Ilustração de Berje para o livro Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro, de autoria de Januária Cristina Alves. |
Segundo contam, esse gorila gigante, que habita as matas da região do Araguaia, é bem maior do que um ser humano e gosta muito de comer línguas, um dos seus principais alimentos, que pode ser tanto de animais, como bois, cavalos, cabras ou mesmo de gente (Por isso do nome). Costuma atacar suas vítimas à noite, matando-as e retirando-lhes a língua para comer.
Dizem que ele se parece mais com o King-Kong (O Famoso Símio Gigante de HOLLYWOOD) do que com um gorila africano, que perambula desde a cabeceira do Xingu até as cercanias de Goiânia. Contam os ribeirinhos do Rio Araguaia que o Arranca línguas mora nas encostas do Rio, camuflando-se entre árvores frondosas e grandes troncos caídos.
A lenda é mais difundida no Estado de Goias, de acordo com relato de pessoas que já o viram, o Arranca Línguas é como um grande Gorila, medindo em torno de 2 metros e meio parecido com um homem pré histórico.
Verdade ou não, o fato é que o Arranca Língua tem até poesia, de autoria do poeta Zoroastro Artiaga.
KING-KONG.
Feroz, cruel, terrível, monstruoso,
De grande força e porte agigantado,
O sertão de Goiás, misterioso,
Habita o King-Kong tão falado.
História ou lenda, o fato é curioso
E parece bastante exagerado:
É que vagueia a procurar o gado,
Arrancando-lhe a língua, furioso.
E por todo lugar por onde passa
Assola o gado pela pastaria,
Pelo prazer de línguas arrancar.
Ah, se tal monstro por aqui passasse,
Quantas línguas compridas tiraria!
E quanta gente sem poder falar!
Origem.
Ao contrário de tantas outras lendas, essa parece ter ano certo de nascimento. Ela teria aparecido no ano de 1929, na região de Aruana, onde ficava o antigo porto fluvial do Araguaia. Diz-se que naquele ano uma crise de febre aftosa atacou os rebanhos. Com a doença, os animais passaram a sofrer de grande “comichão” na língua. Tentando coçá-la, a rês acabava por cortar a própria língua com seus próprios dentes. A febre aftosa talvez atacasse mais esse membro do gado, por efeito de alimentação ou pela terra salitrosa dos barreiros.
De lá, a endemia se esparramou pelo resto do estado de Goiás, deixando, por onde passava, muitos animais com as línguas cortadas. Foi o suficiente para a imaginação popular criar mais uma fantástica lenda brasileira. Surgiu, então, a lenda do arranca-língua. Cresceu, tomou proporções de calamidade, e chegou a doença a alarmar todos os pecuaristas do Centro Oeste.
A endemia chegou até Caldas Novas, onde houve quem visse o arrancamento da língua materializar-se, por várias vezes e em vários lugares. Vulto de homem amacacado, cabeludo, tipo gorila, braços compridos, mãos grandes e cara chata. A crendice popular, pela sugestão, criou fantasias e diálogos, onde o monstro, com a voz muito fanhosa, pedia que não o atirasse: "Não me mate, vaqueiro, porque você virá arrancar língua em meu lugar". O vaqueiro teria perguntado: "Quem é você, macacão?" — Sou a personificação do castigo. Venho punir os ladrões de gado.
Continuando o diálogo, teria o monstro explicado que fora também ladrão de gado nos Estados Unidos; e agora, tinha sido condenado a tomar a forma de monstro até cumprir a sina. E falando assim, andou de marcha à ré na direção da serra de Caldas Novas, sem se voltar, e desapareceu. Desde então, não houve mais arrancamentos.
Este fato relatado em Goiânia para os pioneiros que ali se empenhavam nos serviços da edificação do palácio, foi levado ao conhecimento do dr. Joaquim Câmara Filho, que decidiu servir-se do acontecido para fazer a propaganda de mudança, atraindo a atenção do mundo para Goiás, usando o absurdo da história.
Nasceu daí o King-Kong. Colocou-o novamente no Araguaia, onde estaria desempenhando a sua missão contra os fazendeiros do Oeste da velha capital. Era tanta gente que ia ao Araguaia para ver e, se possível, fotografar o King-Kong, e tanta gente que já o tinha avistado, que tomou foros de verdade. Raro era o fazendeiro que não tinha perdido gado dessa maneira. Chegaram até a pedir providências ao ministro da Agricultura.
Estes acontecimentos chegaram até 1935. Os que conseguiram entrevistar o King-Kong, informaram-me de que se tratava de um homem grosso, baixo, coberto de pêlos, escuro, não tendo semelhança alguma com o gorila africano. Operava desde a cabeceira do Xingu até perto de Goiás. Muitos garimpeiros e borracheiros tinham sido agredidos por êle. Um homem teve a cabeça arrancada e afincada em uma estaca, não cortada a instrumento, e sim quebrada a muque.
Tal qual como fizeram com o general Moreira Cesar, em Canudos. Embora desmentido, cabalmente, e jamais provada por uma pessoa merecedora de fé, esta história despovou, por muito tempo, as praias do Araguaia, porque ninguém queria saber de encontros com o monstruoso King–Kong, ainda que fosse mentira. Os que o avistaram disseram que êle andava aos bamboleios, como o urso, e levando sempre uma língua sangrenta nas mãos.
Fonte:
Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. 1962
http://portal-dos-mitos.blogspot.com.br/2015/02/arranca-linguas.html
http://www.consciencia.org/lenda-do-arranca-lingua-folclore-brasileiro
http://www.noitesinistra.com/2015/04/lenda-do-arranca-lingua.html#.WwiT8TQvzcc
https://www.xapuri.info/cultura/mitoselendas/arranca-linguas-king-kong-cerrado/
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/11298_ABECEDARIO+DE+PERSONAGENS+DO+FOLCLORE+BRASILEIRO
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