domingo, 15 de julho de 2018

O Mundial de 1950 e o Maracanaço.

Cartaz promocional da Copa de 1950
Créditos: Wikipédia.
Qual destas derrotas e menos impactante? 2X1 do Uruguai na Final de uma copa do Mundo, ou 7X1 da Alemanha nas semifinais?

A Copa Acabou Hoje e a repercussão da vitória da Seleção Francesa vai repercutir pelo Planeta Bola (Alguns acham que a mesma é Plana) até a copa do Mundo de 2022 no Qatar.

Eu falei do 7X1 na semana passada, agora e hora de falar de um outro fantasma, que se tornou reduzindo em 5 vezes diante do fantasma alemão. Iremos falar do Mundial de 1950.

Iremos retornar nos tempos em que se amarravam Cachorros com Linguiça, 1950, a exatos 68 anos atrás acontecia a final da 4° Edição da Copa do Mundo FIFA.

Essa Final foi um dos principais fantasmas que perseguiu até então a Seleção Brasileira de Futebol, que perdeu a copa em casa, mas se tornou pequeno diante do Bicho-Papão Alemão das semifinais.

Uma coisa a Seleção de 1950 pode ser orgulhar de seus sucessores: Não tomaram 7 gols, não foram filmados por todo o mundo. Eles se tornaram Vice-Campeões.

Uma partida de Futebol e apenas uma Partida de Futebol? Vai depender, existe toda uma mística envolvida nisto. Alguns jogos se tornam grandiosos e lendários devido aos fatores envolvidos, Alguns que podemos tomar como exemplo recente seria o Milagre/Desastre da Arena Kazan, da Alemanha brigado por um 2° Lugar, e a Coreia do Sul, por um Milagre para entrar nas 8° de Final. Temos diversos exemplos de jogos da vida

Outros se tornam mitológicos devido aos fatores envolvidos. E tese o eterno 7X1 da Alemanha nunca vai ser esquecido, mesmo que se passem mais 68 anos este 7 a 1 vai ecoar para as gerações futuras que perguntarão para seus pais e avôs como essa hecatombe futebolística aconteceu com a até então Seleção Pentacampeã do mundo.

Até essas gerações futuras a derrota da Seleção Brasileira, em outra outra Copa do Mundo no Brasil, em 1950 (Será que até 2078 o Brasil organizara outro Mundial e se sagrara vencedor?). Em 2014 a Seleção Brasileira foi massacrada pela Seleção Alemã nas semifinais, o que torna a derrota de 68 anos antes apenas uma derrota normal, mesmo sendo impactante para a época, sendo a final do Mundial.

O Brasil de 1950 nunca havia vencido uma Copa do Mundo. Aquela foi apenas a nossa primeira final, contra um Uruguai calejado. O povo estava animado para receber a primeira competição do pós-guerra, após anos de paralisação. A última copa foi realizada no ano de 1938, e depois disto veio a 2° Guerra Mundial (1939 - 1946), A equipe brasileira tinha jogadores que se tornaram verdadeiros mitos em seus clubes, e são cultuados em estátuas e bandeiras.

Caso a Guerra não acontecesse, os próximos Mundiais seria em 1942 e 1946. Mas aconteceu. No entanto, pouca gente sabe que, o Brasil já estava certo para sediar a competição em 1942. Em teoria caso não ocorresse a 2° Guerra, a Alemanha de Hitler poderia sediar o Mundial de 1946, sendo boicotado por países aliados. São especulações, agora vamos aos fatos reais.

Participantes da Copa do Mundo de 1950. Créditos:Wikipedia.
Copa do Mundo de 1950.

A Copa do Mundo FIFA de 1950 foi a quarta edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol. Ocorreu de 24 de junho a 16 de julho. Foi sediado no Brasil, tendo partidas realizadas nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

Os estádios já estavam prontos na época, devido à paixão dos brasileiros por futebol. O Brasil foi escolhido por unanimidade como anfitrião na época, sendo um sucesso no sentido de infraestrutura a instalações e exemplo para o mundo.

Muitos atribuem essa situação a Getúlio Vargas e sua administração, que incentivava o esporte como extensão da educação, e a sua capacidade de gerir a coisa pública. Contudo, deve-se destacar que o Brasil viu, em 1947, a FIFA adiar a competição em um ano para que as seleções da Europa pudessem se reestruturar. A 2° Guerra Mundial arrasou o continente e deixou o mundo sem Copas desde 1938. Foi, inclusive, por causa dos efeitos do conflito que a entidade decidiu levar o Mundial para a América do Sul, e o Brasil, como candidato único, foi o eleito.

A CBF, antiga CBD, não colocou empecilhos na decisão da FIFA de adiar em um ano a competição. E, mesmo com 12 meses a mais para entregar os estádios, o Brasil conseguiu se complicar (Não me diga!). Não havia exigências com transporte, aeroportos, hospitais ou outros itens de infraestrutura. O único pedido era estádios “padrão FIFA”. O caderno de encargos da entidade não tinha 420 páginas como hoje. A Fifa só pedia arquibancadas para no mínimo 20 mil torcedores, alambrados, cabines para a imprensa e autoridades e túneis interligando os vestiários ao gramado.

A Presidência da República chegou a formar a “Comissão de Estádios”, mas, mesmo assim, nenhum ficou pronto com antecedência – nem o Pacaembu, inaugurado em 1940, considerado moderno à época e que havia passado por uma ampla reforma.

Em março de 1950, por exemplo, foi feito o calçamento no entorno do estádio para acabar com a lama que se formava nos dias de chuva, reformado o sistema de drenagem do gramado, foram abertos dois novos portões para facilitar a entrada e a saída do público e construído um ambulatório médico. Em 1º de junho de 1950, 23 dias antes da abertura da Copa, no entanto, vistoria feita pelo presidente da Federação Italiana de Futebol e delegado da Fifa, Ottorino Barassi, constatou que o tamanho do gramado não era adequado, assim como a área da imprensa.

Dezesseis seleções nacionais foram qualificadas para participar desta edição do campeonato, sendo 8 delas europeias (Itália (Bicampeã), Suécia, Suíça, Espanha, Iugoslávia, Inglaterra, Escócia e Turquia), 7 americanas (Brasil, Uruguai (Campeã), Chile, Paraguai, Bolívia, Estados Unidos e México) e 1 asiática (Índia).

A seleção da Inglaterra fazia a sua primeira participação na competição. A edição teve três grandes goleadas: Uruguai 8X0 Bolívia, Brasil 7X1 Suécia e Brasil 6X1 Espanha. Os destaques dessa Copa foram: Roque Máspoli, Obdulio Varela, Alcides Ghiggia e Juan Schiaffino do Uruguai e Ademir de Menezes, Zizinho, Jair da Rosa Pinto e José Carlos Bauer do Brasil.

Cenário.

Por causa da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo não vinha sendo disputada desde 1938; as Copas do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas. Após a guerra, a Federação Internacional de Futebol desejava ressuscitar a competição assim que possível, e começaram a planejar a próxima copa. No pós-guerra, a maior parte do continente europeu estava em ruínas. Como resultado, a Federação Internacional de Futebol teve algumas dificuldades em encontrar algum país interessado em sediar o evento, uma vez que muitos governos acreditavam que o cenário mundial não favorecia uma celebração esportiva e também que era mais importante que os recursos que seriam investidos na Copa do Mundo não fossem extraídos de outras fontes mais urgentes.

Por algum tempo, a Copa do Mundo esteve em risco de não ser realizada por causa de uma falta de interesse da comunidade internacional, até que o Brasil apresentou uma proposta ao Congresso da Federação Internacional de Futebol de 1946, se oferecendo para sediar o evento, contanto que o torneio fosse realizado em 1950 (estava originalmente planejado para 1949). Brasil e Alemanha haviam sido os principais candidatos à cancelada Copa do Mundo de 1942; uma vez que tanto os torneios de 1934 e 1938 haviam sido sediados na Europa, historiadores do futebol geralmente concordam que o evento de 1942 provavelmente seria sediado por um país sul-americano. A nova proposta brasileira era muito semelhante à de 1942 e foi rapidamente aceita.

Eliminatórias.

Selo da Copa de 1950 Cr 0,60.
Créditos Wikipédia.
Tendo escolhido uma sede segura para o torneio, a Federação Internacional de Futebol ainda dedicaria algum tempo para convencer os países a mandar suas seleções nacionais para competir. A Itália era de um interesse particular para a entidade: os italianos eram os defensores do título (haviam sido os vencedores em 1938), mas o país estava se reconstruindo após o final da Segunda Guerra e havia pouco interesse por parte dos italianos de se inscreverem. A Azzurra foi finalmente convencida a participar, porém há rumores que a Federação Internacional de Futebol teve que custear as viagens para que a seleção italiana pudesse viajar até o Brasil.

Enquanto Itália e Áustria, duas equipes bem-sucedidas no pré-guerra, não estavam sujeitas a sanções internacionais, o Japão, ainda sob ocupação, e a ocupada e dividida Alemanha ainda não tinham permissão para competir. A região do Sarre, ocupada pelos franceses, foi aceita pela Federação Internacional de Futebol duas semanas antes da Copa do Mundo, vários meses antes que a federação de futebol da Alemanha Ocidental fosse reinstalada. A Alemanha Oriental ainda demoraria mais para fundar sua associação.

As nações britânicas puderam competir, tendo se reunido à Federação Internacional de Futebol quatro anos antes, após 17 anos de autoexílio. Foi decidido que o British Home Championship de 1949-50 serviria de eliminatória, com o campeão e vice se classificando. A Inglaterra terminou em primeiro e a Escócia em segundo, mas os escoceses optaram por não participar da copa. Só o fariam se tivessem conquistado o primeiro posto.

Dois outros times, Turquia e Índia, também desistiram após se classificarem. A Índia não foi por uma série de fatores: impossibilidade de arcar com as despesas da viagem, problemas na seleção do time (que levaram à falta de tempo para preparação) e a decisão da federação de priorizar as Olimpíadas, além da proibição da FIFA ao time jogar descalço, como fez nas Olimpíadas de 1948 (o que depois foi admitido pelo então capitão da equipe como uma desculpa para encobrir os outros fatores). França e Portugal foram convidados para repor as vagas, mas declinaram. Inicialmente a França concordou em jogar, mas depois reclamou que as partidas de seu grupo compreenderiam uma distância de mais de 3.000 quilômetros. Os franceses disseram aos brasileiros que não sairiam de casa se isto não fosse mudado. A Federação Brasileira recusou e a França desistiu. Sendo assim, ainda que 16 times estivessem originalmente previstos, somente 13 tomaram parte no torneio.

Portugal não chegou à fase final e uma vez mais foi afastado pela Espanha em 2 jogos. A 2 de abril de 1950, em Madrid, a Espanha ganhou 5-1 com gols de Zarra, Basora, Painzo (2) e Molowny, e Cabrita. Em Lisboa, a 9 de abril de 1950, Portugal empatou 2-2 com gols de Travaços e Jesus Correia, e Zarra e Gainza.

Bem perto do início da fase final, diversas equipes desistiram, e a organização brasileira convidou Portugal a participar, mas o convite foi declinado.

Locais.

Seis cidades sediaram o torneio:

Belo Horizonte: O Estádio Raimundo Sampaio (Independência) foi construído para a Copa do Mundo e era pertencente na época ao Sete de Setembro Futebol Clube, tinha capacidade, na época, para 30 mil pessoas e recebeu 3 partidas pela competição. Atualmente o América Mineiro e o Atlético Mineiro estão mandando os jogos nesse estádio.

Curitiba: O Estádio Durival Britto e Silva (Vila Capanema) era pertencente ao então Clube Atlético Ferroviário (atual Paraná Clube), tinha capacidade, na época, para aproximadamente 10 mil pessoas e recebeu 2 jogos.

Selo da Copa de 1950 Cr 5,00.
Créditos Wikipédia.
Porto Alegre: O Estádio dos Eucaliptos era o estádio do Internacional na época e tinha capacidade para 20 mil pessoas. Recebeu 2 jogos da competição e atualmente o estádio não existe mais.

Recife: O Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro), pertencente ao Sport, foi reformado para a competição e tinha capacidade, na época, de 20 mil pessoas. Na metade do século XX, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo eram as únicas cidades brasileiras com mais de meio milhão de habitantes, então a capital pernambucana foi escolhida a representante da Região Nordeste. Receberia dois jogos, mas com a desistência da França, que se recusou a participar da competição porque jogaria em Porto Alegre e no Recife, a uma distância de 3.779 quilômetros, a cidade abrigou somente 1 partida.

Rio de Janeiro: O Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) foi construído para a Copa do Mundo e tinha a intenção de ser o maior estádio do mundo. O principal palco da Copa tinha a capacidade, na época, de 200 mil pessoas e recebeu 8 jogos, dentre eles 4 da Seleção Brasileira e a final.

São Paulo: O Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu) foi o segundo maior estádio da Copa com capacidade, na época, de 60 mil pessoas. Recebeu 6 jogos, dentre elas 1 da Seleção Brasileira.

A Competição e o Maracanaço.

Para a ocasião, foram construídos estádios, dentre eles o Maracanã, que, na época, era o maior do mundo. Ao longo da competição, as equipes da Índia, Turquia e Escócia desistiram; o grupo 4 ficou com apenas duas seleções: Uruguai e Bolívia. A partida direta entre eles teve, por resultado, 8 a 0 para os uruguaios.

Na 1ª fase, o Brasil venceu por 4 a 0 o México, empatou por 2 a 2 com a Suíça (neste jogo o Brasil atuou com jogadores paulistas, pois o jogo foi no Pacaembu o único fora do Maracanã, desfigurando a seleção) e venceu a Iugoslávia por 2 a 0.

Uma das grandes decepções foi a Inglaterra, que perdeu por 1 a 0 para os Estados Unidos, numa das maiores zebras de todos os tempos. No seu grupo a classificada foi a Espanha, "a fúria", que venceu a Inglaterra por 1 a 0, o Chile por 2 a 0 e os EUA por 3 a 1. O Uruguai só enfrentou a Bolívia em Recife e goleou 8 a 0. A Itália, bicampeã mundial, também caiu na 1ª fase, mas o time não era nem sombra de antes devido ao trágico acidente aéreo que vitimou o time inteiro do Torino, base da Squadra Azurra. Os classificados foram os suecos, que ganharam da Itália por 3 a 2 e empataram com o Paraguai em 2 a 2, garantindo passagem para a fase seguinte.

Naqueles tempos que se amarravam cachorros com linguiça a final de 1950 não teve o que estamos acostumados hoje (Oitavas, Quartas e Semifinais) Na verdade foram o que poderíamos chamar hoje de semifinais, foi um quadrangular inédito e único em copas: Brasil, Suécia, Espanha e Uruguai.

As quatro equipes que se classificaram em primeiro em seus grupos formaram um novo grupo e disputaram partidas entre si. A Espanha e a Suécia foram goleadas pelo Brasil e eliminadas por placares apertados pelo Uruguai. A última partida era coincidentemente entre o primeiro e o segundo colocados, que até então não haviam perdido na competição.

Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950. Arquivo Nacional.
Antecedentes

O caminho para o título da Copa do Mundo de 1950 foi particularmente sui generis: Em vez do sistema de jogos eliminatórios (que é comumente usado atualmente em todas as competições, não apenas de futebol), o regulamento determinava que o campeão seria definido através de jogos entre um grupo de finalistas. Os quatro finalistas foram: o Brasil (país sede e grande favorito), o Uruguai (que precisava vencer apenas uma partida para chegar as finais, esmagou a Bolívia por 8-0), a Espanha (que deixou para trás a Inglaterra por 1-0 no seu grupo), e a Suécia (que venceu a Itália por 3-2).

O início da rodada final foi mais do que promissor para o público brasileiro e para a imprensa, pois o Brasil tinha vencido com folga os jogos contra a Suécia (7-1) e contra a Espanha (6-1). O Brasil tinha marcado 4 pontos, e era o líder do grupo; seguido pelo Uruguai, que apenas empatara com a Espanha (2-2) e conseguira uma vitória magra sobre a Suécia (3-2). O Uruguai tinha, então, 3 pontos antes da rodada decisiva.

Apesar de não ter sido estruturada dessa maneira, a rodada final tinha no jogo Espanha-Suécia a disputa do "terceiro lugar", já que ambas as seleções não tinha chances matemáticas de ser campeã do torneio. Brasil-Uruguai era o "jogo decisivo". Um empate garantiria o título ao Brasil, devido ao número de pontos, e o Uruguai apenas a vitória para ser campeão da Copa. A equipe uruguaia jogou três jogos de futebol na Copa Rio Branco contra o Brasil alguns meses antes da Copa do Mundo, que resultou em duas vitórias brasileiras (2-1 e 1-0) e uma uruguaia (4-3). Assim, a diferença de qualidade entre as duas equipes não foi excessiva, embora a superioridade do ataque brasileiro fosse reconhecível (mas os uruguaios foram mais preparados taticamente).

Comemoração Antecipada.
Ingresso para o jogo. Créditos: Wikipédia.
A imprensa especializada e o público em geral já tinham começado a aclamar o Brasil como o novo campeão mundial, dias antes da final, e eles tinham razões para isso. O Brasil vencera suas duas últimas partidas, com um estilo muito ofensivo de jogo contra qual todos os esforços se tinham mostrado inúteis. Por outro lado, o Uruguai tinha encontrado muita dificuldade tanto no jogo contra a Espanha, como contra a Suécia, obtendo um empate contra a Espanha e uma vitória magra sobre a Suécia. Quando esses resultados eram comparados ficava óbvio que o Brasil estava preparado para vencer o Uruguai, facilmente, da mesma forma como tinha vencido a Espanha e a Suécia.

Na manhã de domingo, 16 de julho de 1950, as ruas do Rio de Janeiro estavam em polvorosa. Foi improvisado um carnaval sob o som de "O Brasil precisa vencer!". Este espírito encorajador não cessou, até o início da partida final, que lotou o lendário Estádio do Maracanã com um público de 199 954 pessoas (alguns estimam cerca de 205 000 espectadores), um recorde mantido até hoje.

O que quê o Brasil precisava fazer para se sagrar campeão do Mundo? Apenas empatar com o Uruguai e o troféu seria dos donos da casa.

O clima já era exagerado e, para contribuir ainda mais com a ideia do “já ganhou”, minutos antes do jogo começar, o prefeito do Rio de Janeiro, Ângelo Mendes de Morais, discursou no Maracanã com as seguintes palavras:
“Vós brasileiros, a quem eu considero os vencedores do campeonato mundial; vós brasileiros que a menos de poucas horas sereis aclamados campeões por milhares de compatriotas; vós que não possuis rivais em todo o hemisfério; vós que superais qualquer outro competidor; vós que eu já saúdo como vencedores!”.
No entanto, Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação brasileira que venceu as copas de 1958 e 1962, e que na época era dirigente do São Paulo, pensava exatamente o contrário. Em visita à concentração da seleção no Estádio São Januário, na véspera da partida, Paulo encontrou vários políticos em campanha eleitoral fazendo discursos inflamados aos jogadores, além de jornalistas, fotógrafos e outras pessoas chegando a todo instante para tietar os "futuros campeões". Mesmo alertando o técnico Flávio Costa do risco que aquilo tinha para a concentração dos atletas, Paulo não foi ouvido e, perplexo, falou ao seu filho Tuta, que o acompanhava: "Vamos perder".

Preparação do Uruguai.

No vestiário do Uruguai momentos antes da partida, o técnico Juan López Fontana determinou que uma estratégia defensiva seria o modo mais adequado de encarar o poder ofensivo brasileiro. Depois que ele saiu, Obdulio Varela, capitão do time, levantou-se e disse ao time, "Juancito é um bom homem, mas hoje, ele está errado. Se jogarmos defensivamente contra o Brasil, nosso destino não será diferente do da Espanha e Suécia." Varela então fez um emocionado discurso sobre como eles precisavam encarar todas as dificuldades e não serem intimidados pela torcida brasileira. O discurso, como depois foi confirmado, teve uma enorme importância no desfecho que teria a partida. Algo que ele disse foi "Muchachos, los de afuera son de palo. Que comience la función", que poderia ser traduzido como "Rapazes, quem está do lado de fora não joga. Que comece o jogo".

Partida.

A partida começou como já se esperava: a iminente avalanche brasileira contra o defensivo time uruguaio. Porém, diferente da Espanha e da Suécia, a linha defensiva do Uruguai conseguia segurar os muitos ataques brasileiros. O primeiro tempo acabou sem gols, e mesmo com o resultado ainda sendo favorável ao Brasil, a estratégia do Uruguai conseguiu diminuir a intensidade da torcida.

O primeiro gol da partida foi para o Brasil, marcado pelo são-paulino Friaça a apenas dois minutos do segundo tempo, o que acionou a torcida. Novamente Varela teve um importante papel ao pegar a bola e disputar a validade do gol com o juiz, alegando impedimento do jogador brasileiro. Depois de ser vencido pela arbitragem, Varela levou a bola ao meio de campo e gritou para o seu time "Agora é a hora de vencer!".

O Uruguai realmente conseguiu inverter o jogo. Apesar da sua admirável capacidade ofensiva, o time do Brasil mostrava falhas na sua defesa, e aos 21 minutos, Juan Alberto Schiaffino empatou o jogo. Enquanto o Brasil colocava a bola no centro para recomeçar a partida, Varela gritou para seus companheiros: "Mais alma! Mais alma!".

Gol de Friaça, da Seleção Brasileira. Arquivo Nacional.
A multidão calou-se, em contraste com a erupção de gritos e vivas que havia, pouco antes de levar o gol (quando o resultado ainda era favorável para o Brasil). Restando apenas 11 minutos de jogo, Alcides Edgardo Ghiggia, correu pelo lado direito do campo e fez outro gol. A multidão morrera. E assim continuou até o árbitro da partida, George Reader da Inglaterra, apitar o fim do jogo.

O silêncio tomou conta do Maracanã às 16 horas e 50 minutos do dia 16 de julho. O Brasil precisava de um empate. Saiu ganhando e perdeu por 2 a 1. Desolados, os quase 200 mil torcedores demoraram mais de meia hora para deixar o estádio. O time brasileiro fez trinta lances a gol (dezessete no primeiro tempo e treze no segundo). Os jogadores cometeram quase o dobro de faltas, um total de 21, contra apenas onze do Uruguai. A equipe uruguaia jogou três jogos de futebol na Copa Rio Branco contra o Brasil alguns meses antes da Copa do Mundo, que resultou em duas vitórias brasileiras (2-1 e 1-0) e uma uruguaia (4-3). Assim, a diferença de qualidade entre as duas equipes não foi excessiva, embora a superioridade do ataque brasileiro fosse reconhecível.

Jules Rimet, presidente da FIFA e organizador da copa, comentou o que acontecera: "O silêncio era absoluto, às vezes difícil de se acreditar", já que uma multidão de duzentas mil pessoas continuava sem acreditar que tinha perdido um título que considerava seu, por direito.

Jules Rimet havia preparado um discurso em português para parabenizar os vencedores, que ele esperava ser os brasileiros, sendo assim, levou um susto quando, a caminho do campo, a multidão estava parada, não havia hino, nem celebração pela conquista da copa, nem nada.

O presidente da Federação Internacional de Futebol, Jules Rimet, conta um caso curioso no seu livro La historie merveilleuse de la Cope du Monde: "Ao término do jogo, eu deveria entregar a copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora (naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão".

Aconselhado a descer devagar a escada até o vestiário, Jules Rimet ia acompanhado por delegados da Federação Internacional de Futebol, dirigentes brasileiros e guardas armados com a missão de proteger a taça de ouro:

"Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. Na saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados, com a copa debaixo do braço".

Jules Rimet não conseguiu entregar a taça e decidiu se retirar. Mas logo depois voltou e Obdulio Varela recebeu a taça. Rimet disse:
"Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter sido inesperada. Com minhas felicitações".
Até Jules Rimet achava que o Brasil se sagraria campeão daquele ano!

A Confederação Brasileira de Desportos tinha preparado 22 medalhas de ouro, com os nomes dos seus jogadores gravados (na época a FIFA não dava medalhas aos vencedores, como agora), que também nunca cumpriram a sua finalidade.

Em uma entrevista, Ghiggia (autor do segundo gol) disse: "O silêncio era tão grande que se uma mosca estivesse voando por lá, ouviríamos o seu zumbido."

A Seleção Uruguaia (Bicampeã do Mundo) posando antes da partida decisiva contra o Brasil em 1950. Em pé, da esquerda para a direita, estão Varela, o técnico López, Tejera, dois membros da delegação, Gambetta, Matías González, Máspoli, Rodríguez Andrade e outro membro da delegação; agachados, entre outros dois delegados, estão Ghiggia, Julio Pérez, Míguez, Schiaffino e Morán. Créditos: Wikipédia.
Na tentativa de encontrar um culpado para a derrota do Brasil, os supersticiosos de plantão culparam a troca do local de concentração na véspera da final, ou ainda culpam o uniforme, alegando que este deu azar para a seleção. A partir daí, a seleção abandonou o branco e passou a jogar com o seu clássico uniforme amarelo.

Outros culpam Flávio Costa pelas 2 horas de missa na manhã do jogo impostas pelo treinador aos jogadores, que rezaram de pé.

Comparações Entre Brasil 1950 X Brasil 2014.

Foi uma torta de climão, foi. Mais cabe lembrar agora que entra as comparações entres as copas de 1950 e 2014 64 anos de distância, que ao contrário da campanha meia-boca de 2014 (três vitórias e dois empates até encontrar a Alemanha), a Seleção de 1950 era uma metralhadora de gols até chegar nas finais. Em 1950 o Brasil perdeu para o Uruguai, que até então era uma potência mundial no futebol. Em 2014 o Brasil entrou de salto alto, acreditando ainda no bordão o "país do futebol".

As testemunhas oculares do Maracanaço beiram entre 80 e 90 anos de idade. Uma geração que jamais esqueceu aquele "silêncio mortal" após a partida, e pôde contar por gerações: "meninos, eu vi". Naturalmente não estive presente naquele recém-inaugurado Maracanã, mas sinto o silêncio daquela derrota.

A geração de 2014 assumiu o fardo do vexame histórico (Foto: Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images).
A diferença é que o 7 a 1 foi filmado por (literalmente) milhares de câmeras no Mineirão. O auge da geração smartphone. Câmeras 360º. Tudo, tudo para registrar com detalhes cada lance de Müller, Klose e Khedira. Ao contrário das raras imagens em preto e branco 1950, essas filmagens de 2014 contêm todos os detalhes. O vexame é nítido, e não um exercício de imaginação .
O Brasil não  ganhou nenhuma das duas Copas que sediou. Sabe-se lá quando a Copa voltará para o país. Daqui a muitas décadas certamente (2078). E até ganhar uma Copa em casa, 1950 e 2014 serão sempre lembradas. Mas, para alívio da geração de 50, a humilhação de 2014 será a maior referência.

A verdade é que a geração de 1950 sofreu calada durante anos. A cada vez que se falava em Maracanaço, sem dúvidas as memórias daquela derrota atormentavam os jogadores. Não é a toa que as traves da final foram usadas para alimentar as chamas de um churrasco devorado pelos jogadores. O título não veio, por caprichos do futebol, esse esporte em que o "se" não entra em campo. Vide os depoimentos de parentes dos já falecidos jogadores da final de 1950.

No pós jogo de  2014, Tereza Borba, a filha adotiva do goleiro Barbosa, se declarou aliviada com o 7 a 1. Aquela dolorosa lembrança que seu pai carregou até 2000, quando faleceu aos 79 anos, foi diminuída. "Para mim está ótimo. Eu já sabia. E o Barbosa foi vice-campeão. Ele tinha orgulho de ser vice, entendeu? Tomamos um chocolate, que não foi da Suíça. Fiquei triste por ser brasileira, mas feliz por honra ao Barbosa. Ele deve estar feliz agora ", declarou ao Uol Esportes.

Particularidades.

Brasil 7 a 1 Suécia e Brasil 6 a 1 Espanha foram as duas maiores goleadas da seleção em Copas.

Alcides Ghiggia, o "carrasco" da seleção brasileira de 1950, morreu aos 88 anos no dia 16 de julho de 2015, exatamente 65 anos após a partida que sagrou a seleção uruguaia campeã daquela edição, sendo ele o último jogador que ainda estava vivo daquela partida.

Foi a primeira copa a ter números nas camisas.

O iugoslavo Rajko Mitić bateu a cabeça em uma viga do vestiário minutos antes do jogo contra o Brasil. O atacante foi obrigado a entrar em campo com atraso. Azar da Iugoslávia. Enquanto Mitić ainda estava no vestiário para receber seu curativo, o Brasil fez 1 a 0.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Jules Rimet transferiu a sede da Fifa de Paris para Zurique como forma de evitar a influência nazista. Falava-se que havia um plano de Hitler para levar a entidade a Berlim.

Várias seleções desistiram de participar da Copa, como França, Turquia, Portugal, Escócia e até Índia e Birmânia. Em geral, os países se sentiram desencorajados pelo custo da viagem até o Brasil. Mas o caso da Escócia foi raro. Superados pelos ingleses nas Eliminatórias, os escoceses achavam que não havia motivos para disputar um torneio no qual participaria a Inglaterra.

O goleiro chileno Sergio Livingstone se tornou o primeiro goleiro na história das Copas do Mundo a atuar com camisas de mangas curtas. Isto ocorreu nas partidas em que o Chile enfrentou a Espanha no Maracanã, no Rio de Janeiro e quando enfrentou os Estados Unidos no Recife, na Ilha do Retiro.

Com a não-participação da França, Bélgica e Romênia, que haviam participado de todas as Copas anteriores, o Brasil se tornou o único país do mundo a enviar sua seleção a todas as edições do Mundial, marca que dura até os dias atuais.

A vitória da seleção amadora dos Estados Unidos sobre a Inglaterra é considerada a maior zebra da história das Copas, e talvez do futebol mundial. Os ingleses participavam pela primeira vez de um Mundial e chegaram ao Brasil como um dos times favoritos ao título. Enquanto isso, os norte-americanos tinham uma equipe amadora, formada basicamente por carteiros, lavadores de prato e imigrantes. O autor do gol foi Gaetjens, nascido no Haiti. Em 2005, foi lançado um filme sobre a partida, Duelo de Campeões.

Enquanto o Brasil goleava a Espanha, o público cantava a marchinha "Touradas de Madri", composta por João de Barro, o Braguinha, em 1938.

Curiosamente, o gol que Ghiggia marcou contra a Suécia foi originada de uma jogada na direita, onde ele ganhou na corrida do lateral-esquerdo sueco, chutando na saída do goleiro. De um jeito semelhante, ele fez o gol do título na final contra o Brasil no Maracanã, quatro dias depois.

Cerca de 200 mil pessoas (cerca de 10% da população carioca na época) foram ao Maracanã para ver a decisão contra o Uruguai. Seria o maior público da história do futebol se não houvesse "apenas" 173.850 pagantes. Com isso, Brasil versus Paraguai das Eliminatórias para a Copa de 1970, com 183.341, é o maior público oficial do futebol.

Jornais da época dizem que a torcida, após a virada uruguaia, continuou incentivando a seleção brasileira, o que vai contra a lenda de que o Maracanã se silenciou nos minutos finais.

A Itália tentou defender seu título com uma equipe fraca devido à Tragédia de Superga, acidente aéreo que matou todo o time do Torino (base da Azzurra) em 1949.

Existe uma lenda no Maracanã que, devido a quantidade de pessoas na final (200.000 presentes), as pessoas tinham que ficar em pé e de lado para que coubesse todos no estádio.

O Cruzeiro de Porto Alegre foi o segundo clube do mundo a ter sua camiseta usada em uma Copa do Mundo de Futebol. Isto ocorreu na partida entre México e Suíça, disputada no Estádio dos Eucaliptos em Porto Alegre. Ambas seleções tinham fardamentos vermelhos e era preciso distingui-los. Os mexicanos jogaram listrados de azul e branco e a Suíça venceu.

Outra Lenda atribuída a essa Copa diz sobre Pelé, na época com 10 anos ao ver seu pai Dondinho (João Ramos do Nascimento, jogador do Fluminense) chorar se impressionou, prometendo ao mesmo que conquistaria uma Copa do Mundo para o Brasil. O mesmo conquistou 3.

A derrota do Mundial de 50 gerou o que muitos acreditam o 1° Campeonato Mundial de Clubes, vencido pelo Palmeiras em 1951, mas isso é assunto para outro Post.

Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_1950

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maracana%C3%A7o

http://www.goal.com/br/news/12532/um-ano-do-7-a-1/2015/07/08/13418752/descanse-em-paz-gera%C3%A7%C3%A3o-de-1950-como-o-maracanazzo-repercute

http://blogs.diariodonordeste.com.br/jogada/copa-do-mundo/copa-do-mundo-1942-e-1946-quem-teria-ganho/

https://www.ultimadivisao.com.br/e-se-a-copa-de-1946-tivesse-sido-realizada/

https://web.archive.org/web/20160825051332/http://esportes.terra.com.br/futebol/abrindo-jogo/blog/2014/07/07/e-se-a-copa-de-1942-tivesse-sido-realizada/

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