domingo, 22 de abril de 2018

Brasil 22/04/1500.

Nau de Pedro Álvares Cabral conforme retratada no Livro
das Armadas, atualmente na Academia das Ciências de Lisboa.
Neste Exato dia a 518 anos atrás, a frota comandada por Pedro Álvares Cabral, desembarcou às terras do atual Sul da Bahia (Mais precisamente em Porto Seguro). Entretanto, inúmeros historiadores questionam se o termo correto a ser utilizado é “descobrimento”. A pergunta que permeia esse questionamento é como pode o Brasil ter sido descoberto se antes da chegada dos portugueses, e durante milhares de anos, já havia pessoas habitando as Terras brasileiras?

O termo "descobrir" é utilizado nesse caso em uma perspectiva eurocêntrica, referindo-se estritamente à chegada de europeus, mais especificamente portugueses, às terras de "Vera Cruz", o atual Brasil, que já eram habitadas por vários povos indígenas. Tal descoberta faz parte dos descobrimentos portugueses. A utilização do termo descobrimento está ligada ao etnocentrismo dos portugueses, e também dos europeus (Afinal todos os grandes fatos históricos que compõe a divisão da História está relacionado a Europa). Por entenderem o mundo tendo por centro sua própria etnia, seu próprio povo, os portugueses desconsideraram que os indígenas já conheciam o território. Eles foram os primeiros europeus a conhecerem a localidade. O descobrimento refere-se, então, aos povos da Europa, e não aos povos que já habitavam o continente americano.

A viagem de Cabral inseriu-se, então, nas diversas expedições de conquista da costa africana e dos territórios asiáticos ricos em especiarias. A esquadra que saiu de Lisboa em 9 de março de 1500 era composta por 13 embarcações (10 naus e três caravelas) e cerca de 1500 homens. O objetivo da missão de Cabral era utilizar as riquezas que levava para realizar alianças e lucrativos negócios em Calicute, na Índia.

Embora quase exclusivamente utilizado em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o termo "descoberta do Brasil" também pode referir-se à chegada de outros navegantes europeus antes dele. É o caso, por exemplo, da expedição do navegador português Duarte Pacheco Pereira em 1498, que visou possivelmente identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de 1494 — Pacheco Pereira participou das negociações do tratado. O termo aplica-se ainda à expedição do espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que chegou ao Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500.

A chegada de Cabral ao território brasileiro representou mais o início de uma conquista que um descobrimento. Conquista da terra, mas também domínio, exploração e aculturamento dos povos que habitavam o continente. Esse foi o sentido da colonização brasileira iniciada por Cabral. O que se desenhou a partir daí foi o conflito entre povos que partilhavam modos de viver e cultura distintos, no qual o europeu procurou cristianizar e escravizar os indígenas para colocar em andamento seu processo colonizador.

Antecedentes.

Para entender como isso aconteceu, precisamos voltar um pouco mais no tempo, para o início do século 15. Nessa época, os europeus só sabiam navegar em algumas regiões, como o mar Mediterrâneo e as bordas do continente. Além daí, reinava o medo. "Havia desde sempre uma crença em monstros marinhos. Eles também acreditavam que havia zonas do mar em que não se pode navegar porque a água fervia ou porque os navios encalhavam", conta Francisco Domingues, historiador da Universidade de Lisboa, especialista em náutica da Era dos Descobrimentos.

Até os mapas tinham coisas imaginárias, como uma misteriosa  Ilha perto da Irlanda chamada Hy-Brazil. Também havia, é claro, o medo do fim do mundo, que poucos julgavam ser redondo. Muitos navegantes que se aventuravam pelo Mar Oceano, como os portugueses chamavam o Atlântico, iam e não voltavam. Não por acaso, um dos maiores obstáculos à navegação daquela época era chamado de cabo do Medo, ou Bojador, na costa do Saara Ocidental.

Esse cabo e o medo da navegação atlântica começaram a ser vencidos na década de 1430, quando o infante dom Henrique, filho do rei dom João I, passou a incentivar o desenvolvimento da ciência náutica. Sob sua influência, os portugueses desenvolveram uma série de técnicas e de equipamentos que lhes permitiria realizar algumas façanhas. Um dos mais importantes foi a caravela, embarcação que, com duas ou três velas triangulares, podia navegar "à bolina", ziguezagueando "contra o vento". Em 1434, os homens de dom Henrique já haviam superado o cabo do Medo. Com as caravelas, eles foram - e voltaram - muito mais ao sul na costa africana. Na Guiné, nome com que eles chamam toda a costa noroeste da África, fundaram a feitoria de São Jorge da Mina, onde negociavam ouro, escravos, marfim e pimenta-malagueta. No século 15, essa foi a principal fonte de riqueza de Portugal.

Outra grande contribuição dos portugueses foi a navegação astronômica. Graças a um instrumento chamado quadrante - e mais tarde ao astrolábio - foram os primeiros a navegar longe da costa e descobriram que era possível voltar da Guiné mais depressa se contornassem os ventos contrários que sopravam na costa africana. Metendo-se em alto-mar, encontraram e povoaram os arquipélagos de Açores e Cabo Verde. Ninguém tinha tecnologia parecida. Era como se os portugueses fossem capazes de ir à Lua enquanto navegantes de outros países só conseguissem voar do Rio a São Paulo em teco-tecos. Os únicos marinheiros capazes de missões parecidas eram os vizinhos espanhóis.

Novas técnicas de navegação e as riquezas da África já eram suficientes para atrair a cobiça de outros países. E a capacidade marítima de Portugal ganharia ainda mais importância por causa da queda de Constantinopla (1453) e a limitação do comércio com a Ásia. Lisboa tornou-se destino de cartógrafos, astrônomos e navegadores de toda a Europa, interessados em participar da corrida para as Índias - entre eles Cristóvão Colombo, que viveu ali nas décadas de 1470 e 80. Todos os "descobrimentos do Brasil", até o oficial, foram um efeito colateral da busca pela rota para o Oriente.

Replica de uma caravela.
As Índias ficaram mais próximas dos portugueses em 1488, quando Bartolomeu Dias dobrou o cabo das Tormentas - e o transformou no da Boa Esperança -, no extremo sul da África. A chegada de Colombo à América, 4 anos depois, deu início a uma crise diplomática entre Portugal e Espanha, a patrocinadora de Colombo. A rusga acabaria trazendo ao Brasil navios das duas bandeiras ainda no século 15.

O Tratado de Tordesilhas

O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa de Castela, resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica (1474-1504).

O Tratado definia como linha de demarcação o meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, no tratado referidas como "Cipango" (Era assim chamado o Japão naqueles tempos) e Antília. Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal e os territórios a oeste, a Castela. O tratado foi ratificado por Castela a 2 de julho e por Portugal a 5 de setembro de 1494. Algumas décadas mais tarde, na sequência da chamada "questão das Molucas", o outro lado da Terra seria dividido, assumindo como linha de demarcação, a leste, o antimeridiano correspondente ao meridiano de Tordesilhas, pelo Tratado de Saragoça, a 22 de abril de 1529.

No contexto das Relações Internacionais, a sua assinatura ocorreu num momento de transição entre a hegemonia do Papado, poder até então universalista, e a afirmação do poder singular e secular dos monarcas nacionais - uma das muitas facetas da transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Para as negociações do Tratado e a sua assinatura, Dom João II de Portugal (1477, 1481-1495) designou como embaixador a sua prima de Castela (filha de uma infanta portuguesa) a D. Rui de Sousa. Os originais de cada idioma encontram-se depositados no Arquivo General de Indias, na Espanha, e no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal.

Conforme o historiador brasileiro Delgado de Carvalho, transcrevendo Beatriz Souza:

"(...) subsistia ainda a tradição medieval da supremacia política da Santa Sé, que reconhecia a Roma o direito de dispor das terras e dos povos: Adriano IV, papa inglês (1154-59), havia dado a Irlanda ao rei da Inglaterra e Sisto IV as Canárias ao rei de Castela (1471-84). Baseava-se isso, em parte, sobre o fato de um Édito de Constantino ter conferido ao papa Silvestre a soberania sobre todas as ilhas do globo; ora, isso porque as terras a descobrir eram todas, então, supostas serem exclusivamente ilhas (LIMA, Oliveira. Descobrimento do Brasil. Livro do Centenário (v. III), Rio de Janeiro: 1900 apud: Carvalho, Delgado. História Diplomática do Brasil.)

O início da expansão marítima portuguesa, sob a égide do Infante D. Henrique, levou as caravelas portuguesas pelo oceano Atlântico, rumo ao Sul, contornando a costa africana. Com a descoberta da Costa da Mina, iniciando-se o comércio de marfim, escravos, a atenção de Castela foi despertada, iniciando-se uma série de escaramuças no mar, envolvendo embarcações de ambas as Coroas.

Portugal, buscando proteger o seu investimento, negociou com Castela o Tratado de Alcáçovas (1479), obtendo em 1481, do Papa Sisto IV, a bula Æterni regis, que dividia as terras descobertas e a descobrir por um paralelo na altura das Canárias, dividindo o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Somando-se a duas outras bulas anteriores de 1452 (Dum Diversas) e 1455 (Romanus Pontifex), do Papa Nicolau V, Portugal e a Ordem de Cristo haviam recebido todas as terras conquistadas e a conquistar ao sul do cabo Bojador e da Gran Canária.

Preservavam-se, desse modo, os interesses de ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois ciclos da expansão: o chamado ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa garantia o seu progresso para o sul e o Oriente, contornando a costa africana (o chamado "périplo africano"); e o que se denominou posteriormente de ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano Atlântico, para oeste. Como resultado deste esforço espanhol, Cristóvão Colombo alcançou terras americanas em 1492.

Ciente da descoberta de Colombo, mediante as coordenadas geográficas fornecidas pelo navegador, os cosmógrafos portugueses argumentaram que a descoberta, efetivamente, se encontrava em terras portuguesas.

A descoberta lançou os dois países numa espécie de guerra fria, com armadas prontas para o combate. Dom João II, insistiu em garantir a soberania sobre o Atlântico Sul, com uma margem de 370 léguas a oeste de Cabo Verde. 

Desse modo, a diplomacia castelhana apressou-se a obter junto ao Papa Alexandre VI, Aragonês de Valência (agora unificada com Castela), uma nova partição de terras. Assim, em 3 de maio de 1493, a Bula Inter Coetera estabelecia uma nova linha de marcação, um meridiano que separaria as terras de Portugal e de Castela. O meridiano passava a cem léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As novas terras descobertas, situadas a Oeste do meridiano a 100 léguas de Cabo Verde, pertenceriam a Castela. As terras a leste, pertenceriam a Portugal. A bula excluía todas as terras conhecidas já sob controle de um estado cristão.

Os termos da bula não agradaram a João II de Portugal, que julgava ter direitos adquiridos que a Bula vinha a ferir. Além disso os seus termos causavam confusão, pois um meridiano vinha a anular o que um paralelo tinha estabelecido. Complementarmente, a execução prática da Bula era impossibilitada por sua imprecisão e pela imperfeição dos meios científicos disponíveis à época para a fixação do meridiano escolhido. Assim sendo, Dom João II abriu negociações diretas com os Reis Católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, para mover a linha mais para oeste, argumentando que o meridiano em questão se estendia por todo o globo, limitando assim as pretensões castelhanas na Ásia. D. João II propôs, por uma missão diplomática aos reis católicos, estabelecer um paralelo das Ilhas Canárias como substituto ao meridiano papal. Os castelhanos recusaram a proposta, mas se prestaram a discutir o caso. Reuniram-se então, os diplomatas, em Tordesilhas.

O seu único herdeiro, o príncipe Afonso de Portugal estava prometido desde a infância a Isabel de Aragão e Castela, ameaçando herdar os tronos de Castela e Aragão. Contudo o jovem príncipe morreu numa misteriosa queda em 1491 e durante o resto da sua vida D. João II tentou, sem sucesso, obter a legitimação do seu filho bastardo Jorge de Lancastre. Em 1494, na sequência da viagem de Cristóvão Colombo, que recusara, Dom João II negociou o Tratado de Tordesilhas com os reis católicos. Durante dois tensos anos de negociação, seu esforço diplomático garantiu o acerto de Tordesilhas, em 1494, que deixou os castelhanos com as tais Índias Ocidentais e uma grande suspeita: dom João sabia da existência de alguma terra no Atlântico Ocidental, para defender tão obstinadamente seu direito à região onde hoje sabemos que está o Brasil?

Morreu no ano seguinte sem herdeiros legítimos, tendo escolhido para sucessor o duque de Beja, seu primo direito e cunhado, que viria a ascender ao trono como Dom Manuel I de Portugal (1495-1521).

Dom João Sabia da Existência do Brasil (Pindorama)

Não há nenhuma evidência direta de que Dom João II conhecia terras por aqui. Existem, porém, indícios de que Portugal estava explorando essas bandas desde o regresso de Bartolomeu Dias, em 1489. Um deles são registros de mantimentos, como uma encomenda de mil quintais de biscoitos (pão assado duas vezes, usado como alimento nas viagens), suficiente para abastecer 2 ou 3 caravelas por 2 anos. Outro indício vem de espiões castelhanos, que avistaram a saída de 4 caravelas da ilha da Madeira, em 1493, navegando para Oeste.

Apesar da falta de provas, vários historiadores acreditam que Dom João organizou viagens de exploração pelo Atlântico, ao sul e ao Ocidente, para estudar os melhores ventos para chegar ao cabo da Boa Esperança. Só assim os navegantes portugueses teriam descoberto a "volta pelo largo", rota que os fazia passar muito perto do nordeste brasileiro. Será que, nessas viagens, eles teriam visto praias? Não se sabe, é claro, mas no diário de bordo de Vasco da Gama, que em agosto de 1497 fez a volta pelo largo rumo às Índias, está escrito que "achamos muitas aves e, quando veio a noite, elas tiravam contra o sudoeste muito rijas, como aves que iam para terra".

A maior evidência de que Dom João sabia ou ao menos suspeitava de terras onde fica o Brasil vem de Cristóvão Colombo. Em sua terceira viagem ao Novo Mundo, iniciada em 1498, Colombo saiu de Cabo Verde, como faziam os portugueses, e seguiu muito mais ao sul do que nas duas anteriores. Em seu diário, escreveu que ia verificar "a intenção del rei dom João de Portugal que dizia que no austro havia terra firme e que por isso teve diferenças com os reis de Castela". Seguindo a pista portuguesa, Colombo de fato topou pela primeira vez com um continente. Continuava achando que tinha chegado ao Cipango. Mas era só a futura Venezuela.

A essa altura, o rei de Portugal já era Dom Manuel, o Venturoso. Depois de passar 3 anos adiando uma viagem conjunta de demarcação do meridiano de Tordesilhas, porque era candidato à sucessão do reino de Castela, mudou de planos quando sua esposa espanhola morreu e lhe tirou as chances de unir os reinos. Sabendo da nova viagem de Colombo e imaginado uma disputa sobre os limites de cada reino no Novo Mundo, ele teria enviado uma pequena e secreta expedição para verificar onde, exatamente, passava a linha de Tordesilhas. Essa viagem, comandada por Duarte Pacheco Pereira, teria sido a primeira a visitar o litoral brasileiro, em 1498.

Duarte Pacheco, O Primeiro Português Antes de Cabral.

Duarte Pacheco
O Tratado de Tordesilhas tinha alguns problemas de aplicação. Por exemplo, ele não especificava de qual ilha do arquipélago de Cabo Verde as 370 léguas seriam contadas, e não esclarecia qual era o tamanho exato da unidade de medida empregada - cada país calculava a légua de uma maneira, na época. Quando a exploração das novas terras começasse de fato, essas dúvidas certamente causariam polêmica. Logo, era importante conhecer bem a região por onde passava o tal meridiano para não negociar às cegas, quando fosse chegada a hora. Duarte Pacheco tinha vasta experiência em navegação atlântica, determinação de latitudes e longitudes, em viagens de exploração na África e fora consultor técnico das negociações de Tordesilhas, o que fazia dele um homem extremamente preparado para a missão de Dom Manuel.

O principal indício da viagem de Duarte Pacheco é um livro que ele escreveu entre 1505 e 1508, chamado Esmeraldo de Situ Orbis, narrando seus serviços prestados ao rei. Nele, Duarte Pacheco diz que dom Manuel lhe encarregara de "descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do Mar Oceano, onde é achada uma tão grande terra firme". Pacheco teria saído da ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, em novembro de 1498 - menos de 6 meses depois de Colombo zarpar do mesmo local. Tomando o rumo sudoeste, seguiu ventos alísios que sopram diretamente para o Brasil. No mesmo mês, avistou terra, dois graus abaixo do Equador. Dali, navegou para oeste, seguindo a corrente das Guianas.

Há poucas dúvidas de que a viagem foi realmente feita e de que ele mesmo a comandou. "O livro era escrito para o rei, sobre missões a serviço do próprio rei. Duarte Pacheco não mentiria", explica o historiador Domingues. Já as dúvidas sobre o real destino de Duarte Pacheco são maiores porque o livro nunca foi impresso, talvez por guardar segredos muito valiosos - mais precisamente uma lista com as coordenadas geográficas de todos os portos descobertos por lusitanos desde o infante dom Henrique. E os manuscritos que restaram, encontrados apenas no século 19, não têm os mapas a que o autor se refere na obra. O texto, no entanto, descreve com minúcias a vegetação e os povos encontrados por Duarte Pacheco em sua missão. No livro A Construção do Brasil, o historiador português Jorge Couto reúne vários indícios de que a tal "grande terra firme" que Pacheco visitou realmente é o Brasil, mais precisamente o trecho compreendido entre o litoral maranhense e o estuário do rio Amazonas.

Outros indícios da viagem de Duarte Pacheco apresentados por Couto são documentos de época e o trabalho de outros historiadores. Um dos mais importantes é o Memorial de la Mejorada, documento castelhano de cerca de 1499, que afirma categoricamente que Dom Manuel violou o Tratado de Tordesilhas recém-assinado, enviando expedições que navegaram para oeste do meridiano em áreas da coroa espanhola.

Planisfério de Cantino, de 1502, até então o mapa múndi mais completo do Século 16

A Armada.

Para selar o sucesso da viagem de Vasco da Gama de descobrimento do caminho marítimo para a Índia - que permitia contornar o Mediterrâneo, então sob domínio dos mouros e das nações italianas, o Rei D. Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova frota para as Índias. Uma vez que a pequena frota de Vasco da Gama tivera dificuldades em impor-se e comerciar, esta seria a maior até então constituída, sendo composta por treze embarcações e mais de mil homens. Com exceção dos nomes de duas naus e de uma caravela, não se sabe como se chamavam os navios comandados por Cabral. Estima-se que a armada levasse mantimentos para cerca de dezoito meses.

Aquela era a maior esquadra até então enviada para o Atlântico: dez naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. Embora não se saiba o nome da nau capitânia, a nau sota-capitânia, capitaneada pelo vice-comandante da armada Sancho de Tovar, se chamava El Rei. A outra cujo nome permaneceu é a Anunciada, comandada por Nuno Leitão da Cunha. Esta última pertencia a Dom Álvaro de Bragança, filho do duque de Bragança, e fora equipada com os recursos de Bartolomeu Marchionni e Girolamo (ou Jerônimo) Sernige, banqueiros florentinos que residiam em Lisboa e investiam no comércio de especiarias. As cartas que eles trocaram com seus sócios e acionistas italianos preservaram o nome do navio.

Conservou-se ainda o nome da caravela capitaneada por Pero de Ataíde, a São Pedro. A outra caravela, comandada por Bartolomeu Dias, teve o seu nome perdido. A armada era completada por uma naveta de mantimentos, comandada por Gaspar de Lemos. Coube a ela retornar a Portugal com as notícias sobre a descoberta do Brasil.

Rota seguida por Cabral para a Índia em 1500 (em vermelho) e a rota de retorno (em azul).
Baseado em documento incompleto que localizou na Torre do Tombo, em Lisboa, Francisco Adolfo de Varnhagen identificou cinco das dez naus que compunham a frota cabralina. Seriam elas: 
  • Santa Cruz; 
  • Vitória; 
  • Flor de la Mar; 
  • Espírito Santo; 
  • Espera. 
A fonte citada por Varnhagen nunca foi reencontrada, portanto a maioria dos historiadores prefere não adotar os nomes por ele listados. A armada, assim, continua quase anônima.

Outros historiadores do século XIX declararam que a nau capitânia de Cabral era a lendária São Gabriel, a mesma comandada por Vasco da Gama na histórica viagem em que se descobriu o caminho marítimo para as Índias, três anos antes. Entretanto, não existem documentos para comprovar a tese.

Pouco antes da partida, o Rei mandou rezar uma missa, no Mosteiro de Belém, presidida pelo bispo de Ceuta, D. Diogo de Ortiz, em pessoa, onde benzeu uma bandeira com as armas do Reino e entregou-a em mãos a Cabral, despedindo-se o rei do fidalgo e dos restantes capitães.

Vasco da Gama teria tecido considerações e recomendações para a longa viagem que se chegava: a coordenação entre os navios era crucial para que não se perdessem uns dos outros, provavelmente instruiu Cabral a desviar da costa africana para fugir das correntes marítimas contrárias no Golfo da Guiné. A passagem de Cabral pelo Brasil possivelmente serviu como uma ação para garantir a posse do território garantido aos portugueses através do que foi estipulado no Tratado de Tordesilhas. Recomendou então ao capitão-mor disparar os canhões duas vezes e esperar pela mesma resposta de todos os outros navios antes de mudar o curso ou velocidade (método de contagem ainda atualmente utilizado em campo de batalha terrestre), dentre outros códigos de comunicação semelhantes.

Portugueses Foram Os Primeiros Europeus a Chegar Ao Brasil?

Mesmo a afirmação de que foi a esquadra de Cabral a primeira a chegar ao Brasil é questionável. Historiadores apontam documentos da época que indicam que outros navegadores já conheciam as terras brasileiras. O navegador português Duarte Pacheco Pereira possivelmente chegou ao território brasileiro em 1498, a serviço do rei D. Manuel I. O italiano Américo Vespúcio em finais de 1499 e os espanhóis Vicente Yañez Pinzón e Diego de Lepe teriam navegado na costa brasileira meses antes de Cabral.

"A primeira menção que se faz a Vicente é de que aos 15 anos percorria a costa catalã com uma caravela, assaltando navios com trigo, para impedir que a cidade passasse fome durante a guerra contra Portugal, entre 1475 e 1479", afirma Julio Izquierdo, historiador da Universidade de Huelva e autor de uma biografia sobre a família Pinzón. Izquierdo explica que Palos, a 50 km de Portugal, era uma espécie de sucursal espanhola da ciência náutica lusitana.

"Os portugueses eram, ao mesmo tempo, inimigos e mestres de navegação daquele povo. Na segunda metade do século 15, era a cidade que fornecia marinheiros para o reino de Castela." Os Pinzóns, por sua vez, eram uma das mais renomadas famílias de marinheiros da vila. Não foi por acaso, enfim, que a expedição de Colombo saiu de Palos, com os Pinzóns no comando de 2 das suas 3 naves.

A expedição zarpou de Palos no dia 19 de novembro com uma tripulação muito familiar, com dezenas de amigos e parentes - primos, sobrinhos, tios. O irmão mais velho, Martin Alonso, morrera logo depois de voltar da América, mas o mais novo, Francisco Martin, fora com Colombo na terceira viagem e comandou uma das caravelas na nova missão. As 4 caravelas fizeram uma escala em Cabo Verde e saíram de lá seguindo o vento que soprava para sudoeste - exatamente como teria feito Duarte Pacheco um ano antes.

Sem Referências.

A pequena esquadra de Pinzón tornou-se a primeira expedição espanhola a cruzar a linha do Equador, o que era um problema, pois, diferentemente dos portugueses, eles ainda não sabiam navegar em alto-mar no Hemisfério Sul. Sem a Estrela Polar, eles simplesmente não tinham referências. Meio perdidos, levados pelo vento e com a ajuda de uma tempestade, eles avistaram terra e desembarcaram no Brasil em 26 de janeiro.

Pinzón e alguns tripulantes gravaram o nome dos reis de Castela em árvores e rochas e, na presença de um escrivão, tomaram posse da terra em nome dos soberanos, batizando-a como Cabo de la Consolación. Registros da época afirmam que o local do desembarque foi o cabo que os portugueses chamariam de Santo Agostinho, que persiste com o mesmo nome, em Pernambuco, embora alguns historiadores defendam que o tal cabo fosse a Ponta de Mucuripe, em Fortaleza. Essa é uma das poucas controvérsias que existem acerca da viagem de Pinzón, pois sua existência e seus passos são muito bem registrados.

A viagem de Duarte Pacheco, como vimos, é um acontecimento não apenas possível mas também muito provável. Ainda assim, não dá para afirmar com certeza que ela aconteceu. Não é o caso da viagem de Pinzón. Tudo o que se passou em sua expedição foi descrito em detalhes por pelo menos dois cronistas, que entrevistaram o comandante e outros tripulantes pessoalmente para publicar os textos um ano depois.

Além disso, existe um mapa feito ainda em 1500 pelo navegador espanhol Juan de la Cosa, com detalhes de todo o trecho percorrido por Pinzón.Nele, é possível ler a frase "este cabo foi descoberto por Vicente Yañez", no ponto em que o marinheiro de Palos desembarcou. Historiadores portugueses e espanhóis concordam que ele foi, de fato, o primeiro europeu a chegar ao litoral brasileiro, 3 meses antes de Cabral

Uma passagem da viagem de Pinzón, no entanto, revela outro enigma sobre as primeiras expedições ao Brasil. Rumando para oeste, o descobridor encontrou o rio Amazonas e passou cerca de dez dias em seu curso, explorando a região. No caminho, as caravelas encontraram um grupo de indígenas.

Emboscada.

Um grupo armado, dividido em 4 botes, desceu para fazer contato, oferecendo um guizo aos indígenas. Os índios, por sua vez, atraíram os espanhóis com o que os cronistas descrevem como um bastão de ouro. Na tentativa de pegar o "presente", o grupo foi emboscado e seguiu-se uma batalha na qual morreram 8 tripulantes. Como os homens fugiram sem pegar o tal bastão, não se sabe se era mesmo de ouro ou não. O fato é que os índios usaram a isca certa. Como sabiam do interesse desses homens vestidos e barbudos pelo ouro? Será que, antes disso, eles encontraram Duarte Pacheco? Isso jamais saberemos.

A experiência no Amazonas, que Pinzón batizou de Santa María de la Mar Dulce, teve outra consequência para a expedição. Enquanto subia e descia o rio, ela foi ultrapassada pelo grupo de Diego de Lepe. Pois é, Cabral não foi nem o primeiro nem o segundo (Quiça o terceiro) a chegar, comprovadamente, à costa brasileira. Lepe, primo de Pinzón, saíra da Palos 20 dias depois e empreendeu uma "viagem irmã", chegando ao litoral brasileiro dois meses antes de Cabral.

Ao bater no cabo de Santo Agostinho, Lepe navegou algumas milhas para o sul e voltou, percorrendo em seguida a mesma trajetória de Pinzón. Sua viagem está descrita, ainda que com menos detalhes, pelos mesmos cronistas da época, que também o entrevistaram. Logo, enquanto Pinzón foi o primeiro a percorrer o trecho do cabo de Santo Agostinho ao Amazonas, Lepe é considerado o descobridor do trecho que vai do rio Amazonas até o Essequibo, atual fronteira da Venezuela com a Guiana.

Os dois viajantes ainda seguiriam a costa sul-americana até o golfo de Pária, antes de subir ao Caribe e regressar à Europa. Essas regiões, no entanto, já haviam sido navegadas e mapeadas por Colombo e por Juan de la Cosa - aquele mesmo autor do mapa que atesta a viagem de Pinzón. O curioso é que, diferentemente do que aconteceu com Duarte Pacheco, boa parte do litoral que os dois percorreram estava na zona de soberania portuguesa de acordo com o Tratado de Tordesilhas.

Chegada a Vera Cruz.

Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, comunicando sobre o descobrimento da Ilha de Vera Cruz (Brasil).

Em 22 de Abril, pouco mais de um mês após a partida de Lisboa, os homens da esquadra de Cabral avistaram um monte no litoral brasileiro, ao qual deram o nome de Monte Pascoal, em decorrência do período da Páscoa, e desembarcaram no local que chamaram de Porto Seguro, no sul do atual estado da Bahia. Hoje a localidade se chama Santa Cruz de Cabrália.

Pedro Álvares Cabral e sua esquadra permaneceram no litoral brasileiro por pouco mais de uma semana. Aqui realizaram duas missas, reabasteceram suas embarcações e fizeram registros da nova terra ainda por conquistar. O documento mais famoso dessa chegada foi a carta escrita por Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei português no dia 1º de maio de 1500, quando uma das embarcações retornou a Portugal. Antes de ser conhecido como Brasil, o território português nas Américas receberia alguns nomes, entre eles Pindorama, Ilha de Santa Cruz e Terra de Santa Cruz.

No dia 24 de Abril, Andreza Balbino e Cabral receberam os nativos no seu navio. Então, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de índios que reconheceram de imediato o ouro e a prata que se fazia surgir no navio — nomeadamente um fio de ouro de D. Pedro e um castiçal de prata — o que fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia muito ouro naquela terra. Entretanto, Caminha, em sua carta, confessa que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro, ou se o desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, provou-se que a segunda alternativa era a verdadeira.

O encontro entre portugueses e índios também está documentado na carta escrita por Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas não reconheceram os animais que traziam os navegadores, à exceção de um papagaio que o capitão trazia consigo; ofereceram-lhes comida e vinho, os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes pelos objetos não reconhecidos - como umas contas de rosário, e a surpresa dos portugueses pelos objetos reconhecidos - os metais preciosos. Fez-se curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral ter vestido-se com todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um capitão-mor frente aos índios e estes, por sua vez, terem passado por sua frente sem diferenciá-lo dos demais tripulantes.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro (óleo sobre tela), autor: Oscar Pereira da Silva, 1904. Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa, rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um domingo, 26 de abril de 1500. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou para as Índias, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com a carta de Caminha. No entanto, posteriormente, com a chegada de frotas lusitanas com o objetivo de permanecer no Brasil - e a tentativa de evangelizar os índios de fato -, os portugueses perceberam que a suposta facilidade na cristianização dos indígenas na verdade traduziu-se apenas pela curiosidade destes com os gestos e falas ritualísticos dos europeus, não havendo um real interesse na fé católica, o que forçou os missionários a repensarem seus métodos de conquista espiritual.

Os Povos Nativos.

Os povos que habitavam o Brasil na época da chegada de Cabral viviam na Idade da Pedra, entre a passagem do Paleolítico para o Neolítico, uma vez que praticavam uma incipiente agricultura (milho e mandioca) e domesticação de animais (porco do mato e capivara). Contudo, tinham amplo conhecimento da produção de bebidas alcoólicas fermentadas (mais de 80), utilizando como matéria prima raízes, tubérculos, cascas, frutos, etc. O impacto causado pela chegada dos portugueses é o mesmo que causaria hoje a chegada de nave de extraterrestres pertencentes a uma civilização milhares de anos mais avançada do que a nossa.

Índios tupinambás, gravura do século XVI.
Quando da chegada ao Brasil pelos portugueses, o litoral baiano era ocupado por duas nações indígenas do grupo linguístico tupi: os tupinambás, que ocupavam a faixa compreendida entre Camamu e a foz do Rio São Francisco; e os tupiniquins, e que se estendiam de Camamu até o limite com o atual estado brasileiro do Espírito Santo. Mais para o interior, ocupando a faixa paralela àquela apropriada pelos tupiniquins, estavam os aimorés.

No início do processo de colonização do Brasil, os tupiniquins apoiaram os portugueses, enquanto seus rivais, os tupinambás, apoiaram os franceses, que durante os séculos XVI e XVII realizaram diversas ofensivas contra a América Portuguesa. A presença dos europeus incendiou mais o ódio entre as duas tribos, ódio relatado por Hans Staden, viajante alemão, em seu sequestro pelos tupinambás. Ambas as tribos possuíam cultura antropofágica com relação aos seus rivais, característica que durante séculos não fora compreendida pelos europeus, o que resultou na posterior caça àqueles que se recusassem a mudar esse hábito.

Controvérsias.

Pedro Álvares Cabral saiu de Portugal com destino a Índia em março de 1500. Não há dúvida de que chegou, tomou posse, rezou missa, fincou cruz e deu início ao processo que tornou o Brasil uma colônia portuguesa - e por isso mesmo ficou com a fama de descobridor. A controvérsia sobre sua viagem é se teria chegado por acidente ou intenção, mas até isso não é mais mistério. Sabe-se que, no local em que deveria tomar o rumo leste, os ventos sopravam para esse mesmo lado. Logo, é improvável que tenha vindo para oeste por acidente.

O que se discute é se veio por ordem do rei ou dos conselheiros reais, nobres e comerciantes que discordavam da viagem para a Índia. "Os mercadores privados e a maioria do conselho do rei preferiam a expansão no Atlântico, onde não era necessário entrar em conflito com os muçulmanos e os monopólios reais eram restritos a alguns portos e produtos", explica o historiador Thomaz. "Para o rei, o Brasil constituiria somente uma escala para a Índia, mas para os mercadores privados era a perspectiva de um novo mundo a explorar." Portanto, é bem possível que o fidalgo Cabral tenha resolvido contrariar o rei.

A hipótese poderia explicar o fato de ter sido "esquecido" pelo monarca, que nunca mais o escolheu para qualquer missão em mar ou em terra. Cabral morreu sem glória, sem retrato ou busto de descobridor do Brasil. Os outros descobridores não tiveram melhor sorte. Duarte Pacheco ainda foi tratado com honra por dom Manuel, que lhe deu o comando de uma armada para as Índias e o cargo de governador de São Jorge da Mina - posições muito lucrativas. Com a ascensão de dom João 3º, porém, ele seria perseguido e preso sob a acusação de desvio de ouro. Pinzón faria outra viagem ao Novo Mundo, na qual teria sido o primeiro europeu a encontrar os astecas, no México, mas morreu endividado, em 1514. Da vida de Lepe sabe-se menos ainda. Morreu em Portugal em 1515 e não se tem notícia nem de onde foi enterrado.

Dificilmente saberemos se outras pessoas não teriam chegado ao litoral brasileiro antes desses homens. A história dessas viagens foi preservada em poucos documentos. Quantas outras, de menor importância ou maior segredo, não teriam sido feitas? Quando Martim Afonso de Souza veio para o sul do Brasil, em 1530, encontrou por aqui certo Bacharel de Cananeia, degredado europeu apresentado em diversas crônicas do século 16. Os registros da viagem de Afonso dizem que o Bacharel estava no Brasil havia 30 anos. A maioria dos historiadores defende que ele fora deixado aqui por Gonçalo Coelho, em 1502, mas alguns dizem que isso teria acontecido em 1499, numa suposta expedição de Bartolomeu Dias ao Brasil - de qualquer forma, ele estava justamente onde passava o meridiano de Tordesilhas.

Não há evidências concretas de qualquer outra viagem no Atlântico Sul entre 1488 e 1498. Apesar da falta de provas, provavelmente houve, sim, outras expedições à região. Vasco da Gama percorreu no caminho para a Índia a mesma rota que os velejadores fazem até hoje entre a Europa e o sul da África. Gama teria acertado o melhor caminho, de primeira, por pura sorte? Ou teria feito isso depois de um longo e meticuloso período de viagens de exploração? Domingues arremata: "Essa é uma pergunta que se faz há mais de 100 anos".

Origem do Nome Brasil.


O autor Edgardo Otero apresenta uma pesquisa que postula que existem três vertentes que procuram explicar a origem do nome Brasil:

1. Pau-Brasil.

O nome proveniente da árvore Pau-brasil, chamado assim por causa de sua cor vermelha, que lembrava brasas de fogo. A origem derivada da madeira já era defendida na época colonial, onde cronistas da importância de João de Barros, Frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gandavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" deriva de "pau-brasil", a designação de um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos. Na época dos descobrimentos, era comum aos exploradores guardar cuidadosamente o segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim de explorá-lo vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que haviam descoberto certa "ilha Brasil" no meio do Atlântico, de onde extraíam o pau-brasil. Essa teoria é oficial e ensinada nas escolas brasileiras e portuguesas

2. Ilha Brazil (Hy Brazil)

Antes da Era dos Descobrimentos, os europeus tinham várias superstições em relação ao mar aberto. Algumas eram assustadoras, como as de monstros marinhos. Outras eram sedutoras, como as que falavam de Hy Brazil, ilha mitológica e paradisíaca situada em algum lugar do Atlântico. 

O nome proveniente de uma ilha mítica chamada Brazil (com z). Essa lenda teria surgido entre os Celtas que diziam ser uma ilha no meio do oceano que pegava fogo constantemente. Por volta de 1339, muitos documentos da época mostram que já existia essa ilha no meio do Oceano Atlântico a oeste da ilha dos Açores, porém a localização exata variava entre galegos e germânicos. O nome Brazil deu origem ao sobrenome de uma família na Idade Média e ainda hoje presente na Irlanda.

Sua posição, no entanto, mudava a cada 7 anos, ou a cada vez que era avistada, dependendo da versão da lenda. Questões geográficas à parte, essa é a ilha imaginária mais desenhada nos mapas europeus dos séculos 14 e 15. O nome da ilha, a propósito, é uma das dezenas de explicações sobre o batismo de nosso país. O termo "brasil" já era usado desde a Idade Média para madeiras de tinta encontradas na Ásia. Quando os portugueses encontraram uma terra com esse tipo de madeira, a existência de um ilha com nome semelhante em tantos mapas teria ajudado o apelido a emplacar.

3. Brasile

O nome proveniente da derivação de "Balj ibn Bishr", primeiro chefe muçulmano a conquistar Andaluzia (na Espanha). Este famoso guerreiro teve seu nome pronunciado de diversas formas e, com o passar dos anos, seu nome ficou para a história como "Brasile".

Historiografia.

Em termos historiográficos, a data da descoberta do Brasil variou ao longo dos séculosː
  • Até 1817 - 3 de maio (cf. Gaspar Correia);
  • 1817 - 22 de abril (cf. publicação da Carta de Pero Vaz de Caminha pelo padre Manuel Aires de Casal, que a descobriu entre os documentos trazidos para o Brasil pela Família Real em 1808);
  • 1823 - José Bonifácio propôs a data de abertura da Assembleia Constituinte - 3 de maio - para coincidir com a data do Descobrimento (supostamente desconhecia a publicação de 1817);
  • Da segunda metade do século XIX até 1889, o cidadão brasileiro culto sabia que a data do descobrimento era 22 de abril, embora ela não fizesse parte dos feriados do Império;
  • 1890 - Um Decreto republicano instituía a data de 3 de maio como feriado alusivo ao descobrimento. A imprensa à época, entretanto, já considerava 22 de abril como a data correta;
  • 1930 - Um Decreto de Getúlio Vargas extinguiu o feriado de 3 de maio. Afirmou-se, a partir de então o 22 de abril.

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