terça-feira, 19 de junho de 2018

110 anos da Imigração Japonesa no Brasil. 2° Parte. Medos e Preconceitos.

Cartaz de Propaganda da Imigração de
Japoneses para o Brasil e Peru.
Esse vai ser uma daquelas séries de Posts históricas do Oberhalb Thoth

Em 18 de Junho de 2018 e comemorando no Brasil, os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil. Japão e Brasil tem uma relação fraternal que vai longe, nossos laços vão além de contradições geográficas, assim posso dizer (Enquanto são 21:00 da noite aqui no Brasil, e 09:00 da manhã ai no Japão).

Estamos matematicamente distantes por 17369 km, em algumas estimativas 1 dia de Viagem de Avião. A última vez que o Brasil foi campeão do Mundo FIFA, foi em território Japonês (Contra a Alemanha). Foi em Terras Brasileiras que os Animes e Tokusatsus se tornaram famosos e populares.

Airton Senna e Zico, se tornaram Esportistas reverenciados pelos Japoneses. Zico, Lendário Jogador do Flamengo, presente em 3 copas do Mundo, Comandou a Seleção Japonesa no Mundial de 2006.

A imigração japonesa no Brasil começou oficialmente no início do século XX, no ano de 1908.

O Nacionalismo da Era Vargas

A Assembleia Nacional Constituinte de 1933 foi local de discussões de "teses científicas" de eugenia racial que propunham a necessidade do "branqueamento" da população brasileira. O grande defensor destas idéias foi o médico Miguel Couto (eleito pelo Distrito Federal, hoje Rio de Janeiro) apoiado por outros deputados médicos como o sanitarista Artur Neiva, da Bahia e Antônio Xavier de Oliveira, do Ceará. Juntos, eles pediram o fim da imigração dos "aborígenes nipões".

A consequência foi a aprovação por larga maioria de uma emenda constitucional que estabelecia cotas de imigração sem fazer menção a raça ou nacionalidade, e que proibia a concentração populacional de imigrantes. Segundo o texto constitucional, o Brasil só poderia receber, por ano, no máximo 2% do total de ingressantes da cada nacionalidade que fora recebido nos últimos 50 anos.[30] Apenas os portugueses foram excluídos dessa lei. Estas medidas não afetaram a imigração de europeus como italianos e espanhóis que já tinham ingressado em grande quantidade e cujo fluxo migratório era descendente. Entretanto, o regime de cotas, que irá vigorar até a década de 1980, restringiu a imigração de japoneses, assim como, futuramente, a de coreanos e chineses.

Na década de 1930 foi muito debatido a questão da imigração japonesa, sendo que o material escrito na época chegava a ser publicado das mais diversas formas sendo que havia milhares de páginas de artigos, anúncios e livros sobre a imigração japonesa. Os que se opunham à entrada de japoneses usavam argumentos essencialmente nacionalistas como: "ele [os japoneses] estão roubando nossos empregos e nossas terras", também havia as declarações racistas, eugenistas, do tipo, "eles irão poluir nossa raça". Os favoráveis a ela tendiam a enfocar os níveis de produção, sendo que em 1936, os agricultores japoneses produziam 46% do algodão, 57% da seda e 75% do chá brasileiros. Outros argumentos dados pelos defensores da imigração japonesa era quanto a necessidade de uma maior força de trabalho. Um dos defensores da imigração japonesa, Alfredo Ellis Júnior, então deputado, propôs que as cotas fossem contornadas pelo uso das chamadas "cartas de chamada", sendo que o uso desses documentos lhes permitiriam que tantos cidadãos brasileiros quanto imigrantes com residência permanente no Brasil "chamassem" seus parentes e esses poderiam imigrar ao Brasil. Num discurso proferido na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, Bento de Abreu Sampaio Vidal, presidente da Sociedade Rural Brasileira, falou em defender a "raça" brasileira dos imigrantes indesejáveis, mas não colocava os japoneses nessa categoria. Em discurso proferiu:
"Conheço como ninguém o valor dos japoneses. Marília, a minha querida cidade, é o maior centro de japoneses no Brasil. É a gente mais eficiente para o trabalho, educada, culta, sóbria... Durante a noite escura, em que os fazendeiros não podiam pagar regularmente seus colonos, não se viu um colono japonês impaciente ou reclamando. Quanto à raça, não sei se os grandes médicos (os médicos anti-japoneses Neiva e Couto) terão razão, porque em Marília existem entre os colonos homens e mulheres bonitos e robustos."
A ditadura do Estado Novo implantado por Getúlio Vargas em 1937 procurou ressaltar o nacionalismo brasileiro através da repressão à cultura de imigrantes que formavam comunidades fechadas como os japoneses e alemães. Também foi declarado o confisco dos bens dos imigrantes. Nas décadas seguintes após a Segunda Guerra Mundial, vários decretos foram editados determinando condições para a devolução do que foi confiscado, mas atualmente os bens e ações continuam sob a guarda do Banco do Brasil, sendo que a instituição e a Secretaria do Tesouro Nacional admitem a existência dessa riqueza, mas não se pronunciam oficialmente sobre o fato.

O decreto nº 383 de 18 de abril de 1938 determinou várias proibições aos estrangeiros: não poderiam participar de atividades políticas, formar qualquer tipo de associação, falar línguas estrangeiras em público ou usá-las como língua de alfabetização de crianças; para a maioria dos nipônicos no país, essa era a única forma de se comunicar. No mesmo ano o governo ordenou o fechamento dos "nihongakus" que eram as escolas onde os filhos de imigrantes aprendiam não só a ler e escrever em japonês, mas a ser e agir como japoneses.

A transmissão de programas de rádio em línguas estrangeiras foi proibida. As publicações impressas (jornais, revistas, livros) em língua estrangeira também foram proibidas, a não ser que fossem bilíngue, japonês-português, por exemplo. Como a publicação bilíngue era muito cara, jornais e revistas deixaram de circular. Em 1939, uma pesquisa da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, de São Paulo, mostrou que 87,7% dos nipo-brasileiros assinavam jornais em idioma japonês, um índice altíssimo para qualquer língua e qualquer época no Brasil. O decreto nº 383 de 1938 praticamente acabou com a disseminação de informações na comunidade japonesa, pois boa parte desta sequer compreendia o idioma português.

A partir de então, a entrada de imigrantes japoneses ficou cada vez mais difícil. O ministro da Justiça Francisco Campos, em 1941, defendeu a proibição do ingresso de 400 imigrantes japoneses em São Paulo escrevendo: "seu padrão de vida desprezível representa uma concorrência brutal com o trabalhador do país; seu egoísmo, sua má-fé, seu caráter refratário, fazem deles um enorme quisto étnico e cultural localizado na mais rica das regiões do Brasil".

Segunda Guerra Mundial.

Imigrantes Japoneses derrubando mata virgem
A segunda geração de japoneses no Brasil desistiu, definitivamente, de retornar ao Japão, principalmente quando a eclosão da Segunda Guerra Mundial tornou impossível sair do Brasil. Em 1941, o governo ordenou que os jornais da comunidade fossem fechados e, nesse momento, as notícias que os imigrantes tinham era a de que o Japão estava em vantagem na guerra. Nessa época os cidadãos de origem alemã, italiana e japonesa eram considerados "súditos do Eixo", sendo que, a partir de 1942, o governo de Getúlio Vargas apoiou oficialmente os Estados Unidos na guerra, fazendo com que esses habitantes fossem vistos como "inimigos" em território brasileiro.

Antes mesmo de entrar em guerra, o governo brasileiro tomou medidas que afetavam a comunidade nipo-brasileira. Quando houve os torpedeamentos de navios brasileiros por submarinos alemães, o bairro da Liberdade já concentrava a maior população de nipo-brasileiros na cidade de São Paulo. Alguns dias depois, na noite de 2 de fevereiro de 1942, agentes policiais do DEOPS - Departamento Estadual de Ordem Pública e Social, acordaram os nipo-brasileiros residentes nas ruas Conde de Sarzedas e da rua dos Estudantes e, sem qualquer ordem judicial, avisaram que eles teriam que abandonar a área em 12 horas. Sem ter para onde ir, a maioria ficou. Entretanto, o mesmo se repetiu na noite de 6 de setembro, quando se deu um prazo de dez dias para os nipo-brasileiros se mudarem definitivamente da região.

A comunidade nipo-brasileira foi duramente atingida por medidas restritivas quando o Brasil declarou guerra ao Japão em agosto de 1942. No mesmo ano, a percentagem dos nipo-brasileiros que se dedicavam ao cultivo do café diminuiu em comparação a 1912, sendo que passaram a representar 24,3%, havendo um aumento daqueles que se dedicavam ao cultivo do algodão, representando 39,2% do total de nipo-brasileiros e um aumento também das chamadas culturas suburbanas, tais como: verduras, legumes, frutas e da avicultura sendo 19,9%.

Imigrantes japoneses com sua Plantação de Batatas.
Nipo-brasileiros não podiam viajar pelo território nacional sem salvo-conduto expedido por autoridade policial; mais de 200 escolas da comunidade japonesa foram fechadas; os aparelhos de rádio foram apreendidos para que não se ouvissem transmissões em ondas curtas do Japão. Os nipo-brasileiros foram proibidos de dirigir veículos automotores, mesmo se fossem táxis, ônibus ou caminhões de sua propriedade. Os motoristas contratados pelos nipo-brasileiros tinham que ter uma autorização da polícia.

Os bens das empresas japonesas foram confiscados e várias empresas de nipo-brasileiros sofreram intervenções, entre as quais o recém-fundado Banco América do Sul, que teve um papel importante para os nikkeis, pois era onde boa parte dos imigrantes aplicavam o dinheiro das lavouras e do comércio nas cidades. Mas no período da guerra, o Banco do Brasil enviou interventores para tomar a o Banco América do Sul das mãos dos japoneses, com a demissão dos funcionários de origem japonesa que foram substituídos por funcionários brasileiros sem qualquer ascendência nipônica e a maioria sem experiência bancária, por consequência o banco entrou em uma crise administrativa. A situação apenas voltou ao normal anos após o termino da Segunda Guerra Mundial, com a compra do banco pelos seus antigos donos, pois a instituição estava nacionalizada.

Os imigrantes e descendentes de italianos e alemães sofreram diversas formas de discriminação oficial ou não durante a Segunda Guerra Mundial, porém o sentimento foi mais forte contra os nipo-brasileiros. Milhares de imigrantes japoneses foram presos ou expulsos do Brasil por suspeitas de espionagem. A delação anônima de atividades "contra a segurança nacional" surgia de desavenças entre vizinhos, cobrança de dívidas e até brigas de crianças. Nipo-brasileiros foram presos por atividades suspeitas quando se aglomeravam, por exemplo, em dezembro de 1942, o jornalista Hideo Onaga e alguns companheiros foram presos em um piquenique, pois, havia a suspeita que eles estavam construindo um submarino

Família de Imigrantes Japoneses.
O medo de contatos entre imigrantes e submarinos inimigos exacerbou-se. No dia 10 de julho de 1943, cerca de 10 mil imigrantes japoneses e alemães que residiam em Santos foram obrigados, em 24 horas, a fechar suas casas e negócios e a se mudar para longe do litoral brasileiro. A polícia agiu sem qualquer aviso prévio. Cerca de 90% das pessoas deslocadas eram nipo-brasileiros. Restaram em Santos apenas nipo-brasileiros com cidadania brasileira, porém muitos também tiveram que se mudar para acompanhar seus pais ou cônjuges. Essa decisão foi tomada pelo governo devido a rumores infundados sobre imigrantes disfarçados de pescadores para, supostamente, fornecer informações aos submarinos alemães que infestavam a costa brasileira. Inclusive os doentes foram forçados a se mudar e foram carregados em redes. Após o despejo, as casas abandonadas foram invadidas por estranhos. O jornal de Santos denominado "A Tribuna", noticiou a situação dos que tentavam se desfazer de seus pertences: "no Marapé, na Ponta da Praia e em Santa Maria, houve verdadeira corrida para a venda de suínos, galináceos, muares, etc. Muitos proprietários de chácaras puseram à venda quase tudo que possuíam. Vendiam a qualquer preço, pois não havia tempo para regatear". Para residir na baixada Santista, os japoneses passaram a dever possuir um salvo-conduto concedido conforme a vontade das autoridades policiais.

Nunca foi confirmada qualquer suspeita de atividades de nipo-brasileiros contra a "segurança nacional". Apesar disto, em 1942, a colônia japonesa que introduziu o cultivo da pimenta em Tomé-Açu, no Pará, foi praticamente transformada em um "campo de concentração" (expressão da época) do qual nenhum nipo-brasileiro poderia sair. Nesta época, o embaixador brasileiro em Washington, Carlos Martins Pereira e Sousa, incentivava o governo do Brasil a transferir todos os nipo-brasileiros para "campos de internamento" sem necessidade de apoio jurídico, do mesmo modo como tinha sido feito com os nikkeis residentes nos Estados Unidos.

Família de Imigrantes Japoneses
A irreverência popular foi incentivada com marchinhas de Carnaval que ironizavam o imperador Hiroito e a "terra do micado". Um nipo-brasileiro sentia-se muito mais ofendido quando zombavam do imperador Hiroito do que um teuto-brasileiro quando zombavam de Hitler ou um ítalo-brasileiro quando zombavam de Mussolini. Na época, o imperador Hiroito não era somente Chefe de Estado, mas também a figura central da religião oficial japonesa, o xintoísmo, sendo venerado em altares domésticos como descendente dos deuses.

Notícias degradantes sobre os japoneses foram comuns na imprensa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, David Nasser e Jean Marzon, a dupla de jornalista-fotógrafo mais famosa do país, publicaram em "O Cruzeiro", a revista de maior tiragem da época, uma matéria ilustrada na qual pretendiam ensinar aos brasileiros a distinguir um japonês de um chinês. David Nasser escreveu, entre outras coisas, que o japonês podia ser distinguido pelo "aspecto repulsivo, míope, insignificante". Segundo o escritor Roney Cytrynowicz, "a opressão contra os imigrantes japoneses, diferente do que ocorreu com italianos e alemães em São Paulo, deixa claro que o Estado Novo moveu contra eles -a pretexto de acusação de sabotagem- uma campanha racista em larga escala".

Pós-guerra.
Bairro da Liberdade.
Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, os imigrantes começaram a receber novamente as cartas de seus parentes que estavam no Japão e relatavam as dificuldades do país após a guerra. Para a maioria quase absoluta das famílias estabelecidas no Brasil, era o fim do sonho de retornar ao Japão. Os imigrantes se convenceram, então, da necessidade de preparar os filhos para ascender na sociedade brasileira. Para isso, boa parte dos nipo-brasileiros foram do campo para a cidade.
O forte antiniponismo continuou no Brasil além do final da Segunda Guerra Mundial.

Foi nesta época, surgiu a Shindo Renmei, uma organização terrorista formada por nipo-brasileiros que assassinava os nipo-brasileiros que acreditavam na derrota japonesa. Os assassinatos cometidos pela Shindo Renmei e o sentimento antinipônico da época causaram vários conflitos violentos entre brasileiros e nipo-brasileiros.

Os políticos brasileiros continuaram a valorizar o imigrante europeu como o mais desejado. O decreto-lei nº 7.967 de 1945 regulava a política imigratória e dizia que o ingresso de imigrantes dar-se-ia considerando a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência européia.

Por causa de alguns acontecimentos ocorridos após o assassinato do caminhoneiro Pascoal de Oliveira, pelo caminhoneiro japonês Kababe Massame, após uma discussão, em julho de 1946, a população de Osvaldo Cruz, interior do estado de S. Paulo, que já estava irritada com os dois atentados da Shindo Renmei na cidade, saiu às ruas e invadiu casas disposta a maltratar os japoneses. O linchamento dos japoneses só foi totalmente controlado com a intervenção de um destacamento do Exército, vindo de Tupã.

Além de preferir o imigrante europeu, alguns políticos brasileiros propuseram medidas extremamente antinipônicas. Durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1946, foi colocada em votação a emenda N° 3165 proposta pelo deputado carioca Miguel Couto Filho (filho do deputado constituinte de 1934) que dizia apenas: "É proibida a entrada no país de imigrantes japoneses de qualquer idade e de qualquer procedência". Frequentemente, o deputado Miguel Couto Filho discursava na tribuna da assembleia constituinte defendendo seu projeto de emenda constitucional citando um livro que tinha escrito, cujo título era: "Para o futuro da pátria – Evitemos a niponização do Brasil". O senador Luiz Carlos Prestes (Da lendária Coluna Prestes) fez com que o Partido Comunista Brasileiro fechasse questão a favor da emenda N° 3165 e deputados como Jorge Amado e João Amazonas votaram a seu favor. Noutro extremo, o deputado Aureliano Leite sustentou inflexivelmente a posição contrária.[50] O deputado José Eduardo do Prado Kelly também opôs-se veementemente, discursou dizendo que a emenda "amesquinharia a nossa obra" e propôs que, caso aprovada, ela fosse deslocada para as disposições transitórias. Na votação final, houve um empate com 99 votos contra e 99 a favor. O senador Fernando de Melo Viana, que presidia a sessão constituinte, exerceu então o voto de Minerva recusando a emenda. Por apenas um voto, a imigração de japoneses não foi proibida pela Constituição de 1946.


Nessa época os nipo-brasileiros começaram a ter um papel mais ativo na área política, um dos primeiros acontecimentos políticos aconteceu após uma medida imposta pelo governo do Estado de São Paulo, que tinha o objetivo de aumentar a popularidade entre os eleitores, para que fosse feito um tabelamento dos preços dos serviços das tinturarias, sendo que um dos resultados disso seria a redução do valor de lavagem de um terno que seria reduzido de 25 para 16 cruzeiros. Nessa época, finais dos anos 40 e início da década de 50, apenas na cidade de São Paulo, havia em torno de 1,5 mil tinturarias e cerca de dois terços pertenciam aos japoneses e seus descendentes. Após reuniões que aconteceram entre a comunidade foi tomada a decisão de eleger o primeiro representante nikkei na Assembléia Legislativa, para que defendesse os direitos dos japoneses e nipo-brasileiros, e escolheram Yukishige Tamura, que já havia sido eleito vereador em 1947 na Câmara Municipal de São Paulo. Como os japoneses não podiam votar, a campanha aconteceu para com os clientes das tinturarias, sendo que Tamura foi eleito deputado estadual em 1950. Após Tamura outros nipo-brasileiros tiveram suas passagens pela política, sendo que, após a eleições de vários deputados estaduais e federais nipo-brasileiros, o primeiro nikkei a se tornar ministro foi Fábio Riodi Yassuda, em 1969, que foi ministro da Indústria e Comércio no governo Médici.

Apesar de tudo, o fluxo de imigração japonesa recomeçou no início da década de 1950 e só cessou quase que totalmente em 1973. No total, quase 200 mil japoneses foram recebidos como imigrantes no país.

No início da década de 60, a população nipo-brasileira das cidades já superava a do campo. Como a grande maioria das famílias que se mudaram para São Paulo e para cidades do Paraná tinham poucos recursos e era chefiada por isseis e nisseis, era obrigatório que o negócio não exigisse grande investimento inicial nem conhecimentos avançados de português. Assim, boa parte dos colonos passou a se dedicar ao pequeno comércio ou à prestação de serviços básicos, onde se destacaram as tinturarias. Na década de 70, 80% dos 3 500 estabelecimentos que lavavam e passavam as roupas dos cidadãos de São Paulo pertenciam aos japoneses. Segundo a antropóloga Célia Sakurai: "O negócio era conveniente para as famílias, porque elas podiam morar nos fundos da tinturaria e fazer todo o serviço sem precisar contratar funcionários. Além disso, a comunicação exigida pela atividade era breve e simples".

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreu um grande êxodo rural que levou a maior parte da comunidade nipo-brasileira do campo para as cidades, nas regiões metropolitanas ou interior, tornando-se principalmente comerciantes, sendo proprietários de lavanderias, mercearias, feiras, cabeleireiros, oficinas mecânicas, entre outros. Aumentando os cuidados com a educação dos filhos. Outras famílias decidem morar na zona suburbana, para se dedicar nas atividades de horti-fruti-granjeiras, sendo que também visavam à proximidade de boas escolas para os filhos nas cidades maiores. Sendo que em 1952, 34,1% dos imigrantes japoneses estavam voltados para as atividades horti-fruti-granjeiras, enquanto os que os cafeicultores japoneses tinham baixado para 27,5% e de algodão para 20,5%. A cidade de São Paulo tornou-se, assim, a cidade com maior número de japoneses fora do Japão.

No ambiente urbano, os japoneses começaram a trabalhar principalmente em setores relacionados com a agricultura como feirantes ou donos de pequenos armazéns de frutas, legumes ou peixes. O trabalho com quitandas e barracas de feira era facilitado pelo contato que os japoneses urbanos tinham com os que haviam ficado no campo, pois, os fornecedores eram, geralmente, amigos ou parentes. Qualquer que fosse a atividade escolhida pela família, cabia aos primogênitos a tarefa de trabalhar junto com os pais. O costume era uma tradição japonesa de delegar ao filho mais velho a continuação da atividade familiar e também da necessidade de ajudar a custear os estudos dos irmãos mais novos. Sendo que enquanto os mais velhos trabalhavam, os irmãos mais jovens ingressavam em cursos técnicos, como o curso de contabilidade, principalmente, pois era mais fácil lidar com números do que com o português. Quanto às faculdades, as preferidas eram engenharia, medicina e direito, que garantiam dinheiro e prestígio social. Em 1958, os descendentes de japoneses já representavam 21% dos brasileiros com formação acima da secundária. Em 1977, eles, que eram 2,5% da população de São Paulo, somaram 13% dos aprovados na Universidade de São Paulo, 16% dos que passaram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e 12% dos selecionados na Fundação Getulio Vargas (FGV).

Shindo Renmei.

Shindo Renmei - (臣道連盟 Liga do Caminho dos Súditos em idioma japonês) foi uma associação de caráter nacionalista e considerada com organização terrorista criada no interior de São Paulo no início da década de 1940 por isseis. Alguns membros mais fanáticos da associação (tokkotai) cometiam atentados violentos contra os isseis e nipo-brasileiros que acreditavam nas notícias da derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. A Shindo Renmei matou, pelo menos, 23 pessoas e feriu outras 147, em sua maioria imigrantes de origem japonesa (isseis).

A Shindo Renmei não foi a primeira nem a única organização de caráter nacionalista criada por imigrantes japoneses. Outras existiram, mas nenhuma praticou atos terroristas. A maior parte delas foram organizações de auxílio mútuo da comunidade nipo-brasileira.

Segundo o pesquisador Rogério Dezem, alguns católicos japoneses (Keizo Ishihara, Margarida Watanabe e Massaru Takahashi) criaram, com a aprovação da Igreja Católica e das autoridades do governo, uma caixa beneficente, chamada simplificadamente de "Pia", com o objetivo de prestar ajuda aos membros pobres da colônia.

Um ex-coronel do exército japonês, Junji Kikawa, participou das atividades da "Pia". Em 1942, após um violento confronto envolvendo brasileiros e japoneses na cidade de Marília, Junji Kikawa fundou a Shindo Renmei. Em 1944, desligou-se da entidade beneficente "Pia", pois a diretoria desta opunha-se à propaganda que ele fazia do uso da sabotagem. Junji Kikawa imprimia e distribuía panfletos que aconselhavam os agricultores nipo-brasileiros a abandonar ou destruir a produção de seda (usada na fabricação de paraquedas) e hortelã (o mentol derivado era utilizado para tornar a nitroglicerina mais potente). Ocorreram alguns atos de destruição de criação de bicho-da-seda e de plantações de hortelã de agricultores nipo-brasileiros, porém as autoridades policiais não investigaram os fatos devidamente e o assunto foi logo esquecido.

Bombardeio sobre Nagasaki.
Sua sede ficava na rua Paracatu, nº 96, bairro da Saúde, na cidade de São Paulo. Chegou a possuir 64 filiais nos estados de São Paulo e Paraná. Mantinha-se com doações de seus filiados.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos integrantes da Shindo Renmei recusaram-se a acreditar nas notícias oficiais sobre a derrota do Japão. Seus objetivos então passaram a ser: punir os derrotistas, divulgar a "verdade" (que o Japão venceu ou vencia a guerra) e defender a honra do imperador.

A comunidade nipo-brasileira da época ficou dividida a partir das ameaças realizadas por membros mais fanáticos da Shindo Renmei em:

Kachigumi: - os vitoristas, eram aqueles que acreditavam que a guerra continuava ou que tinha havido a vitória do Japão. Nem todos foram simpatizantes das ações da Shindo Renmei. Era constituído pelas pessoas mais pobres da comunidade e que ainda desejavam o retorno. Eram os mais numerosos.

Makegumi: - os derrotistas, pejorativamente chamados de "corações sujos", eram os que acreditavam na derrota japonesa. Formavam o grupo mais próspero da colônia, eram melhor informados e melhor adaptados ao Brasil.

Alguns estelionatários (conhecidos como lero-lero) forjaram jornais e revistas japonesas com notícias sobre a grande vitória e começaram a vender terras nos "territórios conquistados". Outros venderam yens, a moeda japonesa praticamente sem valor na época, a preços altos para os que queriam voltar ao Japão. Os boatos espalhados pelos estelionatários aprofundaram ainda mais a confusão de notícias na colônia e causaram enormes prejuízos aos kachigumi, levando alguns ao suicídio.

As Ações.

Os integrantes da Shindo Renmei acreditavam firmemente que as notícias sobre a derrota e rendição do Japão eram falsas. Assim criaram uma rede de comunicação para divulgar a "verdade": que o Japão vencera a guerra. Jornais e revistas em japonês passaram a circular divulgando essa ideia; estações de rádio clandestinas foram colocadas no ar.

A Shindo Renmei elaborou listas com os nomes dos makegumi que deveriam morrer por trair o imperador.

Segundo DEOPS (Polícia Política) de São Paulo, Kamegoro Ogasawara, dono da tinturaria Oriente na cidade de São Paulo, seria o coordenador das ações punitivas. Os assassinos saiam da sua tinturaria para executar aqueles que eram considerados os makegumi mais importantes na cidade de São Paulo. Várias pensões de japoneses abrigavam os executores após suas ações. Uma delas foi a pensão Cruzeiro, cujo proprietário era Mongo Yoshizago, localizada na rua Barão de Duprat, nº 119, São Paulo.

Os assassinos da Shindo Renmei, chamados de tokkotai, sempre eram pessoas jovens. Primeiro, entregavam ou enviavam cartas solicitando o seppuku (suicídio ritual) dos makegumi que deveriam morrer, pois assim eles poderiam "recuperar a honra perdida". Deveriam suicidar-se cortando o próprio ventre, onde depois, seria colocada uma bandeira do Japão. As cartas começavam dizendo:

“Você tem o coração sujo, então deve ter a garganta lavada. (isto é, deverá ter a garganta cortada por uma espada katana).”

Os que se recusavam a cometer suicídio eram executados com armas de fogo e, às vezes, com espadas katana. Os crimes ocorreram muitas vezes na presença de familiares dos assassinados. Nenhum dos makegumi que recebeu a carta aceitou suicidar-se. O primeiro makegumi assassinado foi Ikuta Mizobe, no dia 7 de Março de 1946, em Bastos (SP). Décadas depois, sua filha, Aiko Higuchi, revelou detalhes sobre o crime e suas consequências.

De janeiro de 1946 ao início da 1947, conforme dados oficiais, a Shindo Renmei matou 23 pessoas e feriu outras 147, todas nipo-brasileiras.

Os tokkotai, frequentemente, entregavam-se às autoridades logo após as execuções. Sempre explicavam que nada tinham contra o Brasil ou contra os brasileiros, e que não eram criminosos comuns, pois matavam no estrito cumprimento do dever.

Repressão e Término.

As histórias de assassinatos, especialmente aqueles com espada katana, espalharam o terror da Shindo Renmei dentro da comunidade nipo-brasileira. Apesar de não ter sido afetada diretamente, o resto de população brasileira reforçou seus preconceitos de que todos japoneses eram fanáticos nacionalistas.

Uma parte da população brasileira reagiu passionalmente e espancou alguns nipo-brasileiros inocentes ou pertencentes à Shindo Renmei. Confrontos ocorreram em cidades do interior paulista onde havia grande quantidade de imigrantes japoneses, como na região de Tupã, São Paulo.

Depois de dois atentados da Shindo Renmei, o assassinato de um caminhoneiro brasileiro cometido por um caminhoneiro japonês, em 31 de julho de 1946, fez com que a população de Osvaldo Cruz saísse às ruas disposta a linchar todos os nipo-brasileiros que encontrasse. O tumulto foi controlado apenas com a chegada de tropas do Exército chamadas pelo médico Oswaldo Nunes.

O exército e o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) realizaram operações de investigação nos estados de São Paulo e do Paraná. Segundo a polícia paulista, 31.380 nipo-brasileiros foram investigados como suspeitos de ter ligações com a organização. O DEOPS identificou criminalmente 376 nipo-brasileiros. Finalmente, as lideranças da Shindo Renmei e boa parte dos tokkotais foram presos.

Cerca de 155 imigrantes japoneses tiveram sua expulsão do território nacional decretada em 1946, porém esta nunca ocorreu e o caso acabou por prescrever. Quatorze tokkotais cumpriram penas por assassinato.

Passadas várias décadas, muitos membros da comunidade nipo-brasileira ainda consideram a Shindo Renmei um assunto que não deve ser comentado. Em 2000, Fernando Morais lançou Corações Sujos, um livro contando a história da organização. Em 2011, Vicente Amorim lançou um filme homônimo dramatizando a história do livro. Em 2012, o diretor Mario Jun Okuhara disponibilizou online e gratuitamente o documentário Yami no Ichinichi, que aborda alguns acontecimentos do conflito vitorista-derrotista.[9] O romance Nihonjin de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti em 2012, retrata a perseguição a um dos seus personagens principais por tokkotais do Shindo Renmei. O assunto foi ainda tema da tese do Doutor em História, Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade Carlos Leonardo Bahiense da Silva.

Inversão do Fluxo Migratório

Praça do Japão, Curitiba.
A partir do fim dos anos 80, ocorreu uma inversão do fluxo migratório entre o Brasil e Japão, pois, com os reflexos da crise econômica da década de 80, além das consequências do Plano Collor e a demanda do Japão por mão-de-obra, fizeram com que, entre 1980 e 1990, cerca de 85 000 japoneses e descendentes residentes no Brasil decidissem tentar a vida no Japão. Os nipo-descendentes e seus cônjuges, com ou sem ascendência japonesa, e seus filhos mestiços ou não, passaram a emigrar para o Japão à procura de melhores oportunidades de trabalho. Estes emigrantes brasileiros são conhecidos como dekasseguis (出稼ぎ?), embora a palavra no Japão inclua todos trabalhadores migrantes, até mesmo, japoneses de áreas rurais que vão trabalhar nos grandes centros urbanos.

Em 2008, viviam no Japão cerca de 300.000 brasileiros em condições legais, a grande maioria trabalhando como operários na indústria. As cidades com mais brasileiros são: Hamamatsu, Aichi, Shizuoka, Kanagawa, Saitama e Gunma.

Devido à grave crise financeira enfrentada pelo Japão, nos últimos anos milhares de brasileiros têm retornado ao Brasil. Em 2014, a comunidade brasileira no país havia diminuído para 177.953 pessoas. Os brasileiros no Japão formam a quarta maior comunidade de trabalhadores estrangeiros residentes no país, depois de chineses, coreanos e filipinos.

1° Parte.

3° Parte.

Fontes.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra%C3%A7%C3%A3o_japonesa_no_Brasil

https://pt.wikipedia.org/wiki/Shindo_Renmei

https://pt.wikipedia.org/wiki/Kasato_Maru

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL604794-9980,00-CHEGADA+DOS+IMIGRANTES+JAPONESES+NO+NAVIO+KASATO+MARU+FAZ+ANOS+HOJE.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Decass%C3%A9guis_brasileiros

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_nipo-brasileira

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fazenda_Santo_Ant%C3%B4nio_(Rio_de_Janeiro)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_da_imigra%C3%A7%C3%A3o_japonesa_no_Brasil

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