A descoberta de que um casal mantinha seus 13 filhos em cativeiro, sem que seus vizinhos ou familiares mais próximos suspeitassem, deixou americanos estupefatos, e a polícia ainda busca respostas sobre o caso.
Estranho caso ocorreu em uma rua sem saída de um bairro novo de classe média no subúrbio de Perris, cidade localizada no estado americano da Califórnia, no condado de Riverside a 120 quilômetros a leste de Los Angeles.
Quem desse uma olhada no perfil conjunto do casal David Allen Turpin, de 57 anos, e Louise Anna Turpin, de 49, no Facebook dificilmente suspeitaria, mas as cenas que se passavam na casa onde viviam na Califórnia estavam bem distantes dessa realidade. Para ser ter uma ideia alguns moradores das redondezas, ou até próximos a Família Turpin sequer sabiam que o casal tinha filhos, apesar de várias fotos postadas nas redes sociais, e muito menos que eles estavam subnutridos e eram prisioneiros.
15 de Janeiro, uma segunda-feira como outra qualquer, quase um ano e seis meses após a última foto ser postada, a polícia diz ter descoberto que os 13 filhos do casal, com idades entre dois e 29 anos, eram mantidos em cativeiro pelos próprios pais - alguns deles foram encontrados acorrentados às camas. Após serem detidos, na noite de domingo, os dois foram acusados de nove crimes — entre eles tortura e ameaça a crianças — com uma fiança fixada em US$ 9 milhões para cada um.
Segundo a polícia, os irmãos só foram libertados porque um deles - uma adolescente de 17 anos - conseguiu fugir no último domingo e ligar para a emergência.
De acordo com um comunicado da polícia, a garota aparentava ter apenas dez anos, e estar fraca. Ela usou um celular que encontrou dentro da casa para denunciar que seus pais mantinham os filhos como prisioneiros.
Ao chegar ao local, os policiais encontraram várias crianças presas às camas com correntes e cadeados. Os ambientes em que estavam foram descritos como escuros, e exalando um cheiro extremamente desagradável.
Os agentes se disseram "chocados" com a descoberta. A princípio, a polícia pensou que se tratava de 13 menores, mas constatou que havia sete adultos, com idades entre 18 e 29 anos. "As vítimas aparentavam estar malnutridas, e muito sujas", disse a polícia. Todas estão sendo tratadas em hospitais locais. 6 das 13 vítimas eram menores, e a mais nova tinha apenas 2 anos.
Em entrevista coletiva, o xerife do condado de Riverside, Greg Fellows, revelou que o casal não pôde dar nenhum motivo para a situação de cativeiro dos filhos e que a mãe dos jovens não compreendeu a chegada da polícia, na noite de domingo. Ele confirmou que todos os 13 irmãos são filhos biológicos do casal.
"Nos pareceu que a mãe estava perplexa com o motivo de estarmos em sua casa" afirmou.
Se não fosse pela fuga de uma das filhas, de 17 anos, os irmãos ainda estariam presos. A adolescente que “parecia ter apenas 10 anos”, segundo o xerife, fugiu pela janela e usou um celular desativado para pedir ajuda (aparelhos assim ainda podem fazer ligações de emergência), revelando que ela e seus irmãos “estavam sendo mantidos em cativeiro dentro de casa por seus pais”.
As crianças estão hospitalizadas. Mark Uffer, diretor do hospital de Corona, disse à imprensa na terça-feira que os sete adultos estão em sua instituição. “É difícil vê-los como adultos. São pequenos, sua desnutrição é evidente”. Uffer afirmou que os médicos estão “espantados” com a situação. Descreveu as vítimas como “simpáticas e cooperativas” com os médicos. “Espero que a vida seja boa para elas no futuro.
Sophia Grant, diretora do programa de maus tratos infantis do Hospital Universitário de Riverside, afirmou que depois que se estabilizarem no aspecto nutricional, as crianças ainda vão precisar de muita assistência psicológica “por muito tempo”. “Essas crianças vão precisar de muito apoio. Isso não é algo que se resolva em poucas sessões. (A recuperação) vai ser em muito longo prazo e vão precisar do apoio de muita gente em sua vida”.
Uma Família (In)Comum.
Vizinhos e familiares disseram não ter suspeitado de nada.
Na vizinhança, não havia qualquer desconfiança do horror que se passava dentro da casa aparentemente normal, típica de um subúrbio americano, apesar de alguns sinais que poderiam levantar suspeitas: as cortinas estavam constantemente fechadas, os quatro carros na garagem raramente saíam dali, e as crianças não eram vistas na rua. A família do casal, por sua vez, não tinha nenhum contato com os filhos, que têm entre 2 e 29 anos, e era proibida de visitá-los. Segundo uma das irmãs de Louise Anna, seus pais tentaram vê-los várias vezes e chegaram a viajar para a cidade, mas o casal não dava seu endereço e impedia o encontro. Ela disse que não via os Turpin há 19 anos, mas que, apesar do pouco contato, ela vive em Bristol, Tennessee, sabia que algo não estava “certo” na maneira como a irmã criava os filhos. Eles não permitiriam que ninguém visse os filhos, e nós não sabíamos seu endereço. Falávamos no telefone de vez em quando, mas toda vez que eu pedia para conversar com seus filhos, ela não deixava, afirmou Elizabeth Jane Flores à “DailyMailTV”.
Como O Casal Escondeu Esse Segredo?
Olhando o caso de fora você se pergunta, como esse casal conseguiu esse feito, esconder 13 seres humanos dentro de uma casa. É impossível.
O repórter James Cook, da BBC, descreveu a situação nos arredores da casa de número 160 da via Muir Woods.
"Na vizinhança, não havia qualquer pista do horror que se passava ali dentro", diz ele.
Há três carros e uma van na entrada da garagem. As cortinas estão fechadas, mas é possível ver uma estrela de Natal decorativa pendurada em uma janela. Também é possível observar que a propriedade é limpa. As casas ali são espaçosas, mas bastante próximas umas das outras. "É difícil imaginar como uma família poderia esconder um segredo obscuro e de tal magnitude lá dentro", diz Cook. "Mas isso foi exatamente o que parece ter ocorrido."
Os vizinhos estão agora se veem em meio a um exame de consciência - discutem se deveriam ter percebido que havia algo errado. Ninguém parece saber por quanto tempo os irmãos podem ter sido mantidos prisioneiros e, por ora, ter a resposta para a pergunta mais difícil de todas: por quê?
Família Turpin reunida, nota-se que os filhos tinham roupas exclusivas das quais eram numeradas. |
O Que Se Sabe Sobre A Família?
De acordo com registros públicos, o casal viveu no Texas por muitos anos antes de se mudar para a Califórnia. O casal viveu no Texas por muitos anos antes de se mudar para a Califórnia. Na última vez que viu seus pais pessoalmente, David trabalhava como engenheiro da empresa Northrop Grumman, e ganhava US$ 140 mil por ano — sua mulher era dona de casa.
Mas, com tantos filhos e a mulher sem trabalhar fora, tais registros indicam que as despesas superavam seus rendimentos.
David Allen Turpin foi declarado falido duas vezes. Na segunda, em 2011, com dívidas entre US$ 100 mil e US$ 500 mil, segundo documentos a que o “New York Times” teve acesso, conta-se que ele tinha um emprego relativamente bem remunerado como engenheiro da empresa de aeronáutica e tecnologia de defesa Northrop Grumman. Seu advogado, Ivan Trahan, também revelou ao jornal que nunca conheceu as crianças, mas que os dois falavam muito delas. "Eles comentavam sempre de como gostavam de ir à Disneylândia. Eu me lembro deles como um casal agradável. É chocante" afirmou.
Também suspeita-se que as crianças não iam oficialmente à escola.
No site do Departamento de Educação da Califórnia,
David aparece registrado no Diretório Escolar da Califórnia como diretor do colégio particular Sandcastle Day School, inaugurado em março de 2011, cujo endereço é o mesmo da casa da família.
A escola, que abriu em março de 2011, de acordo com o site, e há seis estudantes matriculados lá, todos em diferentes séries. Na Califórnia, as escolas privadas operam fora da jurisdição do Departamento de Educação.
A Califórnia é um dos 15 estados que exigem que os pais apenas se inscrevam com as autoridades educacionais, de acordo com a coalizão de educação em casa, que tem pressionado por uma maior supervisão. Outros incluem Nevada, Novo México e Wisconsin.
Os alunos e seus pais ou responsáveis legais são diretamente encarregadas por essas escolas, e o Estado não tem autoridade para monitorá-las ou avaliá-las.
Créditos: O Globo. |
Professores também não precisam ter uma qualificação validada pelo Estado para atuar nelas. Apesar disso, a Sandcastle Day School figura nos registros públicos como uma escola "não religiosa".
Os pais de David Turpin , James e Betty, que vivem na Virgínia Ocidental, dizem que seus netos eram educados em casa. Os avós asseguraram que os netos recebiam uma "educação escolar muito rigorosa em casa", e que tinham que memorizar longas passagens da Bíblia.
Os avós afirmaram que acharam os netos "magros" quando visitaram a família pela última vez, mas que aparentavam fazer parte de uma "família feliz".
Mas disseram também que não viam a família havia quatro ou cinco anos, embora falassem com eles por telefone.
O casal assegurou que os Turpin eram vistos pela comunidade como uma "boa família cristã", e que "Deus os convocou" para ter tantos filhos.
Reações dos Vizinhos.
Vizinhos contaram que a família raramente saía de casa e que os filhos, quando apareciam, estavam sempre acompanhados pelos pais.
No entanto, um dos vizinhos da casa dos Turpin disse à agência de notícias Reuters que a família "A família Turpin era do tipo que você realmente não conseguiria saber nada a respeito".
Kimberly Milligan, de 50 anos, que mora do outro lado da rua, disse ao jornal Los Angeles Times que eles eram estranhos - e que se perguntava por que as crianças nunca saíam para brincar.
"Olhando em retrospecto, jamais imaginaríamos algo assim, mas havia sinais de alerta. Não há como você nunca ver ou ouvir nove crianças", disse Kimberly Milligan. "Eu achava que as crianças eram educadas em casa", disse ela. "Você sabe que algo está errado, mas não quer pensar mal de pessoas."
Essa vizinha lembrou que, em uma ocasião, cumprimentou algumas da crianças enquanto elas colocavam decorações de Natal nos arredores da casa.
Ao vê-la, contou, os irmãos permaneceram imóveis, "como se quisessem ficar invisíveis".
Andrew Santillan, que também vive na vizinhança, disse à rede CBS que nem sabia que havia crianças e adolescentes na casa.
Nicole Gooding, que vive no bairro há três anos, disse à Reuters que viu a família a primeira vez dois meses trás, quando mãe e filhos estavam limpando o jardim.
Mas a família parecia feliz em fotos antigas de férias. Pelo menos até julho de 2016, quando grande parte das atividades dos Turpin era postada no Facebook: de viagens à praia, passando pela Disney, onde todos os filhos aparecem vestindo camisetas idênticas, com numerações de 1 a 13. As últimas imagens publicadas mostraram o clã reunido em Las Vegas, ao lado de um cover de Elvis Presley, numa cerimônia de revalidação dos votos de casamento de David e Louise Anna. Não ficou claro desde quando os 13 filhos dos Turpin eram mantidos em cativeiro.
Outros Casos.
O Caso Turpin eclode 2 meses após outro caso que noticiado. Em 09 Novembro de 2017, Uma romena de 29 anos foi encontrada pela polícia trancada a chave em um porão, sem água, luz elétrica ou sistema de esgoto, em Gizzeria, na Calábria. Ela estava com a filha de três anos. Ela permeneceu cativa durante 10 anos por Aloisio Francesco Rosario Giordano, de 52 anos. o caso apenas foi descoberto pois o mesmo foi parado por dirigir em alta velocidade, que além das péssimas condições do automóvel, os policiais notaram uma criança dormindo no banco traseiro. A grande diferença de idade entre o homem e o menino de nove anos, que ele disse ser seu filho, o comportamento reticente e as respostas evasivas que fornecia suscitaram a suspeita dos agentes.
Na Áustria, Elisabeth Fritzl foi sequestrada e estuprada por 24 anos, de 1984 a 2008, pelo seu pai, Josef, no porão da casa da família em Amstetten. O caso veio à tona em 2008, com a internação de um dos sete filhos desse relacionamento incestuoso. Josef Fritzl foi condenado à prisão perpétua e colocado em prisão psiquiátrica.
Na Bélgica, o pedófilo Marc Dutroux, preso em 13 de agosto de 1996, foi considerado culpado de sequestrar e de estuprar seis meninas e adolescentes. Ele assassinou quatro delas, enquanto duas permaneceram por vários meses em um esconderijo em uma de suas casas. Foi condenado à prisão perpétua.
Nos Estados Unidos, Ariel Castro sequestrou e estuprou por três anos três garotas em sua casa em Cleveland, Ohio. Ele foi preso em maio de 2013, depois que uma de suas vítimas fugiu. Sentenciado à prisão perpétua, enforcou-se em sua cela.
Na Áustria, em 23 de agosto de 2006, Natascha Kampusch, de 18, é encontrada, vagando pelas ruas de Viena, depois de escapar do esconderijo subterrâneo, onde foi mantida em cativeiro por oito anos por um desequilibrado, Wolfgang Priklopilson, que cometeu suicídio. A jovem foi sequestrada aos dez anos de idade, em 1998, a caminho da escola.
Krzysztof Bartoszuk manteve sua filha, Alicja, em cativeiro por seis anos, tendo a estuprado várias vezes. Alicja teve dois filhos com o pai. Em 2010, ele condenado pela Justiça polonesa a dez anos de prisão.
Em agosto de 2009, Jaycee Dugard, de 29, é encontrada "em boa saúde" em San Francisco, depois de ter sido sequestrada por um casal 18 anos antes e de ter tido dois filhos em cativeiro com seu sequestrador. Ela foi sequestrada aos 11 anos de idade, quando esperava o ônibus. Phillip e Nancy Garrido foram condenados à prisão perpétua.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Perris
http://www.cityofperris.org/
http://ktla.com/2018/01/17/perris-torture-case-raises-questions-about-home-school-regulation-since-father-ran-one-at-home/
http://beta.latimes.com/local/lanow/la-me-perris-house-children-20180117-story.html
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2018/01/17/o-que-se-sabe-sobre-os-turpin-a-familia-feliz-que-manteve-os-13-filhos-presos-nos-eua.htm
https://oglobo.globo.com/mundo/como-um-casal-manteve-13-filhos-em-cativeiro-sem-gerar-suspeitas-nos-eua-22294883
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-42702602
http://www.bbc.com/portuguese/internacional-42713243
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/17/internacional/1516145671_764577.html
http://www.bbc.com/portuguese/geral-42179373
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