segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

E.C.B XVII: O Bandido Da Luz Vermelha.

Quando a capital paulista chegou à década de 1960, a nossa Nova York tupiniquim já contava com mais de três milhões de habitantes. Nesse período iniciou-se o processo de perda da qualidade ambiental e dos padrões urbanos, até então razoavelmente mantidos.

A corrida imobiliária para o centro novo, do outro lado do Vale do Anhangabaú, relegou o centro velho a lenta deterioração. A Avenida Paulista e a Avenida Faria Lima surgiam como novos centros urbanos e a instalação do polo industrial automobilístico na região do ABC expandiu o uso do automóvel em São Paulo.

O caráter cosmopolita da quinta maior cidade do mundo, selva de concreto, atrairia, então, um típico selvagem do século 20, um personagem sanguinário, abusivo, bárbaro e arbitrário que, com sua labiríntica sagacidade e talento para fugir à captura, viria a desmoralizar toda a polícia de São Paulo, causando grandes embaraços para o Secretário de Segurança Pública da época.

João Acácio Pereira da Costa, o Bandido da Luz Vermelha: Créditos: Tv Globo.
João Acácio Pereira da Costa, cuja violenta figura ficou eternizada como o Bandido da Luz Vermelha – alcunhado assim em razão de usar uma lanterna com facho de luz vermelha para intimidar suas vítimas – causou pânico na capital paulista na década de 1960 e teve sua trajetória passada a limpo pelo Jornal Notícias Populares, semanário este que contribuiu, inclusive, com a captura do celerado, em agosto de 1967, ao publicar seu retrato falado.

Após sua prisão, o jornal publicou, entre outubro de 1967 e janeiro de 1968, uma série com 57 capítulos sobre as origens do criminoso. Essa série e o fato de que a metrópole paulista já era uma cidade bastante desigual, com uma diferença socioeconômica muito grande, seriam os grandes responsáveis por polarizar a opinião pública brasileira em relação ao criminoso.

Seus crimes dividiam a convicção de grande parcela da população que o repudiava e temia e, outra parte que o considerava “mais um brasileiro atoa na maré da última etapa do capitalismo”. Os locutores radiofônicos o cobririam de adjetivos: monstro mascarado, zorro dos pobres, misterioso tarado, criminal maconheiro.

Parecemo-nos um exercício de imaginação classificar João Acácio dentro das concepções subentendidas quanto aos criminosos de renome. Sua sagacidade para escapar à captura ao longo de 5 anos de intensa atividade o destacou e imprimiu rótulo de figura lendária dentro da história brasileira.

Nascido em 1942, na cidade de São Francisco do Sul – Santa Catarina, João Acácio foi criado por um tio, em Joinville, após a morte precoce de seus pais. Em 1967, em seu julgamento, Acácio relataria uma infância repleta de maus-tratos cometidos pelo tutor, sendo ele e o irmão submetidos a trabalhos forçados e submetidos a tortura física e psicológica.

E dito que o mesmo, quando pré-adolescente, foi estuprado por meninos mais velhos que eram seus rivais. Essas agressões sofridas parecem ter despertado seus piores instintos.

Após fugir da casa do tio, passou a viver nas ruas de Joinville, onde praticava pequenos furtos em lojas de alimentos e de roupas para saciar sua vaidade. Mais tarde, já manjado na cidade, em vez de prisão, receberia conselhos de policiais e tentaria se reabilitar trabalhando em duas tinturarias. Na primeira, um beijo na filha do patrão, flagrado pelo pai, o deixaria sem emprego; na segunda, foi demitido após ser visto usando o terno de um cliente num cinema local.

Com a polícia de Joinville menos tolerante e novamente em seu encalço, mudou-se para Curitiba e de lá, no início dos anos 1960, fixou-se na Baixada Santista, em São Paulo. Começou a arquitetar roubos às residências de luxo, viajando, comumente, à capital. Neste período, Acácio fez do crime a sua profissão, tornando-se um dos bandidos mais temidos de São Paulo, devido à forma impetuosa como agia diante de suas vítimas.

Luz Vermelha promoveria intensa perturbação pública da lei e da ordem, com dezenas de assaltos, acusações de estupros e homicídios, viria a ser considerado o inimigo público número 1 da capital paulista e, após incessante investigação da polícia, foi preso em 07 de agosto de 1967.

Em seu retorno para Curitiba, o Luz Vermelha foi preso no dia  07 de agosto de 1967, após uma incessante investigação policial descobriu que o mesmo adotara o nome de Roberto da Silva. No dia da Prisão o Jornal Notícias Populares havia publicado o retrato falado do dito cujo com uma Longa Legenda:
"Este é o homem que a polícia está caçando. É Roberto da Silva, o Bandido da Luz Vermelha. Sua identificação só foi possível através de levantamentos, comparações e analises de impressões digitais coletadas em diversos locais de assaltos, principalmente mansões das ruas Ágata e Rafael de Barros, na zona sul de SP."
Segundo o NP, havia "um verdadeiro exército de policiais em seu encalço." A prisão do meliante era iminente

Na edição de 8 de agosto, o NP trouxe a seguinte manchete:
"Preso Bandido da Luz Vermelha em Curitiba - Com Malas cheias de Dinheiro"
A reportagem informou com detalhes toda movimentação da polícia paulista até a captura do assaltante no Paraná.


Os episódios de fuga e da prisão foram resumidos nos primeiros parágrafos do noticiário:
"Acuado pelos policiais paulistas, o mascarado conseguiu ludibriar a vigilância de que era alvo, fugindo ao cerco, tomando rumo do sul passando por santos. A polícia paulista certa de que Roberto silva (Nome falso) procuraria se hominizar no Paraná, imediatamente entrou em contato com as autoridades daquele Estado, alertado-as. 
Exercendo severa vigilância em todos os pontos por onde o marginal poderia está no Paraná, os policiais locais conseguiram prender o perigoso Bandido, que já alcançara Curitiba, submetendo-o, então, a cerrados interrogatórios."
No interrogatório, ele confessou 4 crimes:
  1. A primeira teria ocorrido em 3 de outubro de 1966, quando estudante Walter Bedran, de 19 anos, ao tentar surpreender o bandido, que acabara de invadir o quintal de sua residência no Sumaré, foi alvejado com um tiro na cabeça.
  2. Dez dias depois, a vítima foi o operário José Enéas da Costa, 23, morto durante uma briga com o criminoso em um bar no bairro da Bela Vista.
  3. Em 7 de junho de 1967, no Jardim América, o industrial Jean von Christian Szaraspatack, ao reagir a uma tentativa de roubo, foi assassinado numa troca de tiros.
  4. Em 6 de julho de 1967, João Acácio ainda matou o vigia José Fortunato, que tentou impedir sua entrada na mansão em que fazia guarita, no bairro do Ipiranga.
Retrato falado publicado em 15 de
Julho de 1967. Créditos: Folha de
São Paulo.
Nunca ficou comprovado, porém, que Acácio cometeu estupro ou que teve relações sexuais com suas vítimas.

O criminoso que gastara boa parte do dinheiro dos roubos com mulheres e boates da Baixada Santista, agora não passava de um número no sistema prisional brasileiro, condenado em 88 processos, sendo 77 roubos, quatro homicídios e sete tentativas, sua pena foi dosada em 351 anos de detenção. Como a legislação brasileira não permite que alguém fique preso por mais de 30 anos, Luz Vermelha seria solto em 26 de agosto de 1997, após um embate liminar entre o prisioneiro e o Ministério Público.

Luz Vermelha não foi o primeiro a ser chamado assim desta forma. No dia 02 de Maio de 1960, morria na câmara de gás do presídio de San Quentin, na Califórnia (E.U.A), o norte-americano Caryl Whittier Chessman, também chamado de "Red Light Bandit", Assim como o brasileiro, Chessman costumava usar uma lanterna com facho vermelho para intimidar as vítimas.

Antes de se tornar o Luz Vermela, João Acácio já havia recebido outros nomes nas páginas policiais do NP, como Homem Macaco, época que se usava um macaco hidráulico para alargar as grades das casas que pretendia furtar. Outra denominação atribuída ao Bandido foi de o Mascarado.

Cultura pop.
  • Cinema.
  1. Sua vida de crimes inspirou o filme O Bandido da Luz Vermelha de 1968, do cineasta Rogério Sganzerla, em que foi vivido pelo ator Paulo Villaça. Apesar de ser um filme verídico, o final foi alterado para que o seu personagem cometesse suicídio.
  2. "Luz nas trevas - A volta do bandido da luz vermelha", é a sequência do primeiro filme de Rogério Sganzerla e foi um dos selecionados para a competição internacional do 63º Festival de Locarno, na Suíça. O filme tem direção de Ícaro Martins e Helena Ignez, viúva de Rogério Sganzerla, estrelado pelo cantor Ney Matogrosso, tendo sido rodado em 2009 e estreou em 2010.
  • Televisão.
  1. Foi tema do programa Linha Direta Justiça, da Rede Globo.
  2. O bandido foi satirizado pelos humoristas do programa Hermes & Renato, da MTV, onde fez um clipe com "Demo Lock MC" (uma sátira de Satanás).
  • Livros.
  1. Em 2019, sua história foi contada no livro “Famigerado! — A História de Luz Vermelha, o bandido que aterrorizou São Paulo”, de autoria do jornalista e escritor Gonçalo Junior.
  • Música.
  1. Virou música nas mãos do grupo de rock Ira! em Rubro Zorro, que abre o terceiro disco Psicoacústica (1988) e a faixa ainda possui algumas falas do filme O Bandido da Luz Vermelha de 1968, do cineasta Rogério Sganzerla.
  2. O cantor de horrorcore, Patrick Horla, também fez uma citação de sua personalidade como base para a canção "O bandido da lupa vermelha".
Fim.

Após uma passagem rápida pela casa do irmão em Curitiba, o que resultou em desavenças, partiu para Joinville e procurou pelo tio, o mesmo que ele acusou de maus-tratos. Novos conflitos o colocaram na rua para trilhar caminhos que o colocariam em rota de colisão com a fatalidade.

Naquela semana, a pedido do Ministério Público de Santa Catarina, o diretor do Hospital Regional de Joinville havia assinado o atestado de insanidade do ex-presidiário, assim, Luz Vermelha seria conduzido para um hospital em Florianópolis em poucos dias.

Estava morando de favor na casa de um pescador de Joinville, quando foi confrontado por assédios cometidos contra mãe e também contra a esposa do anfitrião. Em 7 de janeiro de 1998, menos de 5 meses depois de ganhar as ruas, João Acácio foi morto, aos 55 anos de idade, pelo pescador Nelson Pisingher com um tiro na cabeça.

Conforme informado à época pelo jornal "Notícias Populares", o algoz do ex-detento alegou ter efetuado o disparo para salvar a vida do irmão, que fora agarrado e ameaçado com uma faca depois de um desentendimento por causa de um suposto assédio sexual cometido por Luz Vermelha contra a mãe e a mulher do algoz.

Em novembro de 2004, Nelson foi absolvido pela Justiça de Joinville, entendendo que o ato foi em legítima defesa.

Fontes.                                                                                                                                            175 de 186

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Ac%C3%A1cio_Pereira_da_Costa

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-coluna-bandido-da-luz-vermelha-inimigo-publico-n-1.phtml

https://www1.folha.uol.com.br/banco-de-dados/2018/01/1839622-ha-20-anos-bandido-da-luz-vermelha-era-assassinado-em-sc.shtml

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