terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Enciclopédia dos Mitos e Lendas Brasileiras (Bestiário). Cobra Norato

A lenda da Cobra Norato, ou somente Honorato, é uma das mais famosas do folclore amazônico, principalmente no estado do Pará. Seu mito se assemelha e muito a outros dois mitos amazônicos, o da cobra grande (Boiúna, no post passado), e do Boto.


É uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Segundo essa lenda , em uma certa tribo indígena da Amazônia, uma índia engravidou de Boiúna, após um banho de rio. e 9 meses depois deu a luz a duas crianças gêmeas. Quando viu seus filhos, sua aparência a assustou, eram seres ofídicos de coloração escura. A índia então resolveu se consultar com o pajé da aldeia, pedido lhe conselho de como proceder com aquela situação, se deveria mata-los, ou joga-los no Rio. O líder lhe respondeu que se ela os matasse, ela também morreria, Não tendo outra alternativa, soltou no rio Tocantins. Outras versões contam que para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras.

Os índios chamavam os gêmeos ofídicos de Cobra Norato e Maria Caninana. Norato era forte e Bondoso, incapaz de fazer o mal, e não deixava que pessoas merressem afoogadas ou fossem devoradas por outros peixes. Assim como o Boto, em noite de Lua cheia, deixava de ser cobra e se transformavam em um belo rapaz. Nesta forma, ele sempre visitava sua mãe na Aldeia.

Já Maria Caninana, era o oposto, considerada a pura maldade, um demônio aquático devido sua natureza virulenta e cruel. Alagava Canoas, provocava outros animais, assombrava e afogava viajantes e banhistas. Quando Norato sabia que Maria ir atacar algum barco, tentava salvar a tripulação.

Isso só fazia com que ela o odiasse mais ainda.

Devido a todo mal que sua irmã causava, Norato decidiu mata-la. As cobras colossais travaram um combate, transformando as águas do Rio Madeira em um intenso redemoinho.  Nesta briga Norato conseguiu de fato matar sua irmã, semelhante a ele, tendo antes cegado-o.

Assim, as águas da Amazônia e seus habitantes ficaram livres da maldade de Maria. E Norato seguiu seu caminho solitário. Sem ter quem combater, Norato entendeu que seu fado já havia sido cumprido até demais e resolveu pedir para ser transformado em humano novamente.  Muitas vezes ia dormir em casa de sua mãe, numa dessas visitas Norato perguntou para o pajé se tinha uma forma de tirar o encanto e ser homem para sempre.

O pajé disse que tinha um jeito, mas ele precisaria encontrar uma pessoa muito corajosa que, quando a cobra estivesse na beira do rio, à noite, precisava que alguém tivesse a coragem de derramar "leite de peito" (leite de alguma parturiente) em sua enorme boca em uma noite de luar. Depois de jogar o leite a pessoa teria que provocar um sangramento na enorme cabeça de Norato, com uma lâmina virgem,  para que a transformação tivesse fim.

Na esperança de ser homem para sempre se livrando da maldição, pedia encarecidamente a sua mãe que, antes do galo cantar, fosse ela à beira do rio, onde estava sem ação o seu corpo de cobra e que, deitando-lhe um pouco de leite na boca, lhe desse uma cutilada que o fizesse sangrar. Feito isso, ficaria ele desencantado.

Muitos com pena de Norato quiseram tentar desfazer o encanto, mas tinham medo quando o viam transformado em cobra. O mesmo pedido fez eles a muitas outras pessoas, garantindo a mesma coisa, mas quando iam cumprir o pedido e viam tamanho monstro, corriam aterrorizadas para trás, e por isso ele não podia desencantar.

Como na tradição dos seres fabulosos das águas, Honorato, adorava a dança. Costumava então aparecer nos bailes ribeirinhos, encantando a todos com a sua elegância. Desaparecia para surgir, cinquenta léguas adiante, noutro baile. Na margem do rio ficava a pele enorme da cobra, esperando a volta do seu infeliz dono.

Foram muitas as tentativas, mas ninguém conseguia ter tanta coragem.  Ocorre que, estando ele nas águas do rio Tocantins, chegou a cidade de Cametá (município do Pará). À noite, ali, procurou um soldado, conhecido pela sua bravura, e lhe fez o costumeiro pedido.

Dessa vez, aquele destemido soldado, foi à beira do rio, viu o monstro inerte, mas não recuou como todos os outros. Colocou leite na boca da cobra, e em sua cabeça deu uma cutucada com um punhal que a fez sangrar. A cobra se sacudiu e depois estirou-se no chão. Foi ele quem deu a Honorato a oportunidade de se ver livre para sempre daquela cruel maldição de viver sozinho como cobra. Naquele dia, Norato finalmente desencantou e se transformou de vez em gente. Abandonou o corpo da cobra, e ajudou o amigo soldado à queimar o imenso corpo que foi reduzido à cinzas, que se espalhou pelo rio. Em agradecimento, Norato também virou soldado, vivendo uma vida normal com sua família e amigos que conhecia. É dito que viveu por muitos anos.

Informações Complementares sobre a Cobra Norato.

Nomes comuns: Cobra Norato, Cobra Honorato, Cobra Grande.

Origem Provável: O mito, da forma como se apresenta, faz parte do folclore europeu. Se ignorarmos os episódios semelhentes em todos os folclores do mundo, é amazônico.

Em Portugal existiam entidades fantásticas com o corpo de cobras. Em certos dias, abandonando a pele, a linda moça canta, suplicando que alguém fira a serpente para livrá-la do encanto. É sem dúvida muito semelhante à lenda da nossa Cobra Honorato.

Os elementos formadores desse mito são muitos e complexos. No Brasil, as serpentes fluviais tiveram seu ciclo com a Mboi-assu, a Boiúna. Na América do Norte com Bachue, e no México com outras tantas.

Os africanos trouxeram muitos mitos onde as serpentes figuravam, representando fenômenos meteorológicos, ou forças subterrâneas, misteriosas, que eles identificavam como sendo o "Espírito da Morte".

Fontes.

http://portal-dos-mitos.blogspot.com.br/2014/09/cobra-norato.html

http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Boi%C3%BAna

http://medievallegends.blogspot.com.br/2011/05/cobra-honorato.html

http://www.sitededicas.com.br/folclore-a-cobra-norato.htm

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