terça-feira, 14 de agosto de 2018

Hilda Furacão. 20 Anos 3° Parte. Curiosidades.

Créditos: Rede Globo.
Ano de 2006, não lembro exatamente o dia ou o mês correto, mais me lembro do tal comercial da qual interessou em muito meu pai em busca desta mini-série. Dias depois ele obteve o 1° DVD de três, junto com uma caixa Box para guarda os outros que seriam publicados de

Ele só obteve os dois DVDs restantes 3 meses depois, o que me deixou bastante curioso em torno do curso da história até então.

Semelhante a  esses DVDs que ainda temos esse post será dividido em 3 partes, por que essa pesquisa rendeu muito, muito mesmo.

Ano de 1998, Ano da Copa do Mundo da França, ano que o Brasil perdeu seu Pentacampeonato, mais ganhou uma eterna fanfic que de tempos em tempos e recontada nos moldes mais modernos possíveis. Uma coisa impensável, (Não nos dias de Hoje) Que quase 2 semanas antes dos inicio dos jogos na Copa, qualquer coisa no Brasil, que estava em busca de seu Pentacampeonato, pudesse chamar mais a atenção do que a competição. 27 de Maio de 1998, final de noite de Quarta-Feira, estreia na Rede Globo a minissérie Hilda Furacão.

Tal minissérie se tornou uma sensação naquele ano. A série que mescla acontecimentos históricos com fictícios se estendeu até o dia 23 de Julho ao longo de 32 capítulos, e foi considerado uma das melhores atrações daquele ano na TV.

Curiosidades.

Drummond em 2 meses, escreveu a história da moça de boa família, que do nada dá uma guinada a 360 graus em sua vida, se transformado na mais notória prostituta de Belo Horizonte. E isso foi fácil para ele. Quando jovem Roberto, era considerado o ovelha negra da família Drummond (Só para Constar existe uma ligação parentesca entre Roberto Drummond e Carlos Drummond de Andrade). Gostava de sair com Bêbados e Prostitutas da Cidade de Ferros. Até chegar a zona boêmia de Belo Horizonte foi fácil.

Foi em BH que o autor conheceu com profundidade a rua Guaicurus, o Maravilhoso Hotel, o Montanhês Dancing e diversos personagens que compõe a obra.

Quando a minissérie estreou na Tv, Drummond começou a viver a popularidade em uma de suas palestras, um estudante perguntou se alguns dos personagens realmente existiu. diante de sua negativa, a reação foi de profunda decepção. a partir deste dia ele passou a confirmar a existência de todos.

Principalmente de Hilda. A partir dai Hilda Furacão se tornou foco de dezenas de investigações. Hilda existia? Se existia, aonde estaria? Viva? Morta?

Vamos lá.

Frei Malthus.

Quanto à real existência de Frei Malthus, existem hipóteses e contradições. O autor teria afirmado que sua inspiração seria o famoso Frei Betto, hoje escritor e que tem em sua história fatos semelhantes ao do personagem, o principal deles é o fato de também ter sido preso na época do golpe militar. Ana Beatriz Drummond (A Bela B) foi uma das pessoas que confirmou a relação entre o religioso e o personagem:
O frei realmente existiu, e foi inspirado no Frei Betto. (CSA, 2004). 
O frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, chegou a dizer que conheceu um colega de batina que se apaixonou pela Cinderela do baixo meretrício, mas o colega passou por essa privação e continuou padre.

Para endossar ainda mais a narrativa, ele confirma a amizade com Drummond, porém, se mostrou surpreso ao saber de Frei Malthus, fato descrito na revista Isto é Gente.
Sou amigo do Roberto. Éramos vizinhos e dialogávamos muito quando ele escreveu Hilda. Ele disse: 'Haverá um frade inspirado em você'", conta. "Depois saiu com essa de que eu era o Malthus e só nós sabíamos onde estava Hilda. O que mais me abismou foi a imprensa acreditar que ela era real." (CHRISTO, 2000) 
Aramel.

Amigo de infância do narrador, Aramel sempre teve o sonho de se tornar um grande astro de Hollywood, e assim vai para a capital com os amigos para tentar se realizar. Ele, porém, por falta de oportunidade e, percebe-se com o tempo que também por falta de talento, acaba fazendo uso de sua beleza para ganhar dinheiro de outra forma.

É através de Aramel que Drummond insere no romance (e aproveita para fazer séria crítica) o milionário bancário Antônio Luciano (Tonico Mendes), pessoa real que exercia enorme poder sobre a sociedade mineira da época. Na ficção, Aramel tinha a função de conquistar belas moças virgens e levá-las para o Hotel Financial para o patrão e, como pagamento, tinha casa, roupas, automóveis e certos luxos. Se o rapaz existiu não se sabe, porém, a respeito do empresário, sempre se cultivou a fama. O próprio Binômio cita, em algumas reportagens, denúncias sobre as falcatruas do empresário e seu relacionamento com as moças, muitas vezes, de maneira irônica e chega a ser perseguido pelo que publica:
O sr. Antônio Luciano está disposto a deixar todos os seus negócios. Vai fechar os cinemas, o hotel, o banco, para montar em cada cidade de Minas uma fábrica de cal virgem. (RABELO, 1997 p. 27).
O personagem Aramel tem função secundária na obra, e pode-se dizer que representa o “American Dream”, o sonho de muitos brasileiros em ir atrás do sucesso nos Estados Unidos. Assim como no real, o desejo de uma vida melhor para Aramel mostra-se uma utopia e sua frustração é grande.

Após a desilusão com Gabriela M. e o empréstimo de Hilda, ele consegue ir para a América do Norte e, com a ajuda de sua beleza consegue participar de filmes fracassados, depois chega a trabalhar como motorista e até em uma funerária. Sua desilusão acaba por criar “Pretty Boy”, um gângster assassino de bandidos, ficando mundialmente famoso.

Cintura fina e Maria Tomba Homem.

Além de políticos e figuras ilustres como Antônio Luciano, que o autor traz da realidade para habitarem sua obra, outros personagens tão lendários quanto Hilda se apresentam no contexto.
O travesti Cintura Fina e Maria Tomba Homem, no livro, moravam à rua Guaicurus que dividem o ponto de prostituição com Hilda Furacão entre outras mulheres. Os dois personagens são caracterizados como pessoas extremamente agressivas e que, constantemente, entravam em conflito com as autoridades policiais, e até mesmo um com o outro. Entretanto, são bastante fiéis à Hilda, obedecem-na sem pestanejar e sempre a defendem, como no caso do exorcismo em que as beatas pretendiam linchar a meretriz. Prova dessa união é que, durante as confusões de Cintura Fina com Tomba Homem, sempre era Hilda a chamada para apartar.

Os dois são personagens secundárias e muito pequeno é o foco destinado a elas, todavia, só a sua presença já contribui consubstancialmente para a construção da verossimilhança. Isso porque a existência real dos dois é garantido por muitos moradores de Belo Horizonte, até mais do que a própria protagonista, pois nem todos os alvos de entrevistas confirmam lembrar-se de Hilda, mas a maioria fala sobre os dois personagens. O travesti Cintura Fina realmente existiu, e, após o livro, tornou-se uma figura lendária, já quanto a Tomba Homem, sua existência não é comprovada.

 Hilda Furacão.

Tão pouco garota da alta sociedade, tão pouco revolucionária.
Créditos: G1.
Hilda Gaultier age de maneira revolucionária e vai contra tudo que se esperava de uma moça da alta sociedade. Provoca escândalo por abandonar seu mundo luxuoso de família tradicional para tornar-se Hilda Furacão. Isso provocou choque e até mesmo repulsa por parte das pessoas que a cercavam. Numa sociedade embasada na moral e nos bons costumes, sua atitude foi altamente condenável.

Hilda se mostra, em certos aspectos, uma incógnita para o leitor, pois, ao mesmo tempo em que é uma mulher forte e de coragem que encarou a sociedade e perseguições por agir contra o sistema, ela é também uma mulher sensível, que acredita no que diz uma vidente e espera pelo amor verdadeiro.

A protagonista é apresentada de forma complexa e capaz de agir de maneira surpreendente, como no trecho em que o discurso inesperado de uma prostituta consegue colocar em xeque a vivência de um santo e provar a ele, que ela sim conhecia o verdadeiro significado da miséria e a realidade dos pobres, por conviver diariamente com aqueles que ficam à margem da sociedade. Por apresentar várias dimensões e ter essa capacidade de trazer à tona o inesperado, é possível então, classifica-la como uma personagem esférica, segundo a perspectiva de Candido.

A existência real de Hilda é bastante questionada. Pessoas que viveram em Belo Horizonte garantem que ela não é um ser fictício. O próprio Roberto Drummond não confirmava se a Cinderela de baixo meretrício seria total criação de sua mente ou só a descrição de alguém com quem ele realmente conviveu.

Entrevistado nas dependências do Café Nice, também citado no livro, Francisco Salles Filho dá seu depoimento sobre a Deusa da zona boêmia e como era difícil conseguir uma noite com ela:
Por volta de 1961 eu vim para a capital e, por não ter muitas opções de prazer em Belo Horizonte frequentávamos muito a zona boêmia. [...] Hilda Furacão tinha um apartamento com antessala e, através do olho mágico, ela recebia as pessoas, mas não gostava de receber os rapazes mais novos, ela selecionava as pessoas para frequentarem o seu apartamento. Eu mesmo pelejei para entrar lá, mas não consegui 
(Colégio Santo Antônio, 2004). 
Roberto Fonseca, morador de Belo Horizonte e entrevistado na movimentada Praça Sete de Setembro, foi categórico:
A Hilda Realmente existiu! Ela era uma mulher muito bonita e muito educada, não tinha estudo, mas tinha muito preparo para tratar as pessoas, para conversar, enfim, para cativar as pessoas. Então, quando eu a conheci, eu a admirava pela sua beleza, inteligência, sua maneira de vestir, porque, apesar de ser uma mulher de vida, era uma mulher que se vestia de uma maneira muito decente.  
(Colégio Santo Antônio, 2004).
Quando da exibição da minissérie, a equipe de reportagem da revista Época em 1998, foi em busca do paradeiro de Hilda, e também encontrou testemunhas de sua existência, como o empresário Gil César Moreira de Abreu que falou sobre a beleza da moça: 
Recordo perfeitamente que tinha seios muito bonitos", diz, com a autoridade de quem foi admitido várias vezes no quarto da prostituta. Nem todos tinham esse privilégio. Para tanto, era necessária muita paciência. O candidato precisava enviar vários recados e esperar horas por uma chance. A moça mostrava a origem refinada na conversa educada e nas roupas elegantes. Lembro que ela era a única a usar penhoar e também possuía uma eletrola.  
(Trecho retirado de reportagem da revista Época escrita pela jornalista Anabela Paiva., 1998).  
O entrevistado Augusto Rocha confirmou também ter conhecido a moça, porém, demostrou opinião um pouco diferente a seu respeito :
Conheci muito a Hilda, ela morava na rua Guaicurus, não era nem bonita nem feia, era baixinha, tinha um sorriso muito bonito, mas não era uma mulher excepcional não. [...] o Roberto Drummond foi muito inteligente, se ele contasse a verdadeira história da Hilda Furacão, ele não ia vender nem um livro.  
(Colégio Santo Antônio,, 2004). 
Coloca-se em questão a pergunta: poderia então Hilda ser uma personagem inspirada em alguma mulher, porém modificada para melhor atração do leitor? O próprio autor já havia dito que conheceu várias mulheres que acreditavam ter sido sua inspiração, e que seu interesse era realmente causar a ambiguidade, como afirmou naquela que seria sua última entrevista:
Eu queria que todo mundo acreditasse em tudo, como se fosse verdade, que é o propósito de todo escritor. O jornalista não tem isso porque ele quer a certeza do que está contado. Eu quero a dúvida. Eu quero a ambiguidade, aquela coisa que é e que não é. 
(DRUMMOND, 2002). 
Ao fim do livro, Hilda muda-se para Buenos Aires e nunca mais se tem notícias dela. A lenda que se ouve em BH é que ela teria se casado com um jogador de futebol, se mudado para a Argentina, e hoje viveria uma vida amarga, ou ainda que estaria se preparando para um retorno triunfal. O entrevistado Augusto Rocha é um dos que acredita nisso
Depois que o Roberto Drummond escreveu o livro, ela ficou famosa, casou-se com um jogador famoso do Atlético, chamado Paulo Valentim e foi para Buenos Aires.  
(Colégio Santo Antônio,, 2004). 
Muitas são as tramas que se desenrolam ao longo da narrativa, porém, todas rumam para um mesmo trágico fim: o golpe militar de 1964. Sendo este, mais um dado importante de ser ressaltado na presente análise. O romancista estabelece uma ambiguidade no que refere à data do golpe, 1° de abril de 1964, na tradição popular o dia da mentira, dentro do contexto histórico a data em que se inicia a Ditadura Militar. Seria nessa data que Hilda abandonaria a zona boêmia para viver com seu amado, porém a crise política barrou seu sonho. Pode-se inferir, portanto, que Roberto Drummond talvez faz uma crítica social ao período, como se a Ditadura militar tivesse destruído o sonho de todos os brasileiros.

O dia da mentira, sendo o dia em que a história ganha o fim trágico e ainda a data de nascimento da própria Hilda, contribui, e muito, para fomentar a dúvida do leitor. Ao fim da história, a personagem principal sugere que o autor ao escrever a narrativa conte que ela não passou de um primeiro de abril, e isso funciona para o público alvo como um indício de que a história não é real.

OU SERÁ QUE NÃO!

Créditos: G1.
Como dizem toda Lenda tem uma origem, Em Agosto de 2014, 16 anos depois da minissérie, Hilda Furacão foi encontrada. Confirmando alguns dos boatos que existiam até então. Nascida em 30 de dezembro de 1930, na cidade do Recife, Hilda Maia Valentim (AKA Hilda Furacão), migrou, muito pequena e com a família, para a capital mineira. Na juventude, tornou-se famosa, em seu meio, como a prostituta "Hilda Furacão", nome este ganho pela sua reputação de mulher de pouca paciência, gerando muitas brigas entre seus clientes e colegas.

Frequentando a zona boêmia de Belo Horizonte, mais precisamente no Hotel Maravilhoso, na rua Guaicurus, conheceu o jogador Paulo Valentim, que nessa época jogava no Atlético Mineiro e com quem se casou, no final da década de 1950, transformando-se na senhora Hilda Maia Valentim. Com Paulo, morou em Buenos Aires, São Paulo e na Cidade do México, sempre acompanhando o marido, que jogou no Boca Juniors, no São Paulo e no Atlante. Após a aposentadoria do marido como jogador, o casal fixou residência em Buenos Aires, pois Valentim, quando jogador do Boca, tornou-se ídolo da torcida. Ela se tornou a Primeira-Dama do Clube Argentino, assistindo as partidas num lugar especial da Tribuna de Honra da Bombonera. Ficou viúva de Paulo em 1984 e, após a morte de seu filho, Ulisses, foi morar em um asilo no bairro Barracas, em Buenos Aires.

Morreu em 29 de dezembro de 2014, véspera de seu aniversário de 84 anos. Sofria de problemas respiratórios e renais, e morreu de "morte natural", segundo a assistente social do asilo em que viveu seus últimos dias.

Fontes.

http://fapam.web797.kinghost.net/admin/monografiasnupe/arquivos/2042014185215VERONICA_VITORIA.pdf (Principal)

http://www.ufjf.br/darandina/files/2016/09/Artigo-Rafael-Senra-Hilda-Furac%C3%A3o-e-o-jornalismo-frustrado-que-virou-literatura.pdf (Principal)

http://revistaquem.globo.com/Quem/0,6993,EQG1458810-2456-1,00.html

https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/historia-da-tv/2017/05/hilda-furacao-estreava-ha-19-anos

https://pt.wikipedia.org/wiki/Copa_do_Mundo_FIFA_de_1998

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Furac%C3%A3o_(miniss%C3%A9rie) (Principal)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Furac%C3%A3o_(livro) (Principal)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hotel_Maravilhoso

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Maia_Valentim

https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Valentim

http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/08/fantastico-visita-verdadeira-hilda-furacao-em-buenos-aires.html

https://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2014/07/29/noticia-e-mais,157760/hilda-furacao-se-tornou-icone-da-memoria-de-bh.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv24059805.htm

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2014/12/hilda-furacao-morre-na-argentina.html

https://www.vix.com/pt/tv/550104/hilda-furacao-foi-uma-das-minisseries-mais-faladas-da-tv-por-esses-5-motivos

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv24059805.htm

http://vejabh.abril.com.br/materia/cidade/cinebiografia-resgata-historia-premiado-escritor-mineiro-roberto-drummond/

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