quinta-feira, 19 de abril de 2018

Enciclopédia das Lendas Urbanas: A Gangue do Palhaço.

Ei, Tem Post novo no Oberhalb Thoth.
A palavra Palhaço deriva do italiano paglia, que quer dizer palha, que era o material usado no revestimento de colchões. O nome começou a ser usado porque a primitiva roupa desse cômico era feita do mesmo pano e revestimento dos colchões: um tecido grosso e listrado, e afofada nas partes mais salientes do corpo com palha, fazendo de quem a vestia um verdadeiro "colchão" ambulante. Esse revestimento de palha os protegia das constantes quedas e estripulias. Já a palavra clown é de origem inglesa e tem origem no século XVI. Deriva-se cloyne, cloine, clowne. Etimologicamente vem de clod, que em inglês significa "camponês" e ao seu meio rústico, a terra. O termo em inglês é amplamente utilizado, por conta da influencia do britânico Philip Astley. No Brasil existe uma divergência teórico-semantica para com essas duas palavras. Alguns teóricos apontam que os dois termos indicam uma mesma coisa, já outros dizem que cada termo remete a uma escola de pensamento diferentes.

Embora vinculado aos circos, o palhaço pode atuar também em espetáculos abertos, em teatro, em programas de televisão ou em qualquer outro ambiente. Em várias ocasiões é o personagem que tem a tarefa de entreter o público durante as apresentações, especialmente no circo. É geralmente vestido de um jeito engraçado, com trajes desproporcionados e multicoloridos, com aplicações de pinturas (maquiagens) especiais e acessórios característicos.

Entretanto, há diversos tipos de palhaço, como o melancólico, romântico, bufão, tramp (mendigo), etc. Não iremos falar de nenhum destes Palhaços e sim do Habitante lendários as historietas urbanas.

Hoje é Quinta-Feira. E neste dia em Especifico, temos a Enciclopédia das Lendas Urbanas.

A(s) Origem(ns) da Gangue, Kombi (Azul) do Palhaço.

Palhaço da Kombi, Gangue dos Palhaços entre tantos epítetos para designar esta lenda em comum, sem sombra de dúvidas é uma das mais famosas Lendas Urbanas da Década de 90. A narrativa da Lenda e simples:
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Pessoas fantasiadas de palhaços que sequestravam crianças com os mais diversos objetivos, a gangue de palhaços (que às vezes tinham também uma bailarina entre eles) rondava os grandes centros numa Kombi branca (Ou Azul), parando nas praças onde apresentavam seu show; no meio da bagunça eles raptavam as crianças. Seus fins eram dos mais diversos: sequestro, tráfico de órgãos e prostituição são somente algumas das suposições. Outra versão menciona que não era uma gangue e sim um único palhaço que raptava as crianças para satisfazer sua sede de sangue.

Em meados dos anos 90 uma história assombrou a grande São Paulo. Por ocasião do lançamento de uma série especial no jornal Notícias Populares  chamada "os Crimes que abalaram o Mundo".

Foi apresentado o caso de um Palhaço norte americano que na década de 60 assassinava crianças (John Wayne Gacy, vai ter um Post a parte). A partir daí surgiu a história de que uma gangue de palhaços (que às vezes tinham também uma bailarina entre eles) que atuava na cidade de Osasco e estaria roubando crianças para vender seus órgãos para o mercado negro. 

Aos poucos a história percorreu toda a grande São Paulo e ganhava tons cada vez mais verídicos, agora a gangue rondava os grandes centros numa Kombi azul, parando nas praças onde apresentavam seu show; no meio da bagunça eles raptavam as crianças e fugiam. A história se espalhou por todo o Brasil e chegou ao ponto de ter pessoas que juravam ter visto reportagem no famoso telejornal "AQUI AGORA". O boato foi tão forte que o Notícias Populares  chegou a dar algumas capas para a "gangue dos Palhaços", uma escola (nome desconhecido), em Mauá chegou a ser "atacada" pelos diabólicos palhaços. Todos sabiam de alguém que conhecia a vítima, mas ninguém conhecia a própria vítima. 
Uma das perguntas é como uma Kombi Azul dirigida por um palhaço e uma bailarina passa despercebida bem na hora mais movimentada de uma escola publica e não chama atenção da policia?
Porém outros atribuem a origem do mitos dos Palhaços nos Anos 80, especificamente a um curioso grupo de Rock Brasileiro, chamado The Lee Bats, da qual faziam Shows em São Paulo.

Ok mas qual a relação deste misterioso grupo de Rock com a Lenda dos Palhaços. Um das versões do mito e relacionada a Kombi Azul, Kombi essa que o misterioso grupo utilizava para se locomove. Suas apresentações, (das quais poucas pessoas testemunharam) se fantasiavam de diversos palhaços (Clown, Arlequim, Pierrot, etc..), sempre usavam fantasias e nunca mostravam os rostos, ninguém soube até hoje a real identidade da banda que se apresentava com pseudônimos e foi aí que começou os boatos de que eles eram criminosos foragidos, outros boatos diziam que a seita satânica que pertenciam não os deixavam revelar suas identidades. Até que esses boatos foram evoluindo para a lenda da Gangue dos Palhaços que conhecemos hoje.

The Lee Bats (1979-1985)
Poucas são as Informações desta Banda, pesquisado sobre The Lee Bats, apenas encontrei um Artigo interessante sobre eles no Recantos das Letras (Por que os Lee Bats são um mistério?), e na Revista Diálogos (LEE BATS E O CONCEITO DE ROCK-POESIA)


O Mito Torna Se Realidade.

Nos Anos 90, depois da Publicação dos Crimes que Abalaram o Mundo, o jornal Notícias Populares" acompanhou a investigação sobre um suposto bando, formado por um negro e uma loira, que estavam apavorando São Paulo. Ele, fantasiado de palhaço, e ela, de bailarina, atraíam crianças com balas e doces e depois as jogavam em uma Kombi branca, sumindo em seguida. Passados alguns dias, a criança raptada era encontrada sem os órgãos. Outra característica é que os criminosos escolhiam as vítimas sempre em frente às escolas.

As reportagens sobre o grupo, que ficou conhecido como a Gangue do Palhaço, foram publicadas no NP. Entre os dias 20 de maio e 5 de junho de 1995. E, nesses 15 dias, o caso teve grande repercussão, mesmo com o jornal sempre deixando bem claro em suas páginas que o assunto não passava de boato.

Tudo começou por causa de Aline, uma menina de 11 anos, da cidade de Carapicuíba (Grande São Paulo), que estava desaparecida desde o dia 31 de março daquele ano. A partir daí, o boato de que ela teria sido vítima da Gangue do Palhaço se espalhou pelo Estado. Moradores de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital, do Capão Redondo, na zona sul, e do município de Osasco, por exemplo, já não deixavam mais seus filhos irem sozinhos à escola.

A polícia, entretanto, sempre afirmou que a gangue nunca havia existido, pois não fora registrado nenhum caso e/ou queixa comprovada sobre o assunto. O delegado titular de Carapicuíba, onde começou a boataria, afirmava: "A gangue é fruto da imaginação de alguém. Se eu descobrir quem começou com isso, prendo".

Infográfico do 'Notícias Populares', em 30 de maio de 1995, exibiu os locais em que havia relatos da Gangue do Palhaço
Mesmo diante das negativas da polícia e de o "NP" publicar que tudo não passava de boato, algumas pessoas juravam ter visto os assassinos de crianças. A dona de casa N. E., moradora do Tucuruvi (zona norte), afirmou que o bando havia tentado raptar seus filhos no começo de 1995. "Um negro numa Kombi branca parou em frente de casa e pediu para levar meus filhos para a escola. Não topei, e ele falou que eu ia me arrepender." De acordo com ela, a perua era suspeita. "Não tinha placa, os vidros eram fumês e tinham cortinas", disse.

Em outros bairros da zona norte da capital paulista, a população também ficou amedrontada. Cleide Tavares, 40, afirmou que "eles tentaram atacar uma criança em frente a uma creche". O mecânico Carlos Adônis, de Perus, contou que sua filha não queria mais ir à escola.

Outra menina, cujo nome coincidentemente era Aline, 4, e que morava em Cidade Tiradentes, estava desaparecida desde o dia 7 de maio. Os familiares das duas Alines acreditavam que as garotas haviam sido levadas pela Gangue do Palhaço.

Por causa da boataria, palhaços profissionais começaram a perder seus empregos, como revelou reportagem do "NP" publicada em 23 de maio de 1995. Edmilson José da Silva, que trabalhava em Carapicuíba como o palhaço Vuku-Vuku, estava sem emprego havia um mês. "Só de olhar um pôster com meu retrato na rua, eu já vi criança morrendo de medo", dizia.

Vanderlei Costa, o palhaço Mamadeira, um dos sócios do sindicato dos palhaços, disse que a história iria "afastar as crianças dos palhaços".

O empresário Alvarindo Vicente de Souza, que tinha um sítio que funcionava como parque de diversões e circo no Tremembé (zona norte) e que fazia o palhaço Zig-Zag, disse que estava perdendo dinheiro. "Três escolas de Carapicuíba cancelaram excursões ao sítio porque as crianças estavam apavoradas", afirmou.

Em 20 de maio de 1995, 'NP' publica a primeira manchete
da série sobre a Gangue do Palhaço
Além do problema de desemprego, uma palhaça chegou a ser ameaçada de morte, conforme noticiava o "NP" de 30 de maio. Os palhaços Solange e Benedito, que encenavam Maria Pipoca e Tatupim, respectivamente, tiveram a vida em risco em ameaças feitas pela população. O casal era xingado cada vez que saia de casa. Em uma ocasião, os dois foram denunciados à Rota por um taxista e acabaram na delegacia. "Outro dia usei um batom 24 horas e saí na rua. Muita gente me olhou torto, e nunca senti tanto medo na minha vida", contou Solange.

Robson Martins, da companhia Tulim-pim-pim, voltava com sua Kombi pela rodovia dos Bandeirantes, acompanhado de Ricardo Galdeano, vestido de palhaço, e Sílvia Martins, fantasiada de bailarina. Robson relatou: "Na saída para a marginal Pinheiros, um cara que estava num Corcel branco e se dizia policial nos obrigou a parar e nos ameaçou com uma arma".

José Calazans de Oliveira, o palhaço Cherozinho, passou um apuro com o próprio filho Edmárcio, então com 12 anos. "Ele veio me perguntar se eu estava roubando crianças."

O medo de ataques da Gangue do Palhaço fez com que escolas de Carapicuíba começassem a colocar seguranças para proteger as crianças, como informou o "NP" em 25 de maio.

No dia 27, o jornal publicou que o boato da gangue estava apavorando o interior e o litoral do Estado. Os moradores de São Roque (SP) estavam amedrontados com o bando que sequestrava crianças para tirar os órgãos. O medo também chegou a Peruíbe (litoral sul). A população das duas cidades dizia que um médico grisalho teria se juntado à gangue. Vera Lúcia Rodrigues, de São Roque, jurou ter visto os três com a perua em frente de uma padaria. "O palhaço tentou atrair minhas filhas, mas eu fugi."

A partir do momento em que os boatos sobre a gangue se multiplicaram, a polícia não teve mais sossego. A delegacia de Carapicuíba recebia mais de 20 ligações por dia de pessoas apavoradas com o bando. "Ninguém aguenta mais", dizia o delegado da cidade, Brasílio Machado.

Em 5 de junho de 1995, o 'Notícias Populares', com a ajuda de Gil Gomes, encerra a história da Gangue do Palhaço.
"O 'bando do palhaço' não existe" foi a manchete da última reportagem da série, publicada no dia 5 de junho. O "NP", a polícia e o repórter Gil Gomes investigaram o caso por dois meses e chegaram à mesma conclusão: tudo não passava de boato.

Desde que as notícias começaram a ser veiculadas, Gil Gomes começou sua investigação, entrevistando os pais das crianças desaparecidas e a polícia. "Tudo não passa de boato. Até hoje, nenhuma criança foi encontrada morta sem os órgãos", garantia ele.

O delegado-geral da polícia Antônio Carlos Machado também afirmou que a gangue não existia. "Fizemos uma investigação no Estado todo. Nunca um caso desse tipo foi registrado", afirmou.

Quando a Realidade Imita a Ficção.

Se os Palhaços das Lendas faziam coisas tenebrosas, os da Vida real faziam pior, volta em meia na Impressa e noticiado que a Gangue do foi presa, como aconteceu em 2009 no México, e em 2012 em Goiânia, e em 2015 em Gravataí.

Neste ano, no Carnaval, a Gangue dos Palhaços, dispensou as crianças e atacou os foliões. E inegável que a Lenda dos Palhaços continua firme e forte

O caso da "Gangue do Palhaço", guardadas as devidas proporções, lembrou um episódio de 1938, nos EUA, quando a rádio CBS realizou uma leitura dramática do livro "Guerra dos Mundos", de H.G. Wells, sobre uma invasão alienígena, e viu o pânico se espalhar entre milhões de pessoas. Em São Paulo, mesmo com os constantes informes do 'NP' de que a gangue não existia, os relatos sobre a trupe do palhaço mostraram o quão perigoso um boato pode ser, a ponto de causar desemprego, despertar violência e colocar vidas de pessoas em risco.

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