quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Hiroshima e Nagasaki, 4° Parte. Mohenjo Daro II.

“Gurkha voando em seu rápido e poderoso Vimana, disparou contra as três cidades dos Vrishis e Andhakas um único projétil carregado com todo o poder do universo. Uma enorme coluna incandescente de fumaça e fogo, tão brilhante quanto dez mil sóis, subiu em todo o seu esplendor. Era uma arma desconhecida, um raio de ferro, um gigantesco mensageiro  da morte, que reduziu a cinzas toda a raça dos Vrishnis e Andhakas e suas cidades”.
Passagem do Mahabharata.
A nuvem de cogumelo sobre Hiroshima (esquerda) após a queda da Little Boy
e sobre Nagasaki, após o lançamento de Fat Man. Créditos: Wikipédia
A 2° Guerra Mundial foi um cenário de imensas atrocidades ordenadas por líderes militares e governamentais de ambos os lados em conflito. Além das dezenas de milhões de mortos, decorrentes dos combates e bombardeamentos, e dos mais de seis milhões de vítimas do holocausto perpetrado pelos nazistas, houve ainda a única utilização na história de bombas atômicas em guerras.

O bombardeamento das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, a mais de 70 anos, pode ser considerado o maior atentado terrorista da história da humanidade, já que o objetivo do governo e do exército dos Estados Unidos era aterrorizar a população japonesa e, assim, evitar uma invasão ao país para por fim à guerra.

Apesar da vitória sobre os alemães em maio de 1945, a guerra no Pacífico ainda continuou por dois meses. Os estadunidenses haviam virado o conflito contra o Japão a seu favor, desde as batalhas do Mar de Coral e de Midway, em 1942. Em fevereiro de 1945, os estadunidenses passaram a avançar sobre o território japonês, conquistando a ilha de Iwo Jima. A resistência japonesa se dava principalmente com a utilização dos kamikazes, pilotos que utilizavam de forma suicida seus aviões abarrotados de bombas contra os navios da marinha dos EUA.

Em agosto de 1945, o Projeto Manhattan dos Aliados tinha testado com sucesso um artefato atômico e produzido armas com base em dois projetos alternativos.

A bomba atômica de urânio (Little Boy) foi lançada sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945, seguido por uma explosão de uma bomba nuclear de plutônio (Fat Man) sobre a cidade de Nagasaki em 9 de agosto. Dentro dos primeiros 2-4 meses após os ataques atômicos, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil e 80 mil seres humanos em Nagasaki; cerca de metade das mortes em cada cidade ocorreu no primeiro dia.

Em 15 de agosto, poucos dias depois do bombardeio de Nagasaki e da declaração de guerra da União Soviética, o Japão anunciou sua rendição aos Aliados. Em 2 de setembro, o governo japonês assinou o acordo de rendição, encerrando a Segunda Guerra Mundial. O papel dos bombardeios na rendição do Japão e a sua justificação ética ainda é motivo para debates.

Nagasaki
Eu percebo o significado trágico da bomba atômica ... É uma responsabilidade terrível que chegou até nós ... Agradecemos a Deus que veio a nós, em vez de ir para os nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usá-la em Seus caminhos e para Seus propósitos. 
33º presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, 9 de agosto de 1945.
Nagasaki, Nagasáqui ou Nangasaque (長崎市, Nagasaki-shi?) é a capital e maior cidade da Prefeitura de Nagasaki, na Ilha Kyushu, Japão. O nome da cidade, 長崎, significa "capa longa" em japonês. Nagasaki foi um centro de influência colonial portuguesa e holandesa entre os séculos XVI e XIX, e igrejas e locais cristãos em Nagasaki foram propostos para inscrição na Lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO. Durante várias décadas foi considerada a capital do catolicismo nesse país. Parte de Nagasaki foi base da Marinha Imperial Japonesa durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa e a Guerra Russo-Japonesa.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Nagasaki foi a segunda cidade, e até hoje a última, a experienciar um ataque nuclear (às 11:02hs de 9 de agosto de 1945, horário local (UTC+9).

Em 1 de março de 2017, a cidade tinha uma população estimada de 425.723 habitantes e uma densidade populacional de 1000 pessoas por km². A área total é de 406.37 km²

História.
  • Nagasaki Cristã.
Imagem de uma carraca portuguesa em Nagasaki. Biombo
japonês do século XVII. Créditos: Wikipédia.
Uma pequena vila de pescadores em porto isolado, Nagasaki tinha pouca significância histórica até o contato com os exploradores portugueses em 1543. Um dos primeiros visitantes foi Fernão Mendes Pinto, que veio de Vila do Bispo em uma embarcação portuguesa que atracou próximo a Tanegashima.
Pouco depois, embarcações portuguesas começaram a navegar para o Japão como cargueiros regulares, aumentando o contato e as relações comerciais entre o Japão e o resto mundo, particularmente com a China, com quem o Japão anteriormente havia cortado seus laços comerciais e políticos, principalmente devido a uma série de incidentes envolvendo a pirataria Wokou no Mar do Sul da China, com os portugueses agora servindo como intermediários entre os dois países asiáticos.

Após vantagens mútuas derivadas desses contatos comerciais, que logo seria reconhecido por todas as partes envolvidas, a falta de um porto marítimo adequado em Kyushu com o propósito de abrigar navios estrangeiros representou um grande problema tanto para os comerciantes quanto para os daimiôs (senhores feudais) de Kyushu, que esperavam obter grandes vantagens do comércio com o portugueses.

Enquanto isso, o missionário jesuíta navarrês São Francisco Xavier chegou à Kagoshima, no sul de Kyushu, em 1549, e logo iniciou uma campanha de evangelização pelo Japão, mas foi para a China em 1552 e faleceu pouco depois. Seus seguidores permaneceram convertendo um grande número de daimiôs. O mais notável entre eles era Ōmura Sumitada. Em 1569, Ōmura garantiu uma permissão para o estabelecimento de um porto com o propósito de abrigar embarcações portuguesas, Nagasaki, que foi finalmente criada em 1571, sob a supervisão do missionário jesuíta Gaspar Vilela o capitão-major português Tristão Vaz de Veiga, com o auxílio pessoal de Ōmura.

A pequena vila portuária rapidamente cresceu para uma cidade portuária diversa, e produtos portugueses importados por Nagasaki (como tabaco, pão, têxteis e um pão-de-ló português chamado Castela) foram assimilados à cultura japonesa. O tempura derivado de uma receita originalmente conhecida como "peixinho-da-horta", e que tem seu nome tirado da palavra portuguesa "tempero", é outro exemplo dos efeitos desse intercâmbio cultural. Os portugueses também trouxeram muitos bens da China.

Devido a instabilidade durante o Período Sengoku, Sumitada e o líder jesuíta Alessandro Valignano fizeram um plano para passar o controle administrativo para a Companhia de Jesus, em vez de ver a cidade católica tomada por um daimiô não-católico. Então, por um breve período de tempo após 1580, a cidade de Nagasaki foi uma colônia jesuíta, sob seu controle administrativo e militar. Ela foi administrada pelo capitão do "barco negro" português, o mais alto representante da Coroa Portuguesa, quando presente. A cidade se tornou um refúgio para os cristãos que sofriam perseguições em outras partes do Japão. Entretanto, em 1587, a campanha de Toyotomi Hideyoshi para unificar o país chegou à Kyūshū. Preocupado com a grande influência cristã no sul do Japão, assim como o papel ativo dos jesuítas na arena política japonesa, Hideyoshi ordenou a expulsão de todos os missionários e colocou a cidade sob seu controle direto. No entanto, a ordem de expulsão não foi cumprida em grande parte, e a maioria da população de Nagasaki permaneceu abertamente católica praticante.
Os vinte e seis mártires do Japão executados mediante crucificação em 5 de fevereiro de 1597 em Nagasaki. Créditos: Wikipédia.
Em 1596, a embarcação espanhola San Felipe foi destruída na costa de Shikoku, e Hideyoshi soube com o capitão de que Franciscanos espanhóis estavam na vanguarda de uma invasão ibérica do Japão. Em resposta, Hideyoshi ordenou a crucificação de vinte e seis católicos em Nagasaki. Os comerciantes portugueses não foram condenados ao ostracismo, e assim a cidade continuou a prosperar.

Em 1602, missionários agostinianos também chegaram ao Japão, e quando Tokugawa Ieyasu tomou o poder em 1603, o catolicismo ainda era tolerado. Muitos daimiôs católicos foram importantes aliados na Batalha de Sekigahara, e os Tokugawa ainda não eram fortes o suficiente para ficarem contra eles. Uma vez que o Castelo de Osaka foi tomado e a prole de Toyotomi Hideyoshi foi morta, o domínio Tokugawa foi assegurado. Além disso, a presença holandesa e os inglesa permitiu o comércio sem envolvimento religioso. Então, em 1614, o catolicismo foi oficialmente banido e todos os missionários receberam a ordem para irem embora. A maioria dos daimiôs católicos apostataram, e forçaram seus subordinados a fazerem o mesmo, apesar de alguns não renunciarem a religião e partirem para Macau, Luzon e outras cidades com grande número de japoneses no sudeste asiático. Uma brutal campanha de perseguição seguiu-se, com milhares de cristãos em Kyūshū e outras partes do Japão mortos, ou forçados a renunciarem sua religião.

O último suspiro do catolicismo como religião aberta e a última grande ação militar no Japão até a Restauração Meiji foi a Rebelião Shimabara de 1637. Enquanto não há evidências de que os europeus incitaram diretamente a rebelião, o Domínio Shimabara foi cristão por décadas, e os rebeldes adotaram muitas ideias portuguesas e ícones cristãos. Consequentemente, na sociedade Tokugawa a palavra "Shimabara" solidificava a conexão entre cristianismo e deslealdade, constantemente usada como propaganda Tokugawa. A Rebelião Shimabara também convenceu muitos legisladores que as influências estrangeiras eram um grande problema, o que levou o Japão a uma política de isolamento. Os portugueses, que anteriormente haviam vivido em uma ilha-prisão especialmente construída no porto de Nagasaki chamada Dejima, foram expulsos do arquipélago, e os holandeses foram movidos de sua base em Hirado para Dejima.
  • Período de Isolamento.
Plano de Nagasaki, Província de Hizen, 1778. Créditos: Wikipédia.
O Grande Incêndio de Nagasaki destruiu boa parte da cidade em 1663, incluindo o Santuário de Mazu no Templo Kofuku patrocinado por marinheiros e mercadores chineses que visitavam o porto.

Em 1720, o banimento de livros holandeses foi criado, causando a ida de centenas de estudiosos para Nagasaki em busca do estudo da ciência e arte europeias. Consequentemente, Nagasaki se tornou um principal centro do chamado rangaku, ou "Aprendizado Holandês". Durante o Período Edo, o Xogunato Tokugawa governava a cidade, escolhendo um hatamoto, o bugyō de Nagasaki, como o chefe administrador.

Antes, os historiadores eram unânimes que Nagasaki era a única janela do Japão com o mundo durante a Era Tokugawa. Entretanto, atualmente é aceito que esse não era o caso, uma vez que o Japão interagia e fazia comércio com o Reino de Ryukyu, Coreia e Rússia através dos domínios Satsuma, Tsushima e Matsumae respectivamente. No entanto, Nagasaki foi retratada na arte e literatura contemporâneas como um porto cosmopolita repleto de curiosidades exóticas do mundo ocidental.

Em 1808, durante as Guerras Napoleônicas, a fragata da Marinha Real Britânica HMS Phaeton entrou no Porto de Nagasaki em busca de embarcações comerciais holandesas. O magistrado local não estava apto a resistir a demanda britânica por comida, combustível, e água, depois cometendo seppuku por disso. Leis foram aprovadas após esse incidente, fortalecendo as defesas costeiras, ameaçando de morte os estrangeiros invasores e motivando o treinamento de tradutores ingleses e russos.

The Tōjinyashiki (唐人屋敷) ou Fábrica Chinesa em Nagasaki foi também um importante condutor de bens e informações chinesas para o mercado japonês. Vários mercadores e artistas chineses navegaram entre seu país e Nagasaki. Alguns combinavam os papéis de mercador e artista como Yi Hai no século XVIII. Acredita-se que cerca de um terço da população de Nagasaki daquela época era chinesa.
  • Era Meiji.
Com a Restauração Meiji, o Japão abriu suas portas para o comércio estrangeiro e relações diplomáticas. Nagasaki se tornou um porto livre em 1859 e a modernização começou por volta de 1868. Nagasaki foi proclamada cidade oficialmente em 1 de abril de 1889. Com o cristianismo legalizado e os Kakure Kirishitan deixando de se esconder, Nagasaki voltou ao seu papel de centro do Catolicismo Romano no Japão.

Durante a Era Meiji, Nagasaki se tornou um centro industrial. Sua principal indústria era a de construção de navios, com os estaleiros sob controle da Mitsubishi Heavy Industries, uma das primeiras contratadas da Marinha Imperial Japonesa, e o porto de Nagasaki usado como ancoradouro sob controle do Distrito Naval de Sasebo. Durante a Segunda Guerra Mundial, na época do ataque nuclear, Nagasaki era uma importante cidade industrial, contendo fábricas da Mitsubishi Steel & Arms Works, da Akunoura Engine Works, da Mitsubishi Arms Plant, da Mitsubishi Electric Shipyards, da Mitsubishi-Urakami Ordnance Works, e de muitas outras fábricas menores, além da maioria das instalações de armazenamento e transbordo de portos, que empregavam cerca de 90% da força de trabalho da cidade, e respondiam por 90% da indústria da cidade. Essas conexões com o esforço de guerra japonês fizeram de Nagasaki um alvo importante para o bombardeio estratégico pelos Aliados durante a guerra.

Mapa onde mostra Macau e Nagasaki e a sua posição nas rotas comerciais portuguesas e espanholas, no seu período mais próspero (finais do século XVI e princípios do século XVII). Créditos: Wikipédia.
Nagasaki Durante a Segunda Guerra Mundial.

A cidade de Nagasaki era um dos maiores portos do sul do Japão e era de grande importância em tempos de guerra devido à sua abrangente atividade industrial, que incluía a produção de material bélico, navios, equipamentos militares e outros materiais de guerra. As quatro maiores empresas na cidade eram a Mitsubishi Shipyards, a Electrical Shipyards, a Arms Plant e a Steel and Arms Works, que empregavam cerca de 90% da força de trabalho da cidade e eram responsável por 90% da indústria local. Apesar de ser um importante centro industrial, Nagasaki tinha sido poupada dos bombardeios aliados, porque a sua geografia tornava sua localização difícil à noite com o radar AN/APQ-13.

Ao contrário das outras cidades-alvo, Nagasaki não tinha sido excluída dos limites dos bombardeiros pela diretiva do Joint Chiefs of Staff de 3 de julho e foi bombardeada em pequena escala em cinco ocasiões. Durante uma dessas invasões, em 1 de agosto, uma série de bombas convencionais foram lançadas sobre a cidade. Algumas acertaram os estaleiros e portos na região sudoeste da cidade e várias atingiram a Mitsubishi Steel and Arms Works. No início de agosto, a cidade foi defendida pelo IJA 134º Regimento Antiaéreo da 4ª Divisão Antiaérea com quatro baterias de 7 cm de armas antiaéreas e duas baterias de holofotes.

O Bockscar e sua tripulação, que lançou a bomba atômica
"Fat Man" sobre Nagasaki. Créditos: Wikipédia.
Em contraste com Hiroshima, quase todos os edifícios eram de construção tradicional antiquada, que eram basicamente constituídos por madeira (com ou sem gesso) e telhados. Muitas das pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais também estavam localizados em edifícios de madeira ou de outros materiais não concebidos para suportar explosões. Nagasaki cresceu por muitos anos sem obedecer um plano urbanístico; as residências foram erguidas ao lado de edifícios de fábricas, quase tão perto quanto possível, ao longo de todo o vale industrial. No dia do atentado, cerca de 263 mil pessoas estavam em Nagasaki, incluindo 240 mil residentes japoneses, 10 mil moradores coreanos, 2,5 mil trabalhadores coreanos recrutados, 9 mil soldados japoneses, 600 trabalhadores chineses recrutados e 400 prisioneiros de guerra aliados em um acampamento ao norte de Nagasaki.
  • O Bombardeio.
A responsabilidade para o momento do segundo ataque nuclear foi delegada para Tibbets. Agendado para 11 de agosto contra Kokura, o ataque foi antecipado por dois dias para evitar um período de cinco dias de mau tempo previsto para começar em 10 de agosto. Três bombas pré-fabricadas tinham sido transportadas para Tinian, com a marca F-31, F-32 e F-33 em seus exteriores. Em 8 de agosto, um ensaio geral foi realizado fora Tinian por Sweeney usando o Bockscar como o avião de ataque. A F-33 foi usada testar os componentes e a F-31 foi designada para a missão de 9 de agosto.

Às 03:49, na manhã de 9 de agosto de 1945, o Bockscar, pilotado pela equipe de Sweeney, foi carregado com a Fat Man, com Kokura como o alvo principal e Nagasaki como o alvo secundário. O plano da missão para o segundo ataque era quase idêntico ao da missão Hiroshima, com dois B-29 voando uma hora à frente e dois B-29 adicionais para instrumentação e suporte fotográfico da missão. Sweeney decolou com sua arma já armada, mas com as fichas de segurança elétrica ainda envolvidas.

AOrdem de ataque para o bombardeio de Nagasaki, como publicado 8 de agosto de 1945. Créditos: Wikipédia.

Durante a inspeção pré-voo de Bockscar, o engenheiro de voo comunicou Sweeney que uma bomba inoperante de transferência de combustível tornou impossível usar 2.400 litros de combustível transportados em um tanque de reserva. Este combustível ainda teria de ser usado por todo o caminho para o Japão, enquanto para a volta o consumo era ainda maior. A substituição da bomba levaria horas; mover a Fat Man para outra aeronave pode demorar o mesmo tempo e era perigoso. Tibbets e Sweeney, portanto, elegeram o Bockscar para continuar a missão.

Modelo pós-guerra da bomba Fat Man. Créditos: Wikipédia.
Desta vez Penney e Cheshire foram autorizados a acompanhar a missão, voando como observadores no terceiro avião, o Big Stink, pilotado pelo oficial de operações do grupo, o major James I. Hopkins Jr. Observadores a bordo dos aviões meteorológicos relatou ambos os alvos estavam claros. Quando a aeronave de Sweeney chegou ao ponto de montagem para seu voo largo da costa do Japão, Big Stink não conseguiu fazer o encontro. De acordo com Cheshire, Hopkins foi em diferentes alturas, 2,7 mil metros mais alto do que ele deveria ter ido e não estava voando círculos apertados sobre Yakushima, como previamente acordaram com Sweeney e capitão Frederick C. Bock, que estava pilotando o The Great Artiste, o B-29 de apoio. Em vez disso, Hopkins estava voando 64 km dos padrões. Embora não tenha sido ordenado a circular mais de 15 minutos, Sweeney continuou a esperar por Big Stink, a pedido de Ashworth, que estava no comando da missão.

Depois de ultrapassar o limite de tempo de partida original por uma meia hora, o Bockscar, acompanhado pelo The Great Artiste, passou a Kokura, 30 minutos de distância. O atraso no encontro resultou com nuvens e fumaça de incêndios iniciados por uma grande operação de bombardeamento feita por 224 aeronaves B-29 na vizinha Yahata, no dia anterior. Além disso, o Yawata Steel Works queimava intencionalmente alcatrão de hulha, para produzir fumaça negra. As nuvens e a fumaça resultavam na cobertura de 70% da área sobre Kokura, obscurecendo o ponto de mira. A queima de combustível expôs o avião várias vezes para as defesas pesadas de Yawata, mas o bombardeiro não foi capaz de avançar visualmente.

Após três voos sobre a cidade e com o combustível acabando por causa da bomba de combustível quebrada, eles se dirigiram para o alvo secundário, Nagasaki. Cálculos do consumo de combustível feitos em rota indicaram que o Bockscar tinha combustível suficiente para chegar a Iwo Jima e seria forçado a desviar para Okinawa. Depois de inicialmente decidir que se Nagasaki fosse obscurecida em sua chegada a tripulação iria levar a bomba para Okinawa e descartá-la no oceano se necessário, Ashworth decidiu que uma abordagem com o uso de radar seria usada se o alvo foi obscurecida.

Por volta das 07:50, horário japonês, um alerta de ataque aéreo soou em Nagasaki. Quando apenas dois B-29 foram avistados às 10:53, os japoneses aparentemente assumiram que os aviões se encontravam em missão de reconhecimento e nenhum outro alarme foi dado.

Nuvem atômica sobre a cidade de Nagasaki. Créditos: Wikipédia.
Poucos minutos depois, às 11:00, The Great Artiste largou a instrumentação amarrada a três paraquedas. Esses instrumentos também continham uma carta sem assinatura para o professor Ryokichi Sagane, um físico da Universidade de Tóquio, que estudou com três dos cientistas responsáveis pela bomba atômica na Universidade da Califórnia em Berkeley, instando-o a dizer ao público sobre o perigo envolvido com essas armas de destruição em massa. As mensagens foram encontradas pelas autoridades militares, mas não entregue a Sagane até um mês depois do ocorrido. Em 1949, um dos autores da carta, Luis Alvarez, se reuniu com Sagane e assinou o documento.

Às 11:01, uma abertura de última hora nas nuvens sobre Nagasaki permitiu ao artilheiro do Bockscar, o capitão Kermit Beahan, ter acesso visual ao alvo encomendado. A arma Fat Man, contendo um núcleo de cerca de 6,4 kg de plutônio, foi lançada sobre o vale industrial da cidade. Ela explodiu 47 segundo depois, 503 metros acima de um campo de tênis, no meio do caminho entre a fábrica de aço e de torpedos da Mitsubishi no norte do país. A explosão ocorreu a cerca de 3 km a noroeste do hipocentro planejado; a explosão foi confinado pelo Vale de Urakami e uma grande parte da cidade foi protegida pelas colinas intervenientes. A explosão resultante teve um rendimento equivalente a 21 kt explosão (88 TJ), ± 2 kt. A explosão gerou um calor estimada em 3900 °C e ventos que foram estimados a 1.005 km/h.

Nagasaki antes e depois do ataque nuclear. Nuvem atômica
sobre a cidade de Nagasaki. Créditos: Wikipédia.
O Big Stink viu a explosão a uma centena de quilômetros de distância e voou por cima para observar. Devido aos atrasos na missão e na bomba de transferência de combustível inoperante, o Bockscar não tinha combustível suficiente para chegar ao campo de pouso de emergência em Iwo Jima, assim Sweeney e Bock vooram para Okinawa. Chegando lá, Sweeney circulou por 20 minutos tentando entrar em contato com a torre de controle para o desembarque, quando finalmente concluiu que o rádio estava com defeito. Com combustível em níveis críticos, o Bockscar mal chegou à pista Base Aérea Yontan, em Okinawa. Com apenas combustível suficiente para uma tentativa de pouso, Sweeney e Albury colocaram o Bockscar a 240 km/h, em vez dos normais 190 km/h, disparando fachos de socorro para alertar o campo do pouso. O motor número dois parou de funcionar por falta de combustível quando o Bockscar começou sua aproximação final. Com um pouso difícil na pista, o pesado B-29 girou à esquerda e em direção a uma fileira de bombardeiros B-24 estacionados antes que os pilotos conseguissem recuperar o controle da aeronave. As hélices reversíveis do B-29 não foram suficientes para diminuir a velocidade da aeronave de forma adequada e, com os dois pilotos em pé no freio, o Bockscar fez uma guinada de 90 graus no final da pista para evitar sair do aeroporto. Um segundo motor parou por falta combustível no momento em que o avião parou. O engenheiro de voo mais tarde mediu o combustível nos tanques e concluiu que menos de cinco minutos de tempo de voo haviam sobrado.

Após a missão, houve confusão sobre a identificação do avião. O primeiro relato de testemunha ocular pelo correspondente de guerra William L. Laurence, do The New York Times, que acompanhou a missão a bordo da aeronave pilotada por Bock, informou que Sweeney estava liderando a missão no The Great Artiste. Ele também observou o seu número "Victor", como 77, que era o do Bockscar, escrevendo que várias pessoas comentaram que 77 também era o número de camisa do jogador de futebol Red Grange. Laurence tinha entrevistado Sweeney e sua tripulação e estava ciente que se referia ao seu avião como The Great Artiste. Com exceção do Enola Gay, nenhum dos B-29 do 393º ainda tinha tido os nomes pintados em seus narizes, um fato que o próprio Laurence observou em seu relato. Desconhecendo o interruptor na aeronave, Laurence assumiu que o Victor 77 era o The Great Artiste, que era, na verdade, o Victor 89.

  • Acontecimentos em Terra.

Embora a bomba fosse mais poderosa do que a usada em Hiroshima, o efeito foi contido pelo estreito Vale de Urakami. Dos 7.500 funcionários japoneses que trabalhavam dentro da fábrica de munições da Mitsubishi, incluindo estudantes mobilizados e trabalhadores regulares, 6.200 foram mortos. Entre 17 mil e 22 mil outros que trabalharam em outras fábricas de guerra e da cidade morreram também. Estimativas de mortes e danos imediatos variam muito, de 22 mil a 75 mil. Nos dias e meses seguintes à explosão, mais pessoas morreram por conta dos efeitos secundário da bomba. Por causa da presença de trabalhadores estrangeiros em situação irregular e vários militares em trânsito, há grandes discrepâncias nas estimativas do total de mortes até o final de 1945; uma faixa entre 39 mil e 80 mil pode ser encontrada em vários estudos.

Ao contrário do número de militares mortos em Hiroshima, apenas 150 soldados foram mortos instantaneamente em Nagasaki. Pelo menos oito prisioneiros conhecidos morreram por causa do bombardeio e até 13 de maio morreram um cidadão britânico membro da Força Aérea Real Britânica, Ronald Shaw, e sete prisioneiros neerlandeses. Um prisioneiro norte-americano, Joe Kieyoomia, estava em Nagasaki no momento do atentado, mas sobreviveu, supostamente por ter sido protegidos contra os efeitos da bomba pela paredes de concreto da sua cela. Havia 24 prisioneiros de guerra australianos em Nagasaki, mas todos sobreviveram.

O raio de destruição total foi de cerca de 1 quilômetro, seguido por incêndios em toda a parte norte da cidade, a 2 km ao sul do local de explosão da bomba. Cerca de 58% da fábrica de armas da Mitsubishi foi danificada e cerca de 78% da fábrica de aço da Mitsubishi. A Mitsubishi Electric Works sofreu apenas 10% de danos estruturais, visto que estava na fronteira da zona de destruição principal. A Mitsubishi-Urakami Ordnance Works, a fábrica que criou os torpedos Tipo 91 lançados no ataque a Pearl Harbor, foi destruída na explosão.

Planos Para Outros Ataques Nucleares Contra o Japão

Um relatório japonês sobre as bombas caracterizou Nagasaki "
como um cemitério sem uma única lápide de pé".
Créditos: Wikipédia.
Groves esperava ter uma outra bomba atômica pronta para uso em 19 de agosto, sendo mais três em setembro e outras três em outubro.

Em 10 de agosto, enviou um memorando a Marshall no qual ele escreveu que "a próxima bomba ... deve estar pronta para entrega no período adequado após 17 ou 18 de agosto." No mesmo dia, Marshall aprovou o memorando com o comentário: "Não é para ser lançada sobre o Japão, sem autorização expressa do Presidente".

Já havia discussão no Ministério da Guerra sobre preservar as bombas, então em produção, para a Operação Downfall.
"[...] não deveríamos concentrar-se em metas que serão de grande utilidade para uma invasão ao invés de indústria, moral, psicologia e assim por diante? Mais próximo da utilização táctica, em vez de outro tipo de utilização."
Mais dois artefatos Fat Man foram preparados. O terceiro núcleo estava programado para sair da Base Aérea Kirtland, no Novo México, para Tinian em 15 de agosto e Tibbets foi ordenado por LeMay para voltar a Utah para coletá-lo. Robert Bacher foi o seu empacotamento para embarque em Los Alamos, em 14 de agosto, quando ele recebeu a notícia de Groves de que a transferência tinha sido suspensa.

Rendição do Japão e Ocupação Subsequente.
Instrumento de rendição [] - Assinado em suas línguas maternas. 
Assinado na Baía de Tóquio, em 2 de setembro de 1945. 
Nós, agindo por comando do e em nome do Imperador do Japão, o Governo Japonês e o Quartel General Imperial Japonês, aceitamos as provisões estabelecidas na declaração emitida pelos chefes dos Governos dos Estados Unidos, China e Grã Bretanha. em 26 de julho de 1945, em Potsdam, e subsequentemente aderido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que quatro poderes são doravante denominados Poderes Aliados. 
Por meio deste, proclamamos a rendição incondicional às Potências Aliadas do Quartel General Imperial Japonês e de todas as forças armadas japonesas e todas as forças armadas sob controle japonês onde quer que estejam situadas. 
Por este meio, comandamos todas as forças japonesas onde quer que se encontrem e o povo japonês a cessar imediatamente as hostilidades, a preservar e a economizar danos a todos os navios, aeronaves, propriedades militares e civis e a cumprir todos os requisitos impostos pelo Comandante Supremo para os Aliados. Poderes ou por agências do governo japonês em sua direção. 
Pelo presente, comandamos o Quartel General Imperial Japonês a emitir imediatamente ordens aos Comandantes de todas as forças japonesas e a todas as forças sob controle japonês, onde quer que estejam situadas, para que se rendam incondicionalmente a si mesmos e a todas as forças sob seu controle. 
Por este meio, ordenamos que todos os oficiais civis, militares e navais obedeçam e apliquem todas as proclamações, ordens e diretivas consideradas pelo Comandante Supremo das Potências Aliadas como adequadas para efetuar essa entrega e emitidas por ele ou sob sua autoridade, e direcionamos todos esses funcionários. permanecer em seus postos e continuar a desempenhar suas funções não-combatentes, a menos que sejam especificamente dispensadas por ele ou sob sua autoridade. 
Nós, por meio deste, comprometemo-nos a que o Imperador, o Governo Japonês e seus sucessores cumpram as disposições da Declaração de Potsdam de boa-fé, e que emitam quaisquer ordens e sejam executadas quaisquer ações pelo Comandante Supremo das Potências Aliadas ou por qualquer outro representante designado das Potências Aliadas com o propósito de dar efeito a essa Declaração. 
Por este meio, comandamos imediatamente o Governo Imperial Japonês e o Quartel General Imperial do Japão para libertar todos os prisioneiros de guerra e internos civis agora sob controle japonês e providenciar sua proteção, cuidado, manutenção e transporte imediato para os lugares conforme indicado. 
A autoridade do Imperador e do Governo Japonês para governar o Estado estará sujeita ao Comando Supremo das Potências Aliadas, que tomará as medidas que julgar apropriadas para efetuar esses termos de rendição. 
Assinado na Baía de Tóquio, Japão n° 0904 I no dia 2 de setembro de 1945.
Shigemitsu Mamoru, em nome do Imperador do Japão e do Governo Japonês.
Umezu Yoshijiro, em nome do Quartel General Imperial Japonês.
Aceito na Baía de Tóquio, Japão n° 0908 I no dia 2 de setembro de 1945, para os Estados Unidos, República da China, Reino Unido e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e no interesse das outras Nações Unidas em guerra com o Japão.
  1. DOUGLAS MACARTHUR; Comandante Supremo das Potências Aliadas.
  2. C.W NIMITZ; Representante dos Estados Unidos
  3. Hsu Yung-Chang; Representante da República da China
  4. BRUCE FRASER; Representante do Reino Unido
  5. O tenente-general K. Derevoyanko; Representante da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
  6. TA BLAMEY; Representante da Austrália 
  7. L. MOORE COSGRAVE; Representante do Presidente do Canadá 
  8. LE CLERC; Representante do Governo Provisório da República Francesa 
  9. CEL HELFRICH; Representante do Reino dos Países Baixos 
  10. L.M ISITT; Representante da Nova Zelândia.
(O Ministério de Relações Exteriores "Nihon Senryo oyobi Kanri Juyo Bunsho" vol.1, 1949)

O ministro das relações exteriores do Japão Mamoru Shigemitsu
assinando a rendição do Japão a bordo do USS Missouri enquanto
o general Richard K. Sutherland observa.
Foto de 2 de setembro de 1945. Créditos: Wikipédia.
Até 9 de agosto, o conselho de guerra japonês ainda insistia em suas quatro condições para a rendição. Naquele dia, Hirohito ordenou Koichi Kido para "rapidamente controlar a situação ... porque a União Soviética declarou guerra contra nós." Ele, então, realizou uma conferência imperial durante o qual autorizava o ministro Shigenori Tōgō a notificar os Aliados de que o Japão iria aceitar os seus termos com uma condição, que a declaração "não incluísse qualquer exigência que prejudique as prerrogativas de Sua Majestade como um soberano."

Em 12 de agosto, o Imperador informou a família imperial sobre sua decisão de se render. Um de seus tios, o príncipe Asaka, em seguida, perguntou se a guerra seria mantida e se o kokutai não poderia ser preservado. Hirohito simplesmente respondeu: "Claro". Como os termos dos aliados pareciam deixar intacto o princípio da preservação do Trono, Hirohito gravou em 14 de agosto o anúncio de rendição, que foi transmitido para a nação japonesa no dia seguinte, apesar de uma rebelião curta de militaristas que se opunham à rendição.

Em sua declaração, Hirohito fez referências aos bombardeios atômicos:
Além disso, o inimigo agora possui uma arma nova e terrível com o poder de destruir muitas vidas inocentes e causar danos incalculáveis. Continuar a lutar não só resultaria em um colapso final e obliteração da nação japonesa, mas também levaria à total extinção da civilização humana.
Em seu "Rescrito aos Soldados e Marinheiros" emitido em 17 de agosto, o imperador ressaltou o impacto da invasão soviética e sua decisão de se render, omitindo qualquer menção às bombas. Hirohito se reuniu com o general MacArthur em 27 de setembro, dizendo-lhe que "a opção pela paz não prevaleceu até que o bombardeio de Hiroshima criou uma situação que poderia ser dramatizada." Na verdade, um dia após o bombardeio de Nagasaki e a invasão soviética da Manchúria, Hirohito ordenou a seus assessores, principalmente o Secretário Geral do Gabinete Hisatsune Sakomizu, Kawada Mizuho e Masahiro Yasuoka, para escrever um discurso de rendição. No discurso de Hirohito, dias antes de anunciar na rádio no dia 15 de agosto, ele deu três razões principais para a rendição: as defesas de Tóquio não estariam completas antes da invasão norte-americana do Japão, o Santuário de Ise seria perdido para os norte-americanos e as armas atômicas implantadas pelos estadunidenses provocaria a morte da toda o povo japonês. Apesar da intervenção soviética, Hirohito não mencionou os soviéticos como o principal fator para a rendição.

Representação, Resposta do Público e Censura.

Durante a guerra "retórica da aniquilacionista e exterminacionalista" era tolerada em todos os níveis da sociedade norte-americana; de acordo com a embaixada britânica em Washington, os norte-americanos consideravam os japoneses como "uma massa anônima de vermes". Caricaturas representando japoneses como menos que humanos, por exemplo como macacos, eram comuns. Uma pesquisa de opinião pública de 1944 perguntou o que deveria ter sido feito com o Japão e descobriu que 13% do público estadunidense era a favor de "matar" todos os japoneses: homens, mulheres e crianças.

Depois da bomba de Hiroshima explodir com sucesso, Robert Oppenheimer se dirigiu a uma assembleia em Los Alamos "juntando as mãos, como um boxeador premiado". O Vaticano foi menos entusiástico; seu jornal, L'Osservatore Romano, lamentou que os inventores da bomba não destruíram a arma para o benefício da humanidade. No entanto, a notícia do bombardeio atômico foi recebida com entusiasmo nos Estados Unidos; uma pesquisa na revista Fortune no final de 1945 mostrou uma minoria significativa de norte-americanos (22,7%) que desejavam que mais bombas atômicas fossem lançadas sobre o Japão. A resposta positiva inicial foi apoiada pelo imaginário apresentado ao público (principalmente as poderosas imagens da nuvem de cogumelo) e a censura, por parte do governo norte-americano, de fotografias que mostravam cadáveres e sobreviventes mutilados.

Wilfred Burchett foi o primeiro jornalista a visitar Hiroshima após a bomba atômica ter sido lançada, chegando sozinho de trem de Tóquio, em 2 de setembro, o dia da rendição formal, a bordo do USS Missouri. Seu relato despachado em código Morse foi publicado pelo jornal Daily Express em Londres, em 5 de setembro de 1945, intitulado "The Atomic Plague", o primeiro relatório público a mencionar os efeitos da radiação e da cinza nuclear. Os relatórios de Burchett eram impopulares entre os militares norte-americanos. Os censores estadunidenses suprimiram uma história de apoio apresentada por George Weller do Chicago Daily News e acusou Burchett de estar sob a influência da propaganda japonesa. Laurence rejeitou os relatórios sobre envenenamento radioativo, como esforços japoneses para minar o moral americano, ignorando o seu próprio relato de envenenamento radioativo de Hiroshima publicado uma semana antes.

Um membro do Pesquisa sobre Bombardeamento Estratégico, o tenente Daniel McGovern, usou uma equipe de filmagem para documentar os resultados do ataque no início de 1946. O trabalho da equipe de filmagem resultou em um documentário de três horas intitulado "Os Efeitos das Bombas Atômicas contra Hiroshima e Nagasaki". O documentário inclui imagens de hospitais que mostram os efeitos humanos da bomba; ele mostrava prédios e carros queimados, além de fileiras de crânios e ossos no chão. Foi classificado como "secreto" pelos próximos 22 anos. Durante esta época nos Estados Unidos era uma prática comum que os editores mantivessem imagens gráficas da morte em filmes, revistas e jornais. Um total de 27 mil metros de filme que foi filmado pelos cinegrafistas de McGovern ainda não haviam sido totalmente expostos em 2009. De acordo com Greg Mitchell, com o documentário de 2004 chamado Original Child Bomb, uma pequena parte das filmagens conseguiram chegar a parte do público norte-americano.

A empresa Nippon Eigasha começou a enviar cinegrafistas para Nagasaki e Hiroshima em setembro de 1945. Em 24 de outubro de 1945, um policial militar norte-americano impediu um cinegrafista da Nippon Eigasha de continuar a filmar em Nagasaki. Todas as bobinas da Nippon Eigasha foram confiscadas pelas autoridades norte-americanas. Essas bobinas foram, como solicitado pelo governo japonês, desclassificadas e salvas do esquecimento. Alguns filmes em preto-e-branco foram lançados e mostrados pela primeira vez para o público japonês e norte-americano nos anos de 1968 a 1970. O lançamento público de filmagens da cidade após o ataque e algumas pesquisas sobre os efeitos das bombas sobre os seres humanos, foram restritos durante a ocupação do Japão e grande parte desta informação foi censurada até a assinatura do Tratado de Paz de São Francisco em 1951, que devolvia o controle para os japoneses.

Somente as informações sobre os efeitos mais sensíveis e detalhados das armas foram censuradas durante este período. Não houve censura de relatos factuais escritos. Por exemplo, no livro Hiroshima escrito por John Hersey, ganhador do Prêmio Pulitzer, que foi originalmente publicado em forma de artigo na revista The New Yorker em 31 de agosto de 1946, é relatado que chegou a Tóquio em uma versão em inglês em janeiro de 1947, sendo que a versão traduzida foi lançada no Japão em 1949. O livro narra as histórias de vida de seis sobreviventes da bomba imediadamente depois e por meses após o lançamento da bomba Little Boy.

Consequências Pós-Ataque.

Na primavera de 1948, a "Atomic Bomb Casualty Commission" (ABCC) foi estabelecida em conformidade com um decreto presidencial de Truman para a Academia Nacional de Ciências - Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos para realizar pesquisas sobre os efeitos tardios da radiação entre os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki. Um dos primeiros estudos realizados pela ABCC era sobre o resultado da gravidez que ocorre em Hiroshima e Nagasaki, e em uma cidade controle, Kure, localizada a 29 km ao sul de Hiroshima, a fim de discernir as condições e os resultados relacionados com a exposição à radiação. Dr. James V. Neel liderou o estudo, que concluiu que o número de defeitos congênitos não era significativamente maior entre os filhos dos sobreviventes que estavam grávidas no momento dos ataques. A Academia Nacional de Ciências questionou o procedimento de Neel por não filtrar a população Kure para exposição à radiação possível. Entre os defeitos congênitos observados houve uma maior incidência de má-formação do cérebro em Nagasaki e Hiroshima, incluindo microcefalia e anencefalia, cerca de 2,75 vezes a taxa observada em Kure.

Em 1985, o geneticista James F. Crow, da Universidade Johns Hopkins, examinou a pesquisa de Neel e confirmou que o número de defeitos de nascimento não era significativamente maior em Hiroshima e Nagasaki. Muitos membros da ABCC e de sua sucessora, a "Radiation Effects Research Foundation" (RERF), ainda estavam à procura de possíveis defeitos de nascimento ou outras causas entre os sobreviventes, décadas mais tarde, mas não encontraram nenhuma evidência de que eles eram comuns entre os sobreviventes. Apesar da insignificância dos defeitos de nascimento encontrada no estudo de Neel, o historiador Ronald E. Powaski escreveu que Hiroshima experimentou "um aumento de natimortos, defeitos de nascimento e mortalidade infantil" após a bomba atômica. Neel estudou também a longevidade das crianças que sobreviveram aos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, relatando que entre 90 e 95 por cento ainda estavam vivas 50 anos depois.

Cerca de 1.900 mortes por câncer podem ser atribuídas aos efeitos posteriores das bombas. Um estudo de epidemiologia feito pela RERF afirma que de 1950 a 2000, 46% das mortes por leucemia e 11% das mortes por câncer entre os sobreviventes da bomba eram devido à radiação das bombas, o excesso estatístico está sendo estimado em 200 leucemia e tumores sólidos 1700.

Os Hibakusha.


Panorama do monumento que marca o hipocentro, ou marco zero, da explosão da bomba atômica sobre Nagasaki. Créditos: Wikipédia.
Os sobreviventes dos bombardeios são chamados de hibakusha (被爆者?), uma palavra japonesa que se traduz literalmente como "pessoas afetadas pela explosão." Em 31 de março de 2014, 192.719 hibakushas eram reconhecidos pelo governo japonês, a maioria vivendo no Japão. O governo nipônico reconhece que cerca de 1% deles têm doenças causadas pela radiação. Os memoriais em Hiroshima e Nagasaki contêm listas com os nomes dos hibakusha que são conhecidos por terem morrido desde os ataques atômicos. Atualizado anualmente, nos aniversários dos atentados, em agosto de 2014, os memoriais gravam os nomes de mais de 450 mil hibakusha; 292.325 em Hiroshima e 165.409 em Nagasaki.
Os hibakusha e seus filhos eram (e ainda são) vítimas de grave discriminação no Japão devido a ignorância do público sobre as consequências do envenenamento radioativo, sendo que grande parte do público acredita ser algo hereditário ou mesmo contagiosa. Apesar do fato de que foi encontrado aumento estatisticamente comprovado de defeitos congênitos ou malformações congênitas entre as crianças concebidas e nascidas de sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki. Um estudo sobre os efeitos psicológicos de longo prazo dos bombardeios sobre os sobreviventes descobriram que mesmo entre 17 e 20 anos após os ataques, os sobreviventes mostraram uma maior prevalência de sintomas de ansiedade e somatização.

Estima-se que 118 hibakusha vivam no Brasil. O sobrevivente Takashi Morita, que trabalhava como policial em Hiroshima no dia do bombardeio, migrou para o Brasil com a família em 1956. Em 1984 fundou, e passou a dirigir, a "Associação das Vítimas de Bomba Atômica no Brasil", que reivindica auxílio do governo japonês para os sobreviventes que vivem no país. Também preside a Associação Hibakusha Brasil pela Paz. Em sua homenagem, uma escola do bairro de Santo Amaro, no município de São Paulo, foi batizada com o nome ETEC Takashi Morita.
  • Sobreviventes Duplos.
Em 24 de março de 2009, o governo japonês reconheceu oficialmente Tsutomu Yamaguchi como um hibakusha duplo. Foi confirmado que ele estava a 3 km do marco zero em Hiroshima em uma viagem de negócios quando Little Boy foi detonada. Ele ficou gravemente queimado em seu lado esquerdo e passou a noite em Hiroshima. Ele chegou em sua casa na cidade de Nagasaki em 8 de agosto, um dia antes da Fat Man ser lançada, e ele foi exposto a uma radiação residual, enquanto procurava por seus parentes. Ele foi o primeiro sobrevivente das duas bombas oficialmente reconhecido. Ele morreu em 4 de janeiro de 2010, com a idade de 93 anos, após uma batalha contra o câncer de estômago. O documentário de 2006 Twice Survived: The Doubly Atomic Bombed of Hiroshima and Nagasaki documentou 165 nijū hibakusha (literalmente "pessoas duplamente afetadas pela explosão") e foi exibido nas Nações Unidas.
  • Sobreviventes Coreanos.
Durante a guerra, o Japão trouxe até 670 mil recrutas coreanos para o Japão para o trabalho forçado. Cerca de 20 mil coreanos foram mortos em Hiroshima e outros 2 mil morreram em Nagasaki. Talvez um em cada sete das vítimas de Hiroshima eram de ascendência coreana. Por muitos anos, os coreanos tiveram de lutar por reconhecimento como vítimas das bombas atômicas e a eles foram negados benefícios para a saúde. A maioria dos problemas foram solucionados nos últimos anos através de ações judiciais.

Vista de 180º do Parque Memorial da Paz de Hiroshima. A Cúpula Genbaku, que permaneceu em pé após os bombardeamentos, pode ser vista claramente no centro da imagem. Créditos: Wikipédia.
Situação Jurídica no Japão.

Em 1963, o Tribunal Distrital de Tóquio, apesar de negar um caso de indenização apresentado por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki contra o governo japonês, declarou:
... (b) que o lançamento de bombas atômicas como um ato de hostilidade era ilegal de acordo com as regras do direito internacional positivo (tendo em consideração o direito dos tratados e do direito consuetudinário), então em vigor 
... (c) que o lançamento de bombas atômicas também constituiu um ato ilícito no plano da lei municipal, imputáveis aos Estados Unidos e ao seu Presidente, o Sr. Harry S. Truman; O ... bombardeio aéreo com bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki foi um ato ilegal de hostilidades de acordo com as regras do direito internacional. Deve ser considerado como bombardeio aéreo indiscriminado de cidades abertas, mesmo que fosse direcionado para objetivos militares apenas, na medida em que resultou em danos comparáveis ao causado pelo bombardeio indiscriminado.
Fontes.

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