Nas primeiras décadas da República do Brasil, não foram nada fáceis. Se no começo eles tinham o pensamento positivo de que governariam para o Povo, o mesmo não gostou muito desta ideia. Diversos conflitos eclodiam no Meio Rural Brasileiro (Se bem que desde a Proclamação/Golpe pouca coisa mudou).
Dentre esses Conflitos, A Guerra de Canudos, ou o Massacre no Arraial de Canudos, desperta uma certa curiosidade quando se fala em Revoltas Rurais.
Para melhor compreender a Guerra de Canudos, é preciso levar em consideração a situação (contexto histórico) do Nordeste no final do século XIX. Para tanto, indicamos alguns pontos principais, que estão relacionados às causas do conflito:
- Fome: O desemprego e os baixíssimos rendimentos das famílias deixavam muitos sem ter o que comer.
- Seca: A região do agreste ficava muitos meses e até mesmo anos sem receber chuvas. Este fator dificultava a agricultura e não permitia a sobrevivência do gado.
- Falta de apoio político: Os governantes e políticos da região não se importavam com as necessidades das populações carentes.
- Violência: Latifundiários empregavam grupos armados para proteger suas propriedades. Eles espalhavam a violência pela região, como estratégia de manutenção do poder dos fazendeiros e forma de repressão a qualquer movimento político ou social, desfavorável aos seus patrões.
- Desemprego: Grande parte da população pobre estava desempregada em função da seca e da falta de oportunidades em outras áreas da economia.
- Fanatismo Religioso: Era comum a existência de beatos que arrebanhavam seguidores prometendo uma vida melhor.
A região, historicamente caracterizada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico, passava por uma grave crise econômica e social. Milhares de sertanejos partiram para Canudos, cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.
Biografia: O Beato Antônio Conselheiro.
Antônio Conselheiro, assim ficou conhecido nos livros de História, antes de dar Conselhos, e adicionar(em) esse Epíteto (já que o mesmo se autodenominava "o peregrino") ao seu nome, se chamava
Antônio Vicente Mendes Maciel, nascido e criado em Nova Vila de Campo Maior (Atual Quixeramobim), em 13 de março de 1830, foi um líder religioso brasileiro. Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.
A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista perigoso (Lembrando que quase 10 anos antes houve a Proclamação/Golpe da República).
- Infância e vida no Ceará.
Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos sertões do Cariri, já naquela época um pólo de atração para penitentes e flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do nordeste.
- Peregrinações.
"Há seis meses que por todo o centro desta Província e da Província da Bahia, chegado (diz ele) do Ceará, infesta um aventureiro santarrão que se apelida por Antonio dos Mares. O que, a vista dos aparentes e mentirosos milagres que dizem ter ele feito, tem dado lugar a que o povo o trate por S. Antônio dos Mares. Esse misterioso personagem, trajando uma enorme camisa azul que lhe serve de hábito a forma do de sacerdote, pessimamente suja, cabelos mui espessos e sebosos entre os quais se vê claramente uma espantosa multidão de bichos (piolhos). Distingue-se pelo ar misterioso, olhos baços, tez desbotada e de pés nus; o que tudo concorre para o tornar a figura mais degradante do mundo."Já famoso como "homem santo" e peregrino, Antônio Conselheiro é preso em 1876 nos sertões da Bahia, pois corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna à Bahia.
Em 1877, o Nordeste do Brasil passa pela Grande Seca, uma das mais calamitosas secas de sua história; levas de flagelados perambulam famintos pelas estradas em busca de socorro governamental ou de ajuda divina; bandos armados de criminosos e flagelados promovem justiça social "com as próprias mãos" assaltando fazendas e pequenos lugarejos, pois pela ética dos desesperados "roubar para matar a fome não é crime". Cresce a notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres; para eles, Antônio Conselheiro, ou o "Bom Jesus", como também passa a ser chamado, seria uma figura santa, um profeta enviado por "Deus" para socorrê-los.
Com o fim da escravidão, em 1888, muitos ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então nenhum meio de subsistência, partem em busca de Conselheiro.
- O Arraial de Canudos
Em 1890, pouco tempo após a Proclamação da República, a fazenda Canudos, da família de Garcia d'Ávila, foi abandonada. Ficava no Sertão Baiano, às margens do rio Vaza-Barris, próximo a Monte Santo, a 410 km de Salvador. O nome Canudos deriva de uma planta local, com haste oca.
Mapa da localização de Canudos. Créditos: Wikipédia. |
O lugar atraiu milhares de agricultores pobres, índios e escravos recém-libertos, que começaram a construir uma comunidade igualitária inspirada no exemplo da doutrina Católica. Por meio do trabalho comunitário, conseguiu-se que ninguém passasse fome. Tratava-se de uma comunidade rural, com uma economia autossustentável, baseada na solidariedade. A religião era um instrumento da libertação social.
A imprensa, o clero e os latifundiários da região incomodaram-se com a nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local. Aos poucos, construiu-se uma imagem de Antônio Conselheiro como "perigoso monarquista" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país a forma de governo monárquica. Difundida através da imprensa, esta imagem manipulada ganhou o apoio da opinião pública do país para justificar a guerra movida contra os habitantes do arraial de Canudos.
O governo da República recém-instaurada precisava de dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente no Sertão pela cobrança de impostos. A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas e sertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho. Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino Antônio Conselheiro, acreditando que ele poderia libertá-los da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvação eterna na outra vida.
- Cronologia do conflito.
Canudos em 1897. Fotografia de Flávio de Barros, fotógrafo do Exército. Créditos: Wikipédia. |
“Apareceu no sertão do Norte um indivíduo, que se diz chamar Antônio Conselheiro e que exerce grande influência no espírito das classes populares. Deixou crescer a barba e os cabelos, veste uma túnica de algodão e alimenta-se tenuemente, sendo quase uma múmia. Acompanhado de duas professas, vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e dar conselhos às multidões, que reúne onde lhes permitem os párocos.”
— Descrição da Folhinha Laemmert, de 1877, reproduzida por Euclides da Cunha em Os Sertões, 1902.
- O estopim e a primeira expedição
Mas a tropa é surpreendida durante a madrugada em Uauá pelos seguidores de Antônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade. Vinham como quem vinha para reza, ou para a guerra. Foram recebidos à bala pelos sentinelas semi-adormecidos e surpresos. Era a guerra. Manoel Neto assim descreve:
"Estabelecia-se, sangrento, o 1º fogo previsto pelo Conselheiro, e a pacata Uauá transformava-se em violento território de combate. O próprio Tenente Pires Ferreira descreve o ataque destacando a "incrível ferocidade" dos assaltantes e a forma pouco convencional como organizavam suas manobras, isto é, usando apitos. A celeridade e a rapidez com que a luta se deu propiciou vantagem inicial aos conselheiristas. Adentraram ao arraial onde ocuparam algumas casas. A lógica, entretanto, prevaleceu. Armados e municiados com equipamentos mais modernos e letais, os soldados do 9º Batalhão de Infantaria impuseram pesadas baixas as forças belomontenses. A crueza do combate foi inegável, sendo que o uso de armas como "facões de folha-larga, chuços de vaqueiro, ferrões ou guiadas de três metros de comprimentos, foices, varapaus e forquilhas, sob o comando de Quinquim Coiam" utilizados em lutas de corpo a corpo produziam cenas dantescas. Foram entre 4 e 5 horas de pânico, sangue, horror e gestos de bravura e pânico. Contabilizadas as baixas de ambas facções, os números determinava a vitória militar das tropas governamentais. No relatório oficial, Pires Ferreira informa que pereceram na batalha, dentre as hostes conselheiristas "cento e cinqüenta, fora os feridos".
(Neto, Manoel. idem )
Passadas várias horas de combate, os canudenses, comandados por João Abade, resolveram se retirar, deixando para trás um quadro desolador.
Apesar da aparente vitória, a expedição estava derrotada, pois não tinha mais forças nem coragem para atacar Canudos. Naquela mesma tarde, saqueou e incendiou Uauá e retornou para Juazeiro, com o saldo de 10 mortos (um oficial, sete soldados e os dois guias) e 17 feridos.
Estas perdas, embora consideradas "insignificantes quanto ao número" nas palavras do comandante, ocasionaram a retirada das tropas.
- A segunda expedição.
Pintura retratando Canudos antes da guerra. Segundo a Enciclopédia do Estudante tal Pintura foi retratada por D. Urpia. Créditos: Wikipédia. |
Janeiro de 1897 - Enquanto aguardavam uma nova investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos ao arraial. Comandada pelo major Febrônio de Brito, depois de atravessar a serra do Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos conselheiristas, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e religiosa. O major contou com 250 homens. Eles partiram triunfantes, certos de vitória fácil. Mas voltaram derrotados, tendo perdido mais de cem soldados. Prudente de Morais, presidente na época, ficou indignado e convocou, para o comando de uma nova expedição, o coronel Moreira César, famoso pela violência utilizada contra os revoltosos da Revolução Federalista (1839-1895), no sul do país.
- A terceira expedição.
Chegada das forças que vieram da Guerra de Canudos na Bahia. Créditos: Wikipédia |
Março de 1897 - Na capital do país, diante das perdas e a pressão de políticos florianistas que viam em Canudos um perigoso foco monarquista, o governo federal assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular, cujo comando confiou ao coronel Antônio Moreira César, considerado pelos militares um herói do exército brasileiro, e popularmente conhecido como "corta-cabeças" por ter mandado executar mais de cem pessoas a sangue frio na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em defesa do "homem Santo". Em 2 de março, depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas na travessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foi morto em combate, tendo o comando sido passado para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo, que também tombou no mesmo dia. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes militares sertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó, Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que comandou os jagunços em Uauá.
- A quarta expedição.
General Artur Oscar. Créditos: Wikipédia. |
Abril de 1897 - No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi enorme, principalmente porque se atribuía ao Conselheiro a intenção de restaurar a monarquia. Jornais monarquistas foram empastelados e Gentil José de Castro, gerente de dois deles, assassinado. Em abril de 1897, o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt preparou uma expedição, sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta de duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosa e Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas da época.
Junho de 1897 - O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em 25 de junho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofrerem perdas consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Durante os primeiros meses, as tropas conseguem pouco resultado. Os sertanejos estão bem armados com armas abandonadas pela expedição anterior, e o exército não tem a infra-estrutura necessária para alimentar suas tropas, que passam fome.
Agosto de 1897 - O próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt, seguiu para o sertão baiano e se instalou em Monte Santo, com o intuito de colocar um fim ao caos em que estava o abastecimento das tropas. Monte Santo se torna base das operações.
Setembro de 1897 - Após várias batalhas, a tropa conseguiu fechar o cerco sobre o arraial. Antônio Conselheiro morreu em 22 de setembro, supostamente em decorrência de uma disenteria. Após receber promessas de que a República lhes garantiria a vida, uma parte da população sobrevivente se rendeu com bandeira branca, enquanto um último reduto resistia na praça central do povoado. Apesar das promessas, todos os homens presos, e também grupos de mulheres e crianças acabaram sendo degolados - uma execução sumária que se apelidou de "gravata vermelha". Com isto, a Guerra de Canudos acabou se constituindo num dos maiores crimes já praticados em território brasileiro.
Mulheres e crianças, seguidoras de Antônio Conselheiro, presas durante os últimos dias da guerra. Créditos: Wikipédia. |
Outubro de 1897 - O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores. O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.
- Resultado.
O conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros, distribuídos em quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.
- Suposta loucura.
Igreja do Bom Jesus, em Crisópolis, Bahia, construída por Antônio Conselheiro. Créditos: Wikipédia. |
O diagnóstico de louco, mais especificamente de portador de uma Psicose sistemática progressiva (termo equivalente ao delírio crônico proposto por Magnan) e a paranoia dos italianos, (referindo-se à Eugênio Tanzi e Gaetano Riva) por uma célebre autoridade sanitária da época, o Dr. Nina Rodrigues (1862 - 1906), no qual se fundamentaram os escritos da época (inclusive de Euclides da Cunha), ainda hoje se constitui como um entrave para o reconhecimento de seu mérito como líder comunitário responsável pela organização de mais de 24 mil pessoas em um ambiente extremamente adverso (Martins ) e até mesmo como um homem religioso com verdadeiros ideais cristãos.
A pecha de loucura e fanatismo religioso com os conceitos da época de psicologia social inspiradas na obra de Gustave Le Bon (1841—1931) também são responsáveis por toda uma lógica de interpretação das revoltas sociais como ocasionadas por influência de uma personalidade psicopática, a insanidade moral proposta por Henry Maudsley (1835–1918), num ambiente de ignorância, pobreza ou degenerescência tal como se designava na época, incluindo entre esses fatores psicossociais características biológico raciais. (ver Rodrigues)
- Memorial Antônio Conselheiro
Há dois centros culturais relacionados a Antônio Conselheiro e à Guerra de Canudos. Um localizado em Quixeramobim no interior do Ceará, conta a história de seu filho ilustre, e está situado no centro da cidade. O imóvel, tombado pelo Ministério da Cultura em 2006, foi a casa em que Antônio Conselheiro nasceu e viveu até os seus 27 anos de idade. Após o tombamento, foi criado no local a Casa de Cultura e Memorial do Sertão Cearense. O outro centro cultural está situado em Canudos, Bahia, criado pelo Decreto 33.333, de 30 de junho de 1986, (publicado no Diário Oficial de 1º de julho) mantido e administrado em parceria com a UNEB.
- Lenda.
Com o passar do tempo, a casa de Antonio Conselheiro em Quixeramobim foi se tornando palco de contos de assombração. Acredita-se na cultura popular, que a casa abriga espíritos e que existem tesouros enterrados em vasos de barro. Essas histórias passaram a fazer parte do folclore local.
- Na cultura popular
Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida, tirada por Flávio de Barros no dia 6 de outubro de 1897. Créditos: Wikipédia. |
Logo após a guerra, foi publicada uma série de obras escritas por testemunhas oculares, como militares, jornalistas e médicos. Entre outros (em ordem cronológica):
- 1898 - Canudos, história em versos, do poeta Manuel Pedro das Dores Bombinho, que participou como militar da Quarta Expedição contra o arraial.
- 1899 - Descrição de uma Viagem a Canudos, de Alvim Martins Horcades, estudante de medicina a serviço do Exército, que descreve suas experiências no campo de batalha e denuncia a degola em massa dos presos - velhos, mulheres e crianças.
- 1899 - Libelo republicano, acompanhado de comentários sobre a campanha de Canudos, publicado por Wolsey (pseudônimo de César Zama), Bahia: Typ. e Encadernação do “Diário da Bahia”.
- 1899 - O Rei dos Jagunços, de Manoel Benício, correspondente de guerra do Jornal do Commercio - um livro de semi-ficção sobre os acontecimentos de Canudos e costumes sertanejos.
- 1902 - A Guerra de Canudos, do tenente Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares, militar na a última expedição contra Canudos.
- 1902 - Os Sertões, de Euclides da Cunha, que passou três semanas no local do conflito como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo - um livro no qual procurou vingar os mortos no massacre: "Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo".
Caricatura de Euclides da Cunha feita por Raul Pederneiras (1903). Créditos: Wikipédia. |
Os Sertões de Euclides da Cunha acabou por tornar-se um dos mais importantes marcos da literatura brasileira, e como tal inspirou uma série de obras baseadas no conflito de Canudos, escritas no mundo todo. Os mais conhecidos são:
- A Brazilian Mystic (Um Místico Brasileiro), 1919, do britânico R. B. Cunninghame Graham;
- Le Mage du Sertão (O Mago do Sertão), 1952, do historiador e escritor belga Lucien Marchal; Veredicto em Canudos, 1970, do húngaro Sándor Márai;
- A Primeira Veste, 1975, do escritor geórgio Guram Dochanashvili;
- A Guerra do Fim do Mundo, 1980, do escritor peruano Mario Vargas Llosa.
- Mídia.
Além disso, a guerra inspirou muitos filmes também:
- Guerra de Canudos. Longa-metragem de ficção de Sérgio Rezende, com José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti, e Marieta Severo. Brasil, 1997.
- Figurante ilustre
- Sobreviventes - Os Filhos da Guerra de Canudos. Documentário de Paulo Fontenelle. Produzido por Canal Imaginário, 2004/2005.
- Canudos. Documentário de Ipojuca Pontes, com Walmor Chagas, Brasil, 1978.
- Os Sete Sacramentos de Canudos (Die Sieben Sakramente von Canudos). Filme produzido por Peter Przygodda para a ZDF Alemã, com participação dos diretores brasileiros Joel de Almeida, Jorge Furtado, Otto Guerra, Luís Alberto Pereira, Pola Ribeiro, Ralf Tambke e Sandra Werneck, 1996.
- O Teatro Oficina de São Paulo realiza adaptação teatral da saga sertaneja, iniciada em 2001, com 25 horas de encenação. É apresentada em 3 partes: a Terra, o Homem (I e II) e a Luta (I e II). A peça foi também apresentada no Festival de Teatro de Recklinghausen, na Alemanha, e na Volksbühne de Berlim.
- Outra importante adaptação da Guerra de Canudos teve o nome de O Evangelho Segundo Zebedeu, texto de César Vieira (pseudônimo de Idibal Piveta), realizada em 1971 pelo Teatro União e Olho Vivo de São Paulo.
- Em 1976, a escola de samba Em Cima da Hora desfilou com o enredo Os Sertões, baseado no livro homônimo de Euclides da Cunha.
Imagem do filme "A Matadeira" de Jorge Furtado, referindo ao canhão Whitworth 32 usado na última expedição militar contra Canudos. Créditos: Wikipédia. |
Antônio Conselheiro não reconhecia o novo governo da República e pregava o fim do mundo para breve (o conceito de Juízo Final ainda é comum entre os evangélicos). Essa comunidade religiosa, que apenas desejava viver de acordo com suas crenças e recursos próprios, não tinha a simpatia da Igreja Católica, nem de parte da imprensa, muito menos dos governantes.
Cesar Zama, observou em artigo de 1899: Ninguém ignora que gênero de vida levavam os canudenses: plantavam, colhiam, criavam, edificavam e rezavam. Rudes, ignorantes, fanáticos talvez pelo seu chefe, que reputavam santo, não se preocupavam absolutamente de política.
Canudos não era um "arraial desgraçado" como entendido por muitos historiadores, que tiram conclusões com base no "míope" Euclydes da Cunha e em fotos da Canudos arrasada pela Guerra.
Canudos era, na verdade, uma próspera e organizada comunidade igualitária. Eram pobres, sim, mas não buscavam riqueza, apenas uma "vida de Deus". Na Bahia, sua população era superada apenas pela da Capital. Criavam gado, vendiam couro, tinham fábrica de rapadura, plantavam frutas e legumes. Todos contribuíam, todos usufruíam.
Em 1896, o Exército foi chamado para dissolver a comunidade. Conselheiro só atacou em defesa de seu povo. As forças republicanas subestimaram o poder de resistência de Canudos, a perspicácia e determinação de seus guerrilheiros. Os militares foram derrotados nas três primeiras tentativas. A primeira expedição militar foi surpreendida e derrotada em Uauá, em novembro de 1896. A segunda foi derrotada em Tabuleirinho, em janeiro de 1897.
Para a terceira expedição foi nomeado o paulista Moreira César, tenente-coronel de infantaria, conhecido como o Corta-Cabeças, pois o Exército não queria ser humilhado novamente. O coronel foi abatido pelos guerrilheiros logo no primeiro dia de combate e sua tropa debandou, com muitas baixas.
Em abril de 1897, organizou-se a quarta expedição. Dessa vez o Exército enviou dois generais, que cercaram Canudos. Em setembro, Conselheiro morreu, possivelmente de doença, talvez de ferimentos. No início de outubro, Canudos foi cruelmente dizimada. Estima-se que morreram cerca de 15 a 25 mil pessoas na Guerra de Canudos, mas esses números são bastante imprecisos.
Antônio Conselheiro era um homem culto (como mostrou o escritor carioca Roberto Vertura) e fervorosamente místico. Importava-se com a injustiça social e buscava contribuir para reduzi-la. Suas palavras refletiam seu ódio contra aqueles que se aproveitavam da fragilidade dos desfavorecidos.
Durante a guerra, o engenheiro espanhol Morales de los Rios, que fazia estudos para uma estrada de ferro, foi feito prisioneiro em Canudos, por alguns dias, pelos seguidores de Antônio Conselheiro. Nesse tempo ele fez alguns desenhos e aquarelas do arraial e ganhou o preço do pessoal, sendo libertado. Dois desses desenhos foram doados ao Museu Histórico Nacional.
Para se entender Canudos é preciso voltar no tempo. Os valores de então eram diferentes e a desigualdade, gritante. O Sertão Nordestino era uma região inóspita, dominada por cangaceiros e coronéis de branco. Seus conflitos reais superavam as ficções dos filmes de Western.
Fontes.
Editora Moderna. Enciclopédia do Estudante. Volume 16: História do Brasil, Das Origens ao Século XXI.
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