Marechal Deodoro, montado a Cavalo proclamando a República #SQN. Créditos: Wikipédia. |
Você sabe como o Brasil se tornou de fato uma República? Muitos mitos ainda hoje giram em torno dessa questão, para muitos brasileiros esse tema é desconhecido, e outros possuem uma visão de que tudo se passou amigavelmente sem conflitos e de forma natural. Existe também a visão de que nos tornamos República cortando os laços com Portugal excluindo assim quase um século de história que corresponde ao período Imperial pós-independência e que vai de 1822 até o ano de 1889.
Tecnicamente a Proclamação da República Brasileira foi um Golpe de Estado Político-Militar, ocorrido em 15 de novembro de 1889, que instaurou a forma Republicana Presidencialista de governo no Brasil, encerrando a Monarquia Constitucional Parlamentarista do Império e, por conseguinte, destituindo e deportando o então chefe de estado, O Imperador D. Pedro II.
A proclamação ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país, instituindo um governo provisório republicano, que se tornaria a Primeira República Brasileira.
Antecedentes.
O movimento de 15 de novembro de 1889 não foi o primeiro a tentar instituir uma República no Brasil, embora tenha sido o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto da "população" de um modo geral:
- Em 1789, a conspiração denominada Inconfidência Mineira não buscava apenas a independência, mas também a proclamação de uma república na Capitania de Minas Gerais, seguida de uma série de reformas políticas, econômicas e sociais;
- Em 1817, através da Revolução Pernambucana — único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo revolucionário de tomada do poder — Pernambuco teve governo provisório por 75 dias;
- Em 1824, Pernambuco e outras províncias do Nordeste brasileiro (territórios que pertenceram outrora à província pernambucana) criaram o movimento independentista conhecido como Confederação do Equador, igualmente republicano, considerado a principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora do governo de D. Pedro I;
- Em 1839, na esteira da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a República Rio-Grandense e a República Juliana, respectivamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Em tese, os únicos Brasileiros a serem republicanos naquela época era os intelectuais, filhos da Elite que estudavam, nas grandes capitais, (é até mesmo fora do País) inspirados pelos ideais Republicanos.
Em tese, os republicanos tentavam a todo custo disseminar suas ideias pelo país, porém era um trabalho em vão. Quando enfim perceberam que não conseguiriam por fins pacíficos acabar com o Império, tiveram a grande ideia de um golpe militar. Só que para que isso acontecesse precisariam ter o apoio de um líder de prestígio da tropa militar. Foi ai que então resolveram se aproximar de Marechal Deodoro da Fonseca em busca de apoio.
E Deodoro comprou a ideia e planejou acabar com o Império? Não.
O que grande parte das pessoas não sabe é que foi tarefa difícil convencer Marechal Deodoro a dar o golpe, tendo em vista que o mesmo era amigo do Imperador Dom Pedro II e era um dos maiores defensores do Regime Monárquico.
Deodoro ERA AMIGO DO IMPERADOR, como cargas d'águas ele virou a casaca e fez esse Golpe?
O Caminho até aqui é mais interessante ainda.
O Caminho Até Aqui.
Meses após o Marechal Deodoro da Fonseca enganar a própria mulher, burlar as recomendações médicas e levantar da cama - onde havia passado a madrugada daquele 15 de novembro febril - para proclamar a República brasileira, o país já conhecia a primeira crítica articulada sobre o processo que havia removido a monarquia do poder em 1889.
Escrito pelo advogado paulistano Eduardo Prado, o livro Os Fastos da Ditadura Militar no Brasil, de 1890, argumentava que a Proclamação da República no Brasil tinha sido uma cópia do modelo dos Estados Unidos aplicada a um contexto social e a um povo com características distintas. (Só para Lembra-los que a Guerra da Independência dos E.U.A foi Tiro, Porrada e Bomba)
A monarquia, segundo ele, ainda era o modelo mais adequado para a sociedade que se tinha no país. Prado também foi o primeiro autor a considerar a Proclamação da República um "golpe de Estado ilegítimo" aplicado pelos militares.
Azulejo em São Simão em homenagem à proclamação da república brasileira. Créditos: Wikipédia. |
"A proclamação foi um golpe de uma minoria escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a segmentos da Igreja e da maçonaria. O que é fato notório é que foi um golpe ilegítimo", disse à BBC Brasil o empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro 2º, o último imperador brasileiro, e militante do movimento direitista Acorda Brasil. No anúncio do último congresso do Movimento Brasil Livre (MBL), em que foi um dos palestrantes, Luiz foi apresentado e festejado como "príncipe".
"Quando há ilegitimidade na proclamação de qualquer modelo de governo, não se consegue estabelecer autoridade e, dessa forma, não se tem ordem. É exatamente isso que aconteceu na república: removeram o monarca e, no momento seguinte, foi um caos", completa ele, justificando a partir da história os solavancos recentes da democracia brasileira.
Desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, o movimento pró-monarquia foi impulsionado pelas redes sociais e pela presença de grupos monarquistas nas manifestações contra o governo petista, entre 2015 e 2016 - muitos deles, empunhando bandeiras do Brasil Império.
- Um Movimento de Elites.
"Para se sustentar [a reivindicação de legitimidade da proclamação], ela teria que supor que a minoria republicana, predominantemente composta de bacharéis, jornalistas, advogados, médicos, engenheiros, alunos das escolas superiores, além dos cafeicultores paulistas, representava os interesses da maioria esmagadora da população ou do país como um todo. Um tanto complicado"Ainda de acordo com Murilo, não apenas foi um golpe, como ele não contou com a participação popular, o que fortalece o argumento de ilegitimidade apresentado pelos atuais monarquistas. Para ele, a distância da maior camada da população das decisões políticas é um problema que perdura até hoje.
José Murilo de Carvalho.
"Embora os propagandistas falassem em democracia, o pecado foi a ausência de povo, não só na proclamação, mas pelo menos até o fim da Primeira República. Incorporar plenamente o povo no sistema político é ainda hoje um problema da nossa República. Pode-se dizer que as condições do país não permitiram outra solução e que os propagandistas eram sonhadores. Muitos realmente eram".
- Crise da Monarquia.
Dom Pedro II, filho mais novo do Imperador Dom Pedro I tornou-se imperador aos 5 anos de idade e teve que passar grande parte da sua infância estudando para que fizesse um bom reinado. Em tese, um Rei é preparado pra reinar desde o momento de seu nascimento, logo as longas horas de estudo e preparação do Imperador resultou em transformar o Brasil numa grande e potente nação emergente. Sua estabilidade política era notória e o Império do Brasil se destacava em relação as nações vizinhas.
Tínhamos liberdade de expressão (A ponto de críticos ao seu governo fazerem Charges com o Imperador e não sofrer Sanções ou punições, além e claro das Ideias Republicanas serem claramente expostas), respeito aos direitos civis, tendo em vista que foi durante seu reinado que foi assinada a lei áurea, pela sua filha Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, popularmente conhecida como Princesa Isabel.
Poucos sabem, mas desde meados de 1850, Dom Pedro II se declarava publicamente contra o regime de escravidão. Fato esse corajoso, tendo em vista que poucos brasileiros na época se manifestavam contra o regime. O imperador considerava a escravidão uma vergonha nacional e tampouco possuiu escravos (O Motivo de não proibi-la eram questões políticas).
A escravidão no Brasil vinha sendo extinta de forma gradual através de várias medidas. Em 28 de setembro de 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre, também conhecida como “Lei Rio Branco” foi uma lei abolicionista, assinada pela Princesa Isabel. Esta lei, considerava livre todos os filhos de mulher escravas nascidos a partir da data da lei. Como seus pais continuariam escravos (a abolição total da escravidão só ocorreu em 1888 com a Lei Áurea), a lei estabelecia duas possibilidades para as crianças que nasciam livres. Poderiam ficar aos cuidados dos senhores até os 21 anos de idade ou entregues ao governo. O primeiro caso foi o mais comum e beneficiaria os senhores que poderiam usar a mão de obra destes “livres” até os 21 anos de idade.
A Lei do Ventre Livre tinha por objetivo principal possibilitar a transição, lenta e gradual, no Brasil do sistema de escravidão para o de mão de obra livre. Vale lembrar que o Brasil, desde meados do século XIX, vinha sofrendo fortes pressões da Inglaterra para abolir a escravidão. Todos consideravam que esse posicionamento político de Dom Pedro II em relação a escravidão seria suicídio político, pois até os mais pobres no Brasil tinham escravos como propriedade.
A partir da década de 1870, como consequência da Guerra do Paraguai (também chamada de Guerra da Tríplice Aliança, 1864-1870), foi tomando corpo a ideia de alguns setores da elite de alterar o regime político vigente. Fatores que influenciaram esse movimento:
- O imperador D. Pedro II não tinha filhos, apenas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais velha, a princesa Isabel, casada com um francês, Gastão de Orléans, Conde d'Eu, o que gerava o receio em parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
- O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria de seus donos.
- Situação política do Brasil em 1889.
O governo imperial, através do 37.º e último gabinete ministerial, empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do presidente do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, em uma última e desesperada tentativa de salvar o império, à Câmara-Geral, câmara dos deputados, um programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, as medidas seguintes:
- Maior autonomia administrativa para as províncias,
- Liberdade de voto,
- Liberdade de ensino,
- Redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado Federal.
As propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a preservar o regime monárquico no país, mas foram vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora que controlava a Câmara Geral.
Homenagem da Revista Ilustrada à proclamação da república brasileira. Créditos: Wikipédia. |
- Perda de Prestígio da Monarquia.
Muitos foram os fatores que levaram o Império a perder o apoio de suas bases econômicas, militares e sociais. Da parte dos grupos conservadores pelos sérios atritos com a Igreja Católica (na "Questão Religiosa"); pela perda do apoio político dos grandes fazendeiros em virtude da abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem a indenização dos proprietários de escravos.
Da parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social, a manutenção de um regime político de castas e o voto censitário, isto é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de ensino universal, os altos índices de analfabetismo e de miséria e o afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do continente, que eram republicanos.
Assim, ao mesmo tempo em que a legitimidade Imperial decaía, a proposta republicana - percebida como significando o progresso social - ganhava espaço. Entretanto, é importante notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime Imperial:
Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de dom Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império. Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um terceiro reinado, ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de dom Pedro II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime Monárquico, seja devido ao repúdio público ao príncipe consorte, marido da princesa Isabel, o francês Conde d'Eu. O conde tinha fama de arrogante, não ouvia bem, falava com sotaque francês e, além de tudo, era dono de cortiços no Rio, pelos quais cobrava aluguéis exorbitantes de gente pobre. Temia-se que, quando Isabel subisse ao trono, ele viesse a ser o governante de fato do Brasil.
Embora a frase de Aristides Lobo (jornalista e líder republicano paulista, depois feito ministro do governo provisório), "O povo assistiu bestializado" à proclamação da república, tenha entrado para a história, pesquisas históricas, mais recentes, têm dado outra versão à aceitação da república entre o povo brasileiro. É o caso da tese defendida por Maria Tereza Chaves de Mello (A República Consentida, Editora da FGV, EDUR, 2007), que indica que a república, antes e depois da proclamação, era vista popularmente como um regime político que traria o desenvolvimento, em sentido amplo, para o país.
- Crise Econômica.
A crise econômica agravou-se em função das elevadas despesas financeiras geradas pela Guerra da Tríplice Aliança, cobertas por capitais externos. Os empréstimos brasileiros elevaram-se de três milhões de libras esterlinas em 1871 para quase 20 milhões em 1889, o que causou uma inflação da ordem de 1,75% ao ano, no plano interno.
- Questão Abolicionista.
A questão abolicionista impunha-se desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, encontrando viva resistência entre as elites agrárias tradicionais do país. Diante das medidas adotadas pelo Império para a gradual extinção do regime escravista, devido a repercussão da experiência mal sucedida nos Estados Unidos de libertação geral dos escravos ter levado aquele país à guerra civil, essas elites reivindicavam do Estado indenizações proporcionais ao preço total que haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. Estas indenizações seriam pagas com empréstimo externo.
- Não vos aproximes de mim! Vossas mãos ainda tintas do sangue dos Escravos, manchariam as minhas vestes! Retirai-vos, eu não vos quero... |
Na visão dos progressistas, o Império do Brasil mostrou-se bastante lento na solução da chamada "Questão Servil", o que, sem dúvida, minou sua legitimidade ao longo dos anos. Mesmo a adesão dos ex-proprietários de escravos, que não foram indenizados, à causa republicana, evidencia o quanto o Regime Imperial estava atrelado à escravatura.
Assim, logo após a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, o único senador do império que votou contra o projeto de abolição da escravatura, profetizou:
“A senhora acabou de redimir uma raça e perder um trono!”Se os Republicanos de última hora, acharam que o novo governo iria ressarcir eles....
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Em 14 de dezembro de 1890, por decreto , em proposta feita por Joaquim Nabuco no ano de 1888, Rui Barbosa, empossado em sua função de Ministro da Fazenda, solicita a destruição de todos os livros de matrícula, documentos e papeis referentes à escravidão existentes no Ministério da Fazenda, de modo a impedir qualquer pesquisa naquele momento e posterior a ele que visasse a indenização de ex-proprietários de escravos. No entanto, essa decisão só foi efetivada em 13 de maio de 1891, na gestão de Tristão de Alencar Arapipe que, na ata do encontro que culminou em tal destruição, mandou analisar a situação do escravo sob o ponto de vista jurídico um ano antes, e as tendências abolicionistas naquela época. Rui Barbosa via na escravidão o maior dos problemas do Brasil, não tolerando meios-termos quanto ao seu fim, a exemplo das Leis do Ventre Livre e do Sexagenário: se é para deixar de existir a escravidão, que seja extinta por completo. O Ministro afirmava que, se era par alguém ser indenizado, deveriam ser os próprios ex-escravos. Porém, sabendo da impossibilidade desse acontecimento, a ideia de queimar seu acervo teve início.
- Questão Religiosa.
Desde o período colonial, a Igreja Católica, enquanto instituição, encontrava-se submetida ao estado. Isso se manteve após a independência e significava, entre outras coisas, que nenhuma ordem do papa poderia vigorar no Brasil sem que fosse previamente aprovada pelo imperador (Beneplácito Régio). Ocorre que, em 1872, Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Antônio de Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém do Pará respectivamente, resolveram seguir, por conta própria, as ordens do Papa Pio IX, que excluíam, da igreja, os maçons. Como membros de alta influência no Brasil monárquico eram maçons (alguns livros também citam o próprio dom Pedro II como maçom), a bula não foi ratificada.
Os bispos se recusaram a obedecer ao imperador, sendo presos. Em 1875, graças à intervenção do maçom Duque de Caxias, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, no episódio, a imagem do império desgastou-se junto à Igreja Católica. E este foi um fator agravante na crise da monarquia, pois o apoio da Igreja Católica à monarquia sempre foi essencial à subsistência da mesma.
- Questão Militar
Os militares do Exército Brasileiro estavam descontentes com a proibição, imposta pela monarquia, pela qual os seus oficiais não podiam manifestar-se na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra. Os militares não possuíam uma autonomia de tomada de decisão sobre a defesa do território, estando sujeitos às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos generais. Assim, no império, a maioria dos ministros da guerra eram civis.
Além disso, frequentemente os militares do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados e desrespeitados. Por um lado, os dirigentes do império eram civis, cuja seleção era extremamente elitista e cuja formação era bacharelesca, mas que resultava em postos altamente remunerados e valorizados; por outro lado, os militares tinham uma seleção mais democrática e uma formação mais técnica, mas que não resultavam nem em valorização profissional nem em reconhecimento político, social ou econômico. As promoções na carreira militar eram difíceis de serem obtidas e eram baseadas em critérios personalistas em vez de promoções por mérito e antiguidade.
A Guerra do Paraguai, além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares essa desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo acentuou-se após o fim da guerra. O resultado foi a percepção, da parte dos militares, de que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que dava maior atenção à Marinha do Brasil.
- Atuação dos Republicanos e dos Positivistas
"Alegoria da República", quadro de Manuel Lopes Rodrigues pertencente ao acervo do Museu de Arte da Bahia. Créditos: Wikipédia. |
Dessa forma, não foi casual que a propaganda republicana tenha tido, por marco inicial, a publicação do manifesto Republicano em 1870 (ano em que terminou a Guerra do Paraguai), seguido pela Convenção de Itu em 1873 e pelo surgimento dos clubes republicanos, que se multiplicaram, a partir de então, pelos principais centros no país.
Além disso, vários grupos foram fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro da Fonseca era maçom, assim como todo seu ministério) e pelo positivismo de Auguste Comte, especialmente, após 1881, quando surgiu a igreja Positivista do Brasil. Seus diretores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, iniciaram uma forte campanha abolicionista e republicana.
A propaganda republicana era realizada pelos que, depois, foram chamados de "republicanos históricos" (em oposição àqueles que se tornaram republicanos apenas após o 15 de novembro, chamados de "republicanos de 16 de novembro").
As ideias de muitos dos republicanos eram veiculadas pelo periódico A República. Segundo alguns pesquisadores, os republicanos dividiam-se em duas correntes principais:
- Os Evolucionistas, que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não justificando uma luta armada;
- Os Revolucionistas, que defendiam a possibilidade de pegar em armas para conquistá-la, com mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora houvesse diferenças entre cada um desses grupos no tocante às estratégias políticas para a implementação da república e também quanto ao conteúdo substantivo do regime a instituir, a ideia geral, comum aos dois grupos, era a de que a república deveria ser um regime progressista, contraposto à exausta monarquia. Dessa forma, a proposta do novo regime revestia-se de um caráter social revolucionário e não apenas do de uma mera troca dos governantes.
O Baile da Ilha Fiscal.
O O Último Baile do Império ocorreu no dia 9 de novembro de 1889, um sábado, em homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane". Realizado na ilha Fiscal, no centro histórico do Rio de Janeiro, então capital do Império. Foi a última grande festa da monarquia antes da Proclamação da República Brasileira.
Inicialmente marcado para o dia 19 de outubro, foi adiado por ocasião da morte do rei Luís I de Portugal (1861-1889), sobrinho de Dom Pedro II. O evento, que reuniu toda a sociedade do Império, formalmente homenageava a oficialidade dos navios chilenos ancorados na baía havia duas semanas. Mas, na verdade, comemorava as bodas de prata da princesa Isabel e do conde d´Eu. Além disso, a intenção do visconde de Ouro Preto, presidente do conselho de ministros, era de tornar inesquecível este baile, para reforçar a posição do Império, contra as conspirações republicanas. O dinheiro gasto por ele no baile, 250 contos de réis, foi retirado do ministério da Viação e Obras Públicas, este valor correspondia a quase 10% do orçamento previsto da Província do Rio de Janeiro para o ano seguinte. Existiram críticas á corte pelo ato, visto que esta quase não promovia bailes.
O Último Baile do Império (óleo sobre tela, Francisco Figueiredo, Museu Histórico Nacional). Créditos: Wikipédia. |
O Baile teve um requinte incomum para a coroa brasileira, que era enxuta. O Palacete foi intensamente decorado, em seus jardins foram montadas duas mesas, em formato de ferradura, onde foi servido um jantar para 500 dos 4.500 convidados, sendo 250 em cada uma. Iguarias incomuns como o sorvete e o faisão foram servidas.
- O Jantar
Capa do cardápio do último Baile da Ilha Fiscal, 1889. Arquivo Nacional. |
- 3 mil pratos de sopa;
- 50 caixas de peixes;
- 800 latas de lagosta;
- 800 kg de camarões;
- cem latas de salmão;
- 3 mil latas de ervilhas;
- 1.200 latas de aspargos;
- 400 tipos de saladas;
- 800 latas de trufas;
- 12 mil frituras;
- 3.500 peças de caça;
- 1.500 costeletas de carneiro;
- 1.200 frangos;
- 250 galinhas;
- 500 perus;
- 64 faisões;
- 80 patos;
- 12 cabritos;
- 25 cabeças de porco;
- 18 mil frutas;
- 1.200 doces;
- 20 mil sanduíches;
- 14 mil sorvetes;
- 50 mil kg de gelo;
Tudo isso regado a:
- 10 mil litros de cerveja;
- oitenta caixas de champanhe;
- vinte de vinho branco;
- 78 de vinho tinto, incluindo os prestigiados Bordeaux e Borgonha franceses;
- 90 vinhos de sobremesa;
- além de 26 de conhaques, vermutes e outros licores.
Uma banda, instalada a bordo do "Almirante Cochrane", o navio homenageado, tocou valsas e polcas madrugada adentro.
Ilha Fiscal no dia do último baile do Império (óleo sobre tela, Francisco Joaquim Gomes Ribeiro.). Créditos: Wikipédia.
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"Dançou-se muito no O Ùltimo Baile do Império, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. "Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto. Longe dali, ao lado da família imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas. D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listrada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes."
Um fato irônico, até hoje não confirmado, ocorreu logo após a chegada da família real, às 10 horas da noite: conta-se que D. Pedro II, ao entrar no salão do baile, desequilibrou-se e levou um tombo. Foi amparado por dois jornalistas. Ao recompor-se, exclamou: "O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu!". Apesar do sucesso do baile, o imperador pouco se divertiu. Ficou sentado, visto que já estava em idade avançada, o tempo todo e foi embora à 01:00 da manhã, sem jantar.
Página do cardápio do último Baile da Ilha Fiscal, 1889. Arquivo Nacional. |
Outro acontecimento curioso ocorreu no término da festa. Às 5 horas da manhã, após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram alguns artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas. Foram encontrados na Ilha Fiscal:
- 17 ligas de meias femininas;
- 23 peças para dar contorno ao corpo das mulheres;
- 8 raminhos para esconder o começo dos seios;
- 7 chales e mantilhas;
- 9 dragonas militares;
- 8 cartolas e 16 sombrinhas
O fato pode, entretanto, ser fictício, uma vez que foi relatado na coluna humorística Foguetes, do periódico carioca "O Paiz", no dia 12 de novembro, nestes termos:
"Houve quem perdesse dragonas, chapéos de sol, chapéos de cabeça, lenços, e até - parece incrivel, mas é rigorosamente verdadeiro - uma senhora deixou lá ficar o espartilho!!!"
- Repercussão.
A distribuição dos 5.000 convites começou no dia 4 de novembro. As roupas finas das lojas do Rio de Janeiro se esgotaram. Setenta e duas horas antes do baile já não havia vagas nos cabeleireiros. As senhoras lotavam as lojas de roupas finas e os cavalheiros recorriam aos alfaiates, para ajustar suas casacas e às barbearias, para cortar o cabelo ou aparar os bigodes e barbas. Muitas senhoras chegavam às 09:00 da manhã, para fazer os cabelos
Duas bandas militares tocaram quadrilhas, valsas, polcas e mazurcas para os convidados, que dançaram em seis salões do castelo. A princesa Isabel foi uma das pés-de-valsa mais animadas. Depois da festança, às 6h da manhã, o pessoal da limpeza achou: 37 lenços, 24 cartolas e chapéus, 8 raminhos de corpete, 3 coletes de senhoras e 17 cintas-liga. De acordo com o historiador Milton Teixeira todas as fotos feitas na festa desapareceram.
O Baile foi comentado pela mídia por alguns dias, o que trouxe uma falsa imagem de solidez da coroa.
Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889 e a Proclamação da República.
Charge da proclamação da República, com José do Patrocínio em primeiro plano. Créditos: Wikipédia. |
Na escola sabemos que as histórias sobre o Brasil nem sempre são contatas como realmente aconteceram e a Proclamação da República não é diferente. Até 1889, república no Brasil não era um sonho do povo e não possuía nenhuma notoriedade pública o movimento republicano, no ano que ocorreria o Golpe, apenas um deputado do partido republicano foi eleito e nas eleições anteriores apenas três, o movimento então não via chances de conseguir a república pelos meios legais, foi ai que começaram a traçar um plano para o golpe.
Como não possuíam força militar suficiente, os republicanos viram no Marechal Deodoro da Fonseca o que estavam precisando, alguém que pudesse comandar a tropa para depor o atual regime, contudo o Marechal era monarquista e amigo de D. Pedro II, o mesmo queria até mesmo carregar o caixão do Imperador idoso quando este falecesse.
A única coisa que eles poderiam usar para convencer o Marechal até então, era sua insatisfação com o Governo Imperial que ele acusava de não dar o devido valor ao exercito e a ele próprio, nas vésperas do dia 15 de Novembro correram notícias falsas de que a prisão de Deodoro havia sido decretada, com isso o Marechal cansado que sofria de dispneia marcha até o centro do Rio com uma pequena tropa do exercito que na totalidade faziam parte da juventude militar, um grupo republicano dentro do exército comandado pelo tenente-coronel Benjamin Constant Líder do movimento republicano e principal arquiteto do golpe.
Como já vimos, o Movimento Republicano era fraco e impopular, mas qual a relação da Abolição e o Republicanismo?
Outra afirmação falsa é relacionar o movimento abolicionista e o republicano, pois, ambos andavam em direções contrárias, no dia 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assina a Lei Áurea abolindo a escravidão no Brasil, com esse ato, a popularidade da princesa principalmente nas camadas mais carentes e negras do Brasil cresce, era o cenário para que no futuro fosse uma imperatriz muito querida no Brasil por essa camada da população, mas em contra partida a abolição seria um dos trunfos dos Republicanos devido a insatisfação dos escravagistas donos das fazendas de café que ficaram inconformados com a abolição e com a princesa Isabel, monarquistas até então, acusaram a princesa de atentar contra o direito de propriedade e exigiram que fossem indenizados para libertar os escravos, o pedido então foi negado, rapidamente deram as costas a D. Pedro II e sua filha e rapidamente aderiram a causa republicana, esse são chamadas republicanos de última hora. Nesses último ano da monarquia, foram favoráveis a república devido a esses acontecimentos.
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, chefiasse o movimento revolucionário que substituiria a monarquia pela república. Depois de muita insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em liderar o movimento militar.
Proclamação da República no Rio de Janeiro (por Georges Scott, publicado em Le Monde Illustré, nº 1.708, 21/12/1889). Créditos: Wikipédia |
No dia 14 de novembro de 1889, os republicanos, num ato muito “honesto” fizeram correr o boato (Fake News mudando a história do Brasil desde 1889) de que o primeiro ministro Visconde de Ouro Preto havia decretado prisão contra Marechal Deodoro e o líder dos oficiais republicanos o tenente-coronel Benjamim Constant. Essa falsa notícia fez com que Marechal Deodoro decidisse se levantar contra a monarquia. Na manhã do dia 15, Deodoro reuniu toda a tropa em direção ao centro da cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil Império, com o intuito de decretar a demissão do ministério de Ouro Preto. Porém, ainda não tinha a intenção de Proclamar a República.
Até o dia 15 de novembro o Marechal ainda não tinha se convencido em fazer a república, foi quando o Benjamin Constant e outros conspiradores dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente, com dispneia, e acabam por convencê-lo a liderar o movimento.
"Os principais culpados de tudo isso [a proclamação da República] são o conde D'Eu e o Visconde de Ouro Preto: o último por perseguir o Exército e o primeiro por consentir nessa perseguição", mencionou Deodoro mais tarde.
(Nota 1: Segundo algumas versões, principalmente dos Monarquistas relatos históricos, em 15 de novembro de 1889, uma manhã sexta-feira, comandando algumas centenas de soldados que se movimentavam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o Marechal Deodoro, assim como boa parte dos militares, pretendia apenas derrubar o então Chefe do Gabinete Imperial (equivalente a primeiro-ministro), Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto.
Diferente do que os republicanos esperavam, apenas demitiu o Primeiro Ministro Visconde de Ouro Preto e ainda deu Vivas a vossa Majestade D. Pedro II, os republicanos ficaram decepcionados com o que havia ocorrido, um jovem do exercito questionou o Marechal dizendo “E a República?” ele apenas respondeu que não era hora, dias antes o marechal havia mandando uma carta ao seu sobrinho (Republicando):
“Não te metas em questões republicanas, porque República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltarão educação e respeito”. (De certa forma (*) depois o mesmo estava (ou melhor, está) certo)
Desembarque de Dom Pedro II em Lisboa: a canoa imperial atraca no Arsenal da Marinha. Créditos: Wikipédia |
Aparentemente decisivo para Deodoro foi saber, que para o lugar do Visconde de Ouro Preto, D. Pedro II indicou Gaspar Silveira Martins, como o novo Presidente do Conselho de Ministros do Império e que tomaria posse, a partir de 20 de novembro.
Gaspar Silveira Martins, foi o pivô da crise que culminou com a proclamação da república:
Marechal Deodoro, amigo do Imperador, concorda em participar da quartelada apenas para depor o gabinete do Visconde de Ouro Preto e volta para casa; no entanto, Benjamin Constant informa que Silveira Martins, desafeto de Deodoro, seria o escolhido para suceder Ouro Preto. Tal fato desencadeou definitivamente a Proclamação da República, pois Deodoro da Fonseca não aceitava ver um inimigo, que o chamava pejorativamente de sargentão, como primeiro ministro. Com isto, o Marechal em assinar o decreto que institui o governo provisório republicano.
Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde o tempo em que o marechal servira no Rio Grande do Sul, quando ambos disputaram as atenções da baronesa do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, que, segundo os relatos da época, preferira Silveira Martins. Desde então, Silveira Martins não perdia oportunidade para provocar Deodoro da tribuna do Senado, insinuando que malversava fundos e até contestando sua eficácia enquanto militar.
(Sim, imagine o pobre Deodoro, saber que o cara que furou seus olhos, seria o novo manda-chuva)
Atentado contra o Barão de Ladário, então ministro da Marinha. Créditos: Wikipédia. |
Além disso, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro dissera a Deodoro que uma suposta ordem de prisão contra ele havia sido expedida, argumento que convenceu finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 15 e a exilar a Família Imperial já à noite, de modo a evitar uma eventual comoção popular.
Convencido de que seria preso pelo governo imperial, Deodoro, atravessou o Campo de Santana e, do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou "Viva a República!". Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência. A manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua Direita, atual rua 1.º de Março, até o Paço Imperial.
Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, , Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial, o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia tentando resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que havia, no local, tropas legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a Floriano Peixoto que este havia enfrentado tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto:
“Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros!”
Ovação popular ao Marechal Deodoro da Fonseca e Bocaiúva, na Rua do Ouvidor. Créditos: Wikipédia |
Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao Visconde de Ouro Preto.
O único ferido no episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário, que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador Dom Pedro II e que vacilava em suas palavras. Relatos dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue. Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin Constant ao seu lado e que havia alguns líderes republicanos civis naquele momento.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República.
À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, o Rio de Janeiro, José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
(Nota: Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou ainda organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis, foi informado e decidiu descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a queda do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome para substituir o Visconde de Ouro Preto.
No entanto, como nada fora dito sobre República até então, os republicanos mais exaltados espalharam o boato de que o Imperador escolhera Gaspar Silveira Martins, inimigo político de Deodoro da Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul, para ser o novo chefe de governo. Deodoro da Fonseca então convenceu-se a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e, desiludido, decidiu não oferecer resistência.)
No dia seguinte, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro entregou a Dom Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar conturbações políticas.
Entrega da mensagem à D. Pedro II, pelo Major Sólon, no dia 16 de novembro de 1889. |
“Com que autoridade estes homens dispõe do dinheiro público?”
O imperador não reagiu ao golpe, alguns afirmam que por medo de uma guerra civil e outros que por não acreditar que aquilo seria levado em frente e que o povo naturalmente iria reagir. Passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo só e com poucos recursos.
Anos mais tarde o seu neto Luís Maria ainda tentaria reaver a Coroa sem sucesso, nem conseguiu desembarcar no Rio de Janeiro ameaçado por canhões apontados para ele no litoral. A família Imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao Brasil na década de 1920.
Controvérsias.
Com a proclamação da república, "segundo todas as probabilidades", acabaria também o Brasil, pensava, no fim do século XIX, o escritor português Eça de Queirós. "Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas cartas de Fradique Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de "Cartas Inéditas de Fradique Mendes", e transcritas por Gilberto Freyre em sua obra "Ordem e Progresso":
Constituição de 1891. Documento sob guarda do Arquivo Nacional. Créditos: Wikipédia |
“O que foi o Império estará fracionado em Repúblicas independentes de maior ou menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das províncias, as rivalidades que entre elas existem, a diversidade do clima, do caráter e dos interesses, e a força das ambições locais. [...] Por outro lado, há absoluta impossibilidade de que São Paulo, a Bahia, o Pará queiram ficar sob a autoridade do general fulano ou do bacharel sicrano, presidente, com uma corte presidencial no Rio de Janeiro [...] Os Deodoros da Fonseca vão-se reproduzir por todas as províncias. [...] Cada Estado, abandonado a si desenvolverá uma história própria, sob uma bandeira própria, segundo o seu clima, a especialidade da sua zona agrícola, os seus interesses, os seus homens, a sua educação e a sua imigração. Uns prosperarão, outros deperecerão. Haverá talvez Chiles ricos e haverá certamente Nicaráguas grotescas. A América do Sul ficará toda coberta com os cacos de um grande império.”
O sociólogo Gilberto Freyre entendeu que Eça de Queirós errou redondamente:
“Profecia que de modo algum se realizou. E não se realizou por lhe ter faltado quase de todo consistência sociológica; ou ter se baseado apenas numa estreita parassociologia, quando muito, política; e esta quase inteiramente lógica. Lógica e de gabinete: nem sequer intuitiva no seu arrojo profético [...] O "coração íntimo" dos brasileiros da época que se seguiu à proclamação da república, se examinado de perto [...] haveria de mostrar-lhe que existia entre a gente do Brasil, do Norte ao Sul do país, uma unidade nacional já tão forte, quanto às crenças, aos costumes, aos sentimentos, aos jogos, aos brinquedos dessa mesma gente, quase toda ela de formação patriarcal, católica e ibérica nas predominâncias dos seus característicos, que não seria com a simples e superficial mudança de regime político, que aquele conjunto de valores e de constantes de repente se desmancharia!”
Proclamação/Golpe da República?
Atualmente vivemos um período conturbado na Chamada Nova Republica, ou a Sexta República. O descontentamento com o atual governo republicano, principalmente os casos de corrupção envolvendo o alto escalão do governo brasileiro são uma das razões para o surgimento de movimentos monárquicos ao país. Certo grupo, composto por 15 jovens da cidade de Taubaté, interior paulista, argumentou: “Queremos a mudança cultural e governamental no Brasil. A família Orleans Bragança está na linha sucessória [da família de Dom Pedro II, último monarca a governar no Brasil] e iríamos eleger um primeiro ministro. O povo continua votando, iria continuar cidadania e democracia, já que o ministro seria eleito pelo povo”, e além do poder moderador exercido pelo imperador, que teria o poder de dissolver o parlamento em caso de necessidade.
É possível considerar que a Proclamação da República foi ilegítima, pois não houve apoio popular. Entende-se que um sistema político sem legitimidade resulta em desordem e ainda que o processo tivesse a bandeira da democracia, houve ausência do povo. Sem aclamação popular, o movimento se desenrolou como golpe e mesmo depois de (*) anos depois é possível discutir tal processo, segundo o historiador José Murilo de Carvalho. Há uma certa "memória genética" sobre o período imperial que faz como que o povo sinta saudade daquele período, afirma o ativista monarquista e pretendente ao trono Bertrand Maria José de Orléans e Bragança.
"O termo 'legitimidade' é muito relativo. Depende do que se considera o instrumento legitimador da nossa República. Se ele for o voto, ela não é legítima, porque o Partido Republicano nunca teve apoio nas urnas. Agora, se considerar esse instrumento a força das armas, foi um movimento legítimo, porque foi por meio delas que o exército consolidou o regime".
José Laurentino Gomes.Para Laurentino, a questão envolve a luta pelo direito de nomear os acontecimentos históricos que, no caso dos republicanos, conseguiram emplacar a ideia de "Proclamação" e não de "Golpe".
"O que aconteceu em 1889, em 1930 e em 1964 é a mesma coisa: exército na rua fazendo política. Depende de quem legitima o quê. O movimento de 1964 não foi legitimado pela sociedade, mas a revolução de 1930 foi tanto pelos sindicatos quanto pelas mudanças promovidas por Getúlio Vargas. A proclamação é contada hoje por quem venceu", argumenta.Para o historiador Marcos Napolitano, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), é possível sim falar em golpe na fundação da República. Já questionar sua legitimidade, como faz Orleans e Bragança, seria um revisionismo histórico incabível.
"Se pensarmos que a monarquia era um regime historicamente vinculado à escravidão (esta sim, uma instituição ilegítima, sob quaisquer aspectos), acho pessoalmente que a fundação da República foi um processo político legítimo que, infelizmente, não veio acompanhado de reformas democratizantes e inclusivas".
Marcos Napolitano.Segundo José Murilo de Carvalho, é possível afirmar que a proclamação foi obra quase totalmente dos militares, assim como conta o jornalista Laurentino Gomes em seu livro 1889. "Só poucos dias antes do golpe é que líderes civis foram envolvidos", explica Murilo. Para o professor Marcos Napolitano, porém, o fato de ter sido uma minoria a responsável por derrubar a monarquia não retira do movimento a sua legitimidade.
"Qualquer processo político está ligado à capacidade de minorias ativas ganharem o apoio de maiorias, ativas ou passivas, e neutralizarem outros grupos que lhes são contra. Nem sempre um processo político que começa com uma minoria ativa redunda em falta de democracia. Esta é a medida de legitimidade de um processo político. Muitos processos políticos democratizantes, que mudaram a história mundial, começaram assim. O que não os exime de serem processos muitas vezes traumáticos e conflitivos", explica Napolitano.Monarquia Como Opção de Regime Político?
Orleans e Bragança expressa uma alternativa que já existe há algum tempo entre um grupo restrito de historiadores. O mais militante deles é o professor Armando Alexandre dos Santos, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Frequentemente convidado pela Casa Real para palestras e eventos, ele é amigo pessoal de D. Luiz Gastão de Orleans e Bragança - que seria o imperador do país caso fosse uma monarquia - desde os anos 1980.
"Foi uma quartelada de uma minoria revoltosa de militares que não teve nenhum apoio popular. A própria proclamação foi um show de indecisões: Deodoro da Fonseca, por exemplo, só decidiu proclamá-la porque foi pressionado pelos membros do seu grupinho que precisavam de um militar de patente para representá-los. Foi, acima de tudo, um modismo, uma imitação servil dos EUA", argumenta.Santos, no entanto, não encontra apoio para sua tese na maior parte da academia. Para os historiadores ouvidos pela BBC Brasil (Links nas Fontes), o retorno à monarquia não está definitivamente no horizonte político do país.
"O plebiscito de 1993 (para determinar a forma de governo do país) mostrou que há sólida maioria favorável à República, apesar das trapalhadas do regime. Fora do carnaval, a imagem predominante da monarquia ainda é a de regime retrógrado", afirma José Murilo de Carvalho, seguido por Gomes. "Em um momento de discussão da identidade nacional, se somos violentos ou pacíficos, corruptos ou transparentes, vamos em busca de mitos fundadores. Um deles é D. Pedro, que era um homem culto e respeitado. Esse movimento monárquico atual é freudiano. É a busca de pai que resolva tudo sem que a gente se preocupe", finaliza.
Quando aprendemos sobre a Proclamação na Escola apenas somos apresentados a uma parte dos fatos. Depois que passei a Estudar a história por conta própria, creio que me surpreendi com os fatos das quais não estavam narrados nos livros escolares.
No dia 15 de Novembro comemoramos então um Golpe, (pelo que aconteceu, foi um Golpe, não existiu um movimento de populares pedido #ForaDomPedroII) de 1889 que derrubou uma Monarquia Constitucional que de qualquer forma era legitimada pelo povo que não se faziam opositores ao regime.
Faltavam claro adequações no sistema para se parecer mais com as monarquias que temos hoje pelo mundo, mas na época muitas monarquias se pareciam com a do Brasil, se adequaram e hoje são modelos de democracias e liberdade, deixando uma larga vantagem sobre muitas repúblicas.
E se o Marechal Deodoro da Fonseca nunca tivesse saído de casa naquele 15 de novembro de 1889? Como o Brasil estaria hoje? Não conseguiremos saber, mas possivelmente melhor do que estamos hoje, haja vista que não passaríamos por muitos episódios que marcaram o século XX e marcam o Século XXI no Brasil.
E quando pesquisei isso pela 1° vez (lá para 2014), de imaginar que o Brasil, se tornou um país republicano, graças a uma disputa amorosa, me pareceu uma enredo de novela. Mas e a História.
Curiosamente a história e engraçada em alguns pontos. Nas eleições de 2018, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro 2º recebeu em torno de 118.457 votos no Estado de São Paulo e se elegeu deputado federal pelo PSL, partido do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Fontes.
1889 de Laurentino Gomes
A invenção republicana de Ricardo Lessa
A verdade histórica sobre o 15 de novembro de Leoncio Correia.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquismo_no_Brasil
https://pt.wikipedia.org/wiki/Baile_da_Ilha_Fiscal
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41991813
https://monarquiaconstitucional.jusbrasil.com.br/artigos/359649720/proclamacao-da-republica-o-golpe-que-virou-feriado
https://direitasja.com.br/2013/10/07/proclamacao-da-republica-o-maior-golpe-de-estado-da-historia-brasileira-a-historia-que-seu-professor-nao-contou/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782006000200013
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