A Lenda.
Em São Luís do Maranhão, havia um homem, conhecido como Zé do mar, porque era pescador experiente e muito antigo por aquelas bandas. Estava a pesca já bem no crepúsculo da noite. Zé do Mar era bom pescador, mas só gostava de pescar sozinho. Assim que a noite chegou, raios começaram a surgir no céu e trovões e uma imensa nuvem negra que apagou o brilho da lua.
Debaixo de uma chuva escaldante com raios e trovões, Zé do Mar continuou a navegar seu pequeno barco e, vendo uma pedra grande e pontuda erguida sobre o mar, lançou sobre ela uma corda coma âncora para o seu frágil barco não se perder na imensidão do mar que parecia um monstro negro espumante a se chacoalhar, Preso à colina marinha, Zé do Mar se segurou com o seu barco a balançar. De repente, iluminando a pedra à sua frente com a lanterna, viu surgir por trás dela em meio à escuridão da noite um duende que emergiu das ondas e de trás da pedra com um facho luminoso em seu corpo de várias cores.
Naquele momento a tempestade piorou muito e os raios caíram do céu como se fossem flechas de Deus e iluminando todo o mar agitado com ondas de mais de 30 metros de altura; e aquele duende agachado sobre a pedra que brotava do mar, saltou em cima do barco e começou a balançar, ainda mais, até que o barco afundasse completamente e Zé do Mar morresse afogado. Enquanto isso, João Galafuz, o duende do mar, continua pelas noites em pedras que emergem das lágrimas de Deus a destruir a vida de marujos e a naufragar embarcações.
Créditos: Recife Assombrado. |
Na escuridão da noite, o pescador pernambucano cumpre o ofício com cuidado e dedicação. Um medo, porém, o acompanha: a qualquer momento poderá emergir do mar um halo de fogo azulado que brilhará pelos rochedos e correrá nas ondas clareando as espumas. Não são poucas as vezes em que a sinistra aparição prenuncia tormentas e mortes: contam-se casos de afogamento depois que a entidade luminosa foi vista naquele pedaço do litoral.
Chamam a assombração de João Galafuz e dizem que teria sido um caboclo morto no mar antes de batizado. A visão daquele espectro é indício de desastre e tragédia porque ele mesmo carrega um fado, uma maldição. Ao brasileiríssimo nome João uniu-se o africanismo Galafuz para representar o fogo-fátuo.
O historiador e folclorista Francisco Pereira da Costa, nascido no século 19, já descrevia o João Galafuz em seu “Vocabulário Pernambucano”. Seria uma espécie de duende que emergia das ondas, surgindo das pedras submersas como um facho luminoso e multicor, prenúncio de tempestades e naufrágios. Pereira da Costa afirmava que a crença era dominante entre pescadores e homens do mar do norte do Estado, principalmente de Itamaracá. Mas que até nas praias de Sergipe teria sido visto, só que lá o haviam apelidado de “Jean de la foice”, Fogo-fátuo ou Boitatá. (Gustavo Barroso, Terra de Sol).
Já o conhecido pesquisador e folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo nos conta em sua “Geografia dos Mitos Brasileiros” que a assombração também é conhecida pelas bandas das Alagoas, desta vez com o nome de João Galafaice ou Galafoice, sendo associada à lenda a ideia de um preto velho raptor de crianças.
Até na música pop, o estranho ser apareceu: a banda pernambucana Nação Zumbi lançou uma música de mesmo nome no disco Rádio S.Amb.A. em 2000. A letra fala de alguém cuja jangada voará e vai “morar depois do mar”. Será que a pessoa quer se transformar em fantasma?
O fato é que ainda hoje pescadores mais velhos do nosso litoral tentam se prevenir com amuletos e rezas contra esse macabro duende também visto por veranistas e visitantes que se arriscam a entrar no mar durante a noite. Testemunhas falam de uma espécie de bola de fogo que flutua na escuridão entre os arrecifes, nas ondas ou até por cima da areia. Não são poucos os turistas que ficam apavorados por causa do João Galafuz.
Fontes.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Galafuz
http://www.orecifeassombrado.com/assombracoes/joao-galafuz/
https://contosdehorroreterror.wordpress.com/2016/08/04/joao-galafuz/
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