sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A Misteriosa Ilha Sentinela do Norte.

Ilha Sentinela do Norte. Créditos: Nasa/Wikipédia.
Vivemos em um Mundo Conectado, em tese, permanecemos mais tempo Online, do que Offline. Essa conexão, trouxe para nos diversos benefícios (acompanhados de alguns malefícios). Um dos grandes benefícios, e que podemos conhecer os 4 cantos do Mundo da tela do computador ou Smartphone.

Em um mundo com Google Maps, é de se imaginar que todos os cantos da Terra (é quiça o Mar) já foram explorados, correto? Nem tanto. ainda existem alguns lugares que resistem a modernidade, e que ainda se encontram no Neolítico.

Escondida entre a Índia e Mianmar, no sudeste asiático, está a Ilha Sentinela do Norte (North Sentinel), lar de um povo nativo isolado, e proibida para visitação.

De tempos em tempos a misteriosa Ilha ganhar os noticiários, e geralmente não é sobre uma descoberta de uma nova especie de planta ou animal, mas algo relacionado aos seus moradores. Na última semana, uma Sexta-Feira, 16 de Novembro, John Chau, um missionário norte-americano, morreu após ser atacado pelos sentineleses, os habitantes desta ilha. De acordo com as últimas informações, ele foi levado ilegalmente por pescadores, que o deixaram na costa da ilha.

O Incidente de 16 de Novembro.

John Allen Chau, que visitava o arquipélago indiano de Andamão e Nicobar, foi morto na sexta-feira (16 de novembro) por um grupo de aborígenes de Sentinela do Norte, território que pertence a esse grupo de ilhas no Oceano Índico, perto de Myanmar (antiga Birmânia). Os nativos, que vivem isolados do mundo exterior, atacaram o americano quando este se aproximou deles. Chau foi recebido por um ataque com arco e flecha ao desembarcar na ilha Sentinela do Norte, que é proibida para visitantes, informaram os pescadores da região.

A imprensa local identificou o rapaz como um missionário cristão, que queria catequizar os aborígenes. Mas nas redes sociais e em uma entrevista, Chau se apresentava como um aventureiro.

Sentinela do Norte, ilha que a Índia proíbe de ser visitada, fica a 50 quilômetros de Port Blair, a capital do arquipélago. O turista americano foi morto depois de ter sido levado ilegalmente por pescadores até as proximidades de suas praias (Segundo relatos, Chau teria subornado os pescadores para levá-lo ilegalmente até a ilha). O último trecho de mar até a areia foi feito por Chau em uma canoa. Membros da tribo que vive nesse território, o último pré-neolítico do mundo, viram o homem chegando e o mataram, presumivelmente, a flechadas.

Uma fonte policial disse que os pescadores, agora detidos, viram o cadáver no dia seguinte, embora não tenham podido resgatá-lo. A polícia investiga por que o homem se aventurou em uma viagem tão perigosa. Uma fonte policial afirmou que Chau era um pregador que já havia visitado em outras ocasiões o arquipélago de Andamão e Nicobar, e aparentemente tinha uma grande vontade de se encontrar com os habitantes de Sentinela do Norte para rezar com eles. Alguns veículos de comunicação locais, como o jornal Andaman Sheekha, reforçam essa versão e detalham que Chau teria viajado cinco vezes ao arquipélago antes de navegar até Sentinela do Norte com a intenção de “levar o cristianismo” à ilha.
"A polícia disse que Chau já tinha visitado a ilha Sentinela do Norte cerca de quatro ou cinco vezes com a ajuda de pescadores locais", 
Subir Bhaumik, jornalista que cobre a região há anos, em entrevista à BBC.
Foto de outubro de 2018 mostra o missionário americano John
Allen Chau (à direita) com amigo na Cidade do Cabo, África
do Sul  Créditos: Sarah Prince/AP Photo/G1.
As autoridades dizem que os membros da tribo vivem isolados há quase 60 mil anos e, portanto, não têm imunidade para doenças comuns, como gripe e sarampo.

A organização Survival International, que defende os direitos das tribos aborígenes do mundo, lamentou a morte de Chau e criticou a Índia por não proteger adequadamente a ilha, “para a segurança tanto da tribo como dos estranhos”. Afirmou que, ao entrar em contato com a comunidade, Chau pode ter transmitido agentes patogênicos (como bactérias, fungos e protozoários) que têm o "potencial de eliminar toda a tribo", formada por cerca de 50 a 150 pessoas.

Segundo a polícia, ele partiu com os pescadores contratados na calada da noite e remou em um caiaque até desembarcar em terra firme. Ele teria levado presentes para os aborígenes, incluindo uma pequena bola de futebol, linha de pesca e tesoura.
  • Missionário ou Aventureiro?
Tanto autoridades locais quanto a organização de defesa religiosa International Christian Concern identificaram Chau como um missionário americano.

Mas Dependra Pathak, diretor da polícia de Andaman, disse ao site de notícias indiano News Minute que isso pode ser apenas uma interpretação, uma vez que o rapaz expressou suas crenças religiosas na internet.
"As pessoas pensaram que ele era um missionário porque ele tinha mencionado sua fé em Deus nas redes sociais. Mas em um sentido estrito, ele não era um missionário. Ele era um aventureiro. A intenção dele era conhecer os aborígenes."
Na entrevista de 2014 ao Outbound Collective, ele disse que estava morando em Vancouver, no Canadá, onde trabalhava como treinador de futebol. E afirmou que havia encontrado inspiração para viajar ainda na infância:
"Meu irmão e eu (costumávamos) pintar os rostos com suco de amora silvestre e andar pelo quintal com arcos e lanças que fazíamos com pedaços de pau. Desde então, a natureza tem sido minha casa."
Ao site, Chau declarou ainda que Jesus e David Livingstone (1813-1873), explorador e missionário escocês, eram sua fonte de inspiração. E disse que seu próximo objetivo seria retornar às ilhas Andaman e Nicobar.
"Há muito para ver e fazer lá!"
  • Resgate do Corpo.
As autoridades indianas estão consultando especialistas para descobrir a melhor maneira de recuperar o corpo de John Chau. Os pescadores que levaram Chau para a ilha Sentinela do Norte contaram que os membros da tribo abandonaram o corpo dele na praia logo após o ataque. E, de acordo com as autoridades indianas, pode levar "alguns dias" para que o corpo do jovem seja resgatado. Um helicóptero e uma embarcação vasculham a região para tentar identificar o local do incidente.

“É uma proposta difícil, temos que ver o que é possível, tendo o máximo de cuidado com a sensibilidade do grupo e com os requisitos legais” 


Dependra Pathak, segundo a agência Associated Press.


"Mantivemos uma distância da ilha e ainda não conseguimos identificar o corpo. Pode levar mais alguns dias e... (o reconhecimento) da área". 
Dependra Pathak à agência de notícias AFP.

Como nem as autoridades viajam ao local, o governo indiano está em contato com antropólogos e especialistas em tribos para resgatar seus restos mortais. A polícia e a guarda costeira da Índia também sobrevoaram a área e se aproximaram em uma embarcação para identificar onde Chau foi morto.

Segundo a polícia, sete pessoas, incluindo cinco pescadores, um amigo dele e um guia turístico local, foram presas por ajudar o americano a chegar até a ilha.
  • Família Perdoa a Tribo.
Em texto publicado no Instagram, eles disseram que John Chau "amava a Deus, a vida, ajudando os necessitados, e não tinha nada além de amor pelo povo da ilha de Sentinela".

O comunicado afirma ainda que ele foi para a ilha por "vontade própria".

"Também pedimos a libertação dos amigos que ele tinha nas Ilhas Andaman. Ele se aventurou por livre e espontânea vontade e seus contatos locais não precisam ser perseguidos por suas próprias ações", disse o comunicado.

A Ilha.

Créditos: Wikipédia.
A Ilha Sentinela do Norte é uma das ilhas do arquipélago das Andamão, na baía de Bengala. Encontra-se a oeste da parte sul da Ilha Andamão do Sul. A maior parte da ilha é coberta por florestas. A pequena ilha localiza-se longe dos principais assentamentos da Andamão, cercada por recifes de coral e carente de portos naturais.

Um grupo de indígenas, os Sentineleses vivem no norte da ilha. A sua população é estimada entre 40 e 500 indivíduos. Os Sentineleses são extremamente hostis, rejeitando qualquer contato com outras pessoas. Curiosamente, estão entre os últimos seres humanos a permanecer praticamente, ou melhor, completamente intocados pela civilização moderna.
  • História e Geografia.
O povo Onge estava ciente da existência da Ilha Sentinela do Norte, cujo nome tradicional é Chia daaKwokweyeh. Eles também têm fortes semelhanças culturais com o pouco que tem sido remotamente observado entre os Sentineleses. No entanto os Onge que foram levados para a Ilha Sentinela do Norte pelos britânicos durante o século XIX e mais tarde por volta de 1980 não conseguiram entender a língua dos Sentineleses.

A primeira menção conhecida sobre a Ilha Sentinela do Norte foi feita em 1771 pelo agrimensor britânico John Ritchie, que observou "uma infinidade de luzes" a partir de um navio de pesquisa hidrográfica da Companhia das Índias Orientais.

Não é por acaso que Sentinela do Norte é uma das mais temidas e estranhas ilhas do planeta, provavelmente a última a hospedar um povo totalmente selvagem e hostil. Antropólogos acreditam que os homens que apareceram na praia naquela manhã de 1981 eram membros de uma sociedade tribal que habita o mesmo local há pelo menos 65,000 anos. Isso é mais de 35,000 anos antes da última Era do Gelo, 55,000 anos antes do desaparecimento do Mamute Peludo na América do Norte, e 62,000 anos antes dos antigos egípcios construírem a Pirâmide de Gizé. Esse povo em especial são supostamente os descendentes diretos dos primeiros homens a deixar a África.

Não são muitas as pessoas que conhecem a história de Sentinela do Norte, a ilha tem a fama de ser um paraíso proibido temidos pela maneira como os nativos tratam invasores. Por muitos séculos, os primitivos habitantes foram completamente cortados do resto do mundo, e eles preservaram esse isolamento até os dias atuais. Ninguém conhece o idioma ou como os nativos chamam a si mesmos - eles jamais permitiram que qualquer um se aproximasse de seu território, e aqueles que tentaram foram brutalmente combatidos. Os habitantes do mundo exterior os chamam de "Sentinelenses", e os evitam sempre que possível. Rotas marítimas passam ao largo e depois do incidente com o Primrose as tripulações são aconselhadas a evitar qualquer aproximação. Estima-se que a ilha tenha cerca de 28 milhas quadradas (um pouco mais do que a Ilha de Manhattan) e conte com uma população flutuando entre 400 e 1000 indivíduos, mas ninguém realmente sabe ao certo. 

Antes do Sismo e Tsunami do Oceano Índico de 2004 a Ilha Sentinela do Norte tinha cerca de 72 km² e um formato mais ou menos quadrado. Recifes de corais se estendiam ao redor da ilha a uma distância entre 800 e 1.300 metros da costa. A Ilha Constança, localizava-se a cerca de 600 metros ao lado da costa sudeste, na borda do recife.

Além de aumentar a área da ilha, o terremoto de 2004 inclinou a placa tectônica sob ela, levantando-o entre 1 e 2 metros. Grandes extensões de recifes de coral ao redor foram expostos e tornaram-se terra ou rasas lagoas permanentemente secos, estendendo os limites da ilha todo em até 1 km, a oeste e sul. A ilha Constança uniu-se com a Ilha Sentinela e hoje perfazem uma ilha só.

A Ilha é perfeita para comportar uma tribo isolada como a dos Sentinelenses. Ela é pequena demais para interessar a colonizadores ou potências estrangeiras, especialmente quando existem outras ilhas maiores a poucas horas de viagem. E diferente das outras ilhas, Sentinela do Norte não possui enseadas naturais, portanto não era um bom lugar para se abrigar durante uma tempestade. Além disso, a Ilha é cercada por um anel de corais e recifes submersos que impedem a aproximação de embarcações de grande porte. Isso era especialmente verdadeiro na era da navegação, quando os navios não eram rápidos o bastante para manobrar e desviar dos obstáculos ocultos. Pequenas passagens nesses recifes permitiam o acesso de pequenos barcos que conseguiam atingir a praia, mas essa era acessível apenas em boas condições climáticas e águas calmas, que eram pouco frequentes. Por mais de dez meses ao ano não era nada fácil se aproximar da ilha.

Ao mesmo tempo que mantém estranhos afastados, os recifes de coral fazem com que os Sentinelenses não precisem sair, criando lagoas rasas há suficiente alimento para mantê-los. Os nativos jamais tiveram a necessidade de se aventurar em mar aberto em busca de pesca, tudo o que eles precisavam estava ao alcance de lanças e redes.  Eles empurravam suas canoas através das lagoas simplesmente remando, mas a madeira não era boa o bastante para enfrentar águas profundas. Com o material local eles não tinham como deixar a ilha e nem atravessar os perigosos recifes.

As Ilhas Andaman, incluindo Sentinela do Norte, se localizavam em uma encruzilhada de antigas rotas comerciais estabelecidas entre a Europa, o Oriente Médio e o Sudeste Asiático. Ironicamente isso pode ter encorajado as tendências isolacionistas dos Sentinelenses, uma vez que povos estrangeiros capturavam nativos e os forçavam à escravidão em face de sua pele escura. O contato periódico com estes forasteiros apenas intensificou a hostilidade para com o mundo exterior e seu desejo de ficarem sozinhos.

Uma outra coisa protegia os sentinelenses dos forasteiros: a velha crença de que as Ilhas Andaman eram povoadas de tribos canibais. Não há qualquer indício de que essas tribos incluíssem antropófagos, ainda que alguns nativos utilizassem ossos humanos como adornos (incluindo crânios), amarrados no pescoço ou presos nas costas. Não era difícil confundir esses povos com canibais. Além disso, quem ficaria com eles tempo suficiente para conhecer seus costumes.

Um aborígene de Sentinela do Norte lança flechas contra um helicóptero da Guarda Costeira da Índia, no pós Tsunami de 2004. Créditos: REUTERS/El País.
Na época em que o astrônomo grego Ptolomeu escreveu sobre uma Ilha de Canibais na Baia de Bengala no segundo século depois de Cristo, marinheiros já evitavam as Ilhas Andaman pela sua fama como lar de homens devoradores de homens. Marco Polo não ajudou muito na questão, em 1290 quando ele descreveu os povos que habitavam esse arquipélago disse que se tratavam de "uma raça bruta e selvagem... que matavam e comiam visitantes que iam parar inadvertidamente em suas terras". Alegações como essas ajudaram a manter estranhos distantes. E considerando a maneira como os Sentinelenses e outras tribos das Andaman defendiam suas terras, é uma sorte que tal coisa tenha acontecido.

A primeira ameaça real ao estilo de vida dos habitantes de Sentinela do Norte aconteceu em 1858, quando os britânicos estabeleceram a Colônia Penal de Port Blair perto da Ilha de Andaman do Sul. Na esperança de pacificar as tribos próximas de Grande Andamese, Onge, Jarawa, e eventualmente Sentinela do Norte eles visitaram cada lugar. Uma das técnicas usadas pelos britânicos para estabelecer confiança era sequestrar um membro de uma tribo hostil, mantê-lo prisioneiro por alguns meses, tratá-lo muito bem, oferecer comida e presentes e depois deixá-lo partir em segurança. Fazendo isso, os britânicos esperavam demonstrar sua amizade. Se não funcionasse, eles estavam dispostos a repetir o processo com outros nativos até que a notícia de que os estrangeiros eram confiáveis se espalhasse entre as tribos.

Em 1880 uma grande expedição armada liderada pelo jovem administrador colonial Maurice Vidal Portman (que tinha apenas 20 anos), desembarcou em Sentinela do Norte e fez o que se acredita ter sido a primeira incursão exploratória na Ilha realizada por forasteiros. Vários dias se passaram sem que fosse feito contato com os Sentineleses, uma vez que estes se escondiam na selva sempre que estrangeiros se aproximavam.

Finalmente depois de muitos dias na ilha, os exploradores tropeçaram em uma dupla de nativos que eram velhos demais para correr e um grupo de crianças pequenas. Portman levou consigo os dois velhos e quatro das crianças de volta a Port Blair. Infelizmente o homem e a mulher começaram a apresentar sinais de doença tão logo deixaram a ilha e morreram, provavelmente tendo contraído alguma doença simples como sarampo, gripe ou catapora, para as quais eles não tinham qualquer resistência. Meses mais tarde, Portman devolveu as quatro crianças à Sentinela do Norte e as libertou com presentes para serem dados ao resto da tribo. As crianças desapareceram na Selva e não foram vistas novamente. Os presentes foram encontrados na praia, abandonados e devidamente devolvidos.

Antropólogos acreditam que a devolução das crianças selou o destino de cada uma delas, possivelmente constituindo um tabu elas terem ficado sob os cuidados de estranhos, contaminando-se com a impureza do mundo exterior. O mais provável é que elas tenham sido mortas tão logo comprovaram o que havia acontecido.

Tentativas subsequentes de explorar a ilha falharam miseravelmente. A tribo de Sentineleses desafiava qualquer tentativa de contato, na maioria das vezes fugiam para a selva, mas em pelo menos três ocasiões reagiam de forma violenta. Em pelo menos uma ocasião, estando em maior número os sentinelenses atacaram os exploradores e mataram seis dos quinze homens em terra. Os corpos jamais foram encontrados, pois os sentinelenses os levaram para a selva. O acontecimento contribuiu para aumentar a fama dos nativos como canibais, pois muitos acreditavam que os corpos haviam sido levados para um jantar da vitória. Outras duas expedições travaram contato com os nativos e nenhuma delas conseguiu pacificá-los. Quando questionado a respeito da viabilidade de estabelecer uma colônia em Sentinela do Norte Portman foi direto:
"A ilha não oferece nada de útil ou valioso que justifique arriscar vidas, os recursos de colonização devem ser destinados a outras ilhas".
Depois dessa experiência frustrada, os britânicos decidiram deixar Sentinela do Norte de lado e focaram na interação com outras tribos das Andaman. Algumas se tornaram amigas, enquanto outras foram quase que inteiramente massacradas no esforço de "pacificação". Quando a India se tornou independente da Grã-Bretanha em 1947, as Ilhas Andaman se tornaram um território indiano, mas estes escolheram ignorar os sentinelenses também.
  • Status Político.
Oficialmente, a ilha foi administrada pela Índia como parte do Território de Andamão e Nicobar desde 1947, no entanto, porque nunca houve qualquer aliança com o povo da ilha, ela existe em um estado de limbo curioso sob a lei internacional estabelecida e pode ser visto como uma entidade soberana sob proteção indígena. É portanto, de facto, uma das regiões autônomas da Índia.

O governo de Andamão e Nicobar declarou em 2005 que não têm nenhuma intenção de interferir no estilo de vida ou habitat dos Sentineleses e não está interessado em prosseguir qualquer contato com eles.

O governo indiano proíbe a ilha de ser visitada já que os Sentineleses são extremamente hostis. A administração local de Andamão e Nicobar adotou uma política para garantir que caçadores não entrem ilegalmente na ilha. Além disso, um protocolo de circunavegação da Ilha Sentinela do Norte foi feito e notificado em consulta com o governo indiano.
  • Outros Incidentes.
Então em 1967, quando a Índia já era um Estado independente, o governo indiano tentou contato com os sentineleses, sem sucesso. O governo indiano lançou uma nova e ambiciosa expedição à Sentinela do Norte com o objetivo de estudar o lugar e construir um porto. A expedição contava com homens armados do exército e oficiais da marinha para proteger a equipe formada por cientistas, biólogos, arqueólogos e antropólogos. A visita foi menos agressiva do que a dos britânicos 87 anos antes, não houve sequestros por exemplo, e ela se concentrou em aspectos ais científicos. Mas eles não conseguiram estabelecer contato com nenhum nativo. De acordo com uma reportagem do The Times of India sobre o assunto, a expedição foi recebida pelos nativos de uma forma, digamos, peculiar: eles viraram de costas para os barcos e ficaram agachados, em uma pose como se estivessem se preparando para fazer o número dois. Uma vez mais, os sentinelense se escondiam na selva fechada de tal maneira que era impossível encontrá-los.

Isso deu início a uma política de "visitas para estabelecer contato" que vigorou por mais de uma década do governo indiano à Sentinela do Norte. De tempos em tempos alguma universidade ou instituto pedia autorização para visitar o local e os indianos selecionavam quem acompanhariam em cada temporada. A chance de conhecer um povo primitivo e seus costumes era muito atraente. As visitas eram coordenadas pelos militares indianos que escoltavam os visitantes garantindo sua segurança. Um navio ancorava na costa e pequenos botes infláveis faziam a travessia e montavam acampamento na praia. As expedições permitiram mapear parte da ilha e obter espécimes da fauna e flora local. Uma das metas era não incomodar os sentinelenses e deixá-los eventualmente vir aos visitantes ao invés de forçar o contato. Presentes eram deixados, em geral frutas que eram colocadas em clareiras na selva como oferendas. Colares, braceletes, bolas de borracha, baldes de plástico e potes também eram oferecidos. Muitas vezes esses presentes eram encontrados pelos membros de expedições na temporada seguinte, devolvidos e abandonados na praia.

Em 29 de março de 1970, um grupo de pesquisadores antropólogos indianos, que incluíam Pandit, encontrou-se encurralado nos recifes entre a Sentinela do Norte e a Ilha Constança. Uma testemunha registrou o seguinte a partir de seu ponto de vista de um barco próximo à praia:
Alguns descartaram suas armas e fizeram gestos para que jogássemos os peixes. As mulheres saíram das sombras para assistir nossas "palhaçadas"... Alguns homens vieram e pegaram os peixes. Eles pareciam agradecidos, mas não parecia que sua atitude hostil tinha sido suavizada... Todos eles começaram a gritar palavras incompreensíveis. Nós gritamos e volta e fizemos gestos indicando que queríamos ser amigos. A tensão não diminuiu. Neste momento, uma coisa estranha aconteceu — uma mulher juntou-se a um guerreiro e sentaram-se na praia num abraço apaixonado. Este ato foi repetido por outras mulheres, cada uma tirando um guerreiro para si, uma espécie de acasalamento comunitário. Assim, o grupo militante diminuiu. Isso continuou por um tempo e quando o ritmo dessa dança de desejo terminou, os casais se retiraram para as sombras da floresta. Porém, alguns guerreiros permaneceram em guarda. Nós nos aproximamos à praia e jogamos mais peixes que foram imediatamente recolhidos pelos mais jovens. Já tinha passado do meio-dia e nos dirigimos de volta ao navio. ...
No início de 1974, uma equipe de filmagem da National Geographic recebeu autorização para explorar Sentinela do Norte, no que se tornou uma das expedições mais infrutíferas feitas à ilha. Sentinela do Norte foi visitada por uma equipe de antropólogos filmando um documentário, Homem em Busca do Homem. A equipe foi acompanhada por policiais armados e um fotógrafo da National Geographic. Quando a lancha a motor passou pela barreira de recifes, os habitantes locais surgiram da selva. Os sentineleses responderam com uma cortina de flechas. O barco parou em um ponto da costa fora do alcance das flechas e a polícia, vestidos com casacos com proteção acolchoada, desembarcaram e deixaram presentes na areia: uma miniatura de carro de plástico, alguns cocos, um porco vivo amarrado, uma boneca, e panelas de alumínio. Os policiais voltaram para o barco, e esperaram para ver a reação dos locais aos presentes. A reação foi o lançamento de uma nova rodada de flechas, uma das quais atingiu o diretor do documentário na coxa esquerda, e um dos militares um ferimento causado por uma pedra afiada.

O homem que feriu o diretor retirou-se e riu-se orgulhosamente, sentado na sombra, enquanto outros mataram e enterraram o porco e a boneca. Diante da reação dos sentinelenses o grupo teve de recuar às pressas para a praia. Lá chegando, foram evacuados pelos militares do acampamento antes que um contingente de 50 a 80 guerreiros os alcançasse. Diante da perseguição empreendida ficou claro que os sentinelenses estavam dispostos a matar os invasores, o que teriam sem dúvida feito se não tivessem escapado. Depois todos se foram, levando consigo apenas os cocos e panelas de alumínio.

Houve ocasiões documentadas (uma em 1980) quando indivíduos que falam a língua Onge foram levados para a Ilha Sentinela do Norte, a fim de tentar comunicação, resultando em intercâmbios breves e hostis, durante os quais eles foram incapazes de reconhecer qualquer língua falada pelos habitantes.

Após esse incidente, as visitas passaram a ser mais esparsas e os indianos se tornaram mais cuidadosos a respeito do contato. 
  • O Caso Primrose.
Na madrugada de 2 de agosto de 1981, um cargueiro com bandeira de Hong Kong navegando nas turbulentas águas da Baia de Bengala se chocou com um recife de coral. A embarcação chamada Primrose, acabou ficando encalhada. Não havia risco de afundar, mas ficou claro que o navio não iria a lugar algum sem ajuda. Os tripulantes enviaram um pedido de socorro e receberam resposta de que teriam de aguardar até a chegada do salvamento.

Na manhã seguinte, quando clareou, os marinheiros viram uma ilha há cerca de 100 jardas além do recife. Ela parecia inabitada, até onde eles podiam ver: não havia construções, estradas ou qualquer sinal de civilização - tudo intocado pela presença humana. Apenas praias de areia clara e mais adiante uma selva densa que se fechava em um manto verdejante.  A praia parecia um excelente lugar para aguardar a chegada do resgate, mas o Capitão ordenou que os tripulantes ficassem à bordo do Primrose. Era a estação das monções, e ele ficou preocupado de desembarcar os homens no mar bravio nos pequenos barcos à remo. Ou quem sabe ele tivesse um pressentimento de que ilha era aquela além dos recifes.  O Capitão e muitos dos tripulantes já haviam ouvido falar de Sentinela do Norte - a mais mortal das 200 ilhas que compõem o Arquipélago de Andaman, na costa da Índia e preferiram não arriscar. 

Alguns dias mais tarde, um vigia à bordo do Primrose avistou um grupo de homens de pele escura emergindo furtivamente na selva. Eles pareciam observar o navio encalhado. Poderia ser o grupo de salvamento? Parecia pouco provável, mas não inteiramente impossível. Finalmente alguém surgiu com um binóculo e os tripulantes perceberam que os estranhos estavam nus.

Nus e armados, não com armas de fogo mas carregando lanças, escudos, arcos, flechas e outras armas primitivas. Alguns estavam pintados e usavam estranhos adornos nos pulsos e tornozelos, outros vestiam assustadoras máscaras de madeira. O Capitão fez outro pedido de socorro, dessa vez muito mais urgente: 

"Estamos vendo nativos! Estimamos pelo menos 50 deles armados. Temo que eles possam tentar nos abordar em breve. Acredito que tenhamos encalhado próximo de Sentinela do Norte. Por favor, venham rápido!".

Créditos: G1.
Os temores do Capitão se concretizaram quando os vigias perceberam que os nativos preparavam canoas para ir até eles. À bordo do Primrose não haviam muitas armas, por isso os tripulantes começaram a improvisar coquetéis molotov, armas brancas e mangueiras de água com alta pressão. Eles realmente estavam na costa de Sentinela do Norte e aqueles eram seus temidos habitantes. 

Seguiram-se momentos de grande tensão, nos quais os marinheiros tiveram de repelir o ataque dos nativos que arremessavam dardos envenenados e flechas. Por pouco, não conseguiram subir à bordo lançando cordas no costado e tentando escalar em vários pontos simultaneamente. Os tripulantes tiveram de se revezar, alertas a qualquer sinal de aproximação. Quando viam movimento gritavam e atiravam garrafas com gasolina, a explosão assustava os nativos, mas eles já começavam a se acostumar às labaredas e estavam cada vez mais ousados. Finalmente dois dias depois do primeiro contato, dois helicópteros da marinha indiana pousaram no Primrose e auxiliaram na evacuação de todos. Dois homens estavam feridos e todos no limite da resistência física e mental, mesmo assim concordavam que tiveram sorte em escapar.

O caso do navio Primrose encalhado nos recifes de coral em 1981 serviu de alerta para o perigo que representava qualquer aproximação sem uma escolta armada.

Em 1990 uma expedição americana conseguiu filmar um grupo de sentinelenses numa das praias da ilha. Os nativos nus e armados com lanças ameaçavam a equipe e chegaram a disparar flechas e arremessar pedras afiadas contra eles. Um bote se aproximou o bastante para deixar alguns presentes, mas quando um nativo recolheu as frutas e objetos trazidos pelas ondas, levou-os para os outros que simplesmente esmagaram e destruíram as oferendas. Enquanto o bote à motor se afastava, os sentinelenses ainda tentaram alcança-lo gritado e fazendo gestos ameaçadores.

A filmagem dos primeiros sentinelenses causou sensação entre antropólogos e demonstrou que os homens de Sentinela do Norte eram tão primitivos e hostis quanto diziam as estórias. Estava claro que qualquer pessoa na ilha corria o risco de ser morto.

As autoridades indianas decidiram então fechar as expedições à ilha e proibir toda e qualquer visita. A última expedição autorizada a aportar em Sentinela do Norte ocorreu em 1996 e desde então o terreno passou a ser área de proteção.

Além do perigo para os visitantes, existe um perigo inerente para os próprios Sentinenleses. Com tão pouco contato estabelecido com indivíduos de fora, os ilhéus não possuem resistência contra doenças simples e podem contrair alguma moléstia que seria fatal para toda tribo. Foi exatamente o que aconteceu com muitas tribos das Ilhas Andaman no século XIX, quando eles tiveram o primeiro contato com os britânicos a população das Ilhas eram de aproximadamente 7 mil pessoas. As epidemias de pneumonia, catapora, caxumba e sarampo dizimaram tribos inteiras. Após 150 anos de exposição a Doenças ocidentais, o número de habitantes locais diminuiu vertiginosamente e continuam a cair. Algumas tribos foram totalmente extintas. Uma vez que os Sentinelenses conseguiram evitar o contato com povos de fora, eles foram a única tribo que conseguiu evitar essas epidemias morais.

Os sentinelenses conseguiram sobreviver até mesmo ao terrível Tsunami que varreu o Oceano Indico em 2004, o mais mortal registrado na história. A tribo teve perdas, mas comparativamente com outros povos ilhéus, houve menos fatalidades. Embora o tsunami tenha matado mais de 230 mil pessoas bos países próximos, os sentinelenses foram capazes de perceber  que haveria um tsunami e se refugiaram em áreas mais elevadas antes de sua chegada. Quando um helicóptero da marinha indiana sobrevoou a ilha para checar os danos produzidos pela onda gigante, um guerreiro sentinelense saiu da selva e disparou uma flecha. O helicóptero circulou a ilha e lançou suprimentos, a equipe conseguiu avistar um grupo de dez indivíduos refugiados em uma área elevada em segurança.

Desde 1996, o governo da Índia impõe uma área de exclusão de três milhas ao redor de Sentinela do Norte com patrulhas regulares de barcos e veículos aéreos. Há multas pesadas para quem desrespeita as regras e invade o território da ilha. E mesmo que alguém consiga entrar, os sentinelenses continuam defendendo sua ilha com unhas e dentes. 

Em 2006 dois pescadores invadiram a costa e lançaram âncora próximo da costa. Aparentemente os dois estavam bêbados e acharam que era uma boa ideia pescar naquela área. Durante a madrugada eles não perceberam a aproximação de uma canoa com sentinelenses. Os nativos mataram os dois e os enterraram na praia. Quando um helicóptero tentou pousar para recuperar os corpos, os sentinelenses os repeliram com flechadas vindas de dentro da mata fechada. Os corpos nunca foram recuperados sendo uma lembrança do perigo de invadir a mais perigosa ilha do mundo.
  • Um Povo Isolados?
Além dos sentineleses, há outras tribos isoladas pelo mundo, e a maioria está no Brasil. O que faz sentido, se pensarmos na dificuldade que é explorar uma floresta densa como a Amazônica. A ONG Survival International, que defende a preservação desses povos, diz que há pouco mais de 100 tribos desse tipo no planeta.

Desde os anos 60, o governo proíbe qualquer tipo de visita à ilha. A medida busca proteger tanto os desavisados de uma recepção regada a flechadas e pedradas quanto os próprios sentineleses: vivendo isolados, eles não possuem os mesmos anticorpos (nem são expostos aos mesmos micróbios) que nós, e facilmente poderiam morrer de doenças com as quais já estamos acostumados.

Não existe um número exato – nem uma estimativa realmente confiável – já que até hoje não há registros de alguém que tenha entrado na ilha e saído para contar a história. Em 2001, a Índia, durante o censo nacional, tentou contabilizar quantos sentineleses haviam por ali, mas a contagem não passou de poucas dezenas. Devido à agressividade dos nativos, as imagens existentes de Sentinela se resumem a gravações do litoral da ilha, como esse:

Os habitantes avessos a estranhos ainda preservam características pré-neolíticas – estima-se que a tribo de Sentinela do Norte exista há mais de 60 mil anos. As armas, rudimentares, são feitas de pedra, ossos de animais e fragmentos de metal. Não se sabe se eles são agricultores ou apenas coletores, e a moda de lá se restringe a folhas, cordas e pequenas tiaras na cabeça.

Hoje em dia, qualquer pessoa pode acessar o Google Earth e espionar lugares proibidos e normalmente inacessíveis. É possível ver a misteriosa Área 51, a base secreta mantida pela Força Aérea americana no deserto de Nevada. É possível ver Mount Weather, outra base secreta na Virgínia para onde supostamente dignatários são evacuados em caso de emergências nacionais. É possível ver até mesmo os arredores de Pyongyang, a capital da Coréia do Norte. Mas quando você busca por Sentinela do Norte, tudo o que consegue ver são os restos do Primrose ainda presos no recife de coral onde se chocou em 1981. Você não consegue ver uma aldeia, pessoas ou qualquer sinal de que o lugar é habitado. A densa selva forma um manto verde que esconde tudo o que vive sob ele. Mesmo quando tentamos buscar os sentinelenses com olhos instalados no espaço, eles conseguem de alguma maneira se esquivar da nossa curiosidade.

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