quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Enciclopédia dos Mitos e Lendas do Brasil: A Missa dos Mortos.

Senhor, teria um minuto de atenção para ouvir a Palavra
da Salvação?
Estamos em mais uma Quinta-Feira, intercalada com a anterior que falamos da Noiva Cadáver, retornaremos novamente ao pós tumulo para falar de uma Lenda Brasileira relacionada aos Mortos.

Ouro Preto é um município do estado de Minas Gerais, no Brasil. É famoso por sua arquitetura colonial. Fundado em 1711, por meio da fusão de diversos arraiais, fundados por bandeirantes. No município, há treze distritos: Amarantina, Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Santa Rita de Ouro Preto, Santo Antônio do Leite, Santo Antônio do Salto, São Bartolomeu e Rodrigo Silva, além da sede.

Ouro Preto localiza-se em uma das principais áreas do ciclo do ouro. Oficialmente, foram enviadas a Portugal 800 toneladas de ouro no século XVIII, isso sem contar o que circulou de maneira ilegal, nem o que permaneceu na colônia, como por exemplo o ouro empregado na ornamentação das igrejas. O município chegou a ser a cidade mais populosa da América Latina, contando com cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, décadas após, 80 mil. Àquela época, a população de Nova York era de menos da metade desse número de habitantes e a população de São Paulo não ultrapassava 8 mil. A Cidade Histórica foi o primeiro sítio brasileiro considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO, título que recebeu em 1980. Foi considerada patrimônio estadual em 1933 e monumento nacional em 1938.

Ouro Preto também tem seus mitos. Tal mito e uma dos mais tradicionais do Brasil.

Existe um registro muito popular de fatos dessa natureza que aconteceram na Cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, no começo do século XX, por volta de 1900. O caso todo ocorreu numa pequena Igreja que ficava ao lado de um cemitério, e esta era a Igreja de Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, ou Nossa Senhora das Mercês de Cima. Ela foi construída em 1733 e é bem humilde. Nada de pompa, só o básico para que o padre possa pregar aos seus fiéis.

Quem presenciou uma dessas missas foi o zelador e sacristão da Igreja. Ele chamava-se João Leite e era muito popular e querido em toda aquela região. João morava num quartinho dentro da próprio templo e desde sempre foi um cuidadoso conservador. Mantinha tudo em ordem e bem limpo.

O padre só precisava se preocupar com seus afazeres eclesiásticos que o resto ficava por conta de João Leite. O povo dizia que João era mais importante que o padre pois havia sobrevivido a troca de três deles durante a sua estadia.

João era feliz com a vida que levava. Tinha casa, comida, um teto para morar e um dinheirinho pouco, mas suficiente para comprar seus badulaques. Seu trabalho era basicamente de limpeza e organização, pois zelar mesmo como segurança? Não era necessário. O povo da cidade era cuidadoso e nem os adolescentes e crianças mais exaltadas costumavam vandalizar nada. Ladrões? A cidade até tinha, mas não havia nada de valor na igreja que valesse a investida de um meliante.

E assim João seguiu seus dias até aquela noite...

Chovia em Ouro Preto. Era uma daquelas noites frias que a unica coisa que se deseja é uma cama e um cobertor quentinho. E João possuia ambos! Lá estava ele todo enroladinho pensando na grama crescendo quando ouviu um estranho barulho. Seriam passos? Com certeza mais de uma pessoa...Mas tarde da noite assim?

Ladrões! Pensou João. Mas roubar o que? Não havia nada nas Mercês de Cima que valesse tal sacrilégio. E qualquer ladrão, mesmo dos mais imbecis, saberia disso.

Foi quando juntou toda sua coragem a muito tempo adormecida e lentamente se dirigiu ao local do barulho misterioso. Então João Leite começou a perceber que aquele era um som conhecido. Um murmúrio suave, sincronizado e repetitivo.

Cada passo que se aproximava a coisa ficava mais clara. Era uma missa sendo rezada. Mas uma missa? Uma hora daquelas? João chega ao templo pela porta atrás da sacristia e confirma o que seus ouvidos medrosos já haviam identificado.

Toda a Igreja estava iluminada por velas e estava repleta de fiéis em seus bancos. A fraca luminosidade não permitia uma visualização perfeita, mas dava pra perceber que muitos deles estavam trajados com umas espécies de capas escuras que cobriam o rosto. Capas de chuva, talvez? Algumas freiras no meio...Todos em genuflexão com a cabeça baixa.

A princípio só estranhou o fato de que todo mundo estava vestindo roupas escuras e permaneciam de cabeças baixas. No mais, tudo parecia caminhar para uma cerimônia religiosa tradicional. Cheiro de incenso no ar, altar arrumado, e um silêncio sepulcral. Achou também estranho uma missa naquela hora, e sem que ele nada soubesse. Era de fato uma coisa atípica. E os cabelos dos seus braços já ficaram arrepiados e um frio esquisito percorreu seu corpo inteiro.

João estava atrás do padre e percebeu que não o conhecia. Ele tinha uma cabeça calva e bem branca... Branca até demais para um brasileiro. Não conhecia ninguém do clero nessa cidade ou nas imediações que tivesse tal perfil.

Foi quando chegou o momento. O instante em que o coração de João Leite gelou de tal forma que era capaz de congelar o próprio inferno (Segundo o Budismo existem Infernos Frios, mais isso fica para uma outra Postagem).

Quando o tal padre virou-se de frente para dizer o Dominus Vobiscum (Dominus vobiscum é uma frase em latim que significa "O Senhor esteja convosco"), João percebeu que não era uma pessoa qualquer. Na verdade nem era uma pessoa.

Frente a seus lacrimejantes olhos incrédulos João ficou cara a cara com a face da morte. No lugar de um rosto, uma caveira fulmina João com o vazio de suas órbitas e sorri. Ou pelo menos parecia que sorria já que não havia carne para demonstrar expressão.

Viu que também os coroinhas eram esqueletos vestidos com aquelas roupas que mais pareciam mortalhas.

Apavorado João ainda percorre com os olhos toda a igreja e percebe que cada um dos participantes daquela cena maldita, agora devidamente em pé e voltados para ele, também eram seres esqueléticos.

Depois de alguns segundos, que mais pareceram horas, João reune a pouca força que lhe resta e e corre de forma descerebrada para o único lugar onde, caso são, não iria. A porta lateral que levava ao cemitério do adro.

Lá chegando percebeu que todas as covas estavam remexidas, lápides caídas e o pequeno portão, que estava trancado desde que o lugar foi fechado em definitivo para funerais, estava escancarado.

A chuva lá fora, já em clima de tempestade, jogava seus raios iluminando o cenário macabro. Novamente as pernas de João para nada serviam e ficaram paralizadas.

Eis que ele sente que não está  mais sozinho naquele lugar de fuga. O frio da sua espinha deixa claro que tem alguém, ou alguma coisa, atrás dele. Um sussurro fraco e pútrido chega aos seus ouvidos e pronuncia algumas palavras. Então seu ombro é tocado suavemente e pelo canto dos olhos João vê aqueles dedos ósseos pousados no seu corpo no exato momento que um raio corta os céus, atingindo a árvore seca no meio do cemitério, e um trovão ribomba no firmamento.

Foi o suficiente para a mente frágil do zelador apagar de vez.

No dia seguinte João acorda num leito de hospital. O padre, (o de carne e osso), estava ao seu lado e contou que o encontrou caído na frente do portão do cemitério.

João balbucia alguma coisa e quando finalmente consegue coordenar suas palavras ele pergunta sobre as covas abertas e os esqueletos ambulantes.

O padre não entende o que João quer dizer e explica que não havia nada diferente na igreja. O portão continuava fechado da mesma forma que sempre esteve durante anos. As covas estavam no lugar e o templo limpo e preparado para qualquer celebração. Só a pobre árvore seca que estava partida em duas por causa de um raio.

João conta então toda a história aos ouvidos atentos do santo homem que percebe claramente o que aconteceu. Foi apenas um sonho e nada mais.

O padre sabia que João era sonâmbulo. Sempre foi desde que o conheceu. Era comum encontrá lo dormindo nos bancos da igreja e até no altar, usando a almofada da genuflexão como travesseiro.

Durante seu sonambulismo, João se dirigiu ao portão do cemitério e tocou na grade quando o raio alcançou a árvore. Os médicos acreditam que ele foi atingido por um choque elétrico e nesse momento apagou.

O resto? Foi coisa da sua cabeça.

Depois de liberado, João voltou ao local da sua tétrica experiência e comprovou o que o padre disse. Tudo estava em seu lugar. Nem um sinal do terror da noite em questão.

Mas ainda havia algo na história. As palavras sussurradas pela alma penada no seu ouvido. Uma coisa tão tenebrosa que ele nunca confidenciou a ninguém, nem mesmo ao padre.

Palavras essas que João levou para o túmulo, pois dez dias depois ele foi achado morto. Seu corpo jazia no altar, de costas para baixo e com as mãos cruzadas, prontinho para ir para o caixão.

A causa da morte não foi confirmada pelos médicos. A suspeita é que o efeito do raio no organismo do zelador não foi tão inocente quanto eles imaginavam.

A história acabou rodando a cidade. Sabe como é. O padre até podia guardar segredo, mas João não pediu sigilo mesmo!

Uma coisa foi boa. A paróquia nunca teve tanta freqüência como nos dias seguintes à morte de João. Apesar de ser pelos motivos errados, pois poucos estavam interessados em ouvir a palavra divina e sim conhecer o palco da saga de João Leite.

Já durante à noite as pessoas passavam pela frente de forma apressada e depois da última missa não havia quem ficasse por perto.

Muitos anos se passaram até que a igreja tivesse um novo zelador. Só quando a história já esfriara bastante e poucos comentavam como se fosse verdade.

Então assim ficou. Os céticos acreditam que foi só um pesadelo e uma triste coincidência. Outros levam mais a sério a história e especulam que o sussurro no ouvido foi um convite...Um convite a se juntar a Missa dos Mortos.

E assim a lenda rola pelos anos e como todos os contos, cada um conta de uma forma. Outra versão diz que João retornou para a casa sem saber o que pensar, completamente desorientado. Do seu quarto, ficou ouvindo aquela missa do outro mundo até o fim.

Informações Complementares sobre o Mito da Missa dos Mortos

Nomes comuns: Missa das Almas, Missa das Almas Penadas.

Origem Provável: É sem dúvida originária da Europa. Em Portugal e Espanha, por volta da Idade Média, já se conheciam lendas com estas. Os romanos antigos acreditavam que os fantasmas dos parentes mortos se reuniam de tempos em tempos. Assim, eles, como também os Mouros espanhóis, celebravam a Festa dos Mortos. O objetivo era espantar os fantasmas errantes dos antepassados. Em Portugal é conhecida como "A Missa das Almas", e na Espanha como "La Misa de las Animas".

No caso brasileiro, é uma lenda muito comum em todo interior do país, embora seja citada como primeiramente relatada em Ouro Preto, Minas Gerais, na Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima.

Também em Minas Gerais, na cidade de São João Del Rei, na Matriz de N. S. do Pilar, existe um relato semelhante. Nesse caso, aconteceu com uma viúva, moradora do lugar. Ela teria assistido a uma dessas missas e perdeu a noção do tempo. Quando o sino bateu doze vezes, à meia-noite, tudo desapareceu ficando ela sozinha completamente desorientada, e imaginando se tudo aquilo não passara de um sonho, daqueles que parecem a mais pura realidade.

De acordo com a crença de alguns, a pessoa que presencia uma dessas missas, ou está perto de morrer, ou seria um aviso de que vai morrer alguém conhecido dela. Já outros afirmam que é um sinal de longevidade e prosperidade.

Fontes.

https://www.sitededicas.com.br/folclore-a-missa-dos-mortos.htm

https://www.portalsaofrancisco.com.br/folclore/missa-dos-mortos

http://www.noitesinistra.com/2014/07/a-missa-dos-mortos-lenda-de-ouro-preto.html

https://www.mitoselendas.com.br/2017/06/a-missa-dos-mortos.html

http://casossobrenaturais.blogspot.com/2009/11/missa-dos-mortos-em-ouro-preto.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ouro_Preto

https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Nossa_Senhora_das_Merc%C3%AAs_e_Miseric%C3%B3rdia

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