segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O Massacre de Jonestown.

Jim Jones em frente do International Hotel.
Créditos: Nancy Wong/Wikipédia
Em 18 de novembro de 1978,  exatos (*) anos, 918 pessoas morreram em um misto de suicídio coletivo e assassinatos em Jonestown, uma comuna fundada por Jim Jones, James Warren "Jim" foi o fundador e líder do culto Templo dos Povos, uma seita pentecostal cristã de orientação socialista. Embora algumas pessoas tenham sido mortas a tiros e facadas, a grande maioria pereceu ao beber, sob as ordens do pastor, veneno misturado a um ponche de frutas.

Foi um fim trágico para um projeto utópico iniciado em 1956, no Estado americano de Indiana.

Mas como tudo começou?

Um Homem Messiânico.

Jim Jones nasceu em Creta, uma pequena cidade do Condado de Randolph, no interior do estado de Indiana, Estados Unidos. Filho de James Thurman Jones (1887–1951), um veterano da Primeira Guerra Mundial, e Lynetta Putnam (1902–1977), que acreditava que tinha dado à luz um messias. Ele era descendente de irlandeses e de galeses. A alegação de Jones de que teria ascendência indígena cherokee, por parte da mãe, nunca foi comprovada.

A infância de Jim se passou no período da Grande Depressão causada pela crise econômica de 1929, o que obrigou os Jones a se estabelecerem perto de Lynn, em 1934. Após a separação dos pais, a mãe de Jim mudou-se com os filhos para Richmond, também em Indiana, onde ele concluiu seus estudos em 1948. No ano seguinte, Jim casou-se com Marceline Baldwin, uma enfermeira, e em 1951 finalmente mudou-se para Indianápolis, onde viveu uma década.

Desde a infância, Jim Jones mostrou inclinações místicas e na juventude foi um leitor dedicado de obras políticas e sociais. Também demonstrou simpatia pelo marxismo e pelas reivindicações dos afro-americanos contra a segregação e a discriminação racial, sintetizadas então na militância do ator Paul Robeson, e na candidatura progressista de Henry A. Wallace à presidência dos Estados Unidos, em 1948.

Nessa época, Jones desenvolveu suas ideias sobre a ação política e também começou a buscar uma expressão destas dentro da religião. Em 1952, tornou-se estudante em um seminário metodista, do qual foi expulso por defender a integração racial, e trabalhou algum tempo junto aos batistas do Sétimo Dia.
  • O Templo dos Povos.
Em 1954, Jones criou a sua própria igreja em uma área da cidade racialmente integrada. O culto recebeu vários nomes até adquirir a denominação definitiva de Peoples Temple Christian Church Full Gospel (Templo dos Povos: Igreja Cristã do Evangelho Pleno), em 1959.

Através do Templo, Jim Jones adquiriu notoriedade e apoio político e da mídia em Indianápolis, contribuindo para por fim à segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais. Em 1960, o prefeito democrata Charles Boswell o nomeou como diretor local da comissão de direitos humanos. No entanto, Boswell e Jones acabaram entrando em atrito quando o líder do Templo foi agredido em uma reunião do NAACP.

Em meados dos anos 60, o Templo Popular se mudou para a Califórnia, considerada mais aberta a ideais como os defendidos pelo pastor. Nos anos seguintes, o movimento ganhou popularidade suficiente para que Jones circulasse entre os poderosos – a primeira-dama Rosalynn Carter, por exemplo, encontrou-se várias vezes com ele.

Apesar de promover curas "milagrosas", Jones promoveu ideais igualitários, como impor vestuário modesto para os frequentadores de cultos, distribuição de comida gratuita e mesmo o fornecimento de carvão para famílias mais pobres no inverno, o que atraiu um imenso contingente de fiéis de perfis raciais mais diversos.

Mas a seita também despertou suspeitas e investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor. O escrutínio levou Jones a buscar refúgio na Guiana, onde conseguiu permissão das autoridades locais em 1974 para arrendar um terreno em meio à selva e criar uma comuna longe de olhos mais curiosos.
  • Família Arco-Íris.
Jim e Marceline incentivaram a adoção de crianças de raças diferentes pelos membros de sua igreja. Em 1954, começaram eles próprios a sua Rainbow Family (família “arco-íris”) ao adotar Agnes, uma nativa americana de 11 anos. Nos anos seguintes, os Jones adotaram três órfãos de guerra coreanos, um afro-americano (o primeiro a ser adotado por um casal branco no estado de Indiana, em 1961) e um branco. O casal teve apenas um filho biológico, chamado Stephen Gandhi Jones.

Jim Jones também foi atacado por racistas brancos, que fizeram sucessivas ameaças à sua vida e aos integrantes do Templo, embora seja possível que o próprio Jones tenha manipulado algumas dessas reações em favor de sua pregação político-religiosa.
  • Viagem ao Brasil.
Depois de um discurso em 1961 sobre o apocalipse nuclear e depois de listar Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, em um artigo de janeiro de 1962 na revista Esquire, como um lugar seguro em uma guerra nuclear, Jones viajou com a sua família para a cidade com a ideia da criação de um novo local para o Templo. Em seu caminho ao Brasil, Jones fez sua primeira viagem para a Guiana, então ainda uma colônia britânica.

Após chegar em Belo Horizonte, Jones alugou uma modesta casa de três quartos. Ele estudou a economia local e a receptividade das minorias raciais com a sua mensagem, embora o idioma tenha permanecido como uma barreira. Jones tomou cuidado para não retratar a si mesmo como um comunista em território estrangeiro e falava de um estilo de vida comunitário apostólico e não de Castro ou Marx.

No entanto, a falta de recursos na região fez com que Jones e seus seguidores se mudassem para o Rio de Janeiro em meados de 1963, onde eles trabalharam com os pobres em favelas cariocas. Jones também explorou o sincretismo das religiões brasileiras.

Jones foi atormentado pela culpa de deixar para trás Indiana e a luta pelos direitos civis e, possivelmente, perder tudo o que ele tinha tentado construir lá. Quando os pregadores associados a Jones em Indiana lhe disseram que o Templo estava prestes a entrar em colapso sem ele, Jones voltou aos Estados Unidos.
  • O Templo em São Francisco.
Rev. Cecil Williams e Rev. Jim Jones em um protesto em frente
ao International Hotel em São Francisco, janeiro de 1977.
A perspectiva de guerra nuclear – Jones faria uma nova previsão para 15 de julho de 1967 – continuou alimentando os objetivos de expansão de seu culto. Ainda em 1965, Jones começou a transferir a comunidade do Templo dos Povos para Ukiah, na região do vale das sequoias, no estado da Califórnia. Em 1970, já existiam sucursais do Templo em San Francisco e Los Angeles.

O movimento se expandia no país através de caravanas, distribuição de folhetos (especialmente entre viciados em drogas e sem-teto), concentrações em grandes cidades (como Houston, Detroit e Cleveland) e reuniões de testemunho. No entanto, todas as reuniões eram sediadas em San Francisco, que tornou-se a sede da organização em 1972. Em seu auge, em meados dos anos 70, o Templo dos Povos reuniu cerca de 3 mil membros, dos quais 70 a 80% eram afro-americanos pobres. Estatísticas exageradas do próprio movimento subiam seu número para 20 mil pessoas.

As finanças do movimento provinham de doações de seus membros ou de pessoas influentes. Objetos pessoais de Jones e amuletos eram também vendidos e o Templo chegou a ter estação de rádio e sua própria gravadora de discos.

Jonestown.

Jonestown, era o nome informal para o Projeto Agrícola do Templo do Povo como o assentamento foi batizado, tinha uma escola, bangalôs e um pavilhão central, além de espaço para que os habitantes plantassem verduras e legumes. O pastor e centenas de seguidores se mudaram para lá em meados de 1977.

Tratava-se de uma tentativa de construir uma comunidade rural autossustentável em um local com solo pobre e com pouca água doce. Além disso, a comunidade estava superpovoada quando se leva em conta os recursos disponíveis nas proximidades. Essas circunstâncias que contribuíram para a deterioração das condições de vida no local.

A única forma de contato com o mundo era um rádio de ondas curtas. Houve relatos de que Jones promovia um regime ditatorial, marcado por punições severas e pela presença de guardas armados para tentar evitar fugas.

O pastor também avisava aos seguidores que os serviços de segurança americanos estavam "conspirando contra Jonestown", e que uma das soluções seria um "suicídio revolucionário". Algo que, por sinal, teria sido ensaiado algumas vezes em assembleias.

No outono de 1973, após críticas de jornais por Lester Kinsolving e a deserção de oito membros do Templo, Jone e o membro do Templo Tim Stoen prepararam uma "ação imediata", um plano de contingência para responder a policia ou a repressão da mídia. O plano listava várias opções, incluindo fuga para o Canadá ou um "post missionário no Caribe", como Barbados ou Trinidad. O Templo rapidamente escolheu Guiana. Em outubro de 1973, os diretores do Templo dos Povos aprovaram uma resolução para estabelecer uma missão agrícola lá.

Em 1974, depois de viajar para uma área do noroeste da Guiana com funcionários guianenses, Jones e o Templo dos Povos negociaram um contrato de arrendamento de uma área com mais de 3.800 acres (15,4 km²) de terra na selva localizado a 240 km a oeste da capital da Guiana de Georgetown. O local foi isolado e tinha um solo de baixa fertilidade, mesmo para os padrões da Guiana. O corpo de água mais próxima era ficava a 11 km de distância com estradas lamacentas levando até lá.

Jones resolve em 1977 partir para a Guiana, esperando assim fugir das investigações sobre os abusos descritos pelos desertores.

Casas em Jonestown, Guiana. Créditos: Fielding McGehee
e Rebecca Moore/ Wikipédia.
A viagem não foi fácil. Primeiro eles saíram de ônibus de São Francisco, na costa oeste e foram para Miami, na costa leste dos EUA. Depois pegaram o avião para Georgetown, a capital de Guiana e depois um barco que navegou por 24 horas até chegar em Port Kaituma, próximo à fronteira com a Venezuela. O lugar civilizado mais próximo de Jonestown. Literalmente eles estavam no meio do nada!

Ali, Jones com sua família, pretendia erguer o “Projeto Agrícola” do Templo dos Povos, formando a comunidade informalmente denominada de Jonestown. Os primeiros 50 residentes, transferidos da igreja em San Francisco, chegaram em 1977. No ano seguinte, já eram mais de 900 (dos quais 68% eram afro-americanos).

Tratava-se de uma tentativa de construir uma comunidade rural autossustentável em um local com solo pobre e com pouca água doce. Além disso, a comunidade estava superpovoada quando se leva em conta os recursos disponíveis nas proximidades. Essas circunstâncias que contribuíram para a deterioração das condições de vida no local.

Ao mesmo tempo em que o fisco público fechava o cerco contra a isenção de impostos usufruída pelo Templo, Jones se referia de forma hostil ao governo dos Estados Unidos como o Anticristo, em rápida marcha em direção ao fascismo, e ao capitalismo como o regime econômico do Anticristo.

Além disso, pesaram contra Jones acusações de sequestro de crianças de ex-integrantes que tinham abandonado o Templo. Outras denúncias incluíam:
  1. Ameaças físicas e morais e mentais diretamente aos membros da seita, separados de qualquer contato com suas famílias; 
  2. Tortura psicológica, com privação de sono e de alimentos; 
  3. Exigência de entrega de propriedades e 25% da renda de cada membro da seita; 
  4. Interferências de Jones na escolha do casamento e na vida sexual dos casais; 
  5. Isolamento das crianças em relação aos seus pais; 
  6. Campanha constante junto à mídia para dar uma impressão favorável e boa a Jones e ao Templo.
  • Por que a Guiana foi Escolhida para Abrigar Jonestown?
O Templo escolheu mudar-se para Guiana, um país da América do Sul, por causa das políticas socialistas do país, que se deslocavam mais para a esquerda. O ex-membro do Templo Tim Carter declarou que outras razões para a escolha da Guiana era que o Templo via uma posição dominante racista nos EUA e que no país haviam corporações multinacionais.

Carter disse que o Templo concluiu que a Guiana, um país socialista, com predominantemente indígena, e que falava inglês, proporcionaria aos membros negros do Templo um lugar tranquilo para viver. Jones também pensou que a Guiana, com um governo composto por líderes negros, era pequeno e pobre o suficiente para ele para obter facilmente influência e proteção oficial.

E mais, a localização de Jonestown foi vantajosa não só para Jones, mas para o governo da Guiana, que tinha medo de ser invadido pela vizinha Venezuela. Com o acordo, a Venezuela não estaria disposta a montar uma incursão militar na Guiana arriscando matar civis americanos. Bom para ambos os lados o acordo!

O primeiro-ministro guianês Forbes Burnham afirmou que Jones "queria usar cooperativas como base para o estabelecimento do socialismo."
  • Como Era a Vida em Jonestown?
Jonestown foi erguido no meio do nada, na floresta, bem rapidamente. Era um pequeno projeto agrícola, que parecia ter de tudo, escolas, um hospital, oficinas de artesanato e uma cerca de segurança de arame farpado patrulhada por guardas armados para proteger a seita das forças externas que queriam "destruí-los". Havia também um conjunto de casas construídas para os membros da seita Templo do Povo.

Jones era um líder carismático, que dava o que seu povo precisava. Todos eram iguais. Era o sonho socialista dele se realizando. Em troca da vida boa, Jones cobrava lealdade de seus seguidores.

Existiam regras no local, impostas, e puníveis. É  óbvio por Jim Jones, que eram transgressões, e algumas eram:
  1. Tentar fugir de Jonestown;
  2. Falar mal do pastor Jim Jomes;
  3. Sentir saudade da família;
  4. Qualquer coisa que remeta ao capitalismo;
  5. Tem de produzir no campo, senão é preguiçoso;
O soviético Feodor Timofeyev visitou a comunidade em 1978 e disse que era a "primeira comunidade socialista e comunista da Estados Unidos da América, na Guiana e no mundo."

Só que nem todo mundo estava feliz em Jonestown. Relatos de abusos continuavam chegando aos EUA. Familiares de pessoas que viviam Jonestown relatavam que elas não podiam deixar o local e sofriam abusos. Isso acabou chamando a atenção de um congressista de São Francisco, local de onde Jones fugiu chamado Leo Ryan.

Ryan começou a investigam esses relatos e ficou convencido de que deveria visitar o local junto de repórteres e parentes preocupados para ver o que estava realmente ocorrendo escravidão e controle mental em Jonestown.

O Assassinato de Leo Ryan.
Congressista Leo Ryan. Créditos: Wikipédia.

Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas para visitar Jonestown. O próprio Jones foi acusado de manter sob sua custódia John Victor Stoen, filho biológico de Timothy Stoen, que deixara o Templo em 1977. Stoen apelou ao congressista democrata Leo Ryan, para apelar pela custódia do filho junto ao presidente guianense Forbes Burnham. Em novembro de 1978, o Congresso dos Estados Unidos autorizou uma viagem de Leo Ryan para a Guiana (com a assistência de repórteres da NBC, para investigar as acusações de sequestro movidas contra Jones, bem como informações de que os membros da comunidade em Jonestown viviam miseravelmente.

Em 14 de Novembro de 1978, o Ryan viajou para Jonestown, juntamente com uma delegação de dezoito pessoas. Jim Jones fica maluco, e pergunta se existe algum meio de deter a comitiva com o congressista, jornalista e parentes preocupados. Não havia meio, ele não tinha controle sobre eles.

Ryan e sua comitiva foram recebidos calorosamente em Jonestown, em 17 de novembro de 1978, o que gerou um comentário positivo do congressista a respeito das condições de vida na comunidade isolada na floresta. Quando indagavam as pessoas que lá moravam se gostavam, todas respondiam sorridentes que lá era o melhor lugar do mundo, que amavam.

Então um homem entrega um bilhete escondido para um membro da comitiva e diz que quer ir embora. O congressista Leo Ryan lê e indaga Jones, que não acredita. Então outras pessoas começam a pedir para ir embora do local. Porém, no dia seguinte, a deserção de alguns membros da comunidade (que quiseram se reunir ao retorno da comitiva) criou um clima de tensão no local. Jones concordou com a saída, denunciando os desertores como traidores, e à tarde, Ryan foi atingido por um ataque desferido com faca e teve que apressar a retirada de Jonestown.

No dia seguinte, o congressista Ryan foi atacado com uma faca e resolve ir embora imediatamente do local. Eles aceitaram levar todo mundo que quis ir, inclusive Larry Layton, conhecido como "robô de Jones" e partem para o pequeno aeroporto de Port Kaituma.
  • Ataque ao Avião.
Quando o grupo, composto por Ryan, os repórteres e 15 residentes, estava na pista de pouso, entrado nos dois pequenos aviões, foram surpreendidos. Eles foram seguidos secretamente durante o trajeto de 10 quilômetros, e um caminhão de Jones entra no asfalto do aeroporto e começa a atirar com armas automáticas nas pessoas.

O "robô de Jones", Larry Layton, que já estava dentro do avião, saca uma arma e começa a atirar.

Durante 5 minutos o tiroteio continua, resultando na morte de 5 pessoas, incluindo o congressista Leo Ryan, 3 jornalistas e um dissidente.

As impressionante cenas foram gravadas por um repórter que estava no local. Foi a única vez em que um congressista dos Estados Unidos foi assassinado no cumprimento do dever.

O Massacre/Suicídio em Jonestown.

Mais tarde, naquele mesmo dia, os 909 habitantes de Jonestown, incluindo 304 crianças, morreram de envenenamento por cianeto, principalmente em torno pavilhão principal do assentamento. Isto resultou no maior número de civis estadunidenses mortos em um ato deliberado até os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O FBI recuperou mais tarde uma gravação de áudio de 45 minutos do suicídio em andamento.

Na gravação, Jones diz aos membros do Templo que a União Soviética, país com o qual o culto tinha negociado um êxodo em alguns meses, não iria levá-los após os assassinatos do congressista Leo Ryan e de membros da imprensa. A razão dada por Jones para cometer suicídio foi consistente com a sua declaração anterior sobre agências de inteligência que supostamente conspiravam contra o Templo, ao dizer que eles iriam "atirar em alguns dos nossos bebês inocentes" e "torturar nossos filhos, torturar alguns dos nossos membros, torturar nossos idosos".

Jones e vários membros passaram então a argumentar que o grupo deveria cometer um "suicídio revolucionário" ao beber suco de uva com cianeto e sedativos. Quando os membros gritaram, aparentemente, Jones aconselhou: "Parem com essa histeria! Este não é o caminho para as pessoas que são socialistas ou comunistas morrer. Este não é jeito que nós vamos morrer. Devemos morrer com um pouco de dignidade." Jones podia ser ouvido dizendo: "não tenha medo de morrer" e que a morte é "apenas uma passagem para outro plano" e que é "uma amiga". No final da fita, Jones conclui: "Nós não cometemos suicídio; cometemos um ato de suicídio revolucionário para protestar contra as condições de um mundo desumano."

O suicídio em massa tinha sido previamente ensaiado em eventos simulados chamados "Noites Brancas" com alguma regularidade. Durante pelo menos uma dessas "Noites Brancas", membros beberam um líquido que Jones disse-lhes falsamente que era veneno.

Os relatos de sobreviventes falam em um "estado de transe coletivo", mas uma sinistra gravação dos procedimentos, que inclui discursos de Jones, contém gritos de agonia das pessoas envenenadas.

Muitos dos que tentaram fugir foram mortos.

Corpos de habitantes de Jonestown. Créditos: Reuters/BBC
De acordo com membros do Templo que conseguiram escapar, as crianças receberam a bebida primeiro e as famílias foram orientadas a deitarem-se juntas. Segundo Oddel Rhodes, um dos sobreviventes, uma mulher chamada Christine Miller tentou, sem êxito, se opor ao massacre. Além disso, o grupo estava cercado por guardas armados que impediram a fuga de quase todos os que discordaram daquela decisão.

Leslie Mootoo, o primeiro médico que chegou ao local logo após o evento, sustentou a tese de que maioria das mortes foi homicídio e não suicídio, com base no fato de que 83 dos 100 corpos, que ele examinou, tinham perfurações de agulha nas costas de seus ombros, o que indica que o veneno foi injetado contra a vontade das vítimas. Outros sobreviventes, como os advogados Charles Garry e Mark Lane, relataram que ouviram gritos tiros quando estavam escondidos na floresta.

Jones foi encontrado morto em uma cadeira de praia com um tiro na cabeça, ferimento que o legista guianense Cyrill Mootoo declarou ser consistente com uma ferida de bala auto-infligida. No entanto, o filho de Jones Stephan acredita que seu pai pode ter pedido para que alguém atirasse contra ele. Uma autópsia do corpo de Jones também apresentou níveis altos do barbitúrico Pentobarbital que pode ser letal para os seres humanos que não desenvolveram tolerância fisiológica. Jones fazia uso de drogas (como LSD), o que foi confirmado por seu filho, Stephan, e o médico de Jones em São Francisco.

Laura Kohl escreveu um livro para contar experiências. Créditos: BBC
Quando autoridades da Guiana chegaram a Jonestown, o pastor foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em uma posição que sugeriu suicídio. Dos habitantes que estavam em Jonestown naquele dia, apenas 35 sobreviveram. Mas também são considerados sobreviventes pessoas como Laura Johnston Kohl, que naquele dia estava na capital guianesa, Georgetown, comprando mantimentos para a comuna.

"Nós éramos visionários que deixaram para trás os confortos da vida urbana e se mudaram para o meio da floresta para criar um modelo de comunidade para o resto do mundo. Jim Jones era articulado para mascarar as partes dele que eram corruptas ou doentes", explica Kohl, autora de um livro em que relatou suas experiências no culto.

Repercussão.

Os eventos em Jonestown tiveram grande repercussão nos Estados Unidos e no restante do mundo. Larry Layton, autor dos disparos contra Ryan, alegou lavagem cerebral mas acabou sendo condenado e permaneceu preso até 2002. Vários membros da seita, inclusive a própria viúva de Jones, escreveram testamentos deixando seu patrimônio ao Partido Comunista da União Soviética. Jones enviou instruções para que o ativo de 7,3 milhões de dólares fosse levado à URSS através da embaixada soviética na Guiana. No Congresso, a oposição republicana conseguiu endurecer as relações dos Estados Unidos contra a Guiana, acusando o presidente Burnham de corresponsabilidade na tragédia. No entanto, ele permaneceu no poder até sua morte, em 1985.

Antes da tragédia, o Templo já tentara negociar o êxodo da comunidade para a URSS ou outro país do bloco soviético, mas a iniciativa foi recusada por estes países. No início da década de 80, o local onde existia Jonestown foi reocupado por refugiados laocianos. Nos Estados Unidos, o restante da seita se dispersou. O Templo em Los Angeles foi fechado por falta de verbas e os demais locais da seita passaram a ter outras utilidades. Vários ex-membros relataram o medo de serem eliminados por agentes de Jones que sobreviveram. Michael Prokes, designado para transferir o dinheiro ao PCUS, cometeu suicídio em um março de 1979.

Após o caso, várias teorias conspiratórias surgiram. Os familiares não tiveram acesso aos corpos dos seus entes queridos, que foram imediatamente cremados. Há relatos de várias drogas que seriam usadas no acampamento, sugerindo um grande programa de controle mental. Muitos relacionam esse caso com o projeto MK-ULTRA da CIA. Este projeto realmente existiu, mas até hoje nunca foi comprovada qualquer ligação dos fatos.
  • Foi um Experimento MK-ULTRA?
Jim Jones pregava um cristianismo de cunho socialista.
Créditos: BBC.
Para alguns a verdade é que Jim Jones trabalhava para a CIA (Agência Central de Inteligência) em um experimento parte do MK-ULTRA, o programa de experiências da CIA de Controle Mental.

Alguns anos após sua fundação em 1947, a CIA iniciou experiências com técnicas de controle mental. Inicialmente chamado Bluebird e depois renomeado de MK-ULTRA, os objetivos dessas experiências foram descritos sucintamente num memorando de 1952: "Será que podemos controlar um indivíduo até o ponto de que cumpra nossas ordens contra sua vontade e, inclusive, contra as leis fundamentais da natureza, como a autoconservação?". Ele usavam drogas alucinógenas em cidadãos americanos e depois de muitos protestos, em 1973 a CIA declarou ter encerrado o programa. Para muitas pessoas, o programa continuou escondido e Jonestown foi um destes experimentos.

A conspiração diz que Jones, com sua igreja comunista teria chamado a atenção da CIA, e ele acabou virando um membro da CIA. Para provar, dizem que o "comunismo" de Jones muitas vezes contradiziam violentamente seus supostos ideais socialistas.

Eles ainda afirmam que Jones mudou o Templo do Povo de lugar por ordem da CIA, que estava ansiosa em afastar suas experiências de controle mental da visão pública.

Outra coisa interessante é que o congressista Leo Ryan, que foi morto no ataque ao avião, ameaça expor a implicação da CIA em Jonestown, e do projeto MK-ULTRA.

Ryan não era um admirador da CIA. Anteriormente questionara a agência em algumas questões. Ele era menbro do Comitê da Câmara de Representantes responsável pelo controle da Inteligência, era co-autor da emenda Hughes-Ryan, que exibia que a CIA revelasse ao Congresso as operações planejadas. Depois de sua morte, a emenda foi rejeitada.

No livro "60 Greatest Conspiracies of All Time", (As 60 Maiores Conspirações de Todos os Tempos)
de J. Vankin e J, Whalen mencionam que "Jonestown então era um campo de concentração dirigido pela CIA e instalado como uma simulação das tentativas secretas do governo para reprogramar a mentalidade americana."
  • Ideias Religiosas.
As concepções religiosas de Jim Jones não se enquadram na visão ortodoxa da fé cristã. Jones compreendia o Evangelho como uma ação política radical, sem esperança no além, e sua liderança pessoal como um elemento acima de qualquer crítica dentro de sua igreja.

Apesar de ser chamado “Reverendo”, Jim Jones jamais foi ministro ordenado. Uma de suas prováveis influências religiosas foi o pregador M. J. Divine (1876-1965), que também dirigiu um movimento dirigido à comunidade afro-americana, no Harlem em Nova York. Pregações de Divine eram distribuídas aos membros do Templo, e as ideias dele sobre a adoção podem ter influenciado a Rainbow Family de Jones.

Jones era um adepto da cura pela fé, e via a si mesmo como um profeta, capaz de realizar milagres e com o dom da clarividência. Ao lado das reuniões de milagres para um grande número de pessoas (semelhantes as dos pentecostais desta época), Jones mantinha um constante serviço de assistência social aos mais pobres de sua comunidade. Cerca de metade dos integrantes do Templo em Indianápolis era de afro-americanos.

No decorrer de sua pregação mística, Jones afastou-se ainda mais do cristianismo tradicional e tornou aberto o seu “Socialismo apostólico” (conforme o texto de Atos dos Apóstolos 4:34-35, que Jones relacionou ao lema “de cada um conforme o seu trabalho, a cada um conforme a sua necessidade”, constante na Crítica ao Programa de Gotha, de Karl Marx). Jones afirmou ser a encarnação presente de diversos líderes religiosos ou políticos, como Jesus Cristo, Buda, Gandhi e o próprio M. J. Divine.

No final dos anos 60, Jones já descrevia o cristianismo com uma religião fabulosa, e recusava a validade dos seus dogmas. A Bíblia era rejeitada como um manual escrito por brancos para justificar a sujeição das mulheres e a escravidão negra. O Paraíso não podia ser mais encontrado no além-túmulo e sim na existência terrena, através da luta pela igualdade.

Na Cultura Pop.
  • Jim Jones inspirou o humorista brasileiro Chico Anysio a criar o personagem Tim Tones, interpretado pelo próprio no seu programa Chico Anysio Show na Rede Globo.
  • O grupo Titãs cita Jim Jones na canção "Nome aos Bois", do álbum Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987).
  • O grupo estadunidense Concrete Blonde cita "Jonestown" em uma música de mesmo nome do álbum "Mexican Moon" (1993).
  • Os Estados Unidos são berço desses tipos de seitas apocalípticas. Como Jim Jones, lá surgiram figuras carismáticas e loucas como David Koresh, Marshall Applewhite, do Heaven's Gate, e o mais famoso de todos, o assassino psicopata Charles Manson.
  • Em uma sátira ao líder, surgiu o nome da banda americana de rock psicodélico The Brian Jonestown Massacre, unindo o primeiro nome à Brian Jones, primeiro guitarrista dos Rolling Stones, e Jonestown ao incidente ocorrido em 1978. Jim Jones também é citado e músicas como Ballad Of Jim Jones e Arkansas Revisited, assim como Charles Manson.
  • A banda de heavy metal Manowar compôs uma música baseada nos fatos ocorridos na Guiana,o nome da música é Guyana (Cult of the Damned).
  • A banda de heavy metal Francesa "Trust" em "Les sectes" compôs uma música a Jim Jones.
  • Guyana Tragedy: The Story of Jim Jones e Jonestown: Paradise Lost, telefilmes sobre a vida de Jim Jones (páginas no IMDB).
  • A banda estadunidense Deicide, no seu primeiro álbum, compôs a música "Carnage in the Temple of the Damned", sobre os fatos do dia 18 de novembro de 1978.
  • A banda de thrash metal estadunidense Heathen, compôs a música "Hypnotized" que resumidamente fala sobre manipulação em massa, fé cega e traz em sua introdução uma parte de um discurso de Jim Jones.
  • A banda de Thrash Metal estadunidense Lamb of God, compôs a música "Requiem" do álbum "Sacrament" que contem uma parte da gravação em que estão administrando cianeto nas crianças.
  • A cantora Lana del Rey lançou em 2016 o clipe da faixa Freak do CD Honeymoon. O clipe de 11 minutos é totalmente baseado na noite branca. O mesmo apresenta um homem que seria o Jim, representado pelo cantor Father John Misty, e algumas moças, incluindo a cantora estadunidense, bebendo o liquido que supostamente representa o veneno. No final do clipe a cantora aparece junto com Father John mostrando o encontro dos dois no paraíso pós morte.
  • O jogo Outlast 2 possui amplas conexões com a igreja de Jim Jones, como por exemplo suas falas ao microfone em que era transmitido para toda a civilização de fiéis.
Quatro décadas depois da tragédia, Jonestown ainda provoca polêmica na Guiana. O terreno da comuna foi "reconquistado" pela floresta, mas há no país quem queira ver o local explorado como ponto turístico, assim como acontece nos antigos campos de concentração nazistas na Europa, por exemplo. Mas o governo do país tem se recusado a considerar a possibilidade.

Notas: (*) Atemporal

Fontes.

https://www.bbc.com/portuguese/geral-46258859

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jonestown

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jim_Jones

https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_do_Povo

http://www.assombrado.com.br/2015/11/o-massacre-de-jonestown-o-maior.html

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