Sinhá Anália contava para as comadres o que estava acontecendo com sua menina e todos diziam que era problema de idade. Inconformada, perguntava à filha o que estava acontecendo, mas a menina era categórica, jurava que nada havia de errado e que comia pouco ou quase nada para não ficar gorda como umas mulheres que vira na cidade certa vez. Não podia ser normal aquilo, Sinhá Anália bem o sabia, ainda mais depois que virou rotina acordar durante a madrugada com os soluços da filha. Como pensasse que era tristeza, conteve ao máximo seu ímpeto de correr ao quarto de Marcelina para saber o que se passava.
Até que não resistiu e surpreendeu a moça soluçando palavras desconexas, como se pedisse para alguém não partir. A garota estava sozinha no quarto! Depois de ser flagrada pela mãe, não restou alternativa a não ser contar a verdade. Foi com perplexidade que a mulher ouviu palavra por palavra, tudo meio sem nexo, sobre a história do dragão que morava na Toca da Sununga. Todo mundo conhecia o caso na região e até mesmo evitava passar por aquelas bandas. Os pescadores nem se atreviam a chegar perto porque as ondas gigantes engoliam canoa, rede, tudo. As pessoas sabiam que o tal monstro existia, mas só Seu Antero tinha visto. Era um bicho horroroso, tinha metade do corpo de dragão e a outra metade era roliça, como uma cobra, e se rastejava no chão.
Pois bem, desde que Seu Antero falou do dragão que vivia na gruta, Marcelina não parou de pensar nele, com um misto de medo e curiosidade. Contou à mãe que de tanto pensar no bicho, ele foi lá ter com ela, entrou no quarto no meio da madrugada. Vendo o assombro de Sinhá Anália, tentou acalmar a mãe, já idosa, dizendo que ele ficou encolhido, tão pequeno, que parecia não fazer mal a ninguém, até que virou um homem. A mulher não podia crer no que estava ouvindo, era loucura da sua filha, teria que chamar um doutor, aquilo de mostro virar homem não era certo, ainda mais dentro de sua própria casa. Depois falou que tinha passado a noite embalada nos braços daquele lindo moço de olhos claros. Mesmo depois de uma noite tão especial, a garota sentiu-se infeliz porque o moço partiu logo ao amanhecer, quando o galo cantou três vezes.
Créditos: Cidade e Cultura. |
Era uma espécie de mago e sabia como fazer isto. Logo o bairro todo estava sabendo da vinda do ancião e na manhã seguinte todos se acotovelavam em frente à Toca da Sununga. Já no local, o pobre monge ergueu os braços e fez o sinal da cruz, acompanhado de todos que estavam lá, fez uma prece ao Senhor e aspergiu sobre a pedra que forma a toca um pouco da água que carregava consigo. Para espanto dos presentes, imediatamente um trovão violento fez estremecer a terra, e o mar se agitou violentamente, avançando sobre a praia, chegando a bater nas rochas. Depois as águas recuaram e o mar abriu-se ao meio, bem em frente à toca, por onde o mostro passou, horripilante, rugindo, para se esconder definitivamente nas profundezas do oceano. Ninguém mais ouviu falar do dragão. Dizem que Marcelina viveu por muito tempo, acanhada e triste, porém bela como sempre fora!
“Hoje, quem se postar no interior da lendária gruta, perceberá cair lá de cima, das ranhuras da pedra, uma sequência de pequeninas gotas que se infiltram na areia branca e fina que alcatifa o chão. Dizem alguns que são remanescentes gotas da água benta aspergida pelo monge, que ainda caem a fim de que o dragão jamais possa voltar. Outros, porém, afirmam que são lágrimas de Marcelina, que lá voltou muitas vezes na esperança de que o dragão, feito moço bonito, ainda voltasse para ficar com ela a noite inteira até os albores da manhã!”
Outras Versões.
- Padre Anchieta e a lenda:
- Uma Moça Chamada Iracema:
Seguiu o “homem” e espantado viu quando ele entrou na gruta e se transformou em um monstro horrível com cabeça de dragão e corpo de serpente. Sem saber o que fazer, ele procurou Frei Bartolomeu que estava na região em homenagem ao centenário do Padre José de Anchieta, o frei e a comunidade vieram até o local, e em um cerimonial, jogaram na entrada da gruta água benta. Esta simpatia acabou expulsando tal monstro da gruta, que se foi para o mar, tornando-o com ondas desordenadas e muitas vezes violentas. Iracema, apaixonada já não seria feliz sem seu amado e adentrou-se à gruta e de lá nunca mais saiu. Segundo a lenda, Iracema vive lá até hoje e chora cada vez que ouve vozes, porque pensa que pode ser seu amado voltando para ficar com ela. Pobre Iracema!”
Muitos visitantes, ainda hoje vêm em busca destas lágrimas, que acreditam estarem misturadas à água benta deixada pelo Frei Bartolomeu, dizem até que estas lágrimas são capazes de realizar sonhos românticos.
Fontes. 169 de 186
https://www.zona33.com.br/2014/09/13-lendas-urbanas-brasileiras.html
https://www.curiosidadesdeubatuba.com.br/gruta-que-chora/
https://www.cidadeecultura.com/gruta-que-chora/
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