele é o guardião da vida animal. É ele que estala os galhos, faz assobios e dá falsas pistas para desorientar os caçadores. Reza a lenda que Caipora seria canibal, se alimentando de tudo e todos que caçam nas florestas, punindo homens, insetos ou até outros animais. Caipora é responsável por punir, principalmente, aqueles que caçam além da necessidade.
- Tupi.
Divindades de Outras Tribos.
- Akuanduba.
- Yorixiriamori.
Yebá Beló. |
- Yebá Beló.
- Wanadi.
- Arãnami.
Outros Deuses ou Figuras Importantes:
- Abaangui, um deus creditado pela criação da lua;
- Abeguar, deus do vôo;
- Amanaci, a deusa das chuvas;
- Araci, a deusa da aurora e das madrugadas. Foi ela que fez nascer o lendário Juazeiro.
- Aruanã, o deus da alegria e protetor dos Carajás.
- Açutí, a deusa da escrita;
- Anhum (deus da música), o deus melodioso que tocava divinamente o sacro Taré;
- Angatupyry;
- Arapé, a deusa da dança;
- A lendária nereida Açai
- Biaça, a deusa da astronomia;
- Boitatá;
- Boiuna;
- Caramuru, o deus dragão, que podia ser tanto bom quanto cruel, era o deus que presidia as ondas revoltas dos grandes oceanos;
- Caupé, deusa da beleza, uma Afrodite-indígena;
- Catú, o deus outonal;
- Curupira, deus protetor das matas;
- Chandoré;
- Graçaí, a deusa da eloquência;
- Guandirô, era o deus da noite, que bebia o sangue dos homens;
- Guaipira, a deusa da história;
- Ipupiara (do tupi antigo 'Ypupîara, "o que está dentro d'água"), um monstro marinho;
- Irãmaîé, personagem mitológico dos tupis que habitavam a costa brasileira no século XVI. Teria sido o único ser humano sobrevivente de um grande incêndio que teria dado origem ao mundo. Dele, seriam descendentes todos os seres humanos da época anterior ao dilúvio;
- As formosas Juruás;
- Jururá-Açú, conta uma lenda, que por ter libertado o deus infernal, tornou-se a única deusa que podia entrar e sair livremente dos infernos. Tupã castigou esta deusa transformando-a em uma tartaruga;
- Karú-Sakaibê: herói civilizador dos índios mundurucus;
- Maíra: um antigo profeta, sucessor de Mairumûana. O termo foi, posteriormente, aplicado aos homens brancos, em especial aos franceses;
- Maíra-poxy: traduzido do tupi antigo, "Maíra ruim". Outro personagem mitológico dos tupis da costa brasileira do século XVI;
- Mairata, também chamado Mairatã (traduzido literalmente do tupi antigo, "Maíra forte": Maíra, Maíra + atã, forte), era uma entidade mitológica dos antigos povos tupis;
- Mairumûana ou Maíra-humane (traduzido literalmente do tupi antigo, "o antigo Maíra": Maíra, Maíra + umûana, antigo): um personagem mítico dos tupis que habitavam o litoral brasileiro no século XVI;
- Mbaeapina (traduzido do tupi antigo, "coisa tosquiada": mba'e, coisa, bicho + apina, tosqueado), um monstro marinho;
- M'Bororé: velho cacique guarani que guarda uma casa branca sem portas nem janelas no alto Rio Uruguai com tesouros deixados pelos jesuítas;
- O Monte Iiapaba para os Tupis, era sinônimo de céu, onde os deuses julgavam a alma dos mortos.
- Monãː personagem mitológico dos antigos tupis;
- Mutin, o deus da primavera;
- Nhará, que preside o inverno;
- Nhanderequeí: literalmente, "nosso irmão mais velho". Herói civilizador dos índios guaranis;
- Parajás, deusas da honra, do bem e da justiça;
- Peurê, o senhor do verão;
- Picê, a deusa da poesia;
- Piná, a deusa da simpatia;
- Pirarucú, o deus do mal que mora no fundo das águas. Conta-se que ele casou com Iara e dessa união nasceram vários monstros;
- Polo, o deus dos ventos e mensageiro de Tupã;
- Pombero, um espírito popular de travessura;
- Pytajovái, outro deus da guerra;
- Saci;
- Tamandaré, um pajé lendário que fez uma fonte que inundou o mundo. Ele se abrigou no alto de uma palmeira com sua mulher. Quando a água baixou, o casal deu origem aos índios tupinambás;
- Tainacam, a deusa das Constelações;
- Taúba, personagem mitológico dos tupis da costa brasileira do século XVI;
- Taubymana (literalmente, "o antigo Taúba"), personagem mitológico dos tupis da costa brasileira do século XVI;
- Tambatajá (um deus de amor e protetor de todos os perigos);
- Tigre Azul (em guarani, Baipu Tuvy ou Baipu Chivy), o tigre mitológico que mata a lua durante a fase minguante e que morde o sol durante os eclipses solares;
- Tiriricas, deusas do ódio;
- Ticê, esposa de Anhangá;
- Xandoré, deus do ódio, lançador de raios, relâmpagos e trovões;
- Yvy marã e'ỹ ou Guajupiá, a "terra sem males"
A Teogonia Tupi: Mito da Criação.
A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Yamandú, também conhecido como Nhanderuvuçu (em outras versões essa figura é Tupã, o senhor do trovão), realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Jaci (ou em outras versões, Araci), Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Areguá, no Paraguai, e, deste local, criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.
Tupã, então, criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.
Antropogonia: Primeiros Humanos.
Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros legendários do mito guarani. Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele, finalmente, cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressuscitado como um caranguejo, e, desde então, todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.
Entre as filhas de Rupave e Sypave, estava Porâsý, notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete monstros lendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um todo).
Crê-se que vários dos primeiros humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram entidades menores.
Os Sete Monstros Lendários.
Kerana, a bela filha de Marangatu, foi capturada pela personificação ou espírito do mau chamado Tau (em tupi antigo, Taúba ou Taubymana). Juntos, eles tiveram sete filhos, que foram amaldiçoados pela grande deusa Araci, e todos, exceto um, nasceram como monstros horríveis.
Os sete são considerados figuras primárias na mitologia guarani e, enquanto vários dos deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são considerados reais até mesmo em tempos modernos, em áreas rurais ou regiões indígenas. Os sete filhos de Tau e Kerana são, em ordem de nascimento:
- Teju Jagua, deus ou espírito das cavernas e frutas;
- Mboi Tu'i, deus dos cursos de água e criaturas aquáticas;
- Moñai, deus dos campos abertos. Foi derrotado pelo sacrifício de Porâsý;
- Jaci Jaterê, deus da sesta, único dos sete que não aparece como monstro;
- Kurupi, deus da sexualidade e fertilidade;
- Ao Ao, deus dos montes e montanhas;
- Luison, deus da morte e tudo relacionado a ela.
Fontes.
Dannyel Teles de Castro: WICCA E AS DIVINDADES BRASILEIRAS: O CULTO AOS ANCESTRAIS NATIVOS NA BRUXARIA MODERNA.
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